Tempo comum XXIV Semana
Exaltação
da Santa Cruz
Evangelho:
Jo 3, 13-17
13 Ninguém subiu ao céu,
senão Aquele que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu. 14 E como
Moisés levantou no deserto a serpente, assim também importa que seja levantado o
Filho do Homem, 15 a fim de que todo o que crê n'Ele tenha a vida eterna. 16
«Porque Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu Seu Filho Unigénito, para
que todo aquele que crê n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. 17 Porque
Deus não enviou Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo
seja salvo por Ele.
Comentário:
É
o homem quem se condena a si mesmo ao afastar-se de Deus, ao ir contra a Sua
Vontade, ao não cumprir os Seus Mandamentos.
Deus,
sumamente Justo, mais não faz que respeitar a escolha do homem.
Mas,
é verdade… tenta tudo para que o homem se salve e, por isso mesmo, chega ao
extremo de Se imolar numa Cruz para o resgatar.
(ama, comentário sobre Jo 3, 13-17,
2011.08.12)
Leitura espiritual
CRISTO QUE
PASSA
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Entre os dons do
Espírito Santo, eu diria que há um de que todos nós, cristãos, temos especial
necessidade: o dom da Sabedoria, que, fazendo-nos conhecer a Deus e tomar-Lhe o
sabor, nos coloca em condições de poder julgar com verdade as situações e as
coisas da vida presente.
Se fôssemos consequentes
com a nossa fé, quando olhássemos à nossa volta e contemplássemos o espectáculo
da História e do Mundo, não poderíamos deixar de sentir crescer nos nossos
corações os mesmos sentimentos que animaram o de Jesus Cristo: ao ver aquelas
multidões, compadeceu-se delas, porque estavam maltratadas e fatigadas e como
ovelhas sem pastor.
Não é que o cristão não
veja todo o bem que há na Humanidade, não aprecie as alegrias puras, não
participe dos anseios e dos ideais terrenos.
Pelo contrário, sente
tudo isso desde o mais recôndito da alma e compartilha-o e vive-o com especial
intensidade, pois conhece melhor do que ninguém os arcanos do espírito humano.
A fé cristã não nos
torna pusilânimes nem cerceia os impulsos nobres da alma, pois é ela que os
engrandece, ao revelar o seu verdadeiro e mais autêntico sentido: não estamos
destinados a uma felicidade qualquer, porque fomos chamados à intimidade
divina, a conhecer e amar Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo e, na
Trindade e na Unidade de Deus, todos os anjos e todos os homens.
Essa é a grande ousadia
da fé cristã: proclamar o valor e a dignidade da natureza humana e afirmar que,
mediante a graça que nos eleva à ordem sobrenatural, fomos criados para
alcançar a dignidade de filhos de Deus.
Ousadia certamente
incrível, se não se baseasse no desígnio salvador de Deus Pai e não houvesse
sido confirmada pelo Sangue de Cristo e reafirmada e tornada possível pela
acção constante do Espírito Santo.
Temos de viver de Fé,
crescer na Fé, até poder dizer de cada um de nós, de cada cristão, o que há
muitos séculos escreveu um dos grandes Doutores da Igreja Oriental:
Da mesma maneira que os
corpos transparentes e límpidos, quando recebem os raios luminosos, se tornam
resplandecentes e irradiam brilho, assim as almas que são conduzidas e
iluminadas pelo Espírito Santo se tornam também espirituais e levam às outras a
luz da graça.
Do Espírito Santo
procede o conhecimento das coisas futuras, a inteligência dos mistérios, a
compreensão das verdades ocultas, a distribuição dos dons, a cidadania celeste,
a conversação com os Anjos. D'Ele, a alegria que nunca termina, a perseverança
em Deus, a semelhança com Deus e - a coisa mais sublime que pode ser pensada -
a transformação em Deus
A consciência da
grandeza da dignidade humana - de um modo eminente e inefável, pois fomos, pela
acção da graça, constituídos filhos de Deus - é no cristão uma só coisa com a
humildade, visto que não são as nossas forças que nos salvam e nos dão a vida,
mas o favor divino.
