Em seguida devemos tratar das
circunstâncias dos actos humanos.
E sobre esta Questão quatro artigos se
discutem:
Art. 1 ― Se a circunstância é acidente
do acto humano.
Art. 2 ― Se as circunstâncias dos actos
humanos devem ser consideradas pelo teólogo.
Art. 3 ― Se as circunstâncias estão
convenientemente enumeradas no terceiro livro das Éticas de Aristóteles.
Art. 4 ― Se são circunstâncias
principais a causa por que se age e o em que se realiza a operação.
(Infra.
q. 18, a . 3, IV Sent., dist. XVI, q. a . 1, q ª
1).
O primeiro discute-se assim. ― Parece
que a circunstância não é um acidente do acto humano.
1. ― Pois, como diz Túlio, é pela
circunstância que a oração dá autoridade e firmeza à argumentação 1.
Ora, a oração dá firmeza à argumentação, sobretudo pelo que é substancial, como
a definição, o género, a espécie e coisas semelhantes, com as quais, ensina
ainda Túlio 2, o orador deve argumentar. Logo, a circunstância não é
acidente do acto humano.
2. Demais. ― É próprio do acidente
existir no ser. Ora, tal não se dá como o que circunsta, que é antes exterior.
Logo, as circunstâncias não são acidentes dos actos humanos.
3. Demais. ― Não há acidente de
acidente. Ora, os actos humanos já são acidentes. Logo, as circunstâncias não
são acidentes dos actos.
Mas, em contrário. ― As condições
particulares de uma coisa singular chamam-se acidentes, que a individuam. Ora,
o Filósofo diz que as circunstâncias são particulares 3, i. é,
condições particulares dos actos singulares. Logo, elas são acidentes
individuais dos actos humanos.
Sendo os nomes, segundo o
Filósofo 4, sinais das coisas inteligidas, necessariamente, o
processo de denominar há-de ser correlativo ao do conhecimento intelectivo.
Ora, o nosso conhecimento intelectual procede do mais para o menos conhecido, e
por isso aplicamos os nomes das coisas mais conhecidas a significarem as menos
conhecidas. Donde vem que, como diz Aristóteles 5, das coisas situadas
num lugar derivou o nome de distância para todos os contrários, e
semelhantemente, usamos dos nomes relativos ao movimento local para significar
outros movimentos, porque os corpos, circunscritos pelo lugar são os que mais
conhecemos. Donde resulta ter-se derivado o nome de circunstância, das coisas
situadas num lugar, para os actos humanos.
Ora, diz-se que circunstância,
localmente, o que embora extrínseco a uma coisa, com ela tem contacto ou dela
se aproxima, localmente. Donde, todas as condições exteriores à substância do acto
e que, contudo, respeitam de algum modo o acto humano, chamam-se circunstâncias.
Ora, o que é exterior à substância de uma coisa, mas que pertence à própria coisa,
chama-se acidente. Donde, se denominarem acidentes dos actos humanos, as
circunstâncias.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— A oração dá, certamente, firmeza à argumentação, primeiro, pela substância do
acto, e secundariamente, pelas circunstâncias dele. Assim, primeiro, torna-se
acusável quem perpetrou um homicídio, secundariamente, porque o perpetrou com
dolo, com fito de lucro, em tempo ou lugar sagrado, ou de modos semelhantes. E
por isso diz Túlio, significativamente, que pela circunstância e como
secundariamente, a oração acrescenta a firmeza à argumentação.
RESPOSTA À SEGUNDA. ― De modo duplo se
atribui o acidente a um ser. Porque neste existe como quando se diz que branco
é acidente de Sócrates. Ou porque existem ambos, simultaneamente, no mesmo
sujeito, assim, considera-se o branco como acidental ao músico, por convirem
ambos e de certa maneira se tocarem, num mesmo sujeito. E deste modo é que as
circunstancias se chamam acidentes dos actos.
RESPOSTA À TERCEIRA. ― Como já se
disse, considera-se um acidente como pertencente a outro, pela conveniência de
ambos, num mesmo sujeito, o que se pode dar de dois modos. Ou por se fundarem
eles nesse sujeito, sem nenhuma ordem ― assim branco e músico, em Sócrates ―
ou, numa certa ordem, como quando o sujeito recebe um acidente mediante outro —
assim, o corpo recebe a cor, mediante a superfície. Ora, de ambos modos, as
circunstâncias se referem aos actos. Pois, umas, ordenadas para o acto, dizem
respeito ao agente, sem mediação de nenhum outro acto, p. ex., o lugar e a
condição da pessoa. Outras porem mediante o próprio acto, assim, o modo de
agir.
Nota: Revisão da tradução portuguesa
por AMA.
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Notas:
1. Rhetoricis, lib. 1.
2. In topicis ad Trebat.
3. III Ethic, lect. IV.
4. Lib. I Perith., lect. II.
5.
X Metaphys., lect. V.
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