Santo
André - Apóstolo
Evangelho: Mc 13 33-37
33
Estai de sobreaviso, vigiai, porque não sabeis quando será o momento.34
Será como um homem que, empreendendo uma viagem, deixou a sua casa, delegou a
autoridade aos seus servos, indicando a cada um a sua tarefa, e ordenou ao
porteiro que estivesse vigilante.35 Vigiai, pois, visto que não
sabeis quando virá o senhor da casa, se de tarde, se à meia-noite, se ao cantar
do galo, se pela manhã;36 para que, vindo de repente, não vos
encontre a dormir.37 O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!»
Comentário:
O grande tema do mês de
Novembro: A vigilância, a preparação para o momento derradeiro da vida terrena.
Não há como fugir ou
adiar, acontecerá quando o Senhor da vida e da morte assim determinar.
A nós compete-nos estar
preparados e não há outra forma de o fazer senão levar com denodada atenção a
vida que o Senhor quer que levemos.
(ama, comentário sobre Mc 13 33-37,
2014.10.06)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
145
Maria faz-nos sentir
irmãos
Não
podemos conviver filialmente com Maria e pensar apenas em nós mesmos, nos
nossos problemas. Não se pode tratar com a Virgem e ter, egoisticamente,
problemas pessoais. Maria leva a Jesus e Jesus é primogenitus in multis
fratribus, primogénito entre muitos irmãos. Conhecer Jesus, portanto, é
compreendermos que a nossa vida não pode ter outro sentido senão o de
entregar-nos ao serviço dos outros. Um cristão não pode reduzir-se aos seus
problemas pessoais, pois tem de viver face à Igreja universal, pensando na
salvação de todas as almas.
Deste
modo, até aquelas facetas que poderiam considerar-se mais íntimas e privadas -
a preocupação pelo progresso interior - não são, na realidade, individuais,
visto que a santificação forma uma só coisa com o apostolado. Havemos de
esforçar-nos, na nossa vida interior e no desenvolvimento das virtudes cristãs,
pensando no bem de toda a Igreja, dado que não poderíamos fazer o bem e dar a
conhecer Cristo, se na nossa vida não se desse um esforço sincero por realizar
os ensinamentos do Evangelho.
Impregnadas
deste espírito, as nossas orações, ainda que comecem por temas e propósitos
aparentemente pessoais, acabam sempre por ir ter ao serviço dos outros. E, se
caminharmos pela mão da Virgem Santíssima, Ela fará com que nos sintamos irmãos
de todos os homens, porque todos somos Filhos desse Deus de que Ela é filha,
esposa e mãe.
Os
problemas dos outros devem ser os nossos problemas. A fraternidade cristã deve
estar bem no fundo da nossa alma, de tal modo que nenhuma pessoa nos seja
indiferente. Maria, Mãe de Jesus, que O criou, O educou e O acompanhou durante
a sua vida terrena e agora está junto d'Ele nos Céus, ajudar-nos-á a reconhecer
Jesus em quem passa ao nosso lado, tornado presente para nós nas necessidades
dos nossos irmãos, os homens.
146
Naquela
"romaria" de que vos falava ao princípio, enquanto caminhávamos até à
ermida de Sonsoles, passámos junto a uns campos de trigo. A messe brilhava ao
sol, ondulada pelo vento. Veio-me então à memória um texto do Evangelho, umas
palavras que o Senhor dirigiu ao grupo dos seus discípulos: Não dizeis vós que
dentro de quatro meses chegará o tempo da ceifa? Pois Eu vos digo: erguei os
olhos e vede; os campos estão brancos para a ceifa. Lembrei-me uma vez mais de
que o Senhor queria meter em nossos corações o mesmo empenho, o mesmo fogo que
dominava o Seu. E, de boa vontade, afastando-me um pouco do caminho, teria
apanhado umas espigas que me serviriam para recordá-lo.
É
preciso abrir os olhos, é preciso saber olhar ao nosso redor e perceber os
chamamentos que Deus nos faz através daqueles que nos rodeiam. Não podemos
viver de costas para a multidão, encerrados no nosso pequeno mundo. Não foi
assim que Jesus viveu. Os Evangelhos falam-nos muitas vezes da sua
misericórdia, da sua capacidade de participar na dor e nas necessidades dos
outros: compadece-Se da viúva de Naim, chora pela morte de Lázaro, preocupa-se
com as multidões que O seguem e não têm que comer; compadece-Se sobretudo dos
pecadores, dos que caminham pelo mundo sem conhecerem a luz nem a verdade. Ao
desembarcar, viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-Se deles porque eram
como ovelhas sem pastor. E começou então a ensiná-los demoradamente.
