Tempo comum XII Semana
Nascimento de São João Baptista
Evangelho:
Lc 1, 57-66, 80
57 Completou-se para Isabel o tempo de
dar à luz e deu à luz um filho. 58 Os seus vizinhos e parentes
ouviram falar da graça que o Senhor lhe tinha feito e congratulavam-se com ela.
59 Aconteceu que, ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e
chamavam-lhe Zacarias, do nome do pai. 60 Interveio, porém, sua mãe
e disse: «Não; mas será chamado João». 61 Disseram-lhe: «Ninguém há
na tua família que tenha este nome». 62 E perguntavam por acenos ao
pai como queria que se chamasse. 63 Ele, pedindo uma tabuinha,
escreveu assim: «O seu nome é João». Todos ficaram admirados.64 E
logo se abriu a sua boca, soltou-se a língua e falava bendizendo a Deus. 65
O temor se apoderou de todos os seus vizinhos, e divulgaram-se todas estas
maravilhas por todas as montanhas da Judeia. 66 Todos os que as
ouviram as ponderavam no seu coração, dizendo: «Quem virá a ser este menino?».
Porque a mão do Senhor estava com ele.
80 Ora o menino crescia e se fortificava
no espírito. E habitou nos desertos até ao dia da sua manifestação a Israel.
Comentário:
Porque é que o seu nome é João?
Zacarias não revela que foi o Anjo que
assim lho indicou e nem precisa, pois todos podem ver o milagre de ter
recuperado a fala logo que o escreveu na tabuinha.
Assim é quando se faz a vontade de
Deus, recupera-se o que se tinha perdido com a resistência ou indiferença aos
Seus mandatos e, a alma, não poderá deixar de entoar com júbilo louvor e glória
a Deus Nosso Senhor.
(ama,
comentário sobre Lc 1, 57-66, 2009.11.19)
Leitura espiritual
Virtudes
5. As virtudes
humanas
«As virtudes
humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da
inteligência e da vontade, que regulam os nossos actos, ordenam as nossas
paixões e guiam o nosso procedimento segundo a razão e a fé. Conferem
facilidade, domínio e alegria para se levar uma vida moralmente boa. O Homem
virtuoso é aquele que livremente pratica o bem» [1].
Estas adquirem-se
mediante as forças humanas e são os frutos e germes de actos moralmente bons» [2], [3].
Entre as virtudes humanas
há quatro chamadas cardeais, porque todas as outras se agrupam à volta delas.
São a prudência, a
justiça, a fortaleza e a temperança [4].
- «A prudência é a virtude que dispõe
a razão prática para discernir, em qualquer circunstância, o nosso verdadeiro
bem e para escolher os justos meios de o atingir» [5].
É a «norma recta da
acção» [6].
- «A justiça é a virtude moral que
consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é
devido» [7], [8].
- «A fortaleza é a virtude moral que,
no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na prossecução do
bem.
Torna firme a decisão de resistir às
tentações e de superar os obstáculos na vida moral.
A virtude da
fortaleza dá capacidade para vencer o medo, mesmo da morte, e enfrentar a
provação e as perseguições.
- «A temperança a virtude moral que
modera a atracção dos prazeres e proporciona o equilíbrio no uso dos bens
criados.
Assegura o domínio da vontade sobre os
instintos e mantém os desejos nos limites da honestidade» […]
A pessoa temperante orienta para o bem
os apetites sensíveis, guarda uma sã discrição e não se deixa arrastar pelas
paixões do coração. A temperança é muitas vezes louvada no Antigo Testamento:
«Não te deixes
levar pelas tuas más inclinações e refreia os teus apetites» [11].
No Novo Testamento,
é chamada “moderação”, ou “sobriedade”» [12].
A respeito das
virtudes morais, afirma-se que in medio
virtus.
Isto significa que
a virtude moral consiste no meio entre um defeito e um excesso [13].
In medio virtus não é uma chamada à
mediocridade.
A virtude não é o
termo médio entre dois ou mais vícios, mas a rectidão da vontade que, como num
cume, se opõe a todos os abismos que são os vícios [14].
6. As virtudes e a
graça. As virtudes cristãs
As feridas deixadas
pelo pecado original na natureza humana dificultam a aquisição e o exercício
das virtudes humanas [15], [16].
Para adquiri-las e
praticá-las, o cristão conta com a graça de Deus que sara a natureza humana.
Além disso, a graça, ao elevar a natureza
humana a participar da natureza divina, eleva essas virtudes ao plano
sobrenatural [17],
levando a pessoa humana a actuar segundo a recta razão iluminada pela fé: numa
palavra, a imitar Cristo.
Deste modo, as
virtudes humanas tornam-se virtudes cristãs [18].
