Tempo comum XXIX Semana
São João Paulo II
Evangelho:
Lc 12, 49-53
49 Eu vim trazer fogo à terra; e como desejaria que já
estivesse ateado! 50 Eu tenho de receber um baptismo; e quão grande
é a minha ansiedade até que ele se conclua! 51 Julgais que vim
trazer paz à terra? Não, vos digo Eu, mas separação; 52 porque, de
hoje em diante, haverá numa casa cinco pessoas, divididas três contra duas e
duas contra três. 53 Estarão divididos: o pai contra o filho e o
filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra
a nora e a nora contra a sogra».
Comentário:
Que as raposas têm mais que o próprio Filho de Deus que não tem
lugar Seu para reclinar a cabeça e, aquelas, têm as suas tocas é o Senhor quem
o afirma.
Quem quer seguir alguém assim?
O que tem para oferecer quem declara nada possuir?
Sim, é verdade, nada possui porque de nada precisa e, no entanto é
o único dono de tudo quanto existe. Assim, convém segui-lo porque a herança não
tem preço.
(ama,
comentário sobre Lc 12, 49-53, 2010.10.21)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Temas actuais do cristianismo
64 (cont)
Por
outro lado, a maioria dos sócios do Opus Dei - em Espanha e noutros países - são
donas de casa, operários, pequenos comerciantes, empregados de escritório,
camponeses, etc.; quer dizer, pessoas com funções sem especial peso político ou
social.
Que
haja um grande número de operários membros do Opus Dei não chama a atenção; que
haja um político, sim.
Na
realidade, para mim é tão importante a vocação para o Opus Dei de um carregador
como a de um dirigente de empresa.
A
vocação é Deus que a dá, e nas obras de Deus não cabem discriminações, menos
ainda se estas forem demagógicas.
Quem,
ao ver os sócios do Opus Dei trabalhando nos mais diversos campos da actividade
humana, não pensa senão em pretensas influências e controlos, demonstra ter uma
pobre concepção da vida cristã. O Opus Dei não domina nem pretende dominar
nenhuma actividade temporal; quer apenas difundir uma mensagem evangélica: que
Deus pede que todos os homens, que vivem no mundo, O amem e O sirvam partindo
precisamente das suas actividades terrenas. Consequentemente, os sócios da
Obra, que são cristãos correntes, trabalham onde e como lhes parece oportuno: a
Obra só se ocupa de os ajudar espiritualmente, para que actuem sempre com
consciência cristã.
Mas
falemos concretamente do caso de Espanha.
Os
poucos sócios do Opus Dei que, neste país, trabalham em postos de transcendência
social ou intervêm na vida pública, fazem-no - como em todas as outras nações -
com liberdade e responsabilidade pessoais, agindo cada um segundo a sua
consciência. Isto explica que na prática tenham adoptado posições diversas, e,
em muitas ocasiões, opostas.
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Quero
fazer notar, além disso, que falar da presença de pessoas que pertencem ao Opus
Dei na política espanhola como se tal constituísse um fenómeno especial, é uma
deformação da realidade que se aproxima da calúnia.
Porque
os sócios do Opus Dei que actuam na vida pública espanhola são uma minoria em
comparação com o total de católicos que intervêm activamente neste sector.
Sendo
católica a quase totalidade da população espanhola, é estatisticamente lógico
que sejam católicos os que participam na vida política.
Mais
ainda, em todos os níveis da administração pública espanhola - desde os
ministros aos presidentes de câmara - abundam os católicos provenientes das
mais diversas associações de fiéis: alguns ramos da Acção Católica, a Associação
Católica Nacional de Propagandistas, cujo primeiro presidente foi o Cardeal
Herrera, as Congregações Marianas, etc.
Não
quero alargar-me mais sobre este assunto, mas aproveito a ocasião para declarar
uma vez mais que o Opus Dei não está vinculado a nenhum país, a nenhum regime,
a nenhuma tendência política, a nenhuma ideologia.
E
que os seus sócios actuam sempre, nas questões temporais, com plena liberdade,
sabendo assumir as suas próprias responsabilidades, e detestam todas as
tentativas de se servir da religião em benefício de posições políticas e de
interesses de partido.
As
coisas simples são às vezes difíceis de explicar.
Por
isso me alonguei um pouco ao responder à sua pergunta.
Saiba-se,
no entanto, que os falatórios que comentávamos pertencem já ao passado.
Essas
calúnias estão há bastante tempo totalmente desclassificadas: já ninguém
acredita nelas.
Nós,
desde o primeiro momento, agimos sempre à luz do dia - não havia motivo algum
para agir de outra maneira -, explicando com clareza a natureza e os fins do
nosso apostolado, e todos os que querem têm podido conhecer a realidade.
De
facto, são muitíssimas as pessoas - católicos e não-católicos, cristãos e
não-cristãos - que vêem com carinho e estima o nosso trabalho e colaboram nele.
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Por
outro lado, o progresso da história da Igreja levou a superar um certo
clericalismo, que tende a desfigurar tudo o que se refere aos leigos
atribuindo-lhes segundas intenções.
Tornou-se
mais fácil, agora, entender que o que o Opus Dei vivia e proclamava era nem
mais nem menos isto: a vocação divina do cristão corrente, com um compromisso
sobrenatural determinado.
Espero
que chegue o momento em que a frase os católicos penetram nos ambientes sociais
se deixe de dizer e que todos reparem que é uma expressão clerical.
Seja
como for, não se aplica em nada ao apostolado do Opus Dei.
