Tempo comum XXII Semana
Evangelho:
Lc 6, 1-5
1 Num sábado,
passando Jesus pelas searas, os Seus discípulos colhiam espigas e debulhando-as
nas mãos, as comiam. 2 Alguns dos fariseus disseram-lhes: «Porque
fazeis o que não é permitido aos sábados?». 3 Jesus respondeu-lhes:
«Não lestes o que fez David, quando teve fome, ele e os que com ele estavam? 4
Como entrou na casa de Deus, tomou os pães da proposição, comeu deles e deu aos
seus companheiros, embora não fosse permitido comer deles senão aos sacerdotes?».
5 Depois acrescentou: «O Filho do Homem é Senhor também do sábado».
Comentário:
As regras e disposições não podem
sobrepor-se à necessidade do homem, Deus não o quer.
Não esqueçamos que, Ele, pede justiça e não sacrifícios sobretudo quando estes não fazem qualquer sentido ou se revestem de violência escusada ou gratuita.
O sacrifício só tem valor se for justo e livre, nunca imposto por outros como regra imutável.
(ama, comentário
sobre Lc 6, 1-5 2013.09.07)
Leitura espiritual
CRISTO QUE PASSA
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Viver a Santa Missa é manter-se em oração
contínua, convencermo-nos de que, para cada um de nós, este é um encontro
pessoal com Deus, em que O adoramos, O louvamos, Lhe pedimos, Lhe damos graças,
reparamos os nossos pecados, nos purificamos e nos sentimos uma só coisa em
Cristo com todos os cristãos.
Por vezes, talvez nos perguntemos como
será possível corresponder a tanto amor de Deus e até desejaríamos, para o
conseguir, que nos pusessem com toda a clareza diante dos nossos olhos um
programa de vida cristã.
A solução é fácil e está ao alcance de
todos os fiéis: participar amorosamente na Santa Missa, aprender a conviver e a
ganhar intimidade com Deus na Missa, porque neste Sacrifício se encerra tudo
aquilo que o Senhor quer de nós.
Permiti que aqui vos recorde o desenrolar
das cerimónias litúrgicas, que já observámos em tantas e tantas ocasiões.
Seguindo-as passo a passo é muito possível
que o Senhor nos faça descobrir em que pontos devemos melhorar, que defeitos
precisamos de extirpar e como há-de ser o nosso convívio, íntimo e fraterno,
com todos os homens.
O sacerdote dirige-se para o altar de
Deus, do Deus que alegra a nossa juventude.
A Santa Missa inicia-se com um cântico de
alegria, porque Deus está presente.
É esta alegria que, juntamente com o
reconhecimento e o amor, se manifesta no beijo que se dá na mesa do altar,
símbolo de Cristo e memória dos santos, um espaço pequeno e santificado, porque
nesta ara se confecciona o Sacramento de eficácia infinita.
O Confiteor
põe-nos diante da nossa indignidade.
Não é a recordação abstracta da culpa, mas
a presença, tão concreta, dos nossos pecados e das nossas faltas.
Kyrie eleison, Christe eleyson, Senhor, tende piedade de nós; Cristo,
tende piedade de nós.
Se o perdão que necessitamos se pusesse em
relação com os nossos méritos, nasceria na nossa alma, neste momento, uma
amarga tristeza.
Mas, graças à bondade divina, o perdão
é-nos dado pela misericórdia de Deus, a Quem já louvamos entoando - Glória! -
porque só Vós, sois o Santo; só Vós o Senhor, só Vós o Altíssimo, Jesus Cristo,
com o Espírito Santo, na glória de Deus Pai.
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Ouvimos agora a palavra da Escritura, a
Epístola e o Evangelho, que são luzes do Paráclito, que fala com voz humana
para que a nossa inteligência saiba e contemple, para que a vontade se
robusteça e a acção se cumpra, porque somos um único povo que confessa uma
única fé, um Credo, um povo congregado na unidade do Pai, do Filho e do,
Espírito Santo.
