Questão 19: Da bondade do
acto interior da vontade.
Art. 9 ― Se a bondade da
vontade humana depende da sua conformidade com a divina.
(I
Sent., dist. XLVIII, a . 1, De Verit., q. 23, a . 7).
O
nono discute-se assim. ― Parece que a bondade da vontade humana não depende da
sua conformidade com a divina.
2.
Demais. ― Assim como a nossa vontade deriva da divina, assim da ciência divina
a nossa ciência. Ora, a nossa ciência não é necessariamente conforme com a
divina, pois Deus sabe muitas coisas que nós ignoramos. Logo, nem é necessário
que a nossa vontade seja conforme com a divina.
3.
Demais. ― A vontade é princípio de acção. Ora, a nossa acção não pode
conformar-se com a divina. Logo, não é necessário que a nossa vontade seja
conforme com a divina.
Mas,
em contrário, diz a Escritura (Mt 26, 39): Não se faça nisto a minha vontade,
mas sim a tua, cujo sentido, segundo Agostinho expõe 1, é que Cristo
quer que o homem seja recto e se dirija para Deus. Ora, a rectidão da vontade é
a sua bondade. Logo, a bondade desta depende da sua conformidade com a vontade
divina.
Como já se disse 2, a bondade da vontade depende do fim
intencional. Ora, o fim último da vontade humana é o sumo bem ― Deus, segundo
já dissemos 3. Logo e necessariamente, a bondade da vontade humana
há-de ordenar-se para Deus, sumo bem. Ora, este bem, em si e primeiramente,
comparado com a vontade divina, constitui-lhe o objecto próprio. E como o
primeiro, em qualquer género, é a medida e a razão de tudo o que a esse género
pertence, e sendo recto e bom aquilo que atinge a sua medida, segue-se que,
para ser boa, a vontade humana há-de conformar-se com a divina.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― A vontade humana há-de conformar-se com a
divina, não, se lhe equiparando, mas imitando-a. E semelhantemente, a ciência
humana conforma-se com a divina, conhecendo a verdade, e a acção humana com a
divina, convindo com a natureza do homem que age por imitação e não por
equiparação.
Donde
se deduzem claras as RESPOSTAS À SEGUNDA E À TERCEIRA OBJECÇÃO.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
__________________________
Notas:
1.
Enchir., cap. CVI.
2.
Q. 19, a. 7.
3.
Q. 1, a. 8, q. 3 a. 1.
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