Questão 32: Da causa do prazer
Art. 5 ― Se as acções dos outros são-nos causa de prazer.
O quinto discute-se assim. ― Parece que as acções dos outros não nos são causa de prazer.
1. ― Pois, a causa do prazer é um bem próprio que connosco se aduna. Ora, isto não se dá com as acções dos outros. Logo, estas não nos são causa de prazer.
2.
Demais. ― Uma acção é um bem próprio do agente. Se pois as acções dos outros nos
são causa de prazer, pela mesma razão hão-de sê-lo todos os demais bens deles,
o que é claramente, falso.
3.
Demais. ― A acção é deleitável enquanto precedente de um hábito que nos é inato,
por isso diz Aristóteles que devemos considerar o prazer de agir como sinal da
formação de um hábito 1. Ora, as acções dos outros não procedem de
hábitos nossos, mas às vezes de hábitos dos que agem. Logo, tais acções são
deleitáveis, não para nós, mas para aqueles mesmos que agem.
Mas,
em contrário, diz a Escritura (II Jo 4): Muito me alegrei por ter
achado que alguns de teus filhos andam em verdade.
Como já dissemos 2, requerem-se duas condições para o prazer: a
consecução do bem próprio e o conhecimento dessa consecução. Donde, a acção de
outrem pode ser causa de prazer de três modos. ― Primeiro, quando por meio de
tal acção conseguimos algum bem. E neste sentido, as acções daqueles que nos
fazem bem são-nos deleitáveis, pois é agradável receber um bem de outrem. ―
Segundo, quando por acção de outrem, chegamos a algum conhecimento ou a alguma
apreciação do bem próprio. E por isso, nos deleitamos quando louvados ou honrados
pelos outros, pois então entramos na apreciação de que em nós existe um certo
bem. E como esta apreciação é mais fortemente produzida pelo testemunho dos
bons e dos virtuosos, nós deleitamo-nos sobretudo com os louvores deles. E essa
é a razão por que, sendo o adulador um lisongeador fingido, as lisonjas são
agradáveis a muitos. E ainda, recaindo o amor sobre um determinado bem, e tendo
a admiração por objecto algo de grande, ser amado e admirado pelos outros é
agradável, porque entramos então a estimar a nossa própria vontade ou grandeza,
com o que nos deleitamos. ― Terceiro, porque as acções próprias dos outros, quando
boas, são apreciadas como bem próprio nosso, em virtude do amor, que nos leva a
estimar o amigo como a nós mesmos, e por causa do ódio, que nos leva a
considerar o bem de outrem como nos sendo contrário, a acção má de um inimigo
nos é deleitável. Donde, diz a Escritura (1 Cor 13, 6): a caridade
não folga com a injustiça, mas folga com a verdade.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― A operação de outrem pode adunar-se comigo
pelo efeito, como no primeiro modo supra-referido, pela apreensão, como no
segundo ou, pela afeição, como no terceiro.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― A objecção procede, relativamente ao terceiro dos modos referidos,
não porém aos dois primeiros.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― As acções dos outros, embora não procedem de hábitos em mim
existentes, causam-me contudo algo de deleitável, ou me levam à apreciação ou à
apreensão de um hábito próprio, ou procedem de algum hábito de quem se unifica
comigo pelo amor.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1.
II Ethic.
2.
Q. 32, a. 1, q. 31, a. 1.
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