7. Os dons e os
frutos do Espírito
«A vida moral dos
cristãos é sustentada pelos dons do Espírito Santo. Estes são disposições
permanentes que tornam o homem dócil aos impulsos do Espírito Santo» [19] [20].
Os sete dons do Espírito Santo são [21]:
1º - Sabedoria: para compreender e
julgar com acerto acerca dos desígnios divinos.
2º - Entendimento: para penetrar na verdade sobre Deus.
3º - Conselho: para julgar e secundar
nas acções singulares os desígnios divinos.
4º - Fortaleza: para acometer as
dificuldades na vida cristã.
5º - Ciência: para conhecer a
ordenação das coisas criadas por Deus.
6º - Piedade: para nos comportarmos
como filhos de Deus e como irmãos dos nossos irmãos os homens, sendo outros
Cristos.
7º - Temor de Deus: para repudiar tudo
o que possa ofender a Deus, como um filho repudia, por amor, o que possa
ofender o seu pai.
«Os frutos do
Espírito Santo são perfeições que o Espírito Santo forma em nós, como primícias
da glória eterna» [22].
São actos que a
acção do Espírito Santo produz habitualmente na alma.
A tradição da Igreja enumera doze:
«Caridade, Gozo,
Paz, Paciência, Longanimidade, Bondade, Benignidade, Mansidão, Fidelidade,
Modéstia, Continência, Castidade» [23].
8. Influência das
paixões na vida moral
Pela união
substancial da alma e do corpo, a nossa vida espiritual – o conhecimento
intelectual e o livre querer da vontade – encontra-se sob o influxo (para o bem
ou para o mal) da sensibilidade.
Este influxo
manifesta-se nas paixões que são «emoções ou movimentos da sensibilidade, que
inclinam a agir, ou a não agir, em vista do que se sentiu ou imaginou como bom
ou como mau» [24].
As paixões são
movimentos do apetite sensível (irascível e concupiscível).
Podem chamar-se
também, em sentido amplo, “sentimentos” ou “emoções” [25].
Por exemplo, são
paixões o amor, a ira, o temor, etc.
«A mais fundamental
é o amor, provocado pela atracção do bem.
O amor causa o
desejo do bem ausente e a esperança de o alcançar.
Este movimento tem o seu termo no
prazer e na alegria do bem possuído.
A apreensão pelo mal causa o ódio, a
aversão e o receio do mal futuro; este movimento termina na tristeza pelo mal
presente ou na cólera que a ele se opõe» [26].
As paixões influem
muito na vida moral
«Em si mesmas, as
paixões não são nem boas nem más» [27].
Pertence à perfeição
humana que as paixões estejam reguladas pela razão e dominadas pela vontade [30].
Depois do pecado
original, as paixões não se encontram submetidas ao império da razão, e com
frequência inclinam a levar a cabo o que não é bom [31].
Para as encaminhar habitualmente para
o bem necessita-se da ajuda da graça, que sara as feridas do pecado, e da luta
ascética.
A vontade, se é
boa, utiliza as paixões ordinariamente para o bem [32].
Pelo contrário, a
má vontade que segue o egoísmo, sucumbe às paixões desordenadas ou usa-as para
o mal [33].
francisco díaz 2012/09/20
Bibliografia básica:
Catecismo da Igreja Católica, 1762-1770, 1803-1832 e
1987-2005.
Leituras recomendadas:
São Josemaria, Homilia «Virtudes
humanas», em Amigos de Deus, 73-92.
(Revisão
gráfica e da versão portuguesa por ama.)
[1] Catecismo, 1804
[2] Catecismo, 1804
[3] O cristão desenvolve as virtudes
com a ajuda da graça de Deus que, ao sarar a natureza humana, dá força para as
praticar e ordena-as a um fim mais elevado.
[4] cf. Catecismo, 1805
[5] Catecismo, 1806
[6] Conduz a julgar rectamente sobre o
modo de agir: sem retrair da acção (cf. s.
tomás de aquino, Summa Theologiae,
II-II, q. 47, a. 2).
«Não se confunde, nem com a timidez ou o medo, nem com
a duplicidade ou dissimulação. É chamada “auriga
virtutum – condutor das virtudes,” porque guia as outras virtudes, indicando-lhes
a regra e a medida.
É a prudência que guia imediatamente o juízo da
consciência.
O homem prudente decide e ordena a sua conduta segundo
este juízo.
Graças a esta virtude, aplicamos sem erro os princípios
morais aos casos particulares e ultrapassamos as dúvidas sobre o bem a fazer e
o mal a evitar» (Catecismo, 1806).
[7] Catecismo 1807
[8] O homem não pode dar a Deus o que
Lhe deve ou o justo em sentido estrito.
Por isso, a justiça para com Deus chama-se mais
propriamente “virtude da religião”, «dado que a Deus Lhe basta que cumpramos à
medida das nossas possibilidades» (s.
tomás de aquino, Summa Theologica,
II-II, q. 57, a. 1, ad 3).
