Art.
4 — Se a lei nova é mais onerosa do que a antiga.
[III
Sent., dist. XL, a. 4, qª 3 ; Quodl. IV, q. 8, a. 2 ; In Matth, ; cap. IX].
O quarto discute-se assim. — Parece
que a lei nova é mais onerosa que a antiga.
1. — Pois, sobre o constante da
Escritura — Aquele que quebrar um destes
mínimos mandamentos — diz Crisóstomo: Os mandamentos de Moisés, como — não
matarás, não fornicarás — são mais fáceis de praticar. Enquanto que os de
Cristo, como — Não te encolerizarás, não cobiçaras — são mais difíceis. Logo, a
lei nova é mais onerosa que a antiga.
2. Demais. — É mais fácil usar da
prosperidade terrena, do que sofrer tribulações. Ora, no Antigo Testamento, a
prosperidade temporal era consecutiva à observância da lei, como se vê na
Escritura (Dt 28, 1-14). Ao passo que muitas adversidades perseguem os
observantes da lei nova, consoante o Apóstolo (2 Cor 6, 4-10): Portemo-nos em
nossas mesmas pessoas como ministros de Deus, na muita paciência, nas
tribulações, nas necessidades, nas angústias, etc. Logo, a lei nova é mais
onerosa que a antiga.
3. Demais. — Um preceito acrescentado
a outro é mais difícil de ser observado. Ora, a lei nova foi acrescentada à
antiga. Assim, esta proibiu o perjúrio; ao passo que aquela, até mesmo o
juramento. A lei antiga proibia a separação da mulher sem o libelo de repúdio,
a nova proibiu absolutamente a separação, como o diz a Escritura (Mt 5, 31 ss),
conforme a exposição de Agostinho. Logo, a lei nova é mais onerosa que a
antiga.
Mas, em contrário, diz a Escritura (Mt
11, 28): Vinde a mim, todos os que andam
em trabalho e vos achais carregados. E segundo a explicação de Hilário:
Chama a si os que padecem as dificuldades da lei e estão carregados com os
pecados do século. E depois, o Senhor acrescenta, falando do jugo do Evangelho:
O meu jugo é suave, e o meu peso leve.
Logo, a lei nova é mais leve que a antiga.
Em relação às obras
virtuosas, para regular as quais foram dados os preceitos da lei, surge dupla
dificuldade. — Uma, relativa às obras externas, que em si mesmas trazem uma
certa dificuldade e onerosidade. E neste ponto a lei antiga será muito mais
onerosa que a nova. Pois, com as suas múltiplas cerimónias, obrigava a mais actos
externos que a lei nova. Esta, além dos preceitos da lei natural, poucas coisas
acrescentou, com a doutrina de Cristo e dos Apóstolos. Embora muitos acréscimos
se fizessem depois, por instituição dos santos padres. Mas ainda neste ponto,
Agostinho diz, que não se deve perder de vista a moderação, para não se tornar
onerosa a vida dos fiéis. Assim, referindo-se a alguns, diz: Carregam com obras
servis a nossa própria religião, que, com manifestíssimas e pouquíssimas cerimónias
de sacrifícios, a misericórdia de Deus quis que fosse livre. De modo que é mais
tolerável a condição dos judeus, sujeitos, a sacramentos legais e não a
presunções humanas.
A outra dificuldade versa sobre os actos
virtuosos internos, como quando praticados pronta e agradavelmente. Ora, atacar
essa dificuldade é a função da virtude. Pois, a prática desses actos, muito
difícil para quem não possui a virtude, torna-se fácil para o virtuoso. E neste
ponto os preceitos da lei nova são mais onerosos que os da antiga. Pois, aquela
proíbe os movimentos internos da alma, que a lei antiga não proibia
expressamente em todos os casos, embora o fizesse em alguns, em que porém não
se acrescentava nenhuma pena à proibição. Ora, o que a lei nova dispõe é
dificílimo para quem não tem virtude. Pois, como diz o Filósofo, é fácil fazer
o que faz o justo, mas agir como ele age, deleitável e prontamente, é difícil
para quem não tem justiça. E assim também diz a Escritura (1 Jo 5, 3): os seus mandamentos não são custosos, o
que Agostinho explica: o que não é difícil para quem ama é-o para quem não ama.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A autoridade aduzida refere-se expressamente à dificuldade da lei nova,
quanto à expressa proibição dos movimentos internos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — As contrariedades
que sofrem os observantes da lei nova não são impostas pela própria lei,
contudo, como o amor, em que a lei consiste, são facilmente toleradas. Pois,
como diz Agostinho o amor torna fácil e quase destrói o que é cruel e duro.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Esses
acréscimos aos preceitos da lei antiga têm por fim facilitar-lhe a observância,
como diz Agostinho. Logo, daí não se conclui que a lei nova seja mais onerosa,
mas ao contrário, mais fácil.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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