Tempo comum XXV Semana
Evangelho:
Lc 9, 1-6
1 Convocados os doze Apóstolos, deu-lhes poder e
autoridade sobre todos os demónios, e para curar as doenças. 2
Enviou-os a pregar o reino de Deus e a curar os doentes. 3
Disse-lhes: «Não leveis nada para o caminho, nem bastão, nem alforge, nem pão,
nem dinheiro, nem leveis duas túnicas. 4 Em qualquer casa em que
entrardes, ficai lá, e não saiais dela até à vossa partida, 5 e se
alguém não vos receber, ao sair dessa cidade, sacudi até o pó dos vossos pés,
em testemunho contra eles». 6 Tendo eles partido, andavam de aldeia
em aldeia pregando a boa nova, e fazendo curas por toda a parte.
Comentário:
Uma das condições para a eficácia do
apostolado é o desprendimento pessoal.
Livre... livre de todos os atavios que impeçam o trabalho diligente e, sobretudo desinteressado, no que respeita a uma possível vanglória por algum desempenho bem sucedido.
(ama, comentário
sobre LC 9 1-6 2014.09.24)
Leitura espiritual
CRISTO QUE PASSA
173
Imitar Maria
A nossa Mãe é modelo de
correspondência à graça e, ao contemplarmos a sua vida, o Senhor dar-nos-á luz
para que saibamos divinizar a nossa existência vulgar.
Durante o ano, quando
celebramos as festas marianas, e cada dia em várias ocasiões, nós, os cristãos,
pensamos muitas vezes na Virgem. Se aproveitamos esses instantes, imaginando
como se comportaria a nossa Mãe nas tarefas que temos de realizar, iremos aprendendo
a pouco e pouco, até que acabaremos por nos parecermos com Ela, como os filhos
se parecem com a sua mãe.
Imitar, em primeiro
lugar, o seu amor.
A caridade não se limita
a sentimentos: há-de estar presente nas palavras e, sobretudo, nas obras.
A Virgem não só disse fiat, mas também cumpriu essa decisão
firme e irrevogável a todo o momento.
Assim, também nós,
quando o amor de Deus nos ferir e soubermos o que Ele quer, devemos
comprometer-nos a ser fiéis, leais, mas a sê-lo efectivamente.
Porque nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos
céus; mas o que faz a vontade de meu Pai, que está nos Céus, esse entrará no
reino dos Céus.
Temos de imitar a sua
natural e sobrenatural elegância.
Ela é uma criatura
privilegiada na História da Salvação, porque em Maria o Verbo se fez carne e
habitou entre nós.
Foi testemunha delicada,
que soube passar inadvertida; não foi amiga de receber louvores, pois não
ambicionou a sua própria glória.
Maria assiste aos
mistérios da infância de seu Filho, mistérios, se assim se pode dizer, cheios
de normalidade; mas à hora dos grandes milagres e das aclamações das massas
desaparece.
Em Jerusalém, quando
Cristo - montado sobre um jumentinho - é vitoriado como Rei, não está Maria.
Mas reaparece junto da
Cruz, quando todos fogem.
Este modo de se
comportar tem o sabor, sem qualquer afectação, da grandeza, da profundidade, da
santidade da sua alma!
Procuremos aprender,
seguindo também o seu exemplo de obediência a Deus, numa delicada combinação de
submissão e de fidalguia. Em Maria, nada existe da atitude das virgens néscias,
que obedecem, sim, mas como insensatas.
Nossa Senhora ouve com
atenção o que Deus quer, pondera aquilo que não entende, pergunta o que não
sabe.
Imediatamente a seguir,
entrega-se sem reservas ao cumprimento da vontade divina: eis aqui a escrava do
Senhor, faça-se em mim segundo a Vossa palavra.
Vedes esta maravilha?