[9] Catecismo, 1808
[10] «No mundo tereis tribulação. Mas
confiai: Eu venci o mundo» (Jo 16, 33).
[11] Sir 18, 30
[12] Catecismo, 1809
[13] Por exemplo, a laboriosidade
consiste em trabalhar tudo o que se deve, que é um meio entre um menos e um
mais.
Opõe-se à laboriosidade trabalhar menos do devido,
perder o tempo, etc.
E também se opõe trabalhar sem medida, sem respeitar
outras coisas que também se devem fazer (deveres de piedade, de caridade,
etc.).
[14] O princípio in medio virtus é válido somente para as virtudes morais, as quais
têm por objecto os meios para alcançar o fim, e nesses meios há sempre uma
medida.
Pelo contrário, não é válido no caso das virtudes
teologais, porque estas virtudes (fé, esperança e caridade) têm directamente a
Deus por objecto.
Por isso, não é possível um excesso: “crer demasiado”,
“esperar demasiado” em Deus” ou “amá-Lo em excesso”.
[15] cf. Catecismo, 1811
[16] A natureza humana está ferida pelo
pecado.
Por isso, tem inclinações que não são naturais como
consequência do pecado.
Do mesmo modo que não é natural coxear, devido à consequência
de alguma doença, como não seria natural mesmo que toda a gente coxeasse, nem
sequer são naturais as feridas que deixou o pecado original e os pecados
pessoais na alma: a tendência para a soberba, a preguiça, a sensualidade, etc.
Com a ajuda da graça e com esforço pessoal, estas
feridas podem-se ir curando, de modo que o homem seja e se comporte como
corresponde à sua natureza e condição de filho de Deus.
Esta saúde consegue-se por meio das virtudes.
De modo semelhante, a doença agrava-se com os vícios.
[17] cf. Catecismo, 1810
[18] Assim, há uma prudência que é
virtude humana, bem como uma prudência que é sobrenatural, infundida por Deus
na alma, juntamente com a graça.
Para que uma virtude sobrenatural possa produzir fruto
– actos bons – precisa da correspondente virtude humana.
Por exemplo e no caso das outras virtudes cardeais: a
virtude sobrenatural da justiça, exige a virtude humana da justiça; e o mesmo
acontece com a fortaleza e a temperança.
Dito doutra maneira, a perfeição cristã – a santidade –
exige e compreende a perfeição humana.
[19] Catecismo, 1830
[20] Para compreender melhor a função
dos Dons do Espírito Santo na vida moral, pode-se acrescentar a seguinte
explicação clássica: assim como a natureza humana tem algumas potências
(inteligência e vontade) que permitem realizar as operações de entender e
querer, assim a natureza elevada pela graça tem potências que lhe permitem
realizar actos sobrenaturais. Estas potências são as virtudes teologais (fé,
esperança e caridade).
São como os remos de um barco, que permitem avançar em
direcção ao fim sobrenatural.
No entanto, este fim supera-nos de tal modo, que não
bastam as virtudes teologais para o alcançar.
Deus concede, juntamente com a graça, os dons do
Espírito Santo, que são novas perfeições da alma que permitem que seja movida
pelo mesmo Espírito Santo.
São como a vela de um barco, que lhe permite avançar
com o sopro do vento.
Os dons aperfeiçoam-nos em ordem a tornarmo-nos mais
dóceis à acção do Espírito Santo, que se converte assim em motor da nossa actuação.
[21] cf. Catecismo, 1831
[22] Catecismo, 1832
[23] Gl 5, 22-23
[24] Catecismo 1763
[25] É preciso ter em conta que também
se fala de “sentimentos” ou “emoções” supersensíveis ou espirituais que não são
propriamente “paixões” porque não estão sujeitos aos movimentos do apetite
sensível.
[26] Catecismo, 1765
[27] Catecismo, 1767
[28] Catecismo 1768
[29] Por exemplo, há uma ira boa, que se
indigna perante o mal, e também há uma ira má descontrolada ou que move ao mal
(como acontece na vingança); há temor bom e há temor mau, que paralisa para
fazer o bem; etc.
[30] Cf. s.
tomás de aquino, Summa Theologica,
I-II, q. 24, aa. 1 e 3.
[31] Em certas ocasiões podem dominar de
tal modo a pessoa, que a responsabilidade moral se reduz ao mínimo.
[32] «A perfeição moral consiste em que
o homem não seja movido para o bem só pela vontade, mas também pelo seu apetite
sensível, segundo esta palavra do Salmo: “O meu coração e a minha carne exultam
no Deus vivo” (Sl 84, 3)» (Catecismo, 1770).
«As paixões são más se o amor for mau, boas se for bom»
(santo agostinho, De Civitate Dei, 14, 7)
[33] cf. Catecismo, 1768
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.