Tempo comum XI Semana
Evangelho:
Mt 6, 19-23
19 «Não
acumuleis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os consomem, e
onde os ladrões arrombam as paredes e roubam. 20 Entesourai para vós
tesouros no céu, onde nem a ferrugem nem a traça os consomem, e onde os ladrões
não arrombam as paredes nem roubam. 21 Porque onde está o teu
tesouro, aí está também o teu coração. 22 «O olho é a lâmpada do
corpo. Se o teu olho for são, todo o teu corpo terá luz. 23 Mas, se
teu olho for malicioso todo o teu corpo estará em trevas. Se, pois, a luz que
há em ti é trevas, quão tenebrosas serão essas trevas!
Comentário:
Qual é o “meu tesouro”? Já
pensei nisto… a sério?
O que mais me importa
guardar e preservar de toda a corrupção ou desvio?
Penso que é, exactamente,
essa certeza do bem incomparável que possuímos: a Filiação Divina!
De facto, sermos real e
verdadeiramente Filhos de Deus e, naturalmente, Seus herdeiros, é o maior bem a
que poderemos aspirar e que, não obstante ser absolutamente imerecido da nossa
parte, é real, verdadeiro, autêntico porque, Quem no-lo ganhou foi o próprio
Redentor!
(ama, meditação sobre Mt 6, 19-23, 2014.06.20)
Leitura espiritual
Misericordiae Vultus
BULA
DE PROCLAMAÇÃO
DO JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
DO JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
FRANCISCO
BISPO DE ROMA
SERVO DOS SERVOS DE DEUS
A QUANTOS LEREM ESTA CARTA
GRAÇA, MISERICÓRDIA E PAZ
BISPO DE ROMA
SERVO DOS SERVOS DE DEUS
A QUANTOS LEREM ESTA CARTA
GRAÇA, MISERICÓRDIA E PAZ
1.
Jesus Cristo é o
rosto da misericórdia do Pai.
17 …/2
A iniciativa «24 horas para o Senhor», que será celebrada
na sexta-feira e no sábado anteriores ao IV Domingo da Quaresma, deve ser
incrementada nas dioceses.
Há
muitas pessoas – e, em grande número, jovens – que estão a aproximar-se do
sacramento da Reconciliação e que frequentemente, nesta experiência,
reencontram o caminho para voltar ao Senhor, viver um momento de intensa oração
e redescobrir o sentido da sua vida.
Com
convicção, ponhamos novamente no centro o sacramento da Reconciliação, porque
permite tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia.
Será,
para cada penitente, fonte de verdadeira paz interior.
Não me cansarei jamais de insistir com os confessores para que sejam
um verdadeiro sinal da misericórdia do Pai.
Ser
confessor não se improvisa.
Tornamo-nos
tal quando começamos, nós mesmos, por nos fazer penitentes em busca do perdão.
Nunca
esqueçamos que ser confessor significa participar da mesma missão de Jesus e
ser sinal concreto da continuidade de um amor divino que perdoa e salva.
Cada um de nós recebeu o dom do Espírito Santo
para o perdão dos pecados; disto somos responsáveis. Nenhum de nós é senhor do
sacramento, mas apenas servo fiel do perdão de Deus.
Cada
confessor deverá acolher os fiéis como o pai na parábola do filho pródigo: um
pai que corre ao encontro do filho, apesar de lhe ter dissipado os bens.
Os
confessores são chamados a estreitar a si aquele filho arrependido que volta a
casa e a exprimir a alegria por o ter reencontrado.
Não nos
cansemos de ir também ao encontro do outro filho, que ficou fora incapaz de se
alegrar, para lhe explicar que o seu juízo severo é injusto e sem sentido
diante da misericórdia do Pai que não tem limites.
Não hão-de
fazer perguntas impertinentes, mas como o pai da parábola interromperão o
discurso preparado pelo filho pródigo, porque saberão individuar, no coração de
cada penitente, a invocação de ajuda e o pedido de perdão.
Em
suma, os confessores são chamados a ser sempre e por todo o lado, em cada
situação e apesar de tudo, o sinal do primado da misericórdia.
