Questão 17: Dos actos
ordenados pela vontade.
Art. 2 ― Se ordenar convém aos brutos.
O
segundo discute-se assim. ― Parece que ordenar convém aos brutos.
1. ― Pois, segundo Avicena, a força que ordena o movimento reside no apetite, e a que executa o movimento, nos músculos e nos nervos 1. Ora, ambas existem nos brutos. Logo, podem ordenar.
2.
Demais. ― É próprio do escravo ser mandado. Ora, o corpo está para a alma como
o servo para o senhor, no dizer do Filósofo 2. Logo, o corpo recebe
as ordens da alma, mesmo nos brutos, composto de corpo e alma.
3.
Demais. ― Ordenando a si mesmo é que o homem se lança na acção. Ora, os animais
também se lançam nela, como diz Damasceno 3. Logo, são capazes de
ordenar.
Mas,
em contrário. ― A ordem é um acto da razão, como já se disse 4. Ora,
os brutos não têm razão. Logo, não podem ordenar.
Ordenar não é mais do que mandar alguém fazer alguma coisa, com certa moção
intimativa. Ora, tal acto é próprio da razão. Logo, é impossível que os brutos,
desprovidos de razão, possam de qualquer modo ordenar.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Diz-se que a potência apetitiva ordena um
movimento na medida em que move a razão ordenadora. Ora, só os homens são
capazes de tal. Pois, nos brutos, a potência apetitiva não é propriamente
imperativa senão no sentido geral de mover.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― O corpo dos brutos pode certamente obedecer, mas a alma não pode
governar porque não pode ordenar. Não há por isso, no caso, relação entre quem
ordena e quem é ordenado, mas só, entre o motor e o movido.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Os brutos impulsionam-se à acção de modo diferente dos homens.
Estes fazem-no por um imperativo da razão, equivalendo, neles, o impulso a uma
ordem. Os brutos porém, pelo instinto natural, pois o apetite deles, uma vez
apreendido o objecto conveniente ou não, imediatamente se move para ele ou dele
se afasta. Logo são ordenados à acção por outrem, não se lançando nela por si
mesmos. E portanto, há neles o impulso, mas não, a ordem.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1.
De anima, part. 1., cap. V.
2. I Polit., lect. XIII.
3. II Orth. Fid., cap. XXII.
4.
Q. 17, a. 1.
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