Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Mt 19, 1- 15
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Evangelho: Mt 19, 1- 15
1 Tendo Jesus acabado estes discursos, partiu da
Galileia e foi para o território da Judeia, além Jordão. 2 Uma
grande multidão O seguia, e curou os seus doentes.Matrimónio, divórcio e
virgindade 3 Foram ter com Ele os fariseus para O tentar, e
disseram-Lhe: «É lícito a um homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?». 4
Ele respondeu: «Não lestes que, no princípio, o Criador os fez homem e mulher,
e disse: 5 “Por isso, deixará o homem pai e mãe, e juntar-se-á com
sua mulher, e os dois serão uma só carne”? 6 Portanto, não mais são
dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus uniu». 7
«Porque mandou, então, Moisés», replicaram eles, «dar o homem à sua mulher
libelo de repúdio, e separar-se?». 8 Respondeu-lhes: «Porque Moisés,
por causa da dureza do vosso coração, permitiu-vos repudiar vossas mulheres;
mas no princípio não foi assim. 9 Eu, porém, digo-vos que todo
aquele que repudiar sua mulher, a não ser por causa de união ilegítima, e casar
com outra, comete adultério; e o que casar com uma repudiada, comete
adultério». 10 Disseram-Lhe os discípulos: «Se tal é a condição do
homem a respeito de sua mulher, não convém casar». 11 Ele respondeu-lhes:
«Nem todos compreendem esta palavra, mas somente aqueles a quem foi concedido. 12
Porque há eunucos que nasceram assim do ventre de sua mãe; há eunucos a quem os
homens fizeram tais; e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor
do Reino dos Céus. Quem puder compreender isto, compreenda». 13
Então, foram-Lhe apresentadas várias crianças para que Lhes impusesse as mãos e
orasse por elas. Mas os discípulos repreendiam-nas. 14 Jesus, porém,
disse-lhes: «Deixai as crianças, e não as impeçais de vir a Mim, porque delas é
o Reino dos Céus». 15 E, tendo-lhes imposto as mãos, partiu dali.
Ioannes
Paulus PP. II
Evangelium vitae
aos
Presbíteros e Diáconos
aos
Religiosos e Religiosas
aos
Fiéis leigos e a todas as Pessoas de Boa Vontade
sobre
o Valor e a Inviolabilidade
da
Vida Humana
…/7
43.
Uma certa participação do homem no domínio de Deus manifesta-se também na
específica responsabilidade que lhe está confiada no referente à vida
propriamente humana. Essa responsabilidade atinge o auge na doação da vida,
através da geração por obra do homem e da mulher no matrimónio, como nos
recorda o Concílio Vaticano II: «O mesmo Deus que disse "não é bom que o
homem esteja só" (Gn 2, 18) e que "desde a origem fez o ser
humano varão e mulher" (Mt 19, 4), querendo comunicar uma
participação especial na sua obra criadora, abençoou o homem e a mulher
dizendo: "crescei e multiplicai-vos" (Gn 1, 28)». 30
Ao
falar de «uma participação especial» do homem e da mulher na «obra criadora» de
Deus, o Concílio pretende pôr em
relevo como a geração do filho é um facto não só profundamente humano mas também
altamente religioso, enquanto implica os cônjuges, que formam «uma só carne» (Gn
2, 24), e simultaneamente o próprio Deus que Se faz presente. Como
escrevi na Carta às Famílias, «quando
da união conjugal dos dois nasce um novo homem, este traz consigo ao mundo uma
particular imagem e semelhança do próprio Deus: na biologia da geração está
inscrita a genealogia da pessoa. Ao afirmarmos que os cônjuges, enquanto pais,
são colaboradores de Deus Criador na concepção e geração de um novo ser humano,
não nos referimos apenas às leis da biologia; pretendemos sobretudo sublinhar
que, na paternidade e maternidade humana, o próprio Deus está presente de um
modo diverso do que se verifica em qualquer outra geração "sobre a
terra". Efectivamente, só de Deus pode provir aquela "imagem e
semelhança" que é própria do ser humano, tal como aconteceu na criação. A
geração é a continuação da criação». 31
Isto
mesmo ensina, com linguagem clara e eloquente, o texto sagrado ao mencionar o
grito jubiloso da primeira mulher, a «mãe de todos os viventes» (Gn 3, 20);
consciente da intervenção de Deus, Eva exclama: «Gerei um homem com o auxílio
do Senhor» (Gn 4, 1). Assim, na geração, através da comunicação da
vida dos pais ao filho transmite-se, graças à criação da alma imortal, 32 a imagem e semelhança do próprio Deus.
