31/03/2013

Tratado dos actos humanos 76

Questão 19: Da bondade do acto interior da vontade.



Em seguida devemos tratar da bondade do acto interior da vontade.

E sobre esta questão, dez artigos se discutem:

Art. 1 ― Se a bondade da vontade depende do seu objecto.
Art. 2 ― Se a bondade da vontade depende só do objecto.
Art. 3 ― Se a bondade da vontade depende da razão.
Art. 4 ― Se a bondade da vontade humana depende da lei eterna.
Art. 5 ― Se a vontade discordante da razão errónea é má.
Art. 6 ― Se a vontade concorde com a razão errónea é boa.
Art. 7 ― Se a bondade da vontade depende do fim intencional.
Art. 8 ― Se o grau de bondade da vontade depende do grau de bondade da intenção.
Art. 9 ― Se a bondade da vontade humana depende da sua conformidade com a divina.
Art. 10 ― Se a vontade humana, querendo um objecto, deve conformar-se sempre com a divina.

Art. 1 ― Se a bondade da vontade depende do seu objecto.

O primeiro discute-se assim. ― Parece que a bondade da vontade não depende do seu objecto.

1. ― Pois, a vontade só pode querer o bem, porquanto, o mal lhe é contrário, como diz Dionísio 1. Se portanto a bondade da vontade dependesse do seu objecto, resultaria que toda vontade seria boa e má, nenhuma.

2. Demais. ― O bem principal é do fim, e por isso a bondade deste, como tal, não depende de nada. Ora, segundo o Filósofo, a acção boa é um fim, embora a produção nunca o seja 2 porque sempre se ordena, à coisa produzida, como ao fim. Logo, a bondade da vontade não depende de nenhum objecto.

3. Demais. ― Tal é um ser, tal é o que produz. Ora, o objecto da vontade é bom pela sua bondade natural. Logo, não pode conferir-lhe a ela uma bondade moral, e portanto esta, quando concernente à vontade, não depende do objecto.

Mas, em contrário, diz o Filósofo 3, que a justiça é que leva certos a quererem acções justas, e pela mesma razão, pela virtude é que querem o bem. Ora, boa é a vontade que opera virtuosamente. Logo a bondade da vontade provém de querer o bem.


O bem e o mal, em si, diferenciam os actos da vontade, à qual se referem, assim como o verdadeiro e o falso se referem à razão cujos actos distinguem a diferença existente entre a verdade e a falsidade, que nos leva a considerar uma opinião como verdadeira ou falsa. Donde, a vontade boa e a má são actos especificamente diferentes. Ora, a diferença específica dos actos depende dos objectos, como já se disse 4. Logo, o bem e o mal dos actos da vontade dependem propriamente dos objectos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Longe de sempre querer o verdadeiro bem, a vontade quer, às vezes, um bem aparente, bem, certo, de algum modo, mas que não convém, absolutamente ao apetite. E por isso o acto da vontade, nem sempre bom, e às vezes, é mau.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Embora um acto possa de certo modo ser o fim último do homem, nem por isso é acto da vontade, como já se disse antes 5.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― O bem é apresentado à vontade pela razão como objecto, e na medida em que entra na ordem da razão, pertence à ordem moral e causa, no acto da vontade, a bondade moral. Pois a razão é o princípio dos actos humanos e morais, como antes se disse 6.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. IV cap. De div. Nom., lect. XXII.
2. VI Ethic., lect. IV.
3. V Ethic., lect. I.
4. Q. 18, a. 5.
5. Q. 1, a. 1 ad 2.
6. Q. 18, a. 5.



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