Santa Maria, mestra de
toda a nossa conduta, ensina-nos agora que a obediência a Deus não é
servilismo, não subjuga a consciência, pois move-nos interiormente a
descobrirmos a liberdade dos filhos de Deus.
174
A escola da oração
O Senhor ter-vos-á feito
descobrir muitos outros aspectos da correspondência fiel da Santíssima Virgem,
que por si mesmos já são um convite para que os tomemos como modelo: a sua
pureza, a sua humildade, a sua fortaleza, a sua generosidade, a sua
fidelidade...
Eu gostaria de falar
sobre um aspecto que engloba todos os outros, porque é o clima do progresso
espiritual, isto é, a vida de oração.
Para aproveitar a graça
que nos concede a Nossa Mãe no dia de hoje e para secundar também, em qualquer
momento, as inspirações do Espírito Santo, pastor das nossas almas, devemos
estar seriamente comprometidos numa actividade que nos leve a ter intimidade
com Deus.
Não podemos esconder-nos
no anonimato, porque a vida interior, se não for um encontro pessoal com Deus,
não existe.
A superficialidade não é
cristã. Admitir a rotina, na nossa luta ascética, equivale a assinar a certidão
de óbito da alma contemplativa. Deus procura-nos um a um, e precisamos de Lhe
responder um a um: eis-me aqui, pois Tu me chamaste.
Oração, sabêmo-lo todos,
é falar com Deus.
É possível, porém, que
alguém pergunte: falar, de quê?
Do que há-de ser, senão
das coisas de Deus e das que enchem o nosso dia?
Do nascimento de Jesus,
do seu caminhar por este mundo, da sua vida oculta e da sua pregação, dos seus
milagres, da sua Paixão Redentora, da sua Cruz e da sua Ressurreição...
E na presença de Deus,
Uno e Trino, tendo por Medianeira Santa Maria e por advogado S. José, Nosso Pai
e Senhor - a quem tanto amo e venero - falaremos também do nosso trabalho de
todos os dias, da família, das relações de amizade, dos grandes projectos e das
pequenas coisas sem importância.
O tema da minha oração é
o tema da minha vida.
Eu faço assim.
E à vista da minha
situação concreta, surge naturalmente o propósito, determinado e firme, de
mudar, de melhorar, de ser mais dócil ao amor de Deus.
Um propósito sincero,
concreto.
E não pode faltar o
pedido urgente, mas confiado, de que o Espírito Santo nos não abandone, porque
tu és, Senhor, a minha fortaleza.
Somos cristãos
correntes.
Trabalhamos em
profissões muito diferentes. Toda a nossa actividade segue o caminho da
normalidade.
Tudo se desenvolve com
um ritmo previsível.
Os dias parecem iguais,
inclusivamente monótonos...
Pois bem: esse programa,
aparentemente tão comum, tem um valor divino e é algo que interessa a Deus,
porque Cristo quer encarnar nos nossos afazeres, animando, a partir de dentro,
até as nossas mais humildes acções.
Este pensamento é uma
realidade sobrenatural, nítida, inequívoca; não é uma consideração destinada a
consolar ou a confortar aqueles que, como nós, não conseguem gravar o seu nome
no livro de oiro da História.
Cristo interessa-se por
esse trabalho que devemos realizar - uma vez e mil vezes - no escritório, na
fábrica, na oficina, na escola, no campo, no exercício da profissão manual ou
intelectual.
Interessa-lhe também o
sacrifício oculto que fazemos para não derramar sobre os outros o fel do nosso
mau humor.
Recordai na oração estes
temas, aproveitai-os precisamente para dizer a Jesus que o adorais, e assim,
estareis a ser contemplativos no meio do mundo, no meio do ruído da rua, em
toda a parte.
Essa é a primeira lição,
na escola da intimidade com Jesus Cristo. Dessa escola, Maria é a melhor
professora, porque a Virgem manteve sempre essa atitude de fé, de visão
sobrenatural, perante tudo o que sucedia à sua volta: conservava todas estas
coisas ponderando-as no seu coração.
