Questão 19: Da bondade do
acto interior da vontade.
Em
seguida devemos tratar da bondade do acto interior da vontade.
E
sobre esta questão, dez artigos se discutem:
Art.
1 ― Se a bondade da vontade depende do seu objecto.
Art.
2 ― Se a bondade da vontade depende só do objecto.
Art.
3 ― Se a bondade da vontade depende da razão.
Art.
4 ― Se a bondade da vontade humana depende da lei eterna.
Art.
5 ― Se a vontade discordante da razão errónea é má.
Art.
6 ― Se a vontade concorde com a razão errónea é boa.
Art.
7 ― Se a bondade da vontade depende do fim intencional.
Art.
8 ― Se o grau de bondade da vontade depende do grau de bondade da intenção.
Art.
9 ― Se a bondade da vontade humana depende da sua conformidade com a divina.
Art.
10 ― Se a vontade humana, querendo um objecto, deve conformar-se sempre com a
divina.
Art. 1 ― Se a bondade da
vontade depende do seu objecto.
1.
― Pois, a vontade só pode querer o bem, porquanto, o mal lhe é contrário, como
diz Dionísio 1. Se portanto a bondade da vontade dependesse do seu objecto,
resultaria que toda vontade seria boa e má, nenhuma.
2.
Demais. ― O bem principal é do fim, e por isso a bondade deste, como tal, não
depende de nada. Ora, segundo o Filósofo, a acção boa é um fim, embora a
produção nunca o seja 2 porque sempre se ordena, à coisa produzida,
como ao fim. Logo, a bondade da vontade não depende de nenhum objecto.
3.
Demais. ― Tal é um ser, tal é o que produz. Ora, o objecto da vontade é bom
pela sua bondade natural. Logo, não pode conferir-lhe a ela uma bondade moral,
e portanto esta, quando concernente à vontade, não depende do objecto.
Mas,
em contrário, diz o Filósofo 3, que a justiça é que leva certos a
quererem acções justas, e pela mesma razão, pela virtude é que querem o bem.
Ora, boa é a vontade que opera virtuosamente. Logo a bondade da vontade provém
de querer o bem.
O bem e o mal, em si, diferenciam os actos da vontade, à qual se referem,
assim como o verdadeiro e o falso se referem à razão cujos actos distinguem a
diferença existente entre a verdade e a falsidade, que nos leva a considerar
uma opinião como verdadeira ou falsa. Donde, a vontade boa e a má são actos
especificamente diferentes. Ora, a diferença específica dos actos depende dos objectos,
como já se disse 4. Logo, o bem e o mal dos actos da vontade
dependem propriamente dos objectos.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Longe de sempre querer o verdadeiro bem, a
vontade quer, às vezes, um bem aparente, bem, certo, de algum modo, mas que não
convém, absolutamente ao apetite. E por isso o acto da vontade, nem sempre bom,
e às vezes, é mau.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Embora um acto possa de certo modo ser o fim último do homem, nem
por isso é acto da vontade, como já se disse antes 5.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― O bem é apresentado à vontade pela razão como objecto, e na
medida em que entra na ordem da razão, pertence à ordem moral e causa, no acto
da vontade, a bondade moral. Pois a razão é o princípio dos actos humanos e
morais, como antes se disse 6.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
__________________________
Notas:
1.
IV cap. De div. Nom., lect. XXII.
2. VI Ethic., lect. IV.
3. V Ethic., lect. I.
4. Q. 18, a. 5.
5.
Q. 1, a. 1 ad 2.
6.
Q. 18, a. 5.
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