Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Lc 17, 1-19
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Evangelho: Lc 17, 1-19
1 Depois, Jesus
disse a Seus discípulos: «É impossível que não haja escândalos, porém, ai
daquele por quem eles vêm! 2 Seria melhor para ele que lhe
pendurassem ao pescoço uma pedra de moinho, e que fosse precipitado no mar, do
que ser causa de escândalo para um destes pequeninos. 3 «Estai com
cuidado sobre vós. Se teu irmão pecar, repreende-o; e, se ele se arrepender,
perdoa-lhe. 4 E, se pecar sete vezes ao dia contra ti, e sete vezes
ao dia for ter contigo, dizendo: estou arrependido, perdoa-lhe». 5
Os apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta-nos a fé!».6 O Senhor
disse-lhes: «Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira:
Arranca-te e transplanta-te para o mar, e ela vos obedecerá. 7 «Quem
de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele voltar
do campo: Vem depressa, põe-te à mesa? 8 Não lhe dirá antes:
Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois comerás
tu e beberás? 9 Porventura, fica o senhor obrigado àquele servo, por
ter feito o que lhe tinha mandado? 10 Assim também vós, depois de
terdes feito tudo o que vos foi mandado, dizei: Somos servos inúteis; fizemos o
que devíamos fazer». 11 Indo Jesus para Jerusalém, passou pela
Samaria e pela Galileia. 12 Ao entrar numa aldeia, saíram-Lhe ao
encontro dez homens leprosos, que pararam ao longe, 13 e levantaram
a voz, dizendo: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!». 14 Ele
tendo-os visto, disse-lhes: «Ide, mostrai-vos aos sacerdotes». Aconteceu que,
enquanto iam, ficaram limpos. 15 Um deles, quando viu que tinha
ficado limpo, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, 16 e
prostrou-se por terra a Seus pés, dando-Lhe graças. Era um samaritano. 17
Jesus disse: «Não são dez os que foram curados? Onde estão os outros nove? 18
Não se encontrou quem voltasse e desse glória a Deus, senão este estrangeiro?».
19 Depois disse-lhe: «Levanta-te, vai; a tua fé te salvou».
CARTA ENCÍCLICA
SACRA VIRGINITAS
DO SUMO PONTÍFICE
PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS
PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS E BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
A SAGRADA VIRGINDADE
INTRODUÇÃO
Virgindade e castidade perfeita
são o mais belo florão da Igreja
1.
A sagrada virgindade e a perfeita castidade consagrada ao serviço de Deus
contam-se sem dúvida entre os mais preciosos tesouros deixados como herança à
Igreja pelo seu Fundador.
2.
Por isso, os Santos Padres observam que a virgindade perpétua é um bem excelso
nascido da religião cristã. Com razão notam que os pagãos da antiguidade não
exigiram das vestais tal estado de vida senão por certo tempo; 1 e mandando o Antigo Testamento conservar e
praticar a virgindade, fazia-o só como exigência prévia do matrimónio (cf.
Ex 22, 16-17; Dt 22, 23-29; Eclo 42, 9); além disso, como escreve santo
Ambrósio; 2 "Lemos de facto
que havia virgens no templo de Jerusalém. Mas que diz delas o apóstolo? 'Todas
estas coisas lhes aconteciam em figura' (1 Cor 10, 11), para serem
indícios dos tempos futuros".
3.
De facto, desde os tempos apostólicos viceja e floresce esta virtude no jardim
da Igreja. Quando nos Actos dos Apóstolos (Act 21,9) se diz que as
quatro filhas do diácono Filipe eram virgens, a expressão significa certamente
bem mais um estado de vida do que a idade juvenil. E pouco depois, Santo Inácio
de Antioquia, saudando-as, nomeia-as virgens 3 que então, juntamente com as viúvas,
constituíam parte importante entre os cristãos da comunidade de Esmirna. No
século II, como testemunha São Justino, "muitos homens e mulheres, de
sessenta e setenta anos, educados desde a infância na doutrina de Cristo,
mantêm perfeita integridade". 4
Pouco a pouco, cresceu o número dos que consagravam a Deus a castidade; e ao
mesmo tempo aumentou consideravelmente a importância deles na Igreja, como
expusemos na nossa Constituição
Apostólica Sponsa Christi. 5
4.