Supliquemos hoje a Santa
Maria que nos torne contemplativos, que nos ajude a compreender os contínuos
apelos que o Senhor nos dirige, batendo à porta do nosso coração.
Peçamos-lhe: Mãe, tu
trouxeste ao mundo Jesus, que nos revela o amor do nosso Pai, Deus; ajuda-nos a
reconhecê-lo, no meio das preocupações de cada dia; remove a nossa inteligência
e a nossa vontade, para que saibamos escutar a voz de Deus, o impulso da graça.
175
Mestra de apóstolos
Mas não penseis só em
vós mesmos: dilatai o vosso coração até abarcar toda a Humanidade.
Pensai, antes de mais
nada, naqueles que vos rodeiam - parentes, amigos, colegas - e vede como
podereis levá-los a sentir mais profundamente a amizade com Nosso Senhor.
Se se trata de pessoas
honradas e rectas, capazes de estarem habitualmente mais próximas de Deus,
recomendai-as concretamente a Nossa Senhora.
E pedi também por tantas
almas que não conheceis, porque todos os homens estão embarcados na mesma
barca.
Sede leais, generosos.
Fazemos parte de um só
corpo, do Corpo Místico de Cristo, da Igreja Santa, à qual estão chamados
muitos que procuram nobremente a verdade.
Por isso temos obrigação
estrita de manifestar aos outros a qualidade, a profundidade do amor de Cristo.
O cristão não pode ser egoísta. Se o fosse, atraiçoaria a sua própria vocação.
Não é de Cristo a atitude daqueles que se contentam com conservar a sua alma em
paz - falsa paz é essa... - despreocupando-se dos bens dos outros.
Desde que aceitemos o
significado autêntico da vida humana - que nos foi revelado pela fé - não
podemos sentir-nos satisfeitos, persuadidos de que nos comportamos bem
pessoalmente, se não fizermos com que os outros se aproximem de Deus, de
maneira prática e concreta.
Há um obstáculo real
para apostolado: o falso respeito, o temor de tocar temas espirituais, a
suspeita de que uma tal conversa não agradará em determinados ambientes, o medo
de ferir susceptibilidades.
Quantas e quantas vezes
esse raciocínio não é mais do que a máscara do egoísmo!
Não se trata de ferir
ninguém, mas, pelo contrário, de servir.
Embora sejamos
pessoalmente indignos, a graça de Deus torna-nos instrumentos para sermos úteis
aos outros, comunicando-lhes a boa nova de que Deus quer que todos os homens se
salvem e cheguem ao conhecimento da verdade.
E será lícito meter-se
desse modo na vida das outras pessoas?
É necessário.
Cristo meteu-se na nossa
vida sem nos pedir autorização.
Assim procedeu também
com os primeiros discípulos: passando, ao longo do mar da Galileia, viu Simão e
seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.
E disse-lhes Jesus:
Segui-me, e eu vos farei pescadores de homens. Cada um de nós mantém a
liberdade, a falsa liberdade, de responder a Deus que não, como aquele jovem
carregado de riquezas,de quem nos fala S. Lucas.
Mas o Senhor e nós - se
lhe obedecermos: ide e ensinai - temos. o direito e o dever de falar de Deus,
deste grande tema humano, porque o desejo de Deus é o mais profundo que nasce
no coração do homem.
Santa Maria, Regina Apostolorum, rainha de todos aqueles que desejam dar a
conhecer o amor de teu filho: tu, que compreendes tão bem as nossas misérias,
pede perdão pela nossa vida, pelo que em nós poderia ter sido fogo e não passou
de cinzas, pela luz que deixou de iluminar, pelo sal que se tomou insípido.
Mãe de Deus,
omnipotência suplicante: dá-nos juntamente com o perdão, a força de vivermos
verdadeiramente de fé e de amor, para podermos levar aos outros a fé de Cristo.
(cont)
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