É uma verdade que não se
pode esquecer, porque senão pervertia-se o nosso endeusamento, convertendo-se
em presunção, em soberba e, mais cedo ou mais tarde, em ruína espiritual
perante a experiência da nossa fraqueza e miséria.
Atrever-me-ei a dizer que sou santo? - perguntava a si mesmo
Santo Agostinho - Se dissesse santo como
santificador e não necessitado de ninguém que me santificasse, seria soberbo e
mentiroso. Mas, se entendo por santo o santificado, segundo aquilo que se lê no
Levítico: sede santos, porque Eu, Deus, sou santo, então também o corpo de
Cristo, até ao último homem situado nos confins da Terra, poderá dizer
ousadamente, unido à sua Cabeça e a ela subordinado: sou santo.
Amemos a Terceira Pessoa
da Santíssima Trindade; escutemos na intimidade do nosso ser as moções divinas
- alentos, censuras - ; caminhemos sobre a Terra dentro da luz derramada na
nossa alma; e o Deus da esperança nos encherá de todas as formas de paz, para
que essa esperança vá crescendo em nós cada vez mais, pela virtude do Espírito
Santo.
134
Amizade com o Espírito
Santo
Viver segundo o Espírito
Santo é viver de Fé, de Esperança, de Caridade; é deixar que Deus tome posse de
nós e mude os nossos corações desde a raiz, para os fazer à sua medida.
Uma vida cristã madura,
profunda e firme não é coisa que se improvise, porque é fruto do crescimento em
nós da graça de Deus.
Nos Actos dos Apóstolos,
descreve-se a situação da primitiva comunidade cristã numa frase breve, mas
cheia de sentido: perseveravam todos na doutrina dos Apóstolos e na comum
fracção do pão e nas orações.
Assim viveram os
primeiros cristãos e assim devemos viver nós: a meditação da doutrina da Fé, de
modo assimilá-la, o encontro com Cristo na Eucaristia, o diálogo pessoal - a
oração sem anonimato - face a face com Deus, hão-de constituir como que a
substância última da nossa vida. Se isso faltar, talvez haja reflexão erudita,
actividade mais ou menos intensa, devoções e práticas piedosas.
Não haverá, porém,
existência cristã autêntica, porque faltará a compenetração com Cristo, a
participação real e vivida na obra divina da salvação.
A qualquer cristão se
aplica esta doutrina, porque todos estamos igualmente chamados à santidade.
Não há cristãos de
segunda classe, obrigados a pôr em prática apenas uma versão reduzida do
Evangelho: todos recebemos o mesmo baptismo e, embora exista uma ampla
diversidade de carismas e de situações humanas, um mesmo é o Espírito que
distribui os dons divinos, uma mesma a Fé, uma só a Esperança, uma só a
Caridade.
Podemos, pois, ter por
dirigida a nós mesmos a pergunta do Apóstolo: não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em
vós? e recebê-la como um convite a um trato mais pessoal e directo com
Deus.
Infelizmente, o
Paráclito é para alguns cristãos o Grande Desconhecido, um nome que se pronuncia,
mas que não é Alguém - uma das Três Pessoas do Único Deus - com Quem se fala e
de Quem se vive.
Ora é indispensável ter
com Ele familiaridade e confiança, cheia de simplicidade como nos ensina a
Igreja através da Liturgia.
Assim conheceremos melhor
Nosso Senhor e ao mesmo tempo compreenderemos melhor o imenso dom que significa
ser cristão; veremos como é grande e verdadeiro o "endeusamento", a
participação na vida divina a que atrás me referi.
Porque o Espírito Santo
não é um artista que desenha em nós a divina substância, como se lhe fosse
alheio; não é assim que nos conduz à semelhança divina: é Ele mesmo, que é Deus
e de Deus procede, que Se imprime nos corações que O recebem, à maneira de selo
sobre a cera, e é assim, por comunicação de si mesmo e pela semelhança, que
restabelece a natureza segundo a beleza do modelo divino e restitui ao homem a
imagem de Deus.