Também os Santos Padres – como São Cipriano, Santo Atanásio, Santo Ambrósio, São
João Crisóstomo, São Jerónimo, Santo Agostinho e muitos outros -, escrevendo
sobre a virgindade, lhe dedicaram os maiores louvores. Ora, esta doutrina dos
santos padres, desenvolvida no correr dos séculos pelos Doutores da Igreja e
pelos mestres da ascética cristã, contribui muito para suscitar ou confirmar
nos cristãos de ambos os sexos o propósito firme de se consagrarem a Deus em
perfeita castidade e de perseverarem nela até à morte.
A virgindade floresceu
entre os féis de todas as condições
5.
Não se pode contar a multidão daqueles que, desde os começos da Igreja até aos
nossos tempos, dedicaram a sua castidade a Deus, uns conservando incólume a
própria virgindade, outros consagrando-lhe para sempre a viuvez, outros
finalmente escolhendo, em penitência dos seus pecados, uma vida perfeitamente
casta; todos esses, porém, propuseram abster-se para sempre dos deleites da
carne por amor de Deus. A doutrina dos Santos Padres sobre a grandeza e o
mérito da virgindade seja incitamento e forte sustentáculo para todas essas
almas, a fim de perseverarem no sacrifício oferecido e não retomarem para si
nem a mínima parte do holocausto já colocado sobre o altar de Deus.
6.
A castidade perfeita é a matéria de um dos três votos constitutivos do estado
religioso 6 e exigida aos
clérigos da Igreja latina para as ordens maiores 7 e também aos membros dos institutos
seculares. 8
Mas é igualmente praticada por grande número de simples leigos: há homens e
mulheres que, sem viverem em estado público de perfeição, fizeram o propósito
ou mesmo o voto privado de se abster completamente do matrimónio e dos prazeres
da carne para mais livremente servir ao próximo, e mais fácil e intimamente se
unirem com Deus.
7.
Dirigimo-nos com coração paterno a todos e cada um desses muito amados filhos e
filhas, que de algum modo consagraram a Deus corpo e alma, e exortamo-los
vivamente a confirmarem sua santa resolução e a pô-la em prática com
diligência.
8.
Não falta contudo quem, saindo do bom caminho, nos dias de hoje exalte o matrimónio
a ponto de o colocar praticamente acima da virgindade, depreciando
consequentemente a castidade consagrada a Deus e o celibato eclesiástico. Por
isso nos pede agora a consciência do nosso cargo apostólico que declaremos e
defendamos a doutrina da excelência da virgindade, para acautelarmos de tais
erros a verdade católica.
I
A
DOUTRINA SOBRE A VIRGINDADE
9.
Antes de mais, é preciso notarmos que o essencial da doutrina sobre a
virgindade o recebeu a Igreja dos próprios lábios do seu divino Esposo.
10.
Pareceram aos discípulos muito pesados os vínculos e encargos do matrimónio,
que o divino Mestre manifestara, e disseram-lhe: "Se tal é a condição do
homem a respeito de sua mulher, não convém casar" (Mt 19, 10).
Respondeu-lhes Jesus Cristo que nem todos compreendem tal linguagem, mas só
aqueles a quem isso é concedido, porque, se alguns são de nascença ou pela
violência e malícia dos homens incapazes de se casar, outros há, pelo contrário,
que por espontânea vontade se abstêm do matrimónio "por amor do reino dos
céus"; e conclui dizendo: "Quem pode compreender, compreenda" (Mt
19, 11-12).
11.
Com essas palavras o divino Mestre não trata dos impedimentos físicos do
casamento, mas da resolução livre e voluntária de quem, para sempre, renuncia
às núpcias e aos prazeres da carne. Pois, ao comparar os que fazem renúncia
espontânea com aqueles que se vêm impedidos ou pela natureza ou pela violência
dos homens, não é verdade que o divino Redentor nos ensina que a castidade,
para ser perfeita, deve ser perpétua?
