Tempo comum XXIX Semana
49 Eu vim trazer fogo à terra; e como desejaria que já
estivesse ateado! 50 Eu tenho de receber um baptismo; e quão grande
é a minha ansiedade até que ele se conclua! 51 Julgais que vim
trazer paz à terra? Não, vos digo Eu, mas separação; 52 porque, de
hoje em diante, haverá numa casa cinco pessoas, divididas três contra duas e
duas contra três. 53 Estarão divididos: o pai contra o filho e o
filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra
a nora e a nora contra a sogra».
Comentário:
Jesus Cristo confirma que, Ele, é e será
sempre, até ao fim dos tempos, sinal de contradição.
Como se, afinal, estivéssemos na presença
do mal e do bem: o mal que somos nós e a nossa concupiscência que nos atrai
para o pecado, e o bem que é o próprio Cristo e a Sua Santa Religião.
Esta luta entre o bem e o mal que todo o
homem tem de travar diariamente, gera dissensões e conflitos, fere interesses e
conveniências, separa, divide, confronta.
O cristão sabe muito bem que é assim mesmo
e que as palavras de Jesus não são mera retórica mas a realidade constante na
sua vida.
Sozinho, será muito difícil – impossível –
conseguir ultrapassar esses escolhos mas, com a ajuda de Deus, que nunca Se nega
quando solicitado, tem como certo que o conseguirá.
(ama, comentário sobre Lc 12, 49-53, 2013.07.22)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
SUMMI PONTIFICATUS
DO SUMO PONTÍFICE
PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS E BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE O OFÍCIO DO PONTIFICADO
V. A ANGUSTIOSA HORA
PRESENTE
72.
Veneráveis irmãos, o momento em que vos chega às mãos esta nossa primeira
encíclica, bem pode ser qualificado, sob vários aspectos, de uma verdadeira
"hora das trevas" (Lc 22, 53), na qual o espírito da violência e da
discórdia verte sobre a humanidade a sanguinolenta ânfora de dores inomináveis.
Será
porventura necessário assegurar-vos que o nosso coração, repassado de
compassivo amor, está nesta hora bem próximo de todos os seus filhos, e
especialmente dos atribulados, dos oprimidos e perseguidos?
Os
povos arrastados para essa trágica voragem, que é a guerra, estão ainda, por
assim dizer, no "princípio das dores" (Mt 24, 8), mas reinam já, em
milhares de famílias, morte e desolação, pranto e miséria.
Do
sangue de inúmeros seres humanos, mesmo de não combatentes, desprende-se
lancinante brado, especialmente nessa dilecta nação como a Polónia que, pela
sua fidelidade à Igreja, pelos seus grandes méritos na defesa da civilização
cristã, gravados em caracteres indeléveis nos fatos da história, tem direito à
simpatia humana e fraterna do mundo, e aguarda, confiante na poderosa
intercessão de Maria, "Socorro dos cristãos", a hora de uma
ressurreição que corresponde aos princípios da justiça e da verdadeira paz.
73.
O que aconteceu há pouco e o que ainda está acontecendo, passara diante de
nossos olhos como uma visão quando, havendo ainda alguma esperança, nada
deixamos de fazer do que nos sugeria o nosso ministério apostólico e os meios
que tínhamos à nossa disposição, para impedir que se recorresse às armas e para
conservar aberto o caminho que levaria a um entendimento honroso para ambas as
partes.
Convencidos
de que o uso da força por uma das partes obrigaria a outra a recorrer às armas,
julgamos dever imprescindível do nosso ministério apostólico e do amor cristão,
fazer tudo o que pudéssemos para poupar à humanidade toda e à cristandade os
horrores de uma guerra mundial, ainda que as nossas intenções e as nossas
vistas corressem risco de serem mal interpretadas.
Os
nossos conselhos, se bem que ouvidos com respeito, nem por isso foram seguidos.
E
enquanto o nosso coração de pastor, cheio de amargura e preocupação, observa o
que se passa, como que aparece aos nossos olhos a figura do bom pastor, que é
como se devêssemos, em seu nome, repetir ao mundo a queixa: "ah! se
conhecesses a mensagem de paz!
Agora,
porém, isso está escondido a teus olhos" (Lc 19, 42).
74.
No meio deste mundo, hoje em estridente contraste com a paz de Cristo no reino
de Cristo, a Igreja e os seus fiéis acham-se em tempos e anos de provações,
raramente conhecidos na sua história de lutas e de sofrimentos.
Mas
em semelhantes ocasiões, quem se conserva firme na fé e tem coração robusto,
sabe também que Cristo-Rei nunca lhe está tão próximo como na hora da provação,
que é a hora da fidelidade.
Com
o coração dilacerado pelos sofrimentos de tantos dos seus filhos, mas ao mesmo
tempo com aquela coragem e firmeza que lhe vem das promessas do Senhor, a
esposa de Cristo vai ao encontro dessas ondas procelosas.
