A civilização do consumo é, antes de
qualquer outra coisa, uma tentativa gigantesca para exorcizar a morte, o
limite, o envelhecimento; uma enorme e sofisticadíssima indústria de
entretimento perpétuo que não deve deixar tempo e espaço para pensar que, um
dia, o grande jogo do consumo há-de acabar, o carrossel há-de entrar na sua
última volta.
Assim
se apaga do horizonte do capitalismo o último dia; celebram-se cultos aos seus
ídolos que se nutrem dos produtos de mercado.
Os
ídolos prometem exorcismos da morte e da dor errados e ineficazes.
O
Génesis e o Êxodo são sublimes e eternos cânticos à vida, a toda a vida; por
isso são também profundos ensinamentos sobre a morte. Abraão, Isaac, Jacob e
José ensinam-nos a viver e ensinam-nos a morrer «saciados de dias», com «bonita
cabeleira branca».
A
morte de Moisés, misteriosa e totalmente diversa, é o ponto culminante da sua
vida, o sentido último das palavras que tinha escutado da "voz", a
manifestação plena da vocação sua e da de quem quer responder a um apelo de
libertação para uma terra prometida.
Com
a construção da morada, que passou a ser possível graças às mãos e à mente
abençoadas dos trabalhadores, encerra-se o livro do Êxodo.
Moisés, o libertador
da escravidão, aquele que revelou ao povo o nome de Elohim e a sua Lei, o único
homem que falava com Deus "directamente"[i], morre
fora da terra prometida.
O Senhor mostra-lha de longe, mas não poderá entrar
nela: «Para o outro lado do Jordão tu não
passarás»[ii].
(cont)
luigino bruni, In
"Avvenire",
(Revisão
da verão portuguesa por ama)
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