O que é a virgindade
cristã no ensino dos padres e doutores
12.
Daqui se segue – como os Santos Padres e os Doutores da Igreja claramente
ensinaram – que a virgindade não é virtude cristã se não é praticada "por
amor do reino dos céus" (Mt 19, 12); isto é, para mais
facilmente nos entregarmos às coisas divinas, para mais seguramente alcançarmos
a bem-aventurança, e para mais livre e eficazmente podermos levar os outros
para o Reino dos Céus.
13.
Não podem, portanto, reivindicar o título de virgens as pessoas que se abstêm
do matrimónio por puro egoísmo, ou para evitarem encargos, como nota Santo
Agostinho, 9
ou, ainda, por amor farisaico e orgulhoso da própria integridade corporal: já o
Concílio de Gangres condena a virgem e o continente que se afastam do matrimónio
por o considerarem coisa abominável, e não por se moverem pela beleza e
santidade da virgindade. 10
14.
Além disso, o Apóstolo das gentes, inspirado pelo Espírito Santo, observa:
"Quem está sem mulher, está cuidadoso das coisas que são do Senhor, como
há-de agradar a Deus... E a mulher solteira e virgem cuida das coisas que são
do Senhor, para ser santa de corpo e de espírito" (1 Cor 7, 32.34).
É essa, portanto, a finalidade primordial e a razão principal da virgindade
cristã: encaminhar-se apenas para as coisas de Deus e orientar, unicamente para
ele, o espírito e o coração; querer agradar a Deus em tudo; concentrar nele o
pensamento e consagrar-lhe inteiramente o corpo e a alma.
15.
Os Santos Padres nunca deixaram de interpretar desse modo a lição de Jesus
Cristo e a doutrina do Apóstolo das gentes: pois, desde os tempos primitivos da
Igreja, consideravam a virgindade como consagração do corpo e da alma a Deus.
São Cipriano pede às virgens que, "tendo-se consagrado a Cristo pela
renúncia à concupiscência da carne e tendo-se dedicado a Deus de alma e corpo,
não procurem agora adornar-se nem pretendam agradar a ninguém senão a
Deus". 11 E
mais longe vai ainda Santo Agostinho: "Não honramos a virgindade por si
mesma, mas por estar consagrada a Deus... Nem nós louvamos nas virgens o serem
virgens, mas o estarem consagradas a Deus com piedosa continência". 12 Os príncipes da sagrada teologia, São
Tomás de Aquino 13 e
São Boaventura, 14
apoiam-se na autoridade de Santo Agostinho para ensinarem que a virgindade não
possui a firmeza de virtude se não deriva do voto de a conservar incólume
perpetuamente. E, sem dúvida, os que mais plena e perfeitamente põem em prática
a lição de Cristo neste particular, são os que se obrigam com voto perpétuo a
observar a continência; nem se pode afirmar com fundamento que é melhor e mais
perfeita a condição dos que desejam conservar uma porta aberta, para voltarem
atrás.
Só a caridade inspira e
anima a virgindade cristã...
16.
Esse vínculo de perfeita castidade, consideraram-no os Santos Padres como uma
espécie de matrimónio espiritual da alma com Cristo; e, por isso, alguns chegaram
a comparar com o adultério a violação dessa promessa de fidelidade. 15 Santo Atanásio escreve que a Igreja
católica costuma chamar esposas de Cristo às virgens. 16 E santo Ambrósio diz expressamente da alma
consagrada: "É virgem quem possui a Deus como esposo". 17 Mais ainda, vê-se pelos escritos do mesmo
doutor de Milão, 18
que, já no quarto século, o rito da consagração das virgens era muito
semelhante ao que a Igreja usa ainda hoje na bênção matrimonial. 19
17.
