05/03/2015

Nenhum libertador se faz Rei 1

Para aprender a renascer é preciso reaprender a morrer, o que está muito esquecido.
A civilização do consumo é, antes de qualquer outra coisa, uma tentativa gigantesca para exorcizar a morte, o limite, o envelhecimento; uma enorme e sofisticadíssima indústria de entretimento perpétuo que não deve deixar tempo e espaço para pensar que, um dia, o grande jogo do consumo há-de acabar, o carrossel há-de entrar na sua última volta.

Assim se apaga do horizonte do capitalismo o último dia; celebram-se cultos aos seus ídolos que se nutrem dos produtos de mercado.
Os ídolos prometem exorcismos da morte e da dor errados e ineficazes.
O Génesis e o Êxodo são sublimes e eternos cânticos à vida, a toda a vida; por isso são também profundos ensinamentos sobre a morte. Abraão, Isaac, Jacob e José ensinam-nos a viver e ensinam-nos a morrer «saciados de dias», com «bonita cabeleira branca».
A morte de Moisés, misteriosa e totalmente diversa, é o ponto culminante da sua vida, o sentido último das palavras que tinha escutado da "voz", a manifestação plena da vocação sua e da de quem quer responder a um apelo de libertação para uma terra prometida. 

Com a construção da morada, que passou a ser possível graças às mãos e à mente abençoadas dos trabalhadores, encerra-se o livro do Êxodo. 
Moisés, o libertador da escravidão, aquele que revelou ao povo o nome de Elohim e a sua Lei, o único homem que falava com Deus "directamente"[i], morre fora da terra prometida. 
O Senhor mostra-lha de longe, mas não poderá entrar nela: «Para o outro lado do Jordão tu não passarás»[ii].

(cont)

luigino bruni, In "Avvenire", 

(Revisão da verão portuguesa por ama)




[i] Números 12,8
[ii] Deuteronómio 3, 28

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