Quando
somos verdadeiramente filhos de Maria, compreendemos essa atitude do Senhor,
torna-se grande o nosso coração e ficamos penetrados de misericórdia. Doem-nos
então os sofrimentos, as misérias, os erros, a solidão, a angústia, a dor dos
outros homens, nosso irmãos. E sentimos a urgência de ajudá-los nas suas necessidades
e de lhes falar de Deus para que saibam tratá-Lo como filhos e possam conhecer
as delicadezas maternais de Maria.
147
Ser Apóstolo de Apóstolos
Encher
de luz o mundo, ser sol e luz - assim definiu o Senhor a missão dos seus
discípulos. Levar até aos confins da Terra a boa nova do amor de Deus - a isso
devem dedicar a vida, de um modo ou doutro, todos os cristãos.
Direi
mais: temos de sentir o desejo de não estar sós; temos de animar outros a
contribuírem para essa missão divina de levar a alegria e a paz aos corações
dos homens. À medida que progredis, atraí a vós os outros - escreve S. Gregório
Magno. Desejai ter companheiros no caminho para o Senhor.
Mas
lembrai-vos de que, cum dormirem homines, enquanto os homens dormiam, veio o
semeador do joio, diz o Senhor numa parábola. Nós, os homens, estamos expostos
a deixar-nos levar pelo sono do egoísmo, da superficialidade, desperdiçando o
coração em mil experiências passageiras, evitando aprofundar o verdadeiro
sentido das realidades terrenas. Triste coisa é esse sono, que sufoca a dignidade
do homem e o torna escravo da tristeza!
Há
um caso que nos deve doer sobremaneira: o daqueles cristãos que podiam dar mais
e não se decidem; que podiam entregar-se totalmente vivendo todas as
consequências da sua vocação de filhos de Deus, mas resistem a ser generosos.
Deve-nos doer, porque a graça da Fé não se nos dá para ficar oculta, mas para
brilhar diante dos homens; porque, além disso, está em jogo a felicidade
temporal e eterna dos que procedem assim. A vida cristã é uma maravilha divina,
com promessa de imediata satisfação e serenidade, mas com a condição de
sabermos apreciar o dom de Deus, sendo generosos sem medida.
É
necessário, portanto, despertar os que tenham caído nesse mau sono,
recordar-lhes que a vida não é um divertimento, mas um tesouro divino que há
que fazer frutificar. É necessário também ensinar o caminho aos que têm boa
vontade e bons desejos mas não sabem como pô-los em prática. Cristo urge-nos.
Cada um de vós há-de ser, não só apóstolo, mas apóstolo de apóstolos,
arrastando outros convosco, movendo os demais para que também eles dêem a
conhecer Jesus Cristo.
148
Talvez
algum de vós me pergunte como pode dar esse conhecimento às pessoas. E eu
respondo-vos: com naturalidade, com simplicidade, vivendo como viveis, no meio
do mundo, entregues ao vosso trabalho profissional e aos cuidados da vossa
família, participando em todos os ideais nobres, respeitando a legítima
liberdade de cada um.
Desde
há quase trinta anos, Deus pôs no meu coração o anseio de fazer compreender às
pessoas de qualquer estado, condição ou ofício, esta doutrina: a vida corrente
pode ser santa e cheia de Deus; o Senhor chama-nos a santificar o trabalho
quotidiano, porque aí está também a perfeição do cristão. Consideramo-lo uma vez
mais, contemplando a vida de Maria.
Não
nos esqueçamos de que a quase totalidade dos dias que Nossa Senhora passou na
Terra decorreram de forma muito semelhante à vida diária de muitos milhões de
mulheres, ocupadas em cuidar da sua família, em educar os seus filhos, em levar
a cabo as tarefas do lar. Maria santifica as mais pequenas coisas, aquilo que
muitos consideram erradamente como não transcendente e sem valor: o trabalho de
cada dia, os pormenores de atenção com as pessoas queridas, as conversas e as
visitas por motivo de parentesco ou de amizade... Bendita normalidade, que pode
estar cheia de tanto amor de Deus!
Na
verdade, é isso o que explica a vida de Maria: o amor. Um amor levado até ao
extremo, até ao esquecimento completo de si mesma, contente por estar onde Deus
quer que esteja e cumprindo com esmero a vontade divina. Isso é o que faz com
que o mais pequeno dos seus gestos nunca seja banal, mas cheio de significado.
