Art. 5 ― Se o pecado pode
existir na razão.
(II Sent., dist. XXIV, q. 3 a.
3).
O
quinto discute-se assim. ― Parece que o pecado não pode existir na razão.
1.
― Pois, o pecado de uma potência é um defeito da mesma. Ora, o defeito na razão
não é pecado, mas antes, desculpa dele, assim, a ignorância desculpa-nos do
pecado. Logo, na razão não pode haver pecado.
2.
Demais. ― O primeiro sujeito do pecado é a vontade, como já se disse (a. 1).
Ora, a razão, sendo a que dirige a vontade, tem precedência sobre ela. Logo,
não pode haver pecado na razão.
3.
Demais. ― Não pode haver pecado senão relativamente ao que existe em nós. Ora,
a perfeição e a deficiência da razão não são coisas que estejam em nós, assim, alguns
têm a razão deficiente ou solerte. Logo, não há pecado na razão.
Mas,
em contrário, diz Agostinho, que o pecado reside na razão inferior e na
superior 1.
O pecado de uma potência consiste no acto da mesma, como do sobredito resulta
(a. 1, 2, 3). Ora, a razão é susceptível de duplo acto. Um pertence-lhe por si
mesma e é relativo ao seu objecto próprio, que é conhecer a verdade. O outro pertence-lhe
enquanto directiva das outras potências. ― Ora, pode haver pecado na razão de
um e de outro modo. Do primeiro, quando ela erra no conhecimento da verdade, em
cujo caso o pecado lhe é imputado, se nutria ignorância ou erro no tocante ao
que podia ou devia saber. Do segundo, quando impera, ou também não reprime,
após a deliberação, os actos desordenados das potências inferiores.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― A objecção procede, relativamente ao defeito
da razão, pertinente ao seu acto próprio, que lhe respeita o objecto próprio. E
então, quando há defeito do conhecimento daquilo que não podemos saber, esse
defeito não é pecado, mas antes, desculpa-o, e tal é o caso dos actos cometidos
pelos loucos. Se porém o defeito da razão disser respeito ao que podemos e
devemos saber, então não ficamos totalmente isentos de pecado, mas esse mesmo defeito
é-nos imputado como pecado. O defeito porém, que só está em dirigir as outras
potências, é-nos sempre imputado como pecado, porque pelo próprio acto podíamos
obviá-lo.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Como já dissemos (q. 17, a. 1), quando tratamos dos actos da
vontade e da razão, a vontade, de certo modo, move a razão precede-a, mas
também esta, de certo modo, precede àquela. Donde, o movimento da vontade pode
ser chamado racional, e o acto racional, voluntário. E a esta luz, a razão é
suscetível de pecado, quer por ser o seu defeito voluntário, quer por ela ser
princípio do acto da vontade.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Resulta clara do que ficou dito.
Revisão da tradução portuguesa por ama
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Notas:
1. XII De Trinit. (cap. XII).
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