Por isso os Santos Padres exortam as virgens a amarem com mais ardor o seu
divino Esposo do que amariam os próprios maridos, e a conformarem, a todo o
momento, pensamentos e actos com a vontade dele. 20 Recomenda Santo Agostinho: "Amai com
todo o coração o mais belo dos filhos dos homens: bem o podeis, porque o vosso
coração está livre dos vínculos do casamento... Se tivésseis maridos, estaríeis
obrigadas a ter-lhes grande amor; quanto mais não estais obrigadas a amar
aquele por cujo amor não quisestes ter maridos? Esteja fixado em todo o vosso
coração aquele que por vós está fixado na cruz". 21 Tais são aliás os sentimentos e as
resoluções que a própria Igreja exige das virgens no dia da consagração,
convidando-as a pronunciar estas palavras rituais: "O reino do mundo e
toda a sedução do século desprezei-os por amor de nosso Senhor Jesus Cristo,
que eu vi, que eu amei, em quem confiei, a quem preferi". 22 É portanto o amor, e só o amor, que leva
suavemente a virgem a consagrar completamente o corpo e a alma ao Divino
Redentor, segundo o pensamento que São Metódio, Bispo de Olimpo, atribui tão
belamente a uma delas: "Tu, Cristo, és tudo para mim. É para ti que me
conservo casta, e com a lâmpada acesa vou ao Teu encontro, ó meu Esposo". 23 Sim, é o amor de Cristo que persuade a
virgem a encerrar-se para sempre nos muros de um mosteiro, a fim de contemplar
e amar, mais fácil e livremente, o celeste Esposo; e é ele ainda que a leva a
praticar, com todas as forças, até à morte, as obras de misericórdia para o bem
do próximo.
18.
Acerca dos homens "que não se contaminaram com mulheres, pois são
virgens" (Ap 14, 4), afirma o Apóstolo São João: "Estes
seguem o Cordeiro para onde quer que ele vá" (Ib.). Meditemos o
conselho que lhes dá Santo Agostinho: "Segui o Cordeiro, porque também a
sua carne é virgem... Com razão O seguis, em virgindade de coração e de carne,
para onde quer que Ele vá. Afinal, que é seguir senão imitar? Na verdade Cristo
sofreu por nós deixando-nos exemplo, como diz o Apóstolo São Pedro, 'para
seguirmos as suas pisadas'" (1 Pd 2, 21). 24 De facto, todos esses discípulos e esposas
de Cristo abraçaram o estado de virgindade, como diz São Boaventura, "para
se conformarem com Cristo, seu esposo, a quem o mesmo estado torna as virgens
semelhantes". 25 Ao
amor ardente que têm a Cristo, não podiam bastar os laços do afecto; era
absolutamente necessário que esse mesmo amor se mostrasse pela imitação das
virtudes, que nele brilham, e de modo especial pela conformidade com a sua
vida, toda dedicada à salvação do género humano. Se os sacerdotes, os
religiosos e as religiosas, se todos os que de um modo ou do outro se
consagraram ao serviço de Deus observam a castidade perfeita, é afinal porque o
divino Mestre foi virgem até à morte. Assim se exprime São Fulgêncio: "É
este o Filho Unigénito de Deus, e também Filho Unigénito da Virgem, Esposo
único de todas as virgens consagradas, fruto, ornamento e prémio da santa
virgindade; dado à luz corporalmente pela santa virgindade, e à santa virgindade
unido espiritualmente; Ele torna fecunda a santa virgindade sem lhe destruir a
integridade, adorna-a de permanente beleza e coroa-a de glória no reino
eterno" 26
...para servir a Deus mais
livre e facilmente
19.