Maria, nossa Mãe, é para nós exemplo e caminho. Havemos de procurar ser como Ela
nas circunstâncias concretas em que Deus quis que vivêssemos.
Procedendo
deste modo, daremos aos que nos cercam o testemunho de uma vida simples e
normal, com as limitações e com os defeitos próprios da nossa condição humana,
mas coerente. E assim, vendo-vos iguais a eles em tudo, os outros serão levados
a perguntar-nos: como se explica a vossa alegria? Donde tirais forças para
vencer o egoísmo e o comodismo? Quem vos ensina a viver a compreensão, o
espírito de convivência, a entrega, o serviço dos demais?
É
então o momento de lhes descobrirdes o segredo divino da existência cristã,
falando-lhes de Deus, de Cristo, do Espírito Santo, de Maria. É o momento de
procurar transmitir-lhes, através da nossa pobre palavra, a loucura do amor de
Deus que a graça derramou em nossos corações.
149
S.
João conserva no seu Evangelho uma frase maravilhosa da Virgem, num dos
episódios que já considerámos: o das bodas de Caná. Narra-nos o evangelista que
dirigindo-se aos serventes, Maria lhes disse: Fazei tudo o que Ele vos disser.
É disso que se trata - de levar as almas a situarem-se diante de Jesus e a
perguntarem-Lhe: Domine, quid me vis facere? Senhor, que queres que eu faça?
O
apostolado cristão - e refiro-me agora em concreto ao de um cristão corrente,
ao do homem ou da mulher que vive realmente como outro qualquer entre os seus
iguais - é uma grande catequese, em que, através de uma amizade leal e
autêntica, se desperta nos outros a fome de Deus, ajudando-os a descobrir novos
horizontes - com naturalidade, com simplicidade, como já disse, com o exemplo
de uma fé bem vivida, com a palavra amável, mas cheia da força da verdade
divina.
Sede
audazes. Contais com a ajuda de Maria, Regina apostolorum. E Nossa Senhora, sem
deixar de se comportar como Mãe, sabe colocar os filhos diante das suas
próprias responsabilidades. Maria, aos que se aproximam d'Ela e contemplam a
sua vida, faz-lhes sempre o imenso favor de levá-los até à Cruz, de colocá-los
defronte do exemplo do Filho de Deus. E, nesse confronto, em que se decide a
vida cristã, Maria intercede para que a nossa conduta culmine numa
reconciliação do irmão mais pequeno - tu e eu - com o Filho primogénito do Pai.
Muitas
conversões, muitas decisões de entrega ao serviço de Deus, foram precedidas de
um encontro com Maria. Nossa Senhora fomentou os desejos de busca, activou
maternalmente a inquietação da alma, fez aspirar a uma transformação, a uma
vida nova. E assim, o fazei o que Ele vos disser converteu-se numa realidade de
amorosa entrega, na vocação cristã que ilumina desde então toda a nossa vida.
Este
tempo de conversa diante do Senhor, em que meditamos sobre a devoção e o
carinho à sua Mãe e nossa Mãe, pode, portanto, reavivar a nossa fé. Está a
começar o mês de Maio. O Senhor quer que não desaproveitemos esta ocasião de
crescer no seu amor através da intimidade com a sua Mãe. Que cada dia saibamos
ter para com Ela aqueles pormenores filiais - pequenas coisas, atenções
delicadas - que se vão tornando grandes realidades de santidade pessoal e de
apostolado, quer dizer, empenho constante por contribuir para a salvação que
Cristo veio trazer ao mundo.
Santa
Maria, spes nostra, ancilla Domini, sedes Sapientiae, ora pro nobis! Santa
Maria, esperança nossa, escrava do Senhor, sede de Sabedoria, roga por nós!
150
Homilia pronunciada no dia
28 de Maio de 1964, Festa do Corpo de Deus
Hoje,
festa do Corpo de Deus, meditamos juntos a profundidade do Amor do Senhor, que
o levou a ficar oculto sob das espécies sacramentais, e é como se ouvíssemos,
fisicamente, aqueles seus ensinamentos à multidão: Eis que o semeador saiu a
semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao longo do caminho, e
vieram as aves do céu e comeram-na. Outra parte caiu em lugar pedregoso, onde
havia pouca terra; e logo nasceu porque estava à superfície; mas, saindo o sol,
queimou-se e, porque não tinha raiz, secou. Outra parte caiu entre os espinhos,
e os espinhos cresceram e sufocaram-na. Outra parte caiu em boa terra e
frutificou; uns grãos renderam cem por um, outros sessenta, outros trinta.
