11/09/2012

Tratado sobre o Homem 70



Questão 86: Do que o nosso intelecto conhece nas coisas materiais.

Em seguida deve tratar-se do que o nosso intelecto conhece nas coisas materiais.


E, sobre este ponto, quatro artigos se discutem:
Art. 1 — Se o nosso intelecto conhece o singular.
Art. 2 — Se o nosso intelecto pode conhecer o infinito.
Art. 3 — Se o nosso intelecto conhece os contingentes.
Art. 4 — Se o nosso intelecto conhece os futuros.
Art. 1 — Se o nosso intelecto conhece o singular.

(II Sent., dist. III, q. 3, a. 3, ad 1; IV, dist. L, q. 1, a. 3; I Cont. Gent., cap. LXV; De Verit., q. 2, a. 5, 6; q. 10, a. 5; Qu. De Anima, a. 20; Quodl, VII, q. 1, a. 3; XII, q. 8; Opusc. XXIX, De Princip. Individ.: III De Anima Lect. VIII).

Art. 1 - Parece que o intelecto conhece o singular.

O primeiro discute-se assim:

1. ― Pois, quem conhece a composição conhece-lhe os extremos. Ora, o nosso intelecto conhece esta composição ― Sócrates é homem ― porque é capaz de formar uma proposição. Logo, o nosso intelecto conhece Sócrates como singular.

2. Demais. ― O intelecto prático dirige para a acção. Ora, os actos se referem ao singular. Logo o intelecto o conhece.

3. Demais. ― O nosso intelecto intelige-se a si mesmo. Ora, ele, em si mesmo, é um singular; de contrário não exerceria nenhum acto, pois os actos são próprios só do singular. Logo, este é conhecido pelo nosso intelecto.

4. Demais. ― Tudo o que pode a virtude inferior pode a superior. Ora, o sentido conhece o singular. Logo, com maioria de razão, o intelecto.

Mas, em contrário, diz o Filósofo: o universal é conhecido pela razão e o singular, pelo sentido.

O nosso intelecto não pode conhecer o singular, nas coisas materiais, direta e primariamente. E, isso, porque o princípio da singularidade delas é a matéria individual. Ora, o nosso intelecto, como já se disse antes (q. 85, a. 1), intelige abstraindo a espécie inteligível, de tal matéria; e isso que ele abstrai é universal. Donde, o nosso intelecto não conhece diretamente senão o universal. ― Porém, indiretamente e por uma como reflexão, pode conhecer o singular. Pois, como já se disse (q. 84, a. 7), mesmo depois de haver abstraído as espécies inteligíveis, não pode, por ela, inteligir em acto, senão voltando-se para os fantasmas, nos quais intelige as espécies inteligíveis, como diz Aristóteles. Assim, pois, intelige diretamente o universal em si, pela espécie inteligível; indiretamente, porém, o singular, do qual são os fantasmas. E, assim, forma a proposição ― Sócrates é homem.

Donde é clara a RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― A eleição do particular operável é uma como conclusão de um silogismo do intelecto prático, como diz Aristóteles. Pois, de uma proposição universal não se pode concluir directamente o singular, senão mediante o aceite de alguma proposição particular. Donde, a razão universal do intelecto prático não move senão mediante uma apreensão particular da parte sensitiva, como diz Aristóteles.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Não repugna seja inteligido o singular como tal, senão só enquanto material; pois, só imaterialmente é que uma coisa pode ser inteligida. Donde, não repugna seja inteligido o que é singular e imaterial, como o intelecto.

RESPOSTA À QUARTA. ― A virtude superior pode tanto como a inferior, mas de modo mais eminente. Donde, aquilo de que o sentido tem conhecimento, material e concretamente, isto é, do singular, diretamente, isso mesmo o intelecto conhece imaterial e abstratamente, o que é conhecer o universal.


Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama

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