Neste sentido, se exprime o início do «livro da genealogia de Adão»: «Quando
Deus criou o homem, fê-lo à semelhança de Deus. Criou-os varão e mulher, e
abençoou-os. Deu-lhes o nome de Homem no dia em que os criou. Com cento e
trinta anos, Adão gerou um filho à sua imagem e semelhança, e pôs-lhe o nome de
Set» (Gn 5, 1-3). Precisamente neste papel de colaboradores de Deus,
que transmite a sua imagem à nova criatura, está a grandeza dos cônjuges,
dispostos «a colaborar com o amor do Criador e Salvador, que por meio deles
aumenta cada dia mais e enriquece a sua família». 33
À luz disto, o bispo Anfilóquio exaltava o «matrimónio santo, eleito e elevado
acima de todos os dons terrenos», porque «gerador da humanidade, artífice de
imagens de Deus». 34
Assim
o homem e a mulher, unidos pelo matrimónio, estão associados a uma obra divina:
por meio do acto da geração, o dom de Deus é acolhido, e uma nova vida se abre
ao futuro.
Mas,
uma vez realçada a missão específica dos pais, há que acrescentar: a obrigação
de acolher e servir a vida compete a todos e deve manifestar-se sobretudo a
favor da vida em condições de maior fragilidade. É o próprio Cristo quem no-lo
recorda, ao pedir para ser amado e servido nos irmãos provados por qualquer
tipo de sofrimento: famintos, sedentos, estrangeiros, nus, doentes,
encarcerados... Aquilo que for feito a cada um deles, é feito ao próprio Cristo
(cf. Mt 25, 31-46).
«Vós é que plasmastes o meu interior» (Sal
139 138, 13): a dignidade da criança ainda não nascida
44.
A vida humana atravessa situações de grande fragilidade, quer ao entrar no
mundo, quer quando sai do tempo para ir ancorar-se na eternidade. Na Palavra de
Deus, encontramos numerosos apelos ao cuidado e respeito pela vida, sobretudo
quando esta aparece ameaçada pela doença e pela velhice. Se faltam apelos
directos e explícitos para salvaguardar a vida humana nas suas origens,
especialmente a vida ainda não nascida, ou então a vida próxima do seu termo,
isso explica-se facilmente pelo facto de que a mera possibilidade de ofender,
agredir ou mesmo negar a vida em tais condições estava fora do horizonte
religioso e cultural do Povo de Deus.
No
Antigo Testamento, a esterilidade era temida como uma maldição, enquanto se
considerava uma bênção a prole numerosa: «Os filhos são bênçãos do Senhor; os
frutos do ventre, um mimo do Senhor» (Sal 127 126, 3; cf. Sal 128 127, 3-4).
Para esta convicção, concorre certamente a consciência que Israel tem de ser o
povo da Aliança, chamado a multiplicar-se segundo a promessa feita a Abraão:
«Ergue os olhos para os céus e conta as estrelas, se fores capaz de as contar
(...) será assim a tua descendência» (Gn 15, 5). Mas influi
sobretudo a certeza de que a vida transmitida pelos pais tem a sua origem em
Deus, como o atestam tantas páginas bíblicas que, com respeito e amor, falam da
concepção, da moldagem da vida no ventre materno, do nascimento e da ligação
íntima entre o momento inicial da existência e a acção de Deus Criador.
