Tempo comum XXIV Semana
Evangelho:
Lc 8, 1-3
1 Em seguida Jesus
caminhava pelas cidades e aldeias, pregando e anunciando a boa nova do reino de
Deus; andavam com Ele os doze 2 e algumas mulheres que tinham sido
livradas de espíritos malignos e de doenças: Maria, chamada Madalena, da qual
tinham saído sete demónios, 3 Joana, mulher de Cusa, procurador de
Herodes, Susana, e outras muitas, que os serviam com os seus bens.
Comentário:
Mulher bendita entre todas as mulheres, a Mãe de Jesus não consta entre
as que seguem Jesus. Fica, naturalmente em casa na maior discrição e anonimato.
Não quer, em nenhum momento ser motivo de que o que o seu Filho diz e faz não
seja o centro de todas as atenções.
Já teve a sua intervenção fulcral, trazê-lo ao mundo para operar a
redenção dos homens, interveio no primeiro milagre de Jesus, em Caná, como que
dando novamente ao mundo o Redentor para que dê início à Sua missão. Agora, e
durante três longos anos, permanecerá recolhida na sombra para voltar a
aparecer na hora derradeira, no Gólgota, não para se despedir do Crucificado,
mas para receber dele um último encargo: ser Mãe de todos os homens.
(ama,
comentário sobre Lc 8, 1-3, Convento de M Real, 2010.09.16)
Leitura espiritual
CRISTO QUE
PASSA
152
Uma vida nova
É o momento simples e
solene da instituição do Novo Testamento. Jesus derroga a antiga economia da
Lei e revela-nos que Ele próprio será o conteúdo da nossa oração e da nossa
vida.
Vede a alegria que
inunda a liturgia de hoje: seja o louvor pleno, sonoro, alegre.
É o júbilo cristão que
canta a chegada de outro tempo: terminou a antiga Páscoa, inicia-se a nova.
O velho é substituído
pelo novo, a verdade e faz com que a sombra desapareça, a noite é iluminada
pela luz.
Milagre de amor.
Este é verdadeiramente o
pão dos filhos; o Primogénito do Pai Eterno, oferece-Se-nos como alimento.
E o mesmo Jesus Cristo,
que aqui nos robustece, espera-nos no Céu como comensais, co-herdeiros e
sócios, porque os que se alimentam de Cristo morrerão com a morte terrena e
temporal, mas viverão eternamente, porque Cristo é a vida que não termina.
A felicidade eterna,
para o cristão que se conforta com o maná definitivo da Eucaristia, começa já
agora.
Passou o que era velho:
deixemos de lado tudo o que é caduco, seja tudo novo para nós - os corações, as
palavras e as obras.
Esta é a Boa Nova. É
novidade, notícia, porque nos fala de uma profundidade de Amor, de que antes
não suspeitávamos.
É boa, porque nada é
melhor do que unir-nos intimamente a Deus, Bem de todos os bens.
É a Boa Nova, porque, de
alguma maneira e de um modo indescritível, nos antecipa a eternidade.
153
Tratar com Jesus na
palavra e no pão
Jesus esconde-se no
Santíssimo Sacramento do altar, para que nos atrevamos a tratar com ele, para
ser o nosso sustento, com o fim de que nos façamos uma só coisa com Ele.
Ao dizer sem mim nada
podeis, não condenou o cristão à ineficácia, nem o obrigou a uma busca árdua e
difícil da sua Pessoa; ficou entre nós com uma disponibilidade total.
Quando nos reunimos
junto do altar enquanto se celebra o Santo Sacrifício da Missa, quando
contemplamos a Hóstia Sagrada exposta na custódia ou a adoramos escondida no
Sacrário, devemos reavivar a nossa fé, pensando nessa existência nova, que vem
a nós, e comover-nos com o carinho e a ternura de Deus.
E perseveravam todos na
doutrina dos Apóstolos, e na comum fracção do pão, e nas orações.
É assim que a Escritura
nos descreve a conduta dos primeiros cristãos: congregados pela fé dos
Apóstolos em perfeita unidade, a participarem da Eucaristia, unânimes na
oração. Fé, Pão, Palavra.
Jesus, na Eucaristia, é
penhor seguro da sua presença nas nossas almas; do seu poder, que sustenta o
mundo; das suas promessas de salvação, que ajudarão a que a família humana,
quando chegar o fim dos tempos, habite perpetuamente na casa do Céu, em torno
de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo:
Santíssima Trindade,
Deus único.
É toda a nossa fé que se
põe em acto quando cremos em Jesus, na sua presença real sob os acidentes do
pão e do vinho.
154
Não compreendo como se
possa viver cristãmente sem sentir a necessidade de uma amizade constante com
Jesus na Palavra e no Pão, na oração e na Eucaristia.
E entendo perfeitamente
que, ao longo dos séculos, as sucessivas gerações de fiéis tenham vindo a
concretizar essa piedade eucarística.
