Art. 5 Se Deus opera em todo o agente
(II Sent., dist., I, part. I,
q. I, a. 4; III Cont. Gent., cap. LXVII ; De Pot., q. 3, a. 7; Compend. Theol.,
cap. CXXXV).
O quinto discute-se assim: - Parece que Deus não opera todo o agente.
1. Pois, não se deve atribuir a Deus nenhuma insuficiência. Ora, se Deus opera em todo agente, há-de operar suficientemente. Logo, será supérflua a acção do agente criado.
1. Pois, não se deve atribuir a Deus nenhuma insuficiência. Ora, se Deus opera em todo agente, há-de operar suficientemente. Logo, será supérflua a acção do agente criado.
2.
Demais. — Uma operação não pode provir simultaneamente de dois agentes, assim
como o movimento numericamente uno não pode pertencer simultaneamente a dois
móveis. Se portanto, a operação da criatura agente provém de Deus, não pode
provir da criatura, simultaneamente; e então nenhuma criatura exerce qualquer
operação.
3.
Demais. — O que faz alguma coisa é causa da operação da coisa feita, porque lhe
dá a esta a forma pela qual opera. Se pois Deus é a causa da operação das
coisas feitas por ele, é porque lhes dá a virtude de operar. Mas isso foi no
princípio, quando fez as coisas. Donde resulta que, ulteriormente, ele não age
sobre a criatura agente.
Mas,
em contrário, diz a Escritura (Is 26, 12): Senhor, tu és o que
fizeste em nós todas as nossas obras.
Alguns entenderam a operação de Deus nos agentes, de modo tal que nenhuma
virtude criada pode operar nada, nas coisas, mas só Deus opera tudo
imediatamente; assim, não seria o fogo que aquece, mas Deus, no fogo; e assim
por diante, semelhantemente. — Ora isto é impossível. — Primeiro, porque
ficaria destruída, nas coisas criadas, a ordem entre a causa e o causado, o que
importaria na impotência do criador, pois, pertence à virtude do agente dar ao
seu efeito a virtude de agir. Segundo, porque as virtudes operativas das
coisas ser-lhes-iam atribuídas em vão se, com elas, nada operassem. Demais,
todas as coisas criadas seriam, de certo modo, vãs se fossem destituídas da
operação própria, porque cada coisa é feita para a sua operação. Pois, o
imperfeito é sempre por causa do perfeito. Donde, assim como a matéria é por
causa da forma, assim esta, que é um acto primeiro, é por causa da sua
operação, que é um acto segundo; de modo que a operação é o fim da coisa
criada. E portanto, a operação de Deus, nas coisas, há-de se entender de modo
que estas tenham operação própria.
Para
evidenciá-lo devemos considerar que, dos quatro géneros de causas, a matéria
não é princípio de acção, mas se comporta como sujeito recipiente do efeito da acção.
Ao passo que o fim, o agente e a forma se comportam como princípio de acção,
mas numa certa ordem. Pois, o primeiro princípio da acção é o fim, que move o
agente; o segundo, o agente; o terceiro, afinal, a forma daquilo que o agente
faz agir, embora também o próprio agente atue pela sua forma, como é patente
nas coisas artificiais. Assim, o artífice é levado a agir pelo fim, que é a
causa mesma operada, p. ex., uma arca ou um leito; e aplica à acção o machado,
que corta com o seu gume.
E,
é, pois, destes três modos que Deus, opera em qualquer agente. — Primeiro, pela
moção do fim. Porque, buscando toda operação algum bem, verdadeiro ou aparente,
e nada sendo ou parecendo bem senão enquanto participa de alguma semelhança do
sumo bem, que é Deus, resulta que Deus mesmo é a causa final de qualquer operação.
— Semelhantemente, deve-se também considerar que, sendo muitos os agentes
ordenados, sempre o agente segundo age em virtude do primeiro, pois, o primeiro
agente é que leva o segundo a agir. E então todos os seres agem em virtude de
Deus mesmo e, portanto, ele é a causa de todas as ações dos agentes. — Em
terceiro lugar deve-se considerar que Deus dá também as formas às criaturas
agentes e lhes conserva a existência, além de mover as coisas a operarem,
aplicando as formas e as virtudes delas à operação, assim como o artífice usa
do machado para cortar, embora possa não ser quem deu a forma ao machado. Donde,
não somente Deus é a causa das ações, por lhes ter dado a forma, princípio de acção,
assim como se diz que o gerador dos graves e dos leves é-lhes a causa do movimento;
mas também porque conserva as formas e as virtudes das coisas, assim como o sol
é considerado a causa da manifestação dos corpos, por lhes dar e conservar a
luz, pela qual se manifestam as cores. E como a forma é intrínseca à coisa, e
tanto mais quanto mais primeira e universal; e como Deus mesmo é a causa
própria, em todas as coisas, do ser universal, em si, que de tudo, é o que
nelas é mais íntimo; segue-se que Deus opera intimamente em todas as coisas. E
por isto, na Sagrada Escritura, as operações da natureza são atribuídas a Deus
que é como operante nela (Job 10, 11): De pele e de carne me
vestiste, de ossos e nervos me compuseste.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Deus opera suficientemente, nas coisas, ao
modo de agente primeiro; mas, nem por isso é supérflua a operação dos agentes
segundos.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — Uma mesma acção não pode proceder de dois agentes, de uma mesma
ordem; mas, nada impede que uma e mesma acção proceda do agente primeiro e do
segundo.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Deus, não somente dá as formas às coisas, mas também as conserva
na existência, leva-as a agir e é fim de todas as ações, como ficou dito.
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