«Antes
que fosses formado no ventre de tua mãe, Eu já te conhecia; antes que saísses
do seio materno, Eu te consagrei» (Jr 1, 5): a existência de cada
indivíduo, desde as suas origens, obedece ao desígnio de Deus. Job, na
profundidade da sua dor, detém-se a contemplar a obra de Deus na miraculosa
formação do seu corpo no ventre da mãe, retirando daí motivo de confiança e
exprimindo a certeza da existência de um projecto divino para a sua vida: «As
tuas mãos formaram-me e fizeram-me e, de repente, vais aniquilar-me? Lembra-Te
que me formaste com o barro; far-me-ás, agora, voltar ao pó? Não me espremeste
como o leite e coalhaste como o queijo? De pele e de carne me revestiste, de
ossos e de nervos me consolidaste. Deste-me a vida e favoreceste-me; a tua
providência conservou o meu espírito» (10, 8-12). Modulações cheias
de enlevo adorador pela intervenção de Deus na vida em formação no ventre
materno ressoam também nos Salmos. 35
Como
pensar que este maravilhoso processo de germinação da vida possa subtrair-se,
por um só momento, à obra sapiente e amorosa do Criador para ficar abandonado
ao arbítrio do homem? Não o pensa, seguramente, a mãe dos sete irmãos que
professa a sua fé em Deus, princípio e garantia da vida desde a concepção e ao
mesmo tempo fundamento da esperança da nova vida para além da morte: «Não sei
como aparecestes nas minhas entranhas, porque não fui eu quem vos deu a alma
nem a vida e nem fui eu quem ajuntou os vossos membros. Mas o Criador do mundo,
autor do nascimento do homem e criador de todas as coisas, restituir-vos-á, na
sua misericórdia, tanto o espírito como a vida, se agora fizerdes pouco caso de
vós mesmos por amor das suas leis» (2 Mac 7, 22-23).
45.
A revelação do Novo Testamento confirma o reconhecimento indiscutível do valor
da vida desde os seus inícios. A exaltação da fecundidade e o trepidante anseio
da vida ressoam nas palavras com que Isabel rejubila pela sua gravidez: ao
Senhor «aprouve retirar a minha ignomínia» (Lc 1, 25). Mas o valor
da pessoa, desde a sua concepção, é celebrado ainda melhor no encontro da
Virgem Maria e Isabel e entre as duas crianças, que trazem no seio. São
precisamente eles, os meninos, a revelarem a chegada da era messiânica: no seu
encontro, começa a agir a força redentora da presença do Filho de Deus no meio
dos homens. «Depressa se manifestam — escreve Santo Ambrósio — os benefícios da
chegada de Maria e da presença do Senhor. (...) Isabel foi a primeira a escutar
a voz, mas João foi o primeiro a pressentir a graça. Aquela escutou segundo a
ordem da natureza; este exultou em virtude do mistério. Ela apreendeu a chegada
de Maria; este, a do Senhor. A mulher ouviu a voz da mulher; o menino sentiu a
presença do Filho. Aquelas proclamam a graça de Deus, estes realizam-na
interiormente, iniciando no seio de suas mães o mistério de piedade; e, por um
duplo milagre, as mães profetizam sob a inspiração de seus filhos. O filho
exultou de alegria; a mãe ficou cheia do Espírito Santo. A mãe não se antecipou
ao filho; foi este que, uma vez cheio do Espírito Santo, o comunicou a sua
mãe». 36
«Confiei mesmo quando disse: "Sou
um homem de todo infeliz"» (Sal 116 115, 10): a vida na velhice
e no sofrimento
46.
Também no que se refere aos últimos dias da existência, seria anacrónico
esperar da revelação bíblica uma referência expressa à problemática actual do
respeito pelas pessoas idosas e doentes, ou uma explícita condenação das
tentativas de lhes antecipar violentamente o fim: encontramo-nos, de facto,
perante um contexto cultural e religioso que não está pervertido por tais
tentações, mas antes reconhece na sabedoria e experiência do ancião uma riqueza
insubstituível para a família e a sociedade.
A velhice
goza de prestígio e é cercada de veneração (cf. 2 Mac 6, 23). O
justo não pede para ser privado da velhice nem do seu peso; antes pelo
contrário: «Vós sois a minha esperança, a minha confiança, Senhor, desde a
minha juventude. (...) Agora, na velhice e na decrepitude, não me abandoneis, ó
Deus; para que narre às gerações a força do vosso braço, o vosso poder a todos
os que hão-de vir» (Sal 71 70, 5.18). O ideal do tempo messiânico é
apresentado como aquele em que «não mais haverá (...) um velho que não complete
os seus dia » (Is 65, 20).
Mas,
como enfrentar o declínio inevitável da vida, na velhice?Como comportar-se
frente à morte? O crente sabe que a sua vida está nas mãos de Deus: «Senhor,
nas tuas mãos está a minha vida» (cf. Sal 16 15, 5); e d'Ele aceite
também a morte: «Este é o juízo do Senhor sobre toda a humanidade; e porque
quererias reprovar a lei do Altíssimo?» (Sir 41, 4). O homem não é
senhor nem da vida nem da morte; tanto numa como noutra, deve abandonar-se
totalmente à «vontade do Altíssimo», ao seu desígnio de amor.
