Tempo comum XII Semana
Evangelho:
Mc 4, 35-41
35 Naquele mesmo dia, ao cair da tarde, disse-lhes: «Passemos à outra margem». 36 Eles, deixando a multidão, levaram-n'O consigo, assim como estava, na barca. Outras embarcações O seguiram. 37 Então levantou-se uma grande tempestade de vento, e as ondas lançavam-se sobre a barca, de tal modo que a barca se enchia de água. 38 Jesus estava na popa a dormir sobre um travesseiro. Acordaram-n'O e disseram-Lhe: «Mestre, não Te importas que pereçamos?». 39 Ele levantou-Se, ameaçou o vento e disse para o mar: «Cala-te, emudece». O vento amainou e seguiu-se uma grande bonança. 40 Depois disse-lhes: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?». Ficaram cheios de grande temor, e diziam uns para os outros: 41 «Quem será Este, que até o vento e o mar Lhe obedecem?».
Comentário:
É muito comum usar este texto de São Marcos para estabelecer uma
correlação com a Igreja.
De facto, desde o início tem sido submetida a autênticas tempestades que,
muitas vezes, atingem proporções de autêntica catástrofe.
E tal como os da barca também nós nos perguntamos: ‘Onde estás Senhor que
pareces ausente ou desinteressado da sorte dos teus filhos objecto de
violências incríveis, vítimas de furor persecutório que provoca inumeráveis
vítimas’? Sim… onde estás Senhor Tu que és a cabeça desta Igreja’?
É para nós um mistério do qual o demónio se serve muitas vezes para
abalar a nossa fé e confiança.
Neste debate íntimo que é lógico e naturalmente justificável, escolhamos
antes rezar com redobrada confiança pelos perseguidos e pelos que perseguem,
pela paz na Igreja e nos seus filhos.
(ama, comentário sobre Mc 4, 35-41, Malta,
2015.01.31)
Leitura espiritual
Qual
é o sentido da ressurreição de Jesus para um cristão?
A ressurreição de Cristo
não se reduz à revitalização de um indivíduo qualquer. Com ela foi inaugurada
uma dimensão que interessa a todos seres humanos.
Acreditar na ressurreição
de Jesus, para o cristão, é uma condição de existência: é-se cristão porque se
acredita que Jesus está vivo, triunfou da morte, ressuscitou, e é, para todos
os humanos, o único mediador entre Deus e os homens. Dessa mediação participam
a seu modo tudo aquilo (o universo e tudo aquilo que contém) e todos aqueles
(dos mais sábios aos mais humildes) que, pela vida e pela palavra, proclamam o
poder e a misericórdia de Deus que sustenta todo o universo e chama todos a
participar de sua vida.
A fé na ressurreição de
Jesus Cristo é o fundamento da mensagem cristã. A fé cristã estaria morta se
lhe fosse retirada a verdade da ressurreição de Cristo. A ressurreição de Jesus
são as primícias de um mundo novo, de uma nova situação do homem. Ela cria para
os homens uma nova dimensão de ser, um novo âmbito da vida: o estar com Deus.
Também significa que Deus manifestou-se verdadeiramente e que Cristo é o
critério no qual o homem pode confiar.
A fé na ressurreição de
Jesus é algo tão essencial para o cristão que São Paulo chegou a escrever: “Se
Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia, e vazia também a vossa fé”.[1]
A ressurreição de Cristo
não é apenas o milagre de um cadáver reanimado. Não se trata do mesmo evento
que ocorreu com outros personagens bíblicos como a filha de Jairo [2]
ou Lázaro,[3]
que foram trazidos de volta à vida por Jesus, mas que, mais tarde, num certo
momento, morreriam fisicamente.
A ressurreição de Jesus
“foi a evasão para um gênero de vida totalmente novo, para uma vida já não
sujeita à lei do morrer e do transformar-se, mas situada para além disso: uma
vida que inaugurou uma nova dimensão de ser homem”, explica o Papa Bento XVI no
segundo volume do seu livro “Jesus de Nazaré”.
Jesus ressuscitado não
voltou à vida normal que tinha neste mundo. Isso foi o que aconteceu com Lázaro
e outros mortos ressuscitados por Ele. Jesus “partiu para uma vida diversa,
nova: partiu para a vastidão de Deus, e é a partir dela que Ele se manifesta
aos seus”, prossegue o Papa.
A ressurreição de Cristo é
um acontecimento dentro da história que, ao mesmo tempo, rompe o âmbito da
história e a ultrapassa. Bento XVI a explica com uma analogia. “Se nos é
permitido por uma vez usar a linguagem da teoria da evolução”, a ressurreição
de Jesus é “a maior ‘mutação’, em absoluto o salto mais decisivo para uma dimensão
totalmente nova, como nunca se tinha verificado na longa história da vida e dos
seus avanços: um salto para uma ordem completamente nova, que tem a ver
connosco e diz respeito a toda a história”.[4]
Portanto, a ressurreição
de Cristo não se reduz à revitalização de um indivíduo qualquer. Com ela foi
inaugurada uma dimensão que interessa a todos seres humanos, uma dimensão que
criou para os homens “um novo âmbito da vida, o estar com Deus”, explica o Papa
no livro “Jesus de Nazaré”.
As narrativas evangélicas,
na diversidade de suas formas e conteúdos, convergem todas para a convicção a
que chegaram os primeiros seguidores de Jesus, de que sua ação salvadora, tal
como se havia pressentido nas Escrituras, não se frustrara nem se havia encerrado
com sua morte. Pelo contrário, cumpria a promessa de Deus feita desde as
origens da humanidade e, portanto, o fato de Jesus estar vivo e atuante na
história tinha sua base em Deus, vinha confirmar a esperança que depositamos em
Deus de que a verdade e o bem, a justiça e a paz hão-de triunfar, terão a
última palavra, porque Deus é fiel.