Segue-se o ofertório: o pão e o vinho dos
homens.
Não é muito, mas a oração acompanha-os:
sejamos, Senhor, por Vós recebidos em espírito de humildade e coração contrito;
e assim se faça hoje, ó Deus e Senhor Nosso, este nosso sacrifício na Vossa presença,
de modo que Vos seja agradável.
Irrompe de novo a recordação da nossa
miséria e o desejo de que tudo aquilo que se destina ao Senhor esteja limpo e
purificado: lavarei as minhas mãos, amo o decoro da tua casa.
Há instantes, antes do lavabo, invocámos o
Espírito Santo, pedindo-Lhe que abençoasse o Sacrifício oferecido ao Seu Santo
Nome.
Terminada a purificação, dirigimo-nos à
Trindade - Suscipe, Sancta Trinitas
-, para que receba o que apresentamos em memória da Vida, da Paixão, da
Ressurreição e da Ascensão de Cristo, em honra de Maria, sempre Virgem, e em
honra de todos os santos.
A oblação deve redundar em benefício de
todos - Orate, fratres, reza o
sacerdote -, porque este sacrifício é meu e vosso, de toda a Igreja Santa.
Orai, irmãos, mesmo que sejam poucos os
que se encontram reunidos, mesmo que se encontre materialmente presente apenas
um cristão ou até só o celebrante, porque uma Missa é sempre o holocausto
universal, o resgate de todas as tribos e línguas e povos e nações!
Todos os cristãos, pela comunhão dos
Santos, recebem as graças de cada Missa, quer se celebre diante de milhares de
pessoas, quer haja apenas como único assistente um menino, possivelmente
distraído, a ajudar o sacerdote.
Tanto num caso como noutro, a Terra e o
Céu unem-se para entoar com os Anjos do Senhor: Sanctus, Sanctus, Sanctus...
Eu aplaudo e louvo com os anjos.
Não me é difícil, porque sei que me
encontro rodeado por eles quando celebro a Santa Missa.
Estão a adorar a Trindade.
E sei também que, de algum modo, intervém
a Santíssima Virgem, pela íntima união que tem com a Santíssima Trindade,
porque é Mãe de Cristo, da sua Carne e do seu Sangue, Mãe de Jesus Cristo,
perfeito Deus e perfeito homem.
Jesus Cristo, ao ser concebido nas
entranhas de Maria Santíssima sem intervenção de varão, mas unicamente pelo
poder do Espírito Santo, tem o mesmo sangue de sua Mãe.
E é esse Sangue o que se oferece no
sacrifício redentor, no Calvário e na Santa Missa.
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Assim se entra no Canon, com a confiança
filial que nos leva a chamar clementíssimo ao nosso Pai Deus.
Pedimos-Lhe pela Igreja e por todos os que
estão na Igreja, pelo Papa, pela nossa família, pelos nossos amigos e
companheiros. E o católico, como tem coração universal, pede por todo o mundo,
porque o seu zelo entusiasta nada pode excluir.
E para que a petição seja acolhida,
recordamos a nossa comunhão com a Santíssima Virgem e com um punhado de homens
que foram os primeiros a seguir Cristo e por Ele morreram.
Quam oblationem...
Aproxima-se o momento da consagração.
Agora, na Santa Missa, é outra vez Cristo
que actua, através do sacerdote: Isto é o meu Corpo.
Este é o cálice do meu Sangue.
Jesus está connosco!
Com a transubstanciação, renova-se a
infinita loucura divina, ditada pelo Amor.
Quando hoje se repete esse momento, que
saiba cada um de nós dizer ao Senhor, mesmo sem pronunciar quaisquer palavras,
que nada nos poderá afastar d'Ele e que a sua disponibilidade de se deixar
ficar - totalmente indefeso - nas aparências, tão frágeis, do pão e do vinho,
nos converteu voluntariamente em escravos: praesta
meae menti de te vivere et te illi semper dulce sapere, faz com que eu viva
de Ti e saboreie sempre a doçura do teu amor.
