12/03/2013

Tratado dos actos humanos 58


Questão 17: Dos actos ordenados pela vontade.

Art. 3 ― Se o uso precede a ordem.





O terceiro discute-se assim. ― Parece que o uso precede a ordem.




1. ― Pois, a ordem é acto da razão, que pressupõe o da vontade, como já se disse 1. Ora, o uso é acto da vontade, como também já se disse 2. Logo, precede a ordem.

2. Demais. ― A ordem é um dos meios, em vista do fim. Ora, o uso tem por objecto exatamente esses meios. Logo, é anterior à ordem.

3. Demais. ― O acto de toda potência movida pela vontade chama-se uso, pois a vontade usa de todas as potências, como já se disse 3. Ora, a ordem é um acto da razão, enquanto movida pela vontade, como também já se disse 4. Logo, a ordem é uma espécie de uso. E sendo o comum anterior ao próprio, o uso é anterior à ordem.

Mas, em contrário, diz Damasceno, que o impulso para a acção precede o uso 5. Ora esse impulso nasce da ordem. Logo, esta precede o uso.

O uso do meio, enquanto este é referido ao fim pela razão, precede a eleição, como já se disse 6. Logo, há forçosamente de preceder a ordem. Porém o uso do meio enquanto submetido à potência executora, depende da ordem, porque o acto de quem usa é conexo com o da coisa usada, assim, ninguém usa de um bastão antes que este, de algum modo, actue. A ordem porém não é simultânea com o acto do ser ordenado, mas naturalmente, é anterior à obediência a si devida, sendo mesmo às vezes essa prioridade temporal. Donde, é manifesto que a ordem é anterior ao uso.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Nem todo acto da vontade precede o acto racional da ordem, mas há um que precede e é a eleição, outro que se segue e é o uso. Pois, após a determinação do conselho, juízo da razão, é que a vontade elege, depois da eleição, a razão ordena a quem deve empregar os meios escolhidos, enfim, executando a ordem da razão, a vontade põe-se a usar e essa vontade é, ora a de outrem, quando mandamos a outrem, ora, é a própria, quando ordenamos a nós mesmos.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Como os actos são anteriores às potências, assim os objectos, aos actos. Ora, o objecto do uso são os meios. Logo, como a própria ordem é um meio, pode concluir-se mais acertadamente que ela é antes anterior do que posterior ao uso.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Assim como o acto da vontade que usa da razão, para ordenar, precede a ordem, assim também se pode dizer que esse mesmo uso da vontade precede qualquer ordem da razão, porque os actos dessas potências se refletem mutuamente uns sobre os outros.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.

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Notas:
1. Q. 17, a. 1.
2. Q. 16 a. 1.
3. Q. 16 a. 1.
4. Q. 17, a. 1.
5. II Orth. Fid., cap. XXII.
6. Q. 16 a. 1.

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