O mistério da ressurreição
de Cristo é um acontecimento que teve manifestações historicamente constatadas,
como atesta o Novo Testamento. Ao mesmo tempo, é um evento misteriosamente
transcendente, enquanto entrada da humanidade de Cristo na glória de Deus.[5]
Dois sinais da
ressurreição são reconhecidos como essenciais pela fé da Igreja Católica. O
primeiro é o testemunho das pessoas que encontraram Cristo ressuscitado. Essas
testemunhas da ressurreição de Cristo são, antes de tudo, Pedro e os Doze
apóstolos, mas não somente eles. São Paulo fala claramente de mais de
quinhentas pessoas às quais Jesus apareceu de uma só vez, além de Tiago e de
todos os apóstolos.[6]
O segundo sinal é o túmulo
vazio. Significa que a ausência do corpo de Jesus não poderia ser obra humana.
O sepulcro vazio e os panos de linho no chão significam por si mesmos que o
corpo de Cristo escapou das correntes da morte e da corrupção, pelo poder de Deus.[7]
O teólogo Francisco Catão,
doutor em Teologia pela Universidade de Estrasburgo e professor do Centro
Universitário Salesiano de São Paulo, explica que os sinais do sepulcro vazio e
das aparições de Jesus ressuscitado foram válidos para os apóstolos e primeiros
seguidores de Jesus.
“Não há porque,
racionalmente, duvidar. Seria levantar a suspeita de inautenticidade histórica
de todo o Novo Testamento, no que hoje, depois dos abalos da exegese liberal e
da ciência mal informada, nenhum autor sério cientificamente acredita”.
“O Novo Testamento relata
a morte de Jesus e seus primeiros seguidores, interpretando os sinais do túmulo
vazio e das aparições. Fato que afirmaram solenemente, com base nas Escrituras.
Animados pelo Espírito Santo, deram o testemunho de sua vida pela fé em Jesus,
vivo junto a Deus, como o sabemos desde os Actos dos Apóstolos”, afirma o
teólogo.
O ser humano é aquele ser
que não tem permanência em si mesmo. Continuar vivendo só pode significar,
humanamente falando, continuar existindo num outro. Mas existir no outro – por
meio dos filhos ou da fama, por exemplo – não passa de uma sombra, porque o
outro também se desfaz. Só Deus pode amparar o homem e fazê-lo perdurar. Neste
sentido, a ressurreição é a força do amor que vence a morte. Ela não é um ato
fechado em si, que pertence só à divindade de Cristo. É o princípio e a fonte
de nossa própria ressurreição futura.
Só existe “um” que nos
pode amparar, “aquele que ‘é’, que não vem ao ser e que não deixa de ser, mas
que permanece em meio ao vir a ser e ao desaparecer: o Deus dos vivos que
sustenta não apenas uma sombra e o eco de meu ser e cujos pensamentos não são
apenas cópias da realidade”.[8]
Nesse sentido, a
ressurreição “é a força maior do amor diante da morte. Ela prova, ao mesmo
tempo, que a imortalidade só pode ser fruto do existir no outro que continua de
pé mesmo quando eu estou em farrapos”.[9]
Os relatos da ressurreição
de Jesus testemunham um fato novo, que não brotou simplesmente do coração dos
discípulos. Trata-se de um fato que chegou a eles de fora, se apoderou deles
contra as suas dúvidas e os fez ter a certeza de que Jesus realmente
ressuscitou.
“Aquele que estava no
túmulo já não está lá, ele vive – e é realmente ele próprio. Ele que passara ao
outro mundo de Deus mostrou-se suficientemente poderoso para mostrar-lhes de
forma palpável que era ele mesmo que se encontrava na frente deles, que nele o
poder do amor se revelara realmente mais forte do que o poder da morte”.[10]
A ressurreição de Jesus
Cristo constitui a comprovação de tudo o que o próprio Cristo fez e ensinou.
Todas as verdades, mesmo as mais inacessíveis ao espírito humano, encontram sua
confirmação se, ao ressuscitar, Cristo deu a prova definitiva, que havia
prometido, de sua autoridade divina.[11]
Nenhum homem pode
ressuscitar um morto. Por conseguinte, se Jesus, como homem, ressuscitou, isto
é obra de Deus. A ressurreição de Jesus crucificado demonstrou que ele era
verdadeiramente o Filho de Deus e Deus mesmo.[12]
A ressurreição é o
cumprimento das promessas do Antigo Testamento e das promessas que o próprio
Jesus fez durante sua vida terrestre. A verdade da divindade de Jesus é
confirmada por sua ressurreição.
A ressurreição de Jesus
não é um acto fechado em si. É o início de um processo que se estende a todos
os homens. Ela é o princípio e a fonte da ressurreição futura dos homens,
atuando “desde já pela justificação de nossa alma” e, mais tarde, “pela
vivificação de nosso corpo”.[13]
“Não foi nada fácil,
através da história, nem o é, nos dias de hoje, para os cristãos, sustentar sua
fé. Nunca, porém, lhes faltou a assistência do Espírito, senão para provar a
ressurreição, pelo menos para evidenciar que não pode ser validamente
contestada, por nenhum tipo de argumento científico ou filosófico”, afirma o
teólogo Francisco Catão.
Fonte: aleteia
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