Art. 2 — Se a esperança pertence à potência cognitiva.
(III Sent., dist. XXVI, q. 1, a
. 1, q. 2, a . 2).
O
segundo discute-se assim. — Parece que a esperança pertence à potência cognitiva.
2.
Demais — Segundo parece, a esperança é o mesmo que a confiança, donde vem o
dizermos que quem espera confia, quase querendo identificar as duas expressões
— confiar e esperar. Ora, a confiança, como a fé, pertence à potência
cognitiva. Logo, também a esperança.
3.
Demais — A certeza é propriedade da potência cognitiva. Ora, é atribuída à
esperança. Logo, esta pertence a tal potência.
Mas,
em contrário. — A esperança é relativa ao bem, como dissemos 1. Ora,
o bem como tal é objecto, não da potência cognitiva, mas da apetitiva. Logo, a
esperança não pertence àquela potência, mas a esta.
A esperança, implicando uma certa tendência do apetite para um determinado
bem, pertence manifestamente à potência apetitiva. Pois, o movimento para um objecto
é, propriamente, da alçada do apetite, ao passo que a actividade da potência
cognitiva completa-se, não pelo mover-se do sujeito conhecente para o objecto,
mas antes, porque este está naquele. Como porém a potência cognitiva move a
apetitiva, representando-lhe o seu objecto, dos diversos aspectos do objecto
apreendido resultam os diversos movimentos da potência apetitiva. Ora, um é o
movimento resultante, para o apetite, da apreensão do bem, e outro, da
apreensão do mal, e semelhantemente, diferentes são os movimentos resultantes
da apreensão do presente e do futuro, do absoluto e do árduo, do possível e do
impossível. E sendo assim, a esperança é um movimento da virtude apetitiva
consecutivo à apreensão de um bem futuro árduo, mas possível de ser alcançado,
isto é, é a tendência do apetite para tal objecto.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Respeitando a esperança um bem possível, o
movimento dela se manifesta no homem de duplo modo, porque de dois modos um objecto
pode-lhe ser possível, a saber, relativamente à virtude própria ou à de outro.
Donde vem que, de quem tem esperança de alcançar, pela virtude própria, alguma
coisa dizemos que espera e não, que tem expectativa. Ao passo que ter
expectativa é, propriamente, esperar alguma coisa por auxílio de virtude
alheia, significando ter expectativa quase estar na expectativa de outrem, enquanto
a
potência apreensiva precedente, não só respeita o bem que intenta alcançar, mas
também o que por cuja virtude o espera, conforme aquilo da Escritura (Ecle 51,
10): Estava olhando para o socorro dos homens. Por onde, chama-se às vezes ao
movimento da esperança expectação, por causa da inspeção da potência cognitiva
precedente.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — O que desejamos e pensamos poder alcançar cremos que já o
alcançamos, e, dessa fé da potência cognitiva precedente provém o denominarmos
confiança ao movimento consecutivo do apetite. Pois este movimento tira a sua denominação
do conhecimento precedente, como o efeito, da causa mais conhecida, porquanto,
a potência apreensiva conhece melhor o seu do que o ato da apetitiva.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Atribuímos a certeza não somente ao movimento do apetite
sensitivo, mas também ao do apetite natural, como quando dizemos que a pedra
tende certamente para baixo. E isto pela infalibilidade que lhe advém da
certeza do conhecimento precedente ao movimento do apetite sensitivo, ou mesmo,
do natural.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1.
Q. 40, a. 1.
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