Os
sócios da Obra não têm necessidade de penetrar nas estruturas temporais, pelo
simples facto de que são cidadãos correntes, iguais aos outros, e portanto já
lá estavam.
Se
Deus chama ao Opus Dei uma pessoa que trabalha numa fábrica, ou num hospital,
ou no parlamento, quer dizer que, daí em diante, essa pessoa estará decidida a
pôr os meios para santificar, com a graça de Deus, essa profissão.
Não
é mais do que uma consciencialização das exigências radicais da mensagem
evangélica, relativamente à vocação recebida.
Pensar
que essa consciencialização significa deixar a vida normal, é uma ideia
legítima apenas para os que recebem de Deus a vocação religiosa, com o seu contemptus mundi, com o desprezo ou a
desestima das coisas do mundo; mas querer fazer deste abandono do mundo a
essência ou o ponto culminante do cristianismo, é evidentemente, uma
monstruosidade.
Não
é, pois, o Opus Dei que introduz os seus sócios em determinados ambientes: já
lá estavam, repito, e não há razão para saírem.
Além
disso, as vocações para o Opus Dei - que surgem da graça de Deus e desse
apostolado de amizade e confidência, de que falava antes - dão-se em todos os
ambientes.
Talvez
essa mesma simplicidade da natureza e do modo de actuar do Opus Dei seja uma
dificuldade para os que estão cheios de complicações e parecem incapacitados
para compreender tudo o que é genuíno e recto.
Naturalmente,
sempre haverá quem não compreenda a essência do Opus Dei, e isso não nos causa
estranheza, porque já o Senhor preveniu os seus contra estas dificuldades,
comentando-lhes que non est discipulus
super Magistrum) [i],
o discípulo não é mais do que o Mestre.
Ninguém
pode pretender que todos o apreciem, ainda que tenha direito a que todos o
respeitem como pessoa e como filho de Deus. Infelizmente, há fanáticos que
querem impor totalitariamente as suas ideias, e estas nunca poderão entender o
amor que os sócios do Opus Dei têm à liberdade pessoal dos outros e depois à
sua própria liberdade pessoal, sempre com responsabilidade pessoal também.
Lembro-me
de um facto particularmente expressivo.
Em
certa cidade, de que não seria delicado dizer o nome, a Câmara deliberava sobre
a oportunidade de conceder uma ajuda económica a uma instituição educativa
dirigida por sócios do Opus Dei, que, como todas as obras corporativas que a
Obra leva a cabo, tem uma clara função de utilidade social.
A
maioria dos vereadores era favorável a essa ajuda.
Explicando
as razões dessa posição, um deles, socialista, comentava que tinha conhecido
pessoalmente a actividade que se fazia nesse centro: “É uma actividade - disse
- que se caracteriza por que aqueles que a dirigem são muito amigos da
liberdade pessoal: nessa residência vivem estudantes de todas as religiões e de
todas as ideologias”. Os vereadores comunistas votaram contra.
Um
deles, explicando o seu voto negativo, disse ao socialista: “Opus-me porque, se
as coisas são assim, essa residência constitui uma eficaz propaganda do
catolicismo”.
Quem
não respeita a liberdade dos outros ou deseja opor-se à Igreja, não pode
apreciar uma actividade apostólica.
Mas
ainda nestes casos, eu, como homem, tenho obrigação de o respeitar e de
procurar orientá-lo para a verdade; e, como cristão, de o amar e de rezar por
ele.
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pergunta:
Esclarecido
este ponto, gostava de lhe perguntar quais são as características da formação
espiritual dos sócios, que fazem com que fique excluído qualquer tipo de
interesse temporal no facto de pertencer ao Opus Dei.
resposta:
Todo
o interesse que não seja puramente espiritual está radicalmente excluído porque
a Obra pede muito - desprendimento, sacrifício, abnegação, trabalho sem
descanso - e não dá nada.
Quero
dizer que não dá nada no plano dos interesses temporais; porque, no plano da
vida espiritual, dá muito: dá meios para combater e vencer na luta ascética,
orienta por caminhos de oração, ensina a tratar a Jesus como um irmão, a ver
Deus em todas as circunstâncias da vida, a sentir-se filho de Deus e, portanto,
comprometido a difundir a sua doutrina.
Uma
pessoa que não progredir pelo caminho da vida interior até compreender que vale
a pena dar-se de todo, entregar a própria vida em serviço do Senhor, não pode
perseverar no Opus Dei, porque a santidade não é uma etiqueta - é uma
experiência profundíssima.
Por
outro lado, o Opus Dei não tem nenhuma actividade de fins políticos, económicos
ou ideológicos: nenhuma acção temporal.
As
suas únicas actividades são a formação sobrenatural dos seus sócios e as obras
de apostolado, quer dizer, a contínua atenção espiritual a cada um dos seus
sócios, e as obras corporativas apostólicas de assistência, de beneficência, de
educação, etc.
Os
sócios do Opus Dei uniram-se apenas para seguirem um caminho de santidade, bem definido,
e para colaborarem em determinadas obras de apostolado.
Os
seus compromissos recíprocos excluem qualquer tipo de interesse terreno, pelo
simples facto de que neste campo todos os sócios do Opus Dei são livres, e
portanto cada um seque a seu próprio caminho, com finalidades e interesses
diferentes e por vezes contrapostos.
Entrevista realizada por Enrico Zuppi
e António Fugardi, publicada em L'Osservatore della Domenica (Cidade do
Vaticano) nos dias 19 e 26 de Maio e 2 de Junho de 1968
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