Também
no momento da doença, o homem é chamado a viver a mesma entrega ao Senhor e a
renovar a sua confiança fundamental n'Aquele que «sara todas as enfermidades» (cf.
Sal 103 102, 3). Quando toda e qualquer esperança de saúde parece
fechar-se para o homem — a ponto de o levar a gritar: «Os meus dias são como a
sombra que declina, e vou-me secando como o feno» (Sal 102 101, 12)
—, mesmo então o crente está animado pela fé inabalável no poder vivificador de
Deus. A doença não o leva ao desespero nem ao desejo da morte, mas a uma
invocação cheia de esperança: «Confiei mesmo quando disse: "Sou um homem
de todo infeliz"» (Sal 116 115, 10); «Senhor, meu Deus, a vós
clamei e fui curado. Senhor, livrastes a minha alma da mansão dos mortos;
destes-me a vida quando já descia ao túmulo» (Sal 30 29, 3-4).
47.
A missão de Jesus, com as numerosas curas realizadas, indica quanto Deus tem a
peito também a vida corporal do homem. «Médico do corpo e do espírito», 37 Jesus foi mandado pelo Pai para anunciar
a boa nova aos pobres e para curar os de coração despedaçado (cf. Lc 4,
18; Is 61, 1). Depois, ao enviar os seus discípulos pelo mundo,
confia-lhes uma missão na qual a cura dos doentes acompanha o anúncio do
Evangelho: «Pelo caminho, proclamai que o reino dos Céus está perto. Curai os
enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios» (Mt
10, 7-8; cf. Mc 6, 13; 16, 18).
Certamente,
a vida do corpo na sua condição terrena não é um absoluto para o crente, de tal
modo que lhe pode ser pedido para a abandonar por um bem superior; como diz
Jesus, «quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por
Mim e pelo Evangelho, salvá-la-á» (Mc 8, 35). A este propósito, o
Novo Testamento oferece diversos testemunhos. Jesus não hesita em sacrificar-Se
a Si próprio e, livremente, faz da sua vida uma oferta ao Pai (cf. Jo 10,
17) e aos seus (cf. Jo 10, 15). Também a morte de João
Baptista, precursor do Salvador, atesta que a existência terrena não é o bem
absoluto: é mais importante a fidelidade à palavra do Senhor, ainda que esta
possa pôr em jogo a vida (cf. Mc 6, 17-29). E Estêvão, ao ser
privado da vida temporal porque testemunha fiel da ressurreição do Senhor,
segue os passos do Mestre e vai ao encontro dos seus lapidadores com as
palavras do perdão (cf. Act 7, 59-60), abrindo a estrada do exército
inumerável dos mártires, venerados pela Igreja desde o princípio.
Todavia,
ninguém pode escolher arbitrariamente viver ou morrer; efectivamente, senhor
absoluto de tal decisão é apenas o Criador, Aquele em quem «vivemos, nos
movemos e existimos» (Act 17, 28).
«Todos os que a seguirem alcançarão a
vida» (Bar 4, 1): da Lei do Sinai ao dom do Espírito
48.
A vida traz indelevelmente inscrita uma verdade sua. O homem, ao acolher o dom
de Deus, deve comprometer-se a manter a vida nesta verdade, que lhe é
essencial. Desviar-se dela, equivale a condenar-se a si próprio à
insignificância e à infelicidade, com a consequência de poder tornar-se também
uma ameaça para a existência dos outros, já que foram rompidos os diques que
garantiam o respeito e a defesa da vida, em qualquer situação.
A
verdade da vida é revelada pelo mandamento de Deus. A palavra do Senhor indica
concretamente a direcção que a vida deve seguir, para poder respeitar a própria
verdade e salvaguardar a sua dignidade. Não é apenas o mandamento específico —
«não matarás» (Ex 20, 13; Dt 5, 17) — a garantir a protecção da
vida; mas a Lei do Senhor em toda a sua extensão está ao serviço dessa
protecção, porque revela aquela verdade na qual a vida encontra o seu pleno
significado.
