Tempo de Quaresma IV Semana
São José
Evangelho:
Lc 2 41-51
41
Seus pais iam todos os anos a Jerusalém pela festa da Páscoa. 42
Quando chegou aos doze anos, indo eles a Jerusalém segundo o costume daquela
festa, 43 acabados os dias que ela durava, quando voltaram, o Menino
ficou em Jerusalém, sem que os Seus pais o advertissem. 44 Julgando
que Ele fosse na comitiva, caminharam uma jornada, e depois procuraram-no entre
os parentes e conhecidos. 45 Não O encontrando, voltaram a Jerusalém
à procura d'Ele. 46 Aconteceu que, três dias depois, encontraram-no
no templo sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. 47
E todos os que O ouviam estavam maravilhados da Sua sabedoria e das Suas respostas.
48 Quando O viram, admiraram-se. E Sua mãe disse-lhe: «Filho, porque
procedeste assim connosco? Eis que Teu pai e eu Te procurávamos cheios de
aflição». 49 Ele disse-lhes: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que
devo ocupar-me nas coisas de Meu Pai?». 50 Eles, porém, não
entenderam o que lhes disse. 51 Depois desceu com eles e foi para
Nazaré; e era-lhes submisso. A Sua mãe conservava todas estas coisas no seu
coração.
Comentário:
São José foi
designado por São João XXIII como protector da Igreja e, actualmente, o Papa
Francisco determinou que constasse no cânone da Missa.
Nada mais
apropriado: o Protector da Família de Nazaré é o Protector da grande Família de
Jesus Cristo que é a Sua Igreja.
Que poder não
terá a sua intercessão?
(ama, comentário sobre Lc
2, 41-52, 2014.03.19)
Leitura
espiritual
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM
DO SANTO PADRE FRANCISCO AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS SOBRE O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ACTUAL
200. Dado que esta
Exortação se dirige aos membros da Igreja Católica, desejo afirmar, com mágoa,
que a falta de cuidado espiritual é a pior discriminação que os pobres sofrem.
A imensa maioria dos
pobres possui uma especial abertura à fé; tem necessidade de Deus e não podemos
deixar de lhe oferecer a sua amizade, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração
dos Sacramentos e a proposta dum caminho de crescimento e amadurecimento na fé.
A opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se, principalmente, numa
solicitude religiosa privilegiada e prioritária.
201. Ninguém deveria dizer
que se mantém longe dos pobres, porque as suas opções de vida implicam prestar
mais atenção a outras incumbências.
Esta é uma desculpa
frequente nos ambientes académicos, empresariais ou profissionais, e até mesmo
eclesiais.
Embora se possa dizer, em
geral, que a vocação e a missão próprias dos fiéis leigos é a transformação das
diversas realidades terrenas para que toda a actividade humana seja
transformada pelo Evangelho,[i]
ninguém pode sentir-se exonerado
da preocupação pelos pobres e pela justiça social: «A conversão espiritual, a intensidade do amor a Deus e ao próximo, o
zelo pela justiça e pela paz, o sentido evangélico dos pobres e da pobreza são
exigidos a todos».[ii]
Temo que também estas
palavras sejam objecto apenas de alguns comentários, sem verdadeira incidência
prática.
Apesar disso, tenho
confiança na abertura e nas boas disposições dos cristãos e peço-vos que
procureis, comunitariamente, novos caminhos para acolher esta renovada
proposta.
Economia
e distribuição das entradas
202. A necessidade de
resolver as causas estruturais da pobreza não pode esperar; e não apenas por
uma exigência pragmática de obter resultados e ordenar a sociedade, mas também
para a curar de uma mazela que a torna frágil e indigna e que só poderá levá-la
a novas crises.
Os planos de assistência,
que acorrem a determinadas emergências, deveriam considerar-se apenas como
respostas provisórias.
Enquanto não forem
radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia
absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas
estruturais da desigualdade social,[iii]
não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum.
A desigualdade é a raiz
dos males sociais.
203. A dignidade de cada
pessoa humana e o bem comum são questões que deveriam estruturar toda a
política económica, mas às vezes parecem somente apêndices adicionados de fora
para completar um discurso político sem perspectivas nem programas de
verdadeiro desenvolvimento integral.
Quantas palavras se
tornaram molestas para este sistema!
Molesta que se fale de
ética, molesta que se fale de solidariedade mundial, molesta que se fale de
distribuição dos bens, molesta que se fale de defender os postos de trabalho,
molesta que se fale da dignidade dos fracos, molesta que se fale de um Deus que
exige um compromisso em prol da justiça.
Outras vezes acontece que
estas palavras se tornam objecto duma manipulação oportunista que as desonra.
A cómoda indiferença
diante destas questões esvazia a nossa vida e as nossas palavras de todo o
significado.
