Questão 17: Dos actos
ordenados pela vontade.
Art. 4 ― Se o acto ordenado e a ordem são um mesmo acto.
(III,
q. 19, a. 2, De Unione Verbi, a. 5).
O
quarto discute-se assim. ― Parece que o acto ordenado e a ordem não são um
mesmo acto.
1. ― Pois, de potências diversas são diversos os actos. Ora, o acto ordenado procede de uma potência e a ordem, de outra, pois, uma é a potência que ordena e outra, a ordenada. Logo, acto ordenado e ordem não são um mesmo acto.
2.
Demais. ― Coisas separáveis uma da outra são diversas, pois nada se separa de
si mesmo. Ora, às vezes o acto ordenado separa-se da ordem, e é quando esta
precede sem ser seguida daquele. Logo, ordem e acto ordenado diferem.
3.
Demais. ― Onde há prioridade de uma coisa sobre outra há diversidade. Ora, a
ordem naturalmente precede o acto ordenado. Logo, este difere daquela.
Mas,
em contrário, diz o Filósofo, que quando uma coisa é para outra, só uma existe 1.
Ora, o acto ordenado não é senão para a ordem. Logo, ambos constituem um só acto.
Nada impede que coisas múltiplas, vistas a uma luz, sejam uma só, vistas a
outra. Antes, tudo o que é múltiplo se unifica, num certo ponto de vista, como
diz Dionísio 2. Entretanto, há-de levar-se em conta a diferença
seguinte: certas coisas que são múltiplas, absolutamente, relativamente,
constituem uma só, com outras porém, dá-se o contrário. Ora, a unidade é
predicada do mesmo modo que o ser, e este, absolutamente, é substância e,
relativamente, acidente ou ser de razão. Donde, tudo o que é um,
substancialmente, é um, absolutamente, e múltiplo, relativamente. Assim, o
todo, no género da substância, composto das suas partes integrais ou
essenciais, é um, absolutamente, porque é ente e substância, absolutamente, ao
passo que as partes são entes e substâncias, no todo. Porém seres, que tem
diversidade substancial e unidade acidental, são diversos, absolutamente, e um
mesmo ser acidental, assim, muitos homens formam um povo e muitas pedras, um
acervo, que é unidade de composição ou de ordem. Do mesmo modo muitos
indivíduos com unidade genérica ou específica são múltiplos, absolutamente, e
um, relativamente, pois, ser um, genérica ou especificamente, é ser
racionalmente uno.
Ora,
assim como no género dos seres naturais, o todo é composto de matéria e forma ―
por ex., o homem, de corpo e alma, o qual é um, naturalmente, embora tenha
multidão de partes ― assim também nos actos humanos, o acto de uma potência
inferior comporta-se materialmente em relação ao da potência superior, enquanto
que aquela age por virtude da superior, que a move, e do mesmo modo o acto do
primeiro motor se comporta como forma em relação ao acto do instrumento. Donde
é claro que a ordem e o acto ordenado constituem um só e mesmo acto, do mesmo
modo que o todo é uno, embora múltiplo pelas suas partes.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Se as potências diversas não fossem
subordinadas entre si, os actos deles seriam diversos, absolutamente. Mas,
quando uma potência move a outra, os seus actos constituem, de certo modo, um
só, pois um só acto é o do motor e do móvel, como diz o Filósofo 3.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― De poder a ordem ser separada do acto ordenado, resulta que são
múltiplos, quanto às partes, assim as partes do homem podem ser separadas umas
das outras, embora constituam uma unidade total.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Nada impede que nos seres múltiplos, pelas partes, mas
unificados, pelo todo, um tenha prioridade sobre outro, assim, a alma tem de certo
modo prioridade sobre o corpo e o coração, sobre os outros membros.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. III Top., cap. II.
2. Cap. XIII
De div. nom., lect. II.
3. III Phys., lect. IV.
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