18. Na Quaresma deste Ano Santo, é minha intenção enviar os Missionários da Misericórdia.
Serão um sinal da solicitude materna da Igreja pelo povo de
Deus, para que entre em profundidade na riqueza deste mistério tão fundamental
para a fé.
Serão
sacerdotes a quem darei autoridade de perdoar mesmo os pecados reservados à Sé
Apostólica, para que se torne evidente a amplitude do seu mandato.
Serão
sobretudo sinal vivo de como o Pai acolhe a todos aqueles que andam à procura
do seu perdão.
Serão
missionários da misericórdia, porque se farão, junto de todos, artífices dum
encontro cheio de humanidade, fonte de libertação, rico de responsabilidade
para superar os obstáculos e retomar a vida nova do Baptismo.
Na sua
missão, deixar-se-ão guiar pelas palavras do Apóstolo:
«Deus encerrou a todos na desobediência, para com todos usar de
misericórdia» [1].
Na verdade todos, sem excluir ninguém, estão chamados a acolher
o apelo à misericórdia.
Os
missionários vivam esta chamada, sabendo que podem fixar o olhar em Jesus,
«Sumo Sacerdote misericordioso e fiel» [2].
Peço aos irmãos bispos que convidem e acolham estes Missionários,
para que sejam, antes de tudo, pregadores convincentes da misericórdia.
Organizem-se,
nas dioceses, «missões populares», de modo que estes Missionários sejam
anunciadores da alegria do perdão.
Seja-lhes
pedido que celebrem o sacramento da Reconciliação para o povo, para que o tempo
de graça, concedido neste Ano Jubilar, permita a tantos filhos afastados
encontrar de novo o caminho para a casa paterna.
Os
pastores, especialmente durante o tempo forte da Quaresma, sejam solícitos em
convidar os fiéis a aproximar-se «do trono da graça, a fim de alcançar
misericórdia e encontrar graça» [3].
19. Que a palavra do perdão possa chegar a todos e a chamada
para experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente.
O meu convite à conversão dirige-se, com insistência ainda
maior, àquelas pessoas que estão longe da graça de Deus pela sua conduta de
vida.
Penso
de modo particular nos homens e mulheres que pertencem a um grupo criminoso,
seja ele qual for.
Para
vosso bem, peço-vos que mudeis de vida.
Peço-vo-lo
em nome do Filho de Deus que, embora combatendo o pecado, nunca rejeitou
qualquer pecador.
Não
caiais na terrível cilada de pensar que a vida depende do dinheiro e que, à
vista dele, tudo o mais se torna desprovido de valor e dignidade.
Não
passa de uma ilusão.
Não
levamos o dinheiro connosco para o além.
O
dinheiro não nos dá a verdadeira felicidade.
A
violência usada para acumular dinheiro que transuda sangue não nos torna
poderosos nem imortais.
Para todos,
mais cedo ou mais tarde, vem o juízo de Deus, do qual ninguém pode escapar.
O mesmo convite chegue também às pessoas fautoras ou cúmplices
de corrupção.
Esta
praga putrefacta da sociedade é um pecado grave que brada aos céus, porque mina
as próprias bases da vida pessoal e social.
A
corrupção impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com a sua
prepotência e avidez, destrói os projectos dos fracos e esmaga os mais pobres.
É um
mal que se esconde nos gestos diários para se estender depois aos escândalos
públicos.
A
corrupção é uma contumácia no pecado, que pretende substituir Deus com a ilusão
do dinheiro como forma de poder.
É uma
obra das trevas, alimentada pela suspeita e a intriga. Corruptio optimi pessima:
dizia, com razão, São Gregório Magno, querendo indicar que ninguém pode
sentir-se imune desta tentação.
Para a erradicar da vida pessoal e social são necessárias prudência,
vigilância, lealdade, transparência, juntamente com a coragem da denúncia. Se
não se combate abertamente, mais cedo ou mais tarde torna-nos cúmplices e
destrói-nos a vida.
Este é o momento favorável para mudar de vida!
Este é
o tempo de se deixar tocar o coração.
Diante
do mal cometido, mesmo crimes graves, é o momento de ouvir o pranto das pessoas
inocentes espoliadas dos bens, da dignidade, dos afectos, da própria vida.