Mais petições.
Nós, homens, estamos quase sempre inclinados
a pedir.
Desta vez, é pelos nossos irmãos defuntos
e por nós mesmos.
Por isso, aqui aparecem todas as nossas
infidelidades e misérias. O peso da sua carga é muito grande, mas Ele quer
levá-lo por nós e connosco.
O Canon vai terminar com outra invocação à
Santíssima Trindade: per Ipsum, et cum
Ipso, et in Ipso.... por Cristo, com Cristo e em Cristo, nosso Amor, a Ti,
Deus Pai Todo Poderoso, na unidade do Espírito Santo, Te seja dada toda a honra
e glória pelos séculos dos séculos.
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Jesus é o Caminho, o Medianeiro.
N'Ele, tudo!
Fora d'Ele nada!
Em Cristo e ensinados por Ele,
atrevemo-nos a chamar Pai Nosso ao Todo-Poderoso, a Ele, que fez o Céu e a
Terra e que é esse Pai tão afectuoso que espera que voltemos para Ele
continuamente, cada um de nós como novo e constante filho pródigo.
Ecce Agnus Dei... Domine, non
sum dignus...
Vamos receber o Senhor.
Quando na Terra se recebem pessoas muito
importantes, há luzes, música, trajes de gala.
Para albergar Cristo na nossa alma, como devemos
preparar-nos?
Já teremos por acaso pensado como nos
comportaríamos se só se pudesse comungar uma vez na vida?
Quando eu era criança, não estava ainda
divulgada a prática da comunhão frequente.
Recordo-me de como se preparavam as
pessoas para comungar.
Cuidavam com esmero a boa preparação da
alma e até do corpo. Punham a melhor roupa, a cabeça bem penteada, o corpo
fisicamente limpo e talvez mesmo um pouco de perfume...
Eram delicadezas próprias de quem estava
apaixonado, de almas finas e rectas, que sabem pagar o Amor com amor.
Com Cristo na alma, termina a Santa Missa.
A bênção do Pai, do Filho e do Espírito
Santo acompanha-nos durante toda a jornada, na nossa tarefa simples e normal de
santificar todas as actividades nobres do homem.
Assistindo à Santa Missa, aprenderemos a
falar, a privar com cada uma das Pessoas divinas: com o Pai, que gera o Filho,
que é gerado pelo Pai; e com o Espírito Santo, que procede dos dois.
Habituando-nos a privar intimamente com
qualquer uma das três Pessoas, privaremos com um único Deus.
E se falarmos com as três, com a Trindade,
privaremos também com um só Deus, único e verdadeiro.
Amai a Santa Missa, meus filhos, amai a
Santa Missa!
E que cada um de vós comungue com ardor,
mesmo que se sinta gelado, mesmo que não haja correspondência por parte da
emotividade. Comungai com fé, com esperança e com caridade inflamada.
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Viver na intimidade com Jesus Cristo
Não ama Cristo quem não ama a Santa Missa
e quem não se esforça no sentido de a viver com serenidade e sossego, com
devoção e com carinho.
0 amor transforma aqueles que estão
apaixonados em pessoas de sensibilidade fina e delicada.
Leva-os a descobrir, para que se não
esqueçam de os pôr em prática, pormenores que são por vezes mínimos, mas que
trazem a marca de um coração apaixonado.
É assim que devemos assistir à Santa
Missa. Por este motivo, sempre pensei que aqueles que querem ouvir uma missa
rápida e atabalhoada demonstram com essa atitude, já de si pouco elegante, que
não conseguiram aperceber-se do significado do Sacrifício do altar.
O amor a Cristo, que se oferece por nós,
anima-nos a saber encontrar, uma vez terminada a Santa Missa, alguns minutos de
acção de graças pessoal e íntima, que prolonguem no silêncio do coração essa outra
acção de graças que é a Eucaristia.
