Art. 3 — Se o desejo de unidade é causa da dor.
O terceiro discute-se assim. — Parece que o desejo da unidade não é causa da dor.
1. — Pois, como diz o Filósofo, a doutrina de acordo com a qual a repleção é causa do prazer e a divisão, da tristeza, parece fundar-se nos prazeres e tristezas relativos à comida 1. Ora, nem todo prazer e nem toda tristeza são dessa espécie. Logo, o desejo da unidade não é causa universal da dor, pois a repleção respeita à unidade e a divisão é causa da multiplicidade.
2.
Demais — Toda separação se opõe à unidade. Se, portanto, a dor fosse causada
pelo desejo da unidade, nenhuma separação seria deleitável. Ora, isto é evidentemente
falso relativamente à separação de todas as coisas supérfluas.
3.
Demais — Pela mesma razão desejamos a junção com o bem e a remoção do mal. Ora,
assim como aquela diz respeito à unidade, sendo uma espécie de união, assim,
esta é contrária à unidade. Logo, o desejo da unidade não deve, mais que o da
separação, ser considerado causa da dor.
Mas,
em contrário, diz Agostinho: pela dor que os animais sentem, se vê claramente,
quanto no dirigirem e animarem os seus corpos, são almas que desejam a unidade.
Pois que é a dor senão um certo sentido a que repugna a divisão ou a corrupção?
2
Do modo pelo qual a concupiscência ou o desejo do bem é causa da dor, desse
mesmo modo também assim deve ser considerado o desejo da unidade ou o amor.
Pois, o bem de um ser consiste em certa unidade, enquanto cada ser tem unido
consigo aquilo em que consiste a sua perfeição, e por isso os Platónicos ensinaram
que, como o bem, a unidade é um princípio. Donde, cada ser deseja naturalmente
a unidade, assim como a bondade. E por isto, sendo o amor ou desejo do bem causa
da dor, também o será o amor ou desejo da unidade.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Nem toda unidade aperfeiçoa a noção do bem,
mas só aquela da qual depende o ser perfeito de um ente. E por isto não é o
desejo de qualquer unidade a causa da dor ou tristeza, como certos opinaram,
opinião que o Filósofo refuta dizendo que certas replecções não são deleitáveis,
assim os repletos de alimentos não se deleitam em tomá-los. E tal repleção ou
união antes repugnaria que constituiria a perfeição do ser. Donde, a dor não é
causada pelo desejo de qualquer unidade, mas daquela em que consiste a
perfeição da natureza.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — A separação pode ser deleitável, quer na medida em que é removido
o contrário à perfeição do ser, ou, na medida em que a separação vai junta com
alguma união, p. ex., a do sensível com o sentido.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Desejamos a separação das coisas nocivas e corruptoras, na medida
em que nos privam da unidade devida. Por isso, o desejo de tal separação não é
a causa primeira da dor, mas antes o é o desejo da unidade.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. X Ethic., lect. III.
2. III De lib. Arb., cap. XXIII.
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