Questão 107: Da locução
dos anjos.
Art. 4 — Se a distância local tem alguma influência na locução angélica.
(II Sent., dist. XI, part. II,
a. 3. ad 3; De Verit., q. 9, a. 6).
O
quarto discute-se assim. — Parece que a distância local tem alguma influência
na locução angélica.
1.
— Pois, como diz Damasceno, o anjo opera onde está. Ora, a locução é uma
operação do anjo. Logo, quando o anjo está num determinado lugar, resulta que
pode falar até a uma distância do determinado lugar.
2.
Demais. — Por causa da distância do ouvinte é necessário o gritar de quem fala.
Ora, a Escritura diz, do Serafim (Is 4, 3): clamava um para o outro.
Logo, na locução dos anjos, a distância local tem alguma influência.
Mas,
em contrário, o rico, posto no inferno clamava a Abraão, diz a Escritura (Lc
16, 24), sem que lho impedisse a distância local. Logo, com maioria de
razão, a distância local não pode impedir que um anjo fale com outro.
A locução do anjo consiste numa operação intelectual, como resulta do que já
foi dito (a. 1, 2, 3). Ora, tal operação, no anjo, é abstrata do
lugar e do tempo. Pois, mesmo a nossa operação intelectual se dá pela
abstração das circunstâncias de lugar e de tempo, exceto por acidente, por
parte dos fantasmas, que de nenhum modo existem nos anjos. Por ser, pois, a
operação intelectual deles absolutamente abstracta do lugar e do tempo, nada
operam sobre ela nem a diversidade deste, nem a distância local. Donde, esta
não traz nenhum impedimento à locução angélica.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A locução angélica, como já se disse (a.
1, ad 2), é interior; percebida, todavia, por outro anjo. Logo, está no
anjo que fala e, por conseguinte, onde está esse anjo. Mas, como a distância
local não impede que um anjo possa ver outro, assim, também não impede que um
perceba, em outro, o que, neste, está ordenado para aquele; e isso é perceber
um a locução do outro.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — O referido clamor não é voz corpórea, necessitado pela distância
local; mas significa a grandeza da coisa dita, ou a grandeza do efeito,
conforme explica Gregório: cada um tanto menos clama quanto menos deseja.
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