A
cena é actual. O semeador divino lança agora, também, a sua semente. A obra da
salvação continua a cumprir-se e o Senhor quer servir-se de nós: deseja que
nós, os cristãos, abramos ao seu amor todos os caminhos da Terra; convida-nos a
propagar a mensagem divina, com a doutrina e com o exemplo, até aos últimos
recantos do mundo. Pede-nos que, sendo cidadãos da sociedade eclesial e da
civil, ao desempenhar com fidelidade os nossos deveres, sejamos cada um outro
Cristo, santificando o trabalho profissional e as obrigações do próprio estado.
Se
olharmos à nossa volta, para este mundo que amamos porque foi feito por Deus,
dar-nos-emos conta de que se verifica a parábola: a palavra de Jesus Cristo é
fecunda, suscita em muitas almas desejos de entrega e de fidelidade. A VIDA e o
comportamento dos que servem a Deus mudaram a história, e inclusivamente muitos
dos que não conhecem o Senhor regem-se - talvez sem sequer o advertirem - por
ideais nascidos do Cristianismo.
Vemos
também que parte da semente cai em terra estéril, ou entre espinhos e abrolhos:
há corações que se fecham à luz da fé. Os ideais de paz, de reconciliação, de
fraternidade, são aceites e proclamados, mas - não poucas vezes - são
desmentidos com os factos. Alguns homens empenham-se inutilmente em afogar a
voz de Deus, impedindo a sua difusão com a força bruta ou então com uma arma,
menos ruidosa, mas talvez mais cruel, porque insensibiliza o espírito: a
indiferença.
151
O pão da VIDA eterna
Agradar-me-ia
que, ao considerar tudo isto, tomássemos consciência da nossa missão de
cristãos, voltássemos os olhos para a Sagrada Eucaristia, para Jesus que,
presente entre nós, nos constituiu seus membros: vos estis corpus Christi et
membra de membro, vós sois o corpo de Cristo e membros unidos a outros membros.
O nosso Deus decidiu ficar no Sacrário para nos alimentar, para nos fortalecer,
para nos divinizar, para dar eficácia ao nosso trabalho e ao nosso esforço.
Jesus é simultaneamente o semeador, a semente e o fruto da sementeira: o Pão da
vida eterna.
Este
milagre, continuamente renovado, da Sagrada Eucaristia, encerra todas as
características do modo de agir de Jesus. Perfeito Deus e perfeito homem,
Senhor dos Céus e da Terra, oferece-Se-nos como sustento, da maneira mais
natural e corrente. Assim espera o nosso amor, desde há quase dois mil anos. É
muito tempo e não é muito tempo; porque, quando há amor, os dias voam.
Vem-me
à memória uma encantadora poesia galega, uma das cantigas de Afonso X, o Sábio.
É a lenda de um monge que, na sua simplicidade, suplicou a Santa Maria que o
deixasse contemplar o céu, ainda que fosse só por um instante. A Virgem acolheu
o seu desejo, e o bom monge foi levado ao Paraíso. Quando regressou, não
reconhecia nenhum dos moradores do mosteiro: a sua oração, que lhe tinha
parecido brevíssima, tinha durado três séculos. Três séculos não são nada, para
um coração que ama. Assim compreendo eu esses dois mil anos de espera do Senhor
na Eucaristia. É a espera de Deus, que ama os homens, que nos procura, que nos
quer tal como somos - limitados, egoístas, inconstantes - mas com capacidade
para descobrirmos o seu carinho infinito e para nos entregarmos inteiramente a
Ele.
Por
amor e para nos ensinar a amar, veio Jesus à Terra e ficou entre nós na
Eucaristia. Como tivesse amado os seus que viviam no mundo, amou-os até ao fim;
com estas palavras começa S. João a narração do que sucedeu naquela véspera da
Páscoa, em que Jesus - refere-nos S. Paulo - tomou o pão, e dando graças, o
partiu, e disse: Tomai e comei; isto é o meu corpo que será entregue por vós;
fazei isto em memória de mim. Igualmente também, depois da ceia, tomou o
cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento do meu sangue; fazei isto em
memória de mim todas as vezes que o beberdes.
(cont)
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