135
Para pôr em prática,
ainda que seja de um modo muito genérico, um estilo de vida que nos anime a
conviver com o Espírito Santo - e, ao mesmo tempo com o Pai e o Filho - numa
verdadeira intimidade com o Paráclito, devemos firmar-nos em três realidades
fundamentais: docilidade - digo-o mais uma vez - vida de oração, união com a
Cruz.
Em primeiro lugar,
docilidade - porque é o Espírito Santo que, com as suas inspirações, vai dando
tom sobrenatural aos nossos pensamentos, desejos e obras.
É Ele que nos impele a
aderir à doutrina de Cristo e a assimilá-la em profundidade; que nos dá luz
para tomar consciência da nossa vocação pessoal e força para realizar tudo o
que Deus espera de nós.
Se formos dóceis ao
Espírito Santo, a imagem de Cristo ir-se-á formando, cada vez mais nítida, em
nós e assim nos iremos aproximando cada vez mais de Deus Pai.
Os que são conduzidos
pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.
Se nos deixarmos guiar
por esse princípio de vida, presente em nós, que é o Espírito Santo, a nossa
vitalidade espiritual irá crescendo e abandonar-nos-emos nas mãos do nosso Pai
Deus, com a mesma espontaneidade e confiança com que um menino se lança nos
braços do pai.
Se não vos tornardes
como meninos, não entrareis no Reino dos Céus, disse o Senhor.
É este o antigo e sempre
actual caminho da infância espiritual, que não é sentimentalismo nem falta de
maturidade humana, mas sim maioridade sobrenatural, que nos leva a aprofundar
as maravilhas do amor divino, reconhecer a nossa pequenez e a identificar
plenamente a nossa vontade com a de Deus.
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Em segundo lugar, vida
de oração, porque a entrega, a obediência, a mansidão do cristão nascem do amor
e para o amor caminham.
E o amor conduz ao
convívio, à conversação, à intimidade.
A vida cristã requer um
diálogo constante com Deus Uno e Trino, e é a essa intimidade que o Espírito
Santo nos conduz.
Quem conhece as coisas
que são do homem, senão o espírito do homem, que está nele?
Assim também as coisas
que são de Deus, ninguém as conhece senão o Espírito de Deus.
Se tivermos assídua
relação com o Espírito Santo, também nós nos faremos espirituais, nos
sentiremos irmãos de Cristo e filhos de Deus, a Quem não teremos dúvida de
invocar como Pai nosso que é.
Acostumemo-nos a
conviver com o Espírito Santo, que é quem nos há-de santificar; a confiar
n'Ele, a pedir a sua ajuda, a senti-Lo ao pé de nós.
Assim se irá tornando
maior o nosso pobre coração, e teremos mais desejos de amar a Deus e, por Ele,
a todas as criaturas.
E nas nossas vidas reproduzir-se-á
a visão com que termina o Apocalipse: o Espírito e a Esposa, o Espírito Santo e
a Igreja - e cada um dos cristãos - dirigem-se a Jesus Cristo, pedindo-lhe que
venha, que esteja connosco para sempre.
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Por último, união com a
Cruz.
Porque, na vida de
Cristo, o Calvário precedeu a Ressurreição e o Pentecostes, e esse mesmo
processo deve reproduzir-se na vida de cada cristão: somos - diz-nos S. Paulo -
co-herdeiros de Cristo; mas isto, se sofrermos com Ele, para sermos com Ele
glorificados.
O Espírito Santo é o
fruto da Cruz, da entrega total a Deus, de buscarmos exclusivamente a sua
glória e de renunciarmos completamente a nós mesmos.
Só quando o homem, sendo
fiel à graça, se decide a colocar no centro da sua alma a Cruz, negando-se a si
mesmo por amor de Deus, estando realmente desapegado do egoísmo e de toda a
falsa segurança humana, quer dizer, só quando vive verdadeiramente de Fé, é que
recebe com plenitude o grande fogo, a grande luz, a grande consolação do
Espírito Santo.
É então que vêm à alma
essa paz e essa liberdade que Cristo ganhou para nós e que se nos comunicam com
a graça do Espírito Santo.
Os frutos do Espírito
Santo são caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, longanimidade,
mansidão, fé, modéstia, continência, castidade; e onde está o Espírito do
Senhor, aí há liberdade.
(cont)
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