Questão 32: Da causa do prazer
Art. 3 ― Se a memória e a esperança são causas do prazer.
(III Sent., dist. XXVI, q. 1, a . 1, ad. 3, XI Metaph., lect. VIII).
O
terceiro discute-se assim. ― Parece que a memória e a esperança não são causas
do prazer.
1. ― Pois, o prazer refere-se ao bem presente, como diz Damasceno 1. Ora, a memória e a esperança referem-se ao bem ausente, aquela ao passado, esta, ao futuro. Logo, a memória e a esperança não são causas do prazer.
2.
Demais. ― Os contrários não podem ter a mesma causa. Ora, a esperança é causa
da aflição, conforme a Escritura (Pr 13, 12): A esperança que tarda
aflige a alma. Logo, a esperança não é causa do prazer.
3.
Demais. ― Tanto a esperança como a concupiscência e o amor convêm com o prazer,
relativamente ao bem. Logo, não se deve dizer que, mais que a concupiscência e
o amor, a esperança é causa do prazer.
Mas,
em contrário, diz a Escritura (Rm 12, 12): Na esperança alegres, e (Sl
76, 4): Lembrei-me de Deus e me deleitei.
O prazer é causado pela presença do bem conveniente, quando sentido ou
percebido de uma forma qualquer. Ora, uma coisa pode estar-nos presente de dois
modos: pelo conhecimento, estando o objecto conhecido por uma semelhança no
sujeito que conhece, ou realmente, como quando uma coisa se une a outra real e actualmente,
ou em potência, por um qualquer modo de união. E sendo a união real mais íntima
que a do conhecimento, que implica uma semelhança, bem como a união real actual
mais que a potencial, máximo é o prazer dos sentidos, que requer a presença da
coisa sensível. Em segundo lugar vem o prazer da esperança, no qual se dá a
união deleitável, não só pela apreensão, mas também pela faculdade ou
possibilidade de alcançar o bem que deleita. Em terceiro lugar, por fim, está o
prazer da memória, que implica só a união de apreensão.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― A esperança e a memória referem-se, evidentemente,
a objectos absolutamente ausentes, mas que, a certa luz, são presentes, quer só
pela apreensão, quer pela apreensão e pela faculdade, pelo menos presumida.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Nada impede que os contrários tenham a mesma causa considerada em diversos
pontos de vista. Donde, a esperança, enquanto inclui a apreciação presente de
um bem futuro, causa o prazer, enquanto porém privada da presença do mesmo,
causa a aflição.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― O amor e a concupiscência causam o prazer. Pois todo amado é
deleitável ao amante, por o amor ser uma certa união ou conaturalidade entre o
amante e o amado. Semelhantemente, todo objecto desejado é deleitável para quem
o deseja, pois a concupiscência é principalmente o apetite do prazer. A
esperança porém implicando uma determinada certeza da presença real do bem que
deleita, ao contrário do amor e da concupiscência, é mais que esta e aquela causa
do prazer, e semelhantemente, mais que a memória, atinente ao passado.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Lib. II Orth. Fid., cap. XII.
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