Tempo comum XIV Semana
Evangelho:
Mc 6, 1-6
1 Tendo Jesus partido dali, foi para a Sua terra;
e seguiram-n'O os discípulos 2 Chegado o sábado, começou a ensinar
na sinagoga. Os Seus numerosos ouvintes admiravam-se e diziam: «Donde vêm a
Este todas estas coisas que diz? Que sabedoria é esta que Lhe foi dada? E como
se operam tais maravilhas pelas Suas mãos? 3 Não é Este o carpinteiro,
filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui
entre nós as Suas irmãs?». 4 E estavam perplexos a Seu respeito. 5
Mas Jesus dizia-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus
parentes e na sua própria casa». E não pôde fazer ali milagre algum; apenas
curou alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos. 6 E admirava-Se
da incredulidade deles. Depois, andava ensinando pelas aldeias circunvizinhas.
Comentário:
O Apóstolo não tem de preocupar-se tanto com o
que diz como com o que faz.
São as obras que pratica que dão credibilidade ao
que transmite aos outros.
Tenha-se bem presente que não há melhor ou mais
profícuo apostolado do que o do exemplo pessoal porque por melhor que se
exponha a doutrina ou a excelência da pregação seja atraente e até possa
arrastar multidões de nada servirão se a vida pessoal não lhes corresponder
integralmente.
(ama,
comentário sobre Mc 6, 1-6, Malta, 2015.02.04)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Amigos de Deus
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Fazer do trabalho oração
Costumo dizer com frequência que, nestes
momentos de conversa com Jesus, que nos vê e nos ouve do sacrário, não podemos
cair numa oração impessoal.
E
observo também que, para meditar de modo a que se inicie imediatamente um
diálogo com o Senhor, não é preciso pronunciar palavras.
Precisamos,
sim, de sair do anonimato e de nos pôr na sua presença tal como somos, sem nos
escondermos na multidão que enche a igreja, nem nos diluirmos num palavreado
oco, que não brota do coração mas de um costume desprovido de conteúdo.
Posto isto, acrescento agora que também o
teu trabalho deve ser oração pessoal e há-de converter-se numa grande conversa
com o Nosso Pai do Céu.
Se
procuras a santificação na tua actividade profissional e através dela, terás
necessariamente de te esforçar para que ela se converta numa oração sem
anonimato.
E
nem sequer estes teus afãs podem cair na obscuridade anódina de uma tarefa
rotineira, impessoal, porque nesse mesmo instante teria morrido o aliciante
divino que anima o teu trabalho quotidiano.
Vêm-me neste momento à memória as minhas
viagens às frentes de batalha durante a Guerra Civil Espanhola.
Sem
contar com qualquer meio humano, acudia aonde houvesse alguém que necessitasse
do meu trabalho de sacerdote.
Naquelas
circunstâncias tão peculiares, talvez propícias a que muitos justificassem os
seus abandonos e os seus descuidos, não me limitava a sugerir um conselho
simplesmente ascético.
Movia-me
então a mesma preocupação que sinto agora e que estou a procurar que o Senhor
desperte em cada um de vós.
Interessava-me
pelo bem das suas almas e também pela sua alegria aqui na terra.
Por
isso, animava-os a aproveitarem o tempo com tarefas úteis, evitando que a
guerra se tornasse numa espécie de parêntesis na sua vida.
Pedia-lhes
que não se desleixassem e fizessem o possível por não converter a trincheira e
a guarita numa espécie de sala de espera das estações de caminhos de ferro da
época, onde a gente matava o tempo à espera daqueles comboios que parecia que
nunca mais chegariam...
Sugeria-lhes concretamente que se ocupassem
com alguma actividade proveitosa, compatível com o seu serviço de soldados,
como, por exemplo, estudar ou aprender línguas, aconselhando-os também a que
nunca deixassem de ser homens de Deus e procurassem que toda a sua conduta
fosse operatio Dei, trabalho de Deus.
E
ficava comovido ao comprovar que esses rapazes, em situações nada fáceis,
correspondiam tão maravilhosamente, que se notava a solidez da sua têmpera
interior.
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Lembro-me também da temporada da minha
estadia em Burgos, durante essa mesma época.
Aí
apareciam tantos e tantos para passar alguns dias comigo nos períodos de
licença, além daqueles que estavam destacados nos quartéis da zona.
Como
casa, compartilhava com alguns filhos meus o mesmo quarto de um hotel muito
fraco.
Apesar
de carecermos até do mais imprescindível, organizávamo-nos de modo a que não
faltasse o necessário aos que vinham para descansar e recompor as forças.
E
eram centenas!
Tinha o costume de sair a passear pela
margem do Arlanzón, enquanto conversava com eles, ouvia as suas confidências e
procurava orientá-los com o conselho oportuno que os confirmasse ou lhes
abrisse horizontes novos de vida interior.
E,
sempre com a ajuda de Deus, animava-os, estimulava-os e abrasava-os na sua
conduta de cristãos.
Às
vezes as nossas caminhadas chegavam ao mosteiro de Las Huelgas.
E
noutras ocasiões íamos até à Catedral.
Gostava de subir a uma torre para que
vissem de perto a pedra trabalhada das cumieiras, um autêntico rendilhado de
pedra, fruto de um trabalho paciente e custoso.
Nessas
conversas fazia-lhes notar que aquela maravilha não se via de baixo.
E
para concretizar o que lhes tinha explicado com repetida frequência, comentava:
isto é o trabalho de Deus, a obra de Deus: acabar a tarefa pessoal com
perfeição, com beleza, com o primor destas delicadas rendas de pedra.