Julgamos oportuno, veneráveis irmãos, mostrar agora mais exactamente por que
motivo o amor de Cristo leva as almas generosas a renunciarem ao matrimónio, e
quais são os laços misteriosos que existem entre a virgindade e a perfeição da
caridade cristã. Já as palavras de Jesus Cristo, que mencionamos acima, davam a
entender que a perfeita abstenção do matrimónio liberta os homens dos pesados
encargos e deveres deste. Inspirado pelo Espírito Santo, o Apóstolo das gentes
dá o motivo desta libertação: "Quero que vivais sem inquietação... O que
está casado está cuidadoso das coisas que são do mundo, como há-de agradar a
sua mulher, e está dividido" (l Cor 7, 32-33). Note-se porém
que o Apóstolo não repreende os maridos por estarem cuidadosos das esposas, nem
as esposas por procurarem agradar aos maridos; mas nota que estão divididos os
corações entre o amor do cônjuge e o amor de Deus, e que estão demasiado
absorvidos pelos cuidados e obrigações da vida conjugal para poderem
entregar-se facilmente à meditação das coisas divinas. Porque o dever do
casamento prescreve claramente: "Serão dois numa só carne" (Gn
2, 24; cf. Mt 19, 5). Os esposos estão ligados um ao outro tanto na
infelicidade como na felicidade (cf. l Cor 7, 39). Compreende-se
portanto por que é que as pessoas, que desejam dedicar-se ao serviço divino,
abraçam o estado de virgindade como libertação, quer dizer, para poderem mais
inteiramente servir a Deus e contribuir com todas as forças para o bem do
próximo. Por exemplo, o admirável missionário São Francisco Xavier, o
misericordioso pai dos pobres São Vicente de Paulo, o zelosíssimo educador da
juventude São João Bosco, e a incansável "mãe dos emigrantes" Santa
Francisca Xavier Cabrim, como poderiam eles suportar tantos incómodos e
trabalhos, se tivessem de prover às necessidades corporais e espirituais dos
filhos, e da mulher ou do marido?
Facilita a elevação da
vida espiritual e fecunda o apostolado
20.
Mas há ainda outra razão para todos os que se querem dedicar completamente a
Deus e à salvação do próximo abraçarem o estado de virgindade. Os Santos Padres
enumeram todas as vantagens, para o progresso na vida espiritual, de uma
completa renúncia aos prazeres da carne. Sem dúvida – como claramente fizeram
notar – tal prazer, legítimo no casamento, não é repreensível em si mesmo; pelo
contrário, o uso casto do casamento está nobilitado e santificado por um
sacramento. Todavia, tem de se reconhecer igualmente que as faculdades
inferiores da natureza humana, em consequência da queda do nosso primeiro pai,
resistem à recta razão e algumas vezes até levam o homem a cometer actos
desonestos. Como escreve o Doutor Angélico, o uso do matrimónio "impede a
alma de se entregar completamente ao serviço divino ". 27
21.
Para os ministros sagrados conseguirem essa liberdade espiritual de corpo e
alma, e para não se embaraçarem com negócios terrenos, a Igreja latina
exige-lhes que se obriguem voluntariamente à castidade perfeita. 28 "Se tal lei – afirma o nosso
predecessor de imortal memória, Pio XI – não obriga de todo os ministros da
Igreja oriental, também entre eles o celibato eclesiástico é honrado e em
certos casos – sobretudo quando se trata dos mais altos graus da hierarquia – é
condição necessária e obrigatória". 29
22.
Deve notar-se, além disso, que não é apenas por causa do ministério apostólico
que os sacerdotes renunciam completamente ao matrimónio. É também porque são
ministros do altar. Pois, se já os sacerdotes do Antigo Testamento se abstinham
do uso do matrimónio enquanto serviam no templo, com receio de serem declarados
impuros pela Lei, como o resto dos homens (cf. Lv 15, 16-17; 22, 4;1 Sm
21,5-7), 30
com quanto mais razão não convém que os ministros de Jesus Cristo, que todos os
dias oferecem o Sacrifício Eucarístico, se distingam pela castidade perpétua?
São Pedro Damião exorta os sacerdotes à castidade perfeita com esta pergunta:
"Se o nosso Redentor amou tanto a flor de uma pureza intacta, que não só
quis nascer dum ventre virginal, mas também quis ser entregue aos cuidados dum
guarda virgem, e isso, quando ainda criança vagia no berço, dizei-me: A quem
quererá ele confiar o Seu corpo, agora que reina na imensidão dos céus"? 31
A sua excelência sobre o
matrimónio
23.
