Art.
2 — Se Cristo teve a ciência dos santos ou dos que gozam da visão beatífica.
O segundo discute-se assim. — Parece
que Cristo não teve a ciência dos santos ou dos que gozam da visão beatífica.
1 - Pois, a ciência dos santos é uma
participação do lume divino, segundo a Escritura: No teu lume veremos o lume.
Ora, Cristo não tinha o lume divino corno participado, mas tinha a própria
divindade imanente em si substancialmente, conforme o diz o Apóstolo: Nele
habita toda a plenitude da divindade corporalmente. Logo, Cristo não tinha a
ciência dos santos.
2. — Demais. - A ciência dos santos torna-os
santos, segundo o Evangelho: A vida eterna consiste em que eles conheçam por um
só verdadeiro Deus a ti e a Jesus Cristo, que tu enviaste. Ora, o homem Cristo
foi santo desde que foi unido pessoalmente a Deus, segundo a Escritura:
Bem-aventurado o que elegeste e tomaste para o teu serviço. Logo, não devemos
atribuir a Cristo a ciência dos santos.
3. Demais. — Ao homem compete uma
ciência dupla, a que lhe é conforme e a que lhe é superior à natureza. Ora, a
ciência dos santos, consistente na visão divina, não é conforme à natureza do
homem, mas é-lhe superior. Mas, Cristo teve outra ciência sobrenatural muito
mais elevada, que era a ciência divina. Logo, não era necessário que Cristo
tivesse a ciência dos santos.
Mas, em contrário. — A ciência dos
santos consiste na visão ou no conhecimento de Deus. Ora, Cristo conheceu a
Deus plenamente, mesmo enquanto homem, segundo o Evangelho. Mas eu o conheço e
guardo a sua palavra. Logo, Cristo teve a ciência dos santos.
O potencial reduz-se ao actual
pelo que já é actual. Assim, há-de ser quente o que aquece. Ora, o homem tem em
potência a ciência dos santos, consistente na visão de Deus, a qual se ordena
como ao fim, pois, é uma criatura racional capaz desse conhecimento dos
bem-aventurados, como feito que é à imagem de Deus. Ora, os homens são levados
a esse fim da bem-aventurança pela humanidade de Cristo, segundo o Apóstolo:
Convinha que aquele para quem são todas as coisas e por quem todas existem,
havendo de levar muitos filhos à glória, consumasse pela paixão ao autor da sua
salvação. Logo, era necessário que o conhecimento consistente na visão
beatífica de Deus, o que o homem Cristo o tivesse excelentissimamente, pois,
sempre e necessariamente a causa é superior ao causado.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A divindade uniu-se à humanidade de Cristo, pessoalmente, não pela essência
ou pela natureza, mas com a unidade da pessoa permanece a distinção das
naturezas. Donde, a alma de Cristo, que faz parte da natureza humana, teve, por
um lume participado da natureza divina, a ciência perfeita dos santos, pela
qual veem a essência de Deus.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Em virtude própria
da união, o homem Cristo é santo por santidade incriada, assim como é Deus pela
união. Mas, além da bem-aventurança incriada, era necessário que a natureza
humana de Cristo tivesse uma certa bem-aventurança criada, pela qual a sua alma
fosse constituída no fim último da natureza humana.
RESPOSTA À TERCEIRA. — A visão ou a
ciência dos santos é de certo modo superior à natureza da alma racional, isto
é, enquanto não pode esta chegar a ela pelas suas próprias forças. Mas, num
outro sentido, essa ciência é-lhe natural, isto é, enquanto que pela Sua
natureza, é capaz dela, por ser a alma racional feita à imagem de Deus, como se
disse. Mas, a ciência incriada é, de todos os modos, superior à natureza da alma
humana.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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