A vocação dum empresário é
uma nobre tarefa, desde que se deixe interpelar por um sentido mais amplo da
vida; isto permite-lhe servir verdadeiramente o bem comum com o seu esforço por
multiplicar e tornar os bens deste mundo mais acessíveis a todos.
204. Não podemos mais
confiar nas forças cegas e na mão invisível do mercado.
O crescimento equitativo
exige algo mais do que o crescimento económico, embora o pressuponha; requer
decisões, programas, mecanismos e processos especificamente orientados para uma
melhor distribuição das entradas, para a criação de oportunidades de trabalho,
para uma promoção integral dos pobres que supere o mero assistencialismo.
Longe de mim propor um
populismo irresponsável, mas a economia não pode mais recorrer a remédios que
são um novo veneno, como quando se pretende aumentar a rentabilidade reduzindo
o mercado de trabalho e criando assim novos excluídos.
205. Peço a Deus que
cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise
efectivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso
mundo.
A política, tão denegrida,
é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque
busca o bem comum.[iv]
Temos de nos convencer que
a caridade «é o princípio não só das micro-relações
estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das
macro-relações como relacionamentos sociais, económicos, políticos».[v]
Rezo ao Senhor para que
nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o
povo, a vida dos pobres.
É indispensável que os
governantes e o poder financeiro levantem o olhar e alarguem as suas
perspectivas, procurando que haja trabalho digno, instrução e cuidados
sanitários para todos os cidadãos.
E porque não acudirem a Deus
pedindo-Lhe que inspire os seus planos?
Estou convencido de que, a
partir duma abertura à transcendência, poder-se-ia formar uma nova mentalidade
política e económica que ajudaria a superar a dicotomia absoluta entre a
economia e o bem comum social.
206. A economia – como
indica o próprio termo – deveria ser a arte de alcançar uma adequada
administração da casa comum, que é o mundo inteiro.
Todo o acto económico duma
certa envergadura, que se realiza em qualquer parte do planeta, repercute-se no
mundo inteiro, pelo que nenhum Governo pode agir à margem duma responsabilidade
comum.
Na realidade, torna-se
cada vez mais difícil encontrar soluções a nível local para as enormes
contradições globais, pelo que a política local se satura de problemas por
resolver.
Se realmente queremos
alcançar uma economia global saudável, precisamos, neste momento da história,
de um modo mais eficiente de interacção que, sem prejuízo da soberania das
nações, assegure o bem-estar económico a todos os países e não apenas a alguns.
207. E qualquer comunidade
da Igreja, na medida em que pretender subsistir tranquila sem se ocupar
criativamente nem cooperar de forma eficaz para que os pobres vivam com
dignidade e haja a inclusão de todos, correrá também o risco da sua dissolução,
mesmo que fale de temas sociais ou critique os Governos.
Facilmente acabará
submersa pelo mundanismo espiritual, dissimulado em práticas religiosas,
reuniões infecundas ou discursos vazios.
208. Se alguém se sentir
ofendido com as minhas palavras, saiba que as exprimo com estima e com a melhor
das intenções, longe de qualquer interesse pessoal ou ideologia política.
A minha palavra não é a
dum inimigo nem a dum opositor.
A mim interessa-me apenas
procurar que, quantos vivem escravizados por uma mentalidade individualista,
indiferente e egoísta, possam libertar-se dessas cadeias indignas e alcancem um
estilo de vida e de pensamento mais humano, mais nobre, mais fecundo, que
dignifique a sua passagem por esta terra.
Cuidar
da fragilidade
209. Jesus, o
evangelizador por excelência e o Evangelho em pessoa, identificou-Se
especialmente com os mais pequeninos[vi].
Isto recorda-nos, a todos
os cristãos, que somos chamados a cuidar dos mais frágeis da Terra.
Mas, no modelo «do êxito»
e «individualista» em vigor, parece que não faz sentido investir para que os
lentos, fracos ou menos dotados possam também singrar na vida.
(cont)
(Revisão da versão portuguesa por ama)
[i] Cf. Propositio 45.
[ii] Congr. para a
Doutrina da Fé, Instr. Libertatis nuntius (6 de Agosto de 1984), XI, 18: AAS 76
(1984), 908.
[iii] Isto implica
«eliminar as causas estruturais das disfunções da economia mundial»: Bento XVI,
Discurso ao Corpo Diplomático (8 de Janeiro de 2007): AAS 99 (2007), 73.
[iv] Cf. Comissão Social
dos Bispos de frança, Declaração Réhabiliter la politique (17 de Fevereiro de
1999); Pio XI, Mensagem, 18 de Dezembro de 1927.
[v] Bento XVI, Carta
enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 2: AAS 101 (2009), 642.
[vi] cf. Mt 25, 40
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