É sobretudo por esse motivo que se deve afirmar como ensina a Igreja – que a
santa virgindade é mais excelente que o matrimónio. Já o Divino Redentor a
aconselhara aos discípulos como vida mais perfeita (cf. Mt 19, 10-11);
e São Paulo, depois de dizer que o pai que dá em casamento a filha "faz
bem", acrescenta logo a seguir: "E quem não a casa, faz melhor
ainda" (1 Cor 7,38). Ao comparar as núpcias com a virgindade, o
Apóstolo manifesta mais de uma vez o seu pensamento, sobretudo ao dizer:
"Eu queria que todos vós fosseis como eu... Digo aos não casados e às
viúvas que lhes é bom permanecerem assim, como também eu" (1 Cor 7,
7-8; cf. l e 26). Se portanto a virgindade, como dissemos, é mais
excelente que o matrimónio, isso vem em primeiro lugar de ela ter um fim mais
alto: 32 contribui com a
maior eficácia para nos dedicarmos completamente ao divino serviço, enquanto o
coração das pessoas casadas sempre estará mais ou menos "dividido" (cf.1
Cor 7,33).
24.
Considerando, porém, a abundância dos frutos que dela nascem, mais clara
aparecerá ainda a excelência da virgindade "pois pelo fruto se conhece a
árvore" (Mt 12, 33).
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
___________________________
Notas:
1
Cf. S. Ambrósio, De virginibus, lib. I, c. 4, n.15; De virginitate, c. 3, n.13;
PL 16, 269.
2
S. Ambrósio, De virginibus, lib. I, c. 3, n.12; PL 16,192.
3
Cf. S. Inácio de Antioquia, Ep. ad Smyrn., c.13; ed. Funk-Diekamp, Patres
Apostolici, vol. I, p. 286.
4 S. Justino., Apol. I, pro
christ., c. l5 PG 6, 349.
5Const.Apost. Sponsa Christi;
AAS 431951), pp. 5-8.
6 Cf. CIC cân. 487.
7 Cf. CIC cân.132 § 1.
8 Cf. Const. apost. Provida
Mater, art. III, § 2; AAS 39( 1947), p.121.
9
S. Augustin., De sancta virginitate, c. 22; PL 40, 407.
10
Cf. cân. 9; Mansi, Coll. concil., II,1096.
11
S. Cypr., De habitu virginum, 4; PL N, 443.
12
S. Augustin., De sancta virginitate, cc. 8 e 11; PL 40, 400 e 401.
13 S. Thom., Summa Th., II-II,
q.152, a. 3, até 4.
14
5. Bonav., De perfectione evangelica q. 3, a. 3, sol. 5.
15
Cf. S. Cypr., De habitu virginum, c. 20; PL 4, 459.
16 Cf. S. Athanas., Apol. ad
Constant., 33; PG 25, 640.
17
S. Ambros., De virginibus, lib. I, c. 8; n. 52; PL 16, 202.
18
Cf. Ib., lib. III, cc. l-3, nn. l-14; PL 16, 219-224, De institutione virginis,
c.17, nn.104-114; PL 16, 333-336.
19
Cf. Sacramentarium Leonianum XXX; PL 55,129; Pontificale Romanum, De
benedictione et consecratione virginum.
20
Cf. S. Cypr., De habitu virginum, 4 e 22; PL 4, 443-444 e 462; S. Ambros., De
virginibus, lib. I, c. 7, n. 37; PL 16,199.
21
S. Augustin., De sancta virginitate, cc. 54-55; PL 40, 428.
22
Pontificale Romanum: De benedictione et consecratione virginum.
23
S. Methodius Olympi, Convivium decem virginum, orat. XI, c. 2; PG 16, 209.
24
S. Augustin., De sancta virginitate, c. 27; PL 40, 411.
25
S. Bonav., De perfectione evangelica, q. 3, a. 3.
26 S. Fulgem., Epist. 3, c. 4,
n. 6; PL 63, 326.
27 S. Thom., Summa Theol.,
II-II, q.186, a. 4.
28
Cf. CIC cân.132, § 1.
29 Cf. Carta enc. Ad catholici
sacerdotii, (AAS 281936), pp. 24-25.
30 Cf. S. Siric. Papa, Ep. ad
Himer. 7;
PL 56, 558-559.
31
S. Petrus Dam., De caelibatu sacerdotum, c. 3; PL 145, 384.
32 Cf. S. Thom., Summa Theol.,
II-II, q.152, aa. 3-4.
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