Como poderemos dirigir-nos a Ele, como
falar-Lhe, como comportar-nos?
A vida cristã não está feita de normas
rígidas, porque o Espírito Santo não dirige as almas massivamente, mas
infundindo em cada uma delas propósitos, inspirações e afectos que ajudarão a
captar e a cumprir a vontade do Pai. Penso, no entanto, que em muitas ocasiões
o nervo do nosso diálogo com Cristo, na acção de graças depois da Santa Missa,
pode ser a consideração de que o Senhor é para nós, Rei, Médico, Mestre e
Amigo.
É Rei e anseia por reinar nos nossos
corações de filhos de Deus.
Mas é preciso não imaginar reinados
humanos neste caso, porque Cristo não domina nem procura impor-se, dado que não
veio para ser servido, mas para servir.
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O seu reino é a paz, a alegria, a justiça.
Cristo, nosso Rei, não espera de nós raciocínios vãos, mas factos, porque nem
todo o que Me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus; mas o que faz a
vontade de meu Pai que está nos céus, esse entrará no reino dos céus.
É Médico e cura o nosso egoísmo, se
deixarmos que a sua graça penetre até ao fundo da nossa alma.
Jesus disse-nos que a pior doença é a
hipocrisia, o orgulho que nos faz dissimular os nossos pecados.
Com o Médico, é imprescindível, pela nossa
parte, uma sinceridade absoluta, explicar-lhe toda a verdade e dizer: Domine, si vis, potes me mundare,
Senhor, se quiseres - e Tu queres sempre - podes curar-me. Tu conheces as
minhas fraquezas, tenho estes sintomas e estas debilidades.
Mostramos-lhe também com toda a
simplicidade as chagas e o pus, no caso de haver pus.
Senhor, Tu, que curaste tantas almas, faz
com que, ao ter-Te no meu peito ou ao contemplar-Te no Sacrário, Te reconheça
como Médico divino.
É mestre de uma ciência que só Ele possui,
a do amor a Deus sem limites e, em Deus, a todos os homens.
Na escola de Cristo aprende-se que a nossa
existência não nos pertence. Ele entregou a sua vida por todos os homens e, se
O seguimos, necessitamos de compreender que não devemos apropriar-nos de
maneira egoísta da nossa vida sem compartilhar as dores dos outros.
A nossa vida é de Deus.
Temos de gastá-la ao seu serviço,
preocupando-nos generosamente com as almas e demonstrando, com a palavra e com
o exemplo, a profundidade das exigências cristãs.
Jesus espera que alimentemos o desejo de
adquirir essa ciência, para nos repetir: se alguém tem sede, venha a Mim e
beba.
E respondemos: ensina-nos a esquecermo-nos
de nós mesmos, para pensarmos em Ti e em todas as almas.
Deste modo, o Senhor far-nos-á progredir
com a sua graça, como quando começávamos a escrever (lembrais-vos daqueles
traços que fazíamos, guiados pela mão do professor?) e assim começaremos a
saborear a dita de manifestar a nossa fé, que é já de si outra dádiva de Deus,
também com traços inequívocos de uma conduta cristã, onde todos possam
descobrir as maravilhas divinas.
É Amigo, o Amigo: vos autem dixi amicos, diz-nos Ele.
Chama-nos amigos e foi Ele quem deu o
primeiro passo, pois amou-nos primeiro.
Contudo, não impõe o seu carinho:
oferece-o. E prova-o com o sinal mais evidente da amizade: ninguém tem maior
amor que o daquele que dá a vida pelos seus amigos.
Era amigo de Lázaro e chorou por ele
quando o viu morto. E ressuscitou-o.
Por isso, se nos vir frios, desalentados,
talvez com a rigidez de uma vida interior que se está a extinguir, o seu pranto
será vida para nós: Eu te ordeno, meu amigo, levanta-te e anda, deixa essa vida
mesquinha, que não é vida!
(cont)
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