Sabe
que a verdade que anuncia, e a caridade que ensina e pratica, serão os
conselheiros e cooperadores indispensáveis dos homens de boa vontade que desejem
reconstruir um mundo novo, fundado na justiça e no amor, apenas a humanidade se
canse de percorrer o caminho do erro e de provar os amargos frutos do ódio e da
violência.
Uma
base fundamental
75.
Entretanto, veneráveis irmãos, o mundo e todos os que são hoje vítimas da
calamidade bélica devem saber que o dever do amor cristão, base fundamental do
reino de Cristo, não é uma palavra vã, mas uma viva realidade.
Vastíssimo
campo se abre à caridade cristã em todas as suas formas. Temos plena confiança
de que todos os nossos filhos, e especialmente aqueles não envolvidos no
flagelo da guerra, recordar-se-ão, a exemplo do divino Samaritano, de socorrer
aqueles que, vítimas da guerra, têm direito à compaixão e socorro.
76.
A Igreja católica, cidade de Deus, "que tem por rei a verdade, por lei a
caridade e por medida a eternidade", (8) anunciando sem erros nem falhas a
verdade de Cristo, trabalhando com arrojo materno e segundo o amor de Cristo,
aparecerá certamente como visão beatífica de paz sobre essa voragem de erros e
paixões, aguardando o momento em que a mão omnipotente de Cristo-Rei venha
acalmar a tempestade e banir os espíritos da discórdia que a desencadearam.
Continuaremos,
entretanto; a fazer tudo o que pudermos para acelerar o dia em que a pomba da paz
possa pousar seus pés sobre esta terra, ora imersa no dilúvio da discórdia.
Continuaremos
a fazê-lo, confiando naqueles eminentes homens de Estado que antes de rebentar
a guerra envidaram nobres esforços para afastar dos povos tão grande flagelo;
confiando também nos milhões de almas de todos os países e esferas sociais que
invocam não somente justiça mas caridade e misericórdia; mas, sobretudo,
confiando em Deus omnipotente a quem dirigimos diariamente a oração: "à sombra das vossas asas me acolho, até que passe a calamidade" (Sl 56, 2).
Deus
pode tudo
77.
Deus pode tudo: juntamente com a felicidade e os destinos dos povos tem também
em suas mãos os conselhos humanos e quando lhe pareça bem poderá fazê-los
inclinar suavemente para o lado que ele quer; para a sua onipotência os
obstáculos não passam de meios com que plasma as coisas e os acontecimentos e
dirige as mentes e as vontades livres aos seus altíssimos fins.
78.
Orai, pois, veneráveis irmãos, orai sem cessar, orai sobretudo quando
oferecerdes o sacrifício divino do amor.
Orai
também vós, cuja profissão corajosa da fé vem impor-vos hoje duros, penosos e,
não raro, heróicos sacrifícios; orai vós membros padecentes da Igreja, que Jesus há de consolar-vos e aliviará os vossos sofrimentos.
E
não vos esqueçais de, com verdadeiro espírito de mortificação, tornar as vossas
penitências e orações mais aceitas aos olhos daquele que "ampara os que
caem e endireita todos os curvados" (Sl 144, 14) a fim de que a sua
misericórdia abrevie os dias de provação e se realizem assim as palavras do
Salmo: "Invocaram o Senhor nas suas tribulações e ele livrou-os das suas
angústias" (Sl 106, 13).
79.
E vós, cândidas legiões de crianças, que sois os benjamins e predilectos de
Jesus, ao receberdes o Pão da vida, dirigi a ele vossas ingénuas e inocentes
orações unindo-as às de toda a Igreja.
O
coração de Jesus, que vos ama, não poderá resistir à inocência que suplica.
Orai todos e orai sem cessar.
80.
Poreis assim em prática o sublime preceito do divino Mestre, o testamento
sagrado do seu coração, "que todos sejam uma só coisa" (Jo 17, 21):
isto é, que todos vivam naquela unidade de fé e de amor, na qual reconheça o
mundo o poder e a eficácia da missão de Cristo e da obra da sua Igreja.
81.
A Igreja dos primeiros tempos compreendeu e praticou este divino preceito
exprimindo-o também em magnífica oração; uni-vos, pois, todos com os mesmos
sentimentos que tanto correspondem às necessidades dos tempos actuais:
"Lembrai-vos, Senhor, da vossa Igreja, para livrá-la de todo o mal e
aperfeiçoá-la na vossa caridade e, santificada, reuni-a de todas as partes do
mundo no vosso reino que para ela preparastes, porque vossa será a virtude e
glória por todos os séculos". (9)
82.
Confiando que Deus, autor e amante da paz, se digne atender às súplicas da
Igreja, como penhor da abundância das graças divinas e da plenitude de nosso
ânimo paterno, vos concedemos a bênção apostólica.
Dado
em Castel Gandolfo, junto de Roma, no dia 20 de Outubro do ano de 1939, I do
Nosso Pontificado.
PIO
PP. XII
(Revisão da versão portuguesa por ama)
________________________________
Notas:
(8)
S. Agostinho, Carta 86 a Marcelino, c. 3, n.17.
(9)
Doutrina dos Apóstolos, c.10.
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