Questão 18: Da bondade e
da malícia dos actos humanos em geral.
Art. 4. ― Se a bondade e a malícia dos actos humanos provêm do fim.
(II Sent., dist. XXXVI, a. 5).
O
quarto discute-se assim. ― Parece que a bondade e a malícia dos actos humanos
não provêm do fim.
1. ― Pois, como diz Dionísio, nenhum acto visa o mal como fim do agir 1. Logo, se pelo fim é que os actos são bons ou maus, nenhum será mau, o que é evidentemente falso.
2.
Demais. ― A bondade de um acto é-lhe algo de intrínseco. Ora, o fim é causa
extrínseca. Logo, não é em virtude do fim que uma acção se torna boa ou má.
3.
Demais. ― Um acto bom pode ordenar-se a um fim mau, como quando alguém dá esmola
por vanglória, e inversamente, um acto mau pode ordenar-se a um fim bom, como
quando alguém furta para dar aos pobres. Logo, não é o fim que confere a
bondade ou a malícia aos actos.
Mas,
em contrário, diz Boécio: quem visa um fim bom é bom, e quem visa um mau, é mau
2.
As coisas dispõem-se para a bondade como para o ser. Ora, há algumas que têm
o ser independente, e em relação a essas basta que lhes consideremos o ser,
absolutamente. Há outras porém que são dependentes, e devemos então considerar
a causa de que dependem. Ora, assim como o ser de uma coisa depende do agente e
da forma, assim a bondade depende do fim. Por isso, a bondade das Pessoas
divinas, independente de tudo, não a julgamos relativamente a nenhum fim. As acções
humanas, porém, e quaisquer outras, cuja bondade é dependente, tiram a bondade
do fim de que dependem, abstraindo-se da bondade absoluta que lhes é
intrínseca.
Assim
pois a bondade de uma acção humana pode ser considerada em quatro pontos de
vista. Uma é genérica, que convém à acção como tal, pois, é boa na medida em
que é acção, como já se disse 3. Outra é específica, e lhe resulta
do objecto conveniente. A terceira, dependente das circunstâncias, é como que
acidental. E a quarta, depende do fim, é constituída pela relação com a própria
causa da bondade.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O bem que visamos, quando agimos nem sempre o
é verdadeiramente, mas às vezes é bem apenas aparente. E por isso, do fim
resulta uma acção má.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Embora o fim seja causa extrínseca, contudo a proporção devida e a
relação com ele são inerentes à acção.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Nada impede que uma acção deixe de ter todas as quatro bondades
referidas. E então pode dar-se que a acção boa na sua espécie e relativamente
às circunstâncias se ordene a um fim mau, e inversamente. De modo que é
absolutamente boa só a acção na qual concorrem todas as bondades, pois, ao
passo que qualquer defeito, por pequeno que seja, causa o mal, o bem procede só
de uma causa íntegra, como diz Dionísio 4.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1.
IV cap. De Div. Nom., lect. XIV, XXII.
2.
Topic., lib. II.
3.
Q. 18, a. 1.
4.
IV cap. De Div. Nom., lect. XXII.
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