E, sobre este ponto, quatro artigos se
discutem:
Art. 1 — Se o nosso intelecto conhece
o singular.
Art. 2 — Se o nosso intelecto pode
conhecer o infinito.
Art. 3 — Se o nosso intelecto conhece
os contingentes.
Art. 4 — Se o nosso intelecto conhece
os futuros.
Art. 1 — Se o nosso intelecto conhece
o singular.
(II Sent., dist. III, q. 3, a.
3, ad 1; IV, dist. L, q. 1, a. 3; I Cont. Gent., cap. LXV;
De Verit., q. 2, a. 5, 6; q. 10, a. 5; Qu. De Anima, a. 20; Quodl, VII, q. 1,
a. 3; XII, q. 8; Opusc. XXIX, De Princip. Individ.: III De Anima Lect. VIII).
Art. 1 - Parece que o intelecto conhece o singular.
O primeiro discute-se assim:
1. ― Pois, quem conhece a composição
conhece-lhe os extremos. Ora, o nosso intelecto conhece esta composição ―
Sócrates é homem ― porque é capaz de formar uma proposição. Logo, o nosso
intelecto conhece Sócrates como singular.
2. Demais. ― O intelecto prático
dirige para a acção. Ora, os actos se referem ao singular. Logo o intelecto o
conhece.
3. Demais. ― O nosso intelecto intelige-se
a si mesmo. Ora, ele, em si mesmo, é um singular; de contrário não exerceria
nenhum acto, pois os actos são próprios só do singular. Logo, este é conhecido
pelo nosso intelecto.
4. Demais. ― Tudo o que pode a virtude
inferior pode a superior. Ora, o sentido conhece o singular. Logo, com maioria
de razão, o intelecto.
Mas, em contrário, diz o Filósofo: o
universal é conhecido pela razão e o singular, pelo sentido.
O nosso intelecto não pode
conhecer o singular, nas coisas materiais, direta e primariamente. E, isso,
porque o princípio da singularidade delas é a matéria individual. Ora, o nosso
intelecto, como já se disse antes (q. 85, a. 1), intelige abstraindo
a espécie inteligível, de tal matéria; e isso que ele abstrai é universal. Donde,
o nosso intelecto não conhece diretamente senão o universal. ― Porém, indiretamente
e por uma como reflexão, pode conhecer o singular. Pois, como já se disse (q.
84, a. 7), mesmo depois de haver abstraído as espécies inteligíveis, não
pode, por ela, inteligir em acto, senão voltando-se para os fantasmas, nos
quais intelige as espécies inteligíveis, como diz Aristóteles. Assim, pois,
intelige diretamente o universal em si, pela espécie inteligível;
indiretamente, porém, o singular, do qual são os fantasmas. E, assim, forma a
proposição ― Sócrates é homem.
Donde é clara a RESPOSTA À PRIMEIRA
OBJEÇÃO.
RESPOSTA À SEGUNDA. ― A eleição do
particular operável é uma como conclusão de um silogismo do intelecto prático,
como diz Aristóteles. Pois, de uma proposição universal não se pode concluir
directamente o singular, senão mediante o aceite de alguma proposição
particular. Donde, a razão universal do intelecto prático não move senão
mediante uma apreensão particular da parte sensitiva, como diz Aristóteles.
RESPOSTA À TERCEIRA. ― Não repugna
seja inteligido o singular como tal, senão só enquanto material; pois, só
imaterialmente é que uma coisa pode ser inteligida. Donde, não repugna seja
inteligido o que é singular e imaterial, como o intelecto.
RESPOSTA À QUARTA. ― A virtude
superior pode tanto como a inferior, mas de modo mais eminente. Donde, aquilo
de que o sentido tem conhecimento, material e concretamente, isto é, do
singular, diretamente, isso mesmo o intelecto conhece imaterial e abstratamente,
o que é conhecer o universal.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
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