18/07/2013

Tratado das paixões da alma 85


Questão 40: Da esperança e do desespero.

Art. 2 — Se a esperança pertence à potência cognitiva.

(III Sent., dist. XXVI, q. 1, a . 1, q. 2, a . 2).




O segundo discute-se assim. — Parece que a esperança pertence à potência cognitiva. 
1. — Pois, a esperança é uma expectativa, conforme aquilo do Apóstolo (Rm 8, 25): E se o que não vemos o que esperamos, esperamo-lo por paciência. Ora, a expectativa pertence à potência cognitiva, da qual é próprio o esperar. Logo, a esperança pertence também a essa potência.

2. Demais — Segundo parece, a esperança é o mesmo que a confiança, donde vem o dizermos que quem espera confia, quase querendo identificar as duas expressões — confiar e esperar. Ora, a confiança, como a fé, pertence à potência cognitiva. Logo, também a esperança.

3. Demais — A certeza é propriedade da potência cognitiva. Ora, é atribuída à esperança. Logo, esta pertence a tal potência.

Mas, em contrário. — A esperança é relativa ao bem, como dissemos 1. Ora, o bem como tal é objecto, não da potência cognitiva, mas da apetitiva. Logo, a esperança não pertence àquela potência, mas a esta.

A esperança, implicando uma certa tendência do apetite para um determinado bem, pertence manifestamente à potência apetitiva. Pois, o movimento para um objecto é, propriamente, da alçada do apetite, ao passo que a actividade da potência cognitiva completa-se, não pelo mover-se do sujeito conhecente para o objecto, mas antes, porque este está naquele. Como porém a potência cognitiva move a apetitiva, representando-lhe o seu objecto, dos diversos aspectos do objecto apreendido resultam os diversos movimentos da potência apetitiva. Ora, um é o movimento resultante, para o apetite, da apreensão do bem, e outro, da apreensão do mal, e semelhantemente, diferentes são os movimentos resultantes da apreensão do presente e do futuro, do absoluto e do árduo, do possível e do impossível. E sendo assim, a esperança é um movimento da virtude apetitiva consecutivo à apreensão de um bem futuro árduo, mas possível de ser alcançado, isto é, é a tendência do apetite para tal objecto.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Respeitando a esperança um bem possível, o movimento dela se manifesta no homem de duplo modo, porque de dois modos um objecto pode-lhe ser possível, a saber, relativamente à virtude própria ou à de outro. Donde vem que, de quem tem esperança de alcançar, pela virtude própria, alguma coisa dizemos que espera e não, que tem expectativa. Ao passo que ter expectativa é, propriamente, esperar alguma coisa por auxílio de virtude alheia, significando ter expectativa quase estar na expectativa de outrem, enquanto   a potência apreensiva precedente, não só respeita o bem que intenta alcançar, mas também o que por cuja virtude o espera, conforme aquilo da Escritura (Ecle 51, 10): Estava olhando para o socorro dos homens. Por onde, chama-se às vezes ao movimento da esperança expectação, por causa da inspeção da potência cognitiva precedente.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O que desejamos e pensamos poder alcançar cremos que já o alcançamos, e, dessa fé da potência cognitiva precedente provém o denominarmos confiança ao movimento consecutivo do apetite. Pois este movimento tira a sua denominação do conhecimento precedente, como o efeito, da causa mais conhecida, porquanto, a potência apreensiva conhece melhor o seu do que o ato da apetitiva.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Atribuímos a certeza não somente ao movimento do apetite sensitivo, mas também ao do apetite natural, como quando dizemos que a pedra tende certamente para baixo. E isto pela infalibilidade que lhe advém da certeza do conhecimento precedente ao movimento do apetite sensitivo, ou mesmo, do natural.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:

1. Q. 40, a. 1.

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