23/03/2013

Tratado dos actos humanos 68


Questão 18: Da bondade e da malícia dos actos humanos em geral.

Art. 4. ― Se a bondade e a malícia dos actos humanos provêm do fim.



(II Sent., dist. XXXVI, a. 5).

O quarto discute-se assim. ― Parece que a bondade e a malícia dos actos humanos não provêm do fim.


1. ― Pois, como diz Dionísio, nenhum acto visa o mal como fim do agir 1. Logo, se pelo fim é que os actos são bons ou maus, nenhum será mau, o que é evidentemente falso.

2. Demais. ― A bondade de um acto é-lhe algo de intrínseco. Ora, o fim é causa extrínseca. Logo, não é em virtude do fim que uma acção se torna boa ou má.

3. Demais. ― Um acto bom pode ordenar-se a um fim mau, como quando alguém dá esmola por vanglória, e inversamente, um acto mau pode ordenar-se a um fim bom, como quando alguém furta para dar aos pobres. Logo, não é o fim que confere a bondade ou a malícia aos actos.

Mas, em contrário, diz Boécio: quem visa um fim bom é bom, e quem visa um mau, é mau 2.

As coisas dispõem-se para a bondade como para o ser. Ora, há algumas que têm o ser independente, e em relação a essas basta que lhes consideremos o ser, absolutamente. Há outras porém que são dependentes, e devemos então considerar a causa de que dependem. Ora, assim como o ser de uma coisa depende do agente e da forma, assim a bondade depende do fim. Por isso, a bondade das Pessoas divinas, independente de tudo, não a julgamos relativamente a nenhum fim. As acções humanas, porém, e quaisquer outras, cuja bondade é dependente, tiram a bondade do fim de que dependem, abstraindo-se da bondade absoluta que lhes é intrínseca.

Assim pois a bondade de uma acção humana pode ser considerada em quatro pontos de vista. Uma é genérica, que convém à acção como tal, pois, é boa na medida em que é acção, como já se disse 3. Outra é específica, e lhe resulta do objecto conveniente. A terceira, dependente das circunstâncias, é como que acidental. E a quarta, depende do fim, é constituída pela relação com a própria causa da bondade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O bem que visamos, quando agimos nem sempre o é verdadeiramente, mas às vezes é bem apenas aparente. E por isso, do fim resulta uma acção má.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Embora o fim seja causa extrínseca, contudo a proporção devida e a relação com ele são inerentes à acção.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Nada impede que uma acção deixe de ter todas as quatro bondades referidas. E então pode dar-se que a acção boa na sua espécie e relativamente às circunstâncias se ordene a um fim mau, e inversamente. De modo que é absolutamente boa só a acção na qual concorrem todas as bondades, pois, ao passo que qualquer defeito, por pequeno que seja, causa o mal, o bem procede só de uma causa íntegra, como diz Dionísio 4.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. IV cap. De Div. Nom., lect. XIV, XXII.
2. Topic., lib. II.
3. Q. 18, a. 1.
4. IV cap. De Div. Nom., lect. XXII.


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