Permanecer
no caminho do mal é fonte apenas de ilusão e tristeza.
A
verdadeira vida é outra coisa.
Deus
não se cansa de estender a mão.
Está
sempre disposto a ouvir, e eu também estou, tal como os meus irmãos bispos e
sacerdotes.
Basta
acolher o convite à conversão e submeter-se à justiça, enquanto a Igreja
oferece a misericórdia.
20. Neste contexto, não será inútil recordar a relação entre justiça e misericórdia.
Não são dois aspectos em contraste entre si, mas duas dimensões
duma única realidade que se desenvolve gradualmente até atingir o seu clímax na
plenitude do amor.
A
justiça é um conceito fundamental para a sociedade civil, normalmente quando se
faz referimento a uma ordem jurídica através da qual se aplica a lei.
Por
justiça entende-se também que a cada um deve ser dado o que lhe é devido.
Na
Bíblia, alude-se muitas vezes à justiça divina, e a Deus como juiz.
Habitualmente é entendida como a observância integral da Lei e o comportamento
de todo o bom judeu conforme aos mandamentos dados por Deus.
Esta
visão, porém, levou não poucas vezes a cair no legalismo, mistificando o
sentido original e obscurecendo o valor profundo que a justiça possui.
Para
superar a perspectiva legalista, seria preciso lembrar que, na Sagrada
Escritura, a justiça é concebida essencialmente como um abandonar-se confiante
à vontade de Deus.
Por sua vez, Jesus fala mais vezes da importância da fé que da
observância da lei.
É neste
sentido que devemos compreender as suas palavras, quando, encontrando-Se à mesa
com Mateus e outros publicanos e pecadores, disse aos fariseus que O acusavam
por isso mesmo:
«Ide aprender o que significa: Prefiro
a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os
pecadores» [4].
Diante da visão duma justiça como mera observância da lei, que
julga dividindo as pessoas em justos e pecadores, Jesus procura mostrar o
grande dom da misericórdia que busca os pecadores para lhes oferecer o perdão e
a salvação.
Compreende-se que Jesus, por causa desta sua visão tão libertadora
e fonte de renovação, tenha sido rejeitado pelos fariseus e os doutores da lei.
Estes,
para ser fiéis à lei, limitavam-se a colocar pesos sobre os ombros das pessoas,
anulando porém a misericórdia do Pai.
O apelo
à observância da lei não pode obstaculizar a atenção às necessidades que
afectam a dignidade das pessoas.
A propósito, é muito significativo o apelo que Jesus faz ao
texto do profeta Oseias:
«Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios» [5].
Jesus afirma que, a partir de agora, a regra de vida dos seus
discípulos deverá ser aquela que prevê o primado da misericórdia, como Ele
mesmo dá testemunho partilhando a refeição com os pecadores.
A
misericórdia revela-se, mais uma vez, como dimensão fundamental da missão de
Jesus.
É um
verdadeiro desafio posto aos seus interlocutores, que se contentavam com o respeito
formal da lei.
Jesus,
pelo contrário, vai além da lei, a sua partilha da mesa com aqueles que a lei
considerava pecadores permite compreender até onde chega a sua misericórdia.
Também o apóstolo Paulo fez um percurso semelhante. Antes de
encontrar Cristo no caminho de Damasco, a sua vida era dedicada a servir de
maneira irrepreensível a justiça da lei [6].
A
conversão a Cristo levou-o a inverter a sua visão, a ponto de afirmar na Carta
aos Gálatas:
«Também
nós acreditámos em Cristo Jesus, para sermos justificados pela fé em Cristo e
não pelas obras da lei» (2, 16). A sua compreensão da justiça muda
radicalmente: Paulo agora põe no primeiro lugar a fé, e já não a lei. Não é a
observância da lei que salva, mas a fé em Jesus Cristo, que, pela sua morte e
ressurreição, traz a salvação com a misericórdia que justifica. A justiça de
Deus torna-se agora a libertação para quantos estão oprimidos pela escravidão
do pecado e todas as suas consequências. A justiça de Deus é o seu perdão [7].
(cont)
(Revisão
da versão portuguesa por ama)
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