Não
admira, pois, que a Aliança de Deus com o seu povo esteja tão intensamente
ligada à perspectiva da vida, mesmo na sua dimensão corpórea. Naquela, o
mandamento é dado como caminho da vida: «Vê, ofereço-te hoje, de um lado, a
vida e o bem; de outro, a morte e o mal. Recomendo-te hoje que ames o Senhor,
teu Deus, que andes nos seus caminhos, que guardes os seus preceitos, suas leis
e seus decretos. Se assim fizeres, viverás, engrandecer-te-ás e serás abençoado
pelo Senhor, teu Deus, na terra em que vais entrar para a possuir» (Dt 30,
15-16). Não está em questão apenas a terra de Canaã e a existência do
povo de Israel, mas também o mundo de hoje e do futuro e a existência de toda a
humanidade. De facto, não é possível, absolutamente, a vida permanecer
autêntica e plena, quando se afasta do bem; e o bem, por sua vez, está
essencialmente ligado aos mandamentos do Senhor, isto é, à «lei da vida» (Sir
17, 11). O bem que se tem de realizar, não é imposto à vida como um fardo
que pesa sobre ela, porque a própria razão da vida é precisamente o bem, e a
vida é construída apenas mediante o cumprimento do bem.
Portanto,
é a Lei no seu todo que salvaguarda plenamente a vida do homem. Isto explica
como é difícil manter-se fiel ao preceito «não matarás», quando não são
observadas as demais «palavras de vida» (Act 7, 38), às quais ele
está ligado. Fora deste horizonte, o mandamento acaba por se tornar uma mera
obrigação extrínseca, da qual bem depressa desejar-se-ão ver os limites e
procurar-se-ão as atenuantes ou as excepções. Só se nos abrirmos à plenitude da
verdade acerca de Deus, do homem e da história, é que o preceito «não matarás»
voltará a resplandecer como o melhor para o homem em todas as suas dimensões e
relações. Nesta perspectiva, podemos atingir a plenitude da verdade contida na
passagem do Livro do Deuteronómio, retomada por Jesus na resposta à primeira
tentação: «O homem não vive somente de pão, mas de tudo o que sai da boca do
Senhor» (8, 3; cf. Mt 4, 4).
É
escutando a palavra do Senhor que o homem pode viver com dignidade e justiça; é
observando a lei de Deus que o homem pode produzir frutos de vida e de
felicidade: «Todos os que a seguirem alcançarão a vida, e os que a abandonarem
cairão na morte» (Bar 4, 1).
49.
A história de Israel mostra como é difícil permanecer fiel à lei da vida, que
Deus inscreveu no coração dos homens e entregou no Sinai ao povo da Aliança.
Contra a busca de projectos de vida alternativos ao plano de Deus, levantam-se
de modo particular os Profetas, recordando insistentemente que só o Senhor é a
autêntica fonte da vida. Assim escreve Jeremias: «O meu povo cometeu um duplo
crime: abandonou-Me a Mim, fonte de águas vivas, para cavar cisternas, cisternas
rotas, que não podem reter as águas» (2, 13). Os Profetas apontam o
dedo acusador contra aqueles que desprezam a vida e violam os direitos das
pessoas: «Esmagam como o pó da terra a cabeça do pobre» (Am 2, 7);
«mancharam este lugar com o sangue de inocentes» (Jr 19, 4). E a
estes, vem juntar-se o profeta Ezequiel que mais de uma vez verbera a cidade de
Jerusalém, designando-a como «a cidade sanguinária» (22, 2; 24, 6.9),
a «cidade que derramou o sangue no seu seio» (22, 3).
Mas,
ao mesmo tempo que denunciam as ofensas contra a vida, os Profetas preocupam-se
sobretudo por suscitar a esperança de um novo princípio de vida, capaz de
fundar um renovado relacionamento com Deus e com os irmãos, entreabrindo
possibilidades inéditas e extraordinárias para compreender e actuar todas as
exigências contidas no Evangelho da vida. Isso será possível unicamente
mediante um dom de Deus, que purifique e renove: «Derramarei sobre vós uma água
pura e sereis purificados; Eu vos purificarei de todas as manchas e de todos os
pecados. Dar-vos-ei um coração novo e infundirei em vós um espírito novo» (Ez
36, 25-26; cf. Jr 31, 31-34). Graças a este «coração novo», pode-se
compreender e realizar o sentido mais verdadeiro e profundo da vida: ser um dom
que se consuma no dar-se