Compreendiam,
perante essa realidade que entrava pelos olhos, que tudo isso era oração, um
formoso diálogo com o Senhor.
Aqueles
que tinham gasto as suas energias nessa tarefa sabiam perfeitamente que das
ruas da cidade ninguém veria e apreciaria o resultado do seu esforço: era só
para Deus.
Compreendes agora como a vocação
profissional pode aproximar do Senhor?
Faz tu o mesmo que aqueles canteiros e o
teu trabalho será também operatio Dei,
um trabalho humano com entranhas e perfis divinos.
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Convencidos de que Deus se encontra em toda
a parte, nós cultivamos os campos louvando ao Senhor, sulcamos os mares e trabalhamos
em todas as outras nossas profissões, cantando as suas misericórdias.
Desta
maneira estamos unidos a Deus a todo o momento.
Mesmo
quando vos encontrardes isolados, fora do vosso ambiente habitual - como
aqueles rapazes na trincheira - vivereis metidos no Senhor, através desse
trabalho pessoal e esforçado, contínuo, que soubestes converter em oração,
porque o haveis começado e concluído na presença de Deus Pai, de Deus Filho e
de Deus Espírito Santo.
Não esqueçais, contudo, que estais também
na presença dos homens e que estes esperam de vós - de ti! - um testemunho
cristão.
Por
isso, na ocupação profissional, temos de actuar de tal maneira, do ponto de
vista humano, que não fiquemos envergonhados nem façamos corar quem nos conhece
e nos ama.
Se
vos conduzirdes de acordo com este espírito que procuro ensinar-vos, além de
não desiludirdes aqueles que confiam em vós, não ficareis com a cara ruborizada
e nem sequer vos acontecerá como àquele homem da parábola que se propôs edificar
uma torre: depois de lançar os alicerces, não podendo concluí-la, começaram
todos os que a viram a zombar dele, dizendo: "Este começou a construir e não pôde chegar ao fim".
Garanto-vos que, se não perderdes a visão
sobrenatural, poreis o coroamento na vossa tarefa, acabareis a vossa catedral,
até colocar a última pedra.
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Possumus!
Podemos vencer também esta batalha com a
ajuda do Senhor. Convencei-vos de que não se torna difícil converter o trabalho
num diálogo de oração.
Basta
oferecê-lo a Deus e meter mãos à obra, pois Ele já nos está a ouvir e a
alentar.
Assim,
nós, no meio do trabalho quotidiano, conquistamos o modo de ser das almas
contemplativas, porque nos invade a certeza de que Deus nos olha, sempre que
nos pede uma nova e pequena vitória: um pequeno sacrifício, um sorriso à pessoa
importuna, começar pela tarefa menos agradável e mais urgente, ter cuidado com
os pormenores de ordem, ser perseverante no dever quando era tão fácil abandoná-lo,
não deixar para amanhã o que temos de terminar hoje...
E
tudo isto para dar gosto ao Nosso Pai Deus!
Entretanto,
talvez sobre a tua mesa ou num lugar discreto que não chame a atenção, para te
servir de despertador do espírito contemplativo, pões o crucifixo, que já se
tornou para a tua alma e para a tua mente o manual onde aprendes as lições de
serviço.
Se te decidires - sem fazer coisas
esquisitas, sem abandonar o mundo, no meio das tuas ocupações habituais - a
entrar por estes caminhos de contemplação, sentir-te-ás imediatamente amigo do
Mestre e com o encargo divino de abrir os caminhos divinos da terra a toda a
humanidade.
Sim,
com esse teu trabalho contribuirás para que se estenda o reinado de Cristo em
todos os continentes e seguir-se-ão, uma atrás da outra, as horas de trabalho oferecidas
pelas longínquas nações que nascem para a fé, pelos povos do leste barbaramente
impedidos de professar com liberdade as suas crenças, pelos países de antiga tradição
cristã onde parece que se obscureceu a luz do Evangelho e as almas se debatem nas
sombras da ignorância...
Que
valor adquire então essa hora de trabalho, esse continuar com o mesmo empenho
durante um pouco mais de tempo, alguns minutos mais, até rematar a tarefa.
Convertes assim, de um modo prático e
simples, a contemplação em apostolado, como necessidade imperiosa do coração,
que pulsa em uníssono com o dulcíssimo e misericordioso Coração de Jesus, Nosso
Senhor.
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Fazer tudo por Amor
E como é que vou conseguir - parece que me
perguntas - actuar sempre com esse espírito, que me leve a concluir com perfeição
o meu trabalho profissional?
A resposta não é minha.
Vem de S. Paulo: Trabalhai varonilmente, sede fortes. Que tudo, entre vós, se realize
na caridade. Fazei tudo por Amor e livremente. Nunca actueis por medo ou por
rotina: servi ao Nosso Pai Deus.
Gosto muito de repetir - porque tenho
experimentado bem a sua mensagem - aqueles versos pouco artísticos, mas muito
gráficos:
Minha
vida é toda amor;
Se
em amor sou entendido,
Foi
pela força da dor,
Pois
ninguém ama melhor
Que
quem muito haja sofrido.
Ocupa-te dos teus deveres profissionais por
Amor.
Faz
tudo por Amor - insisto - e comprovarás as maravilhas que produz o teu
trabalho, precisamente porque amas, embora tenhas de saborear a amargura da
incompreensão, da injustiça, da ingratidão e até do próprio fracasso humano.
Frutos
saborosos, sementes de eternidade!
(cont)
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