Umas vezes com práticas
multitudinárias, professando publicamente a sua fé; outras, com gestos
silenciosos e calados, na sagrada paz do templo ou na intimidade do coração.
Antes de mais, devemos
amar a Santa Missa, que deve ser o centro do nosso dia.
Se vivemos bem a Missa,
como não havemos depois de continuar o resto da jornada com o pensamento no
Senhor, com o desejo ardente de não nos afastarmos da sua presença, para
trabalhar como Ele trabalhava e amar como Ele amava?
Aprendemos então a
agradecer ao Senhor essa sua outra delicadeza: não quis limitar a sua presença
ao momento do Sacrifício do Altar, mas decidiu permanecer na Hóstia Santa que
se reserva no Tabernáculo, no Sacrário.
Dir-vos-ei que, para
mim, o Sacrário foi sempre Betânia, o lugar tranquilo e aprazível onde está
Cristo, onde Lhe podemos contar as nossas preocupações, os nossos sofrimentos,
as nossas aspirações e as nossas alegrias, com a mesma simplicidade e
naturalidade com que aqueles seus amigos Marta, Maria e Lázaro lhe falavam.
Por isso, ao percorrer
as ruas de alguma cidade ou de alguma aldeia, alegra-me descobrir, ainda que ao
longe, a silhueta duma igreja: é um novo Sacrário, mais uma ocasião para deixar
a alma escapar-se para estar, em desejo, junto do Senhor Sacramentado.
155
Fecundidade da
Eucaristia
Quando o Senhor na
última Ceia instituiu a Sagrada Eucaristia, era de noite, o que - comenta S.
João Crisóstomo - manifestava que os tempos tinham sido cumpridos.
Caía a noite sobre o
mundo, porque os velhos ritos, os antigos sinais da misericórdia infinita de
Deus para com a humanidade iam realizar-se plenamente, abrindo caminho a um
verdadeiro amanhecer: a nova Páscoa.
A Eucaristia foi
instituída durante a noite, preparando de antemão a manhã da Ressurreição.
Também nas nossas vidas
temos de preparar essa alvorada.
Tudo o, que é caduco, o
que é prejudicial, o que não serve - o desânimo, a desconfiança, a tristeza, a
cobardia - tudo isso tem de ser deitado fora.
A Sagrada Eucaristia
introduz a novidade divina nos filhos de Deus e devemos corresponder in novitate sensus, com uma renovação de
todo o nosso sentir e de todo o nosso agir.
Foi-nos dado um novo
princípio de energia, uma raiz poderosa, enxertada no Senhor.
Não podemos voltar à
antiga levedura, nós que temos o Pão de agora e de sempre.
156
Nesta festa, em cidades
de um extremo ao outro da Terra, os cristãos acompanham em procissão o Senhor
que, escondido na hóstia, percorre as ruas e praças - como durante a sua vida
terrena - aparecendo aos que O querem ver, vindo ao encontro dos que O não procuram.
Jesus aparece assim, uma vez mais, no meio dos seus.
Como reagimos perante
esse chamamento do Mestre?
As manifestações
externas de amor devem nascer do coração e prolongar-se com o testemunho da
conduta cristã.
Se fomos renovados com a
recepção do Corpo do Senhor, temos de o manifestar com obras.
Que os nossos
pensamentos sejam sinceros: de paz, de entrega, de serviço.
Que as nossas palavras
sejam verdadeiras, claras, oportunas; que saibam consolar e ajudar, que saibam
sobretudo levar aos outros a luz de Deus.
Que as nossas acções
sejam coerentes, eficazes, acertadas: que tenham esse bonus odor Christi , o bom odor de Cristo, por recordarem o seu
modo de Se comportar e de viver.
A procissão do Corpo de
Deus torna Cristo presente nas aldeias e cidades do mundo.
Mas essa presença,
repito, não deve ser coisa de um dia, ruído que se ouve e se esquece.
Essa passagem de Jesus
lembra-nos que temos também de descobri-Lo nos nossos afazeres quotidianos.
A par da procissão
solene desta quinta-feira deve ir a procissão silenciosa e simples da vida
corrente de cada cristão, homem entre os homens, mas com a felicidade de ter
recebido a fé e a missão divina de se comportar de tal modo que renove a
mensagem do Senhor sobre a Terra. ão nos faltam erros, misérias, pecados.
Mas Deus está com os
homens, e temos de nos dispor a que se sirva de nós e se torne contínua a sua
passagem entre as criaturas.
Vamos, pois, pedir ao
Senhor que nos conceda sermos almas de Eucaristia, que a nossa relação pessoal
com Ele se traduza em alegria, em serenidade, em desejo de justiça.
E facilitaremos aos
outros o trabalho de reconhecer Cristo, contribuiremos para colocá-lo no cume
de todas as actividades humanas.
Cumprir-se-á a promessa
de Jesus: Eu, quando for levantado sobre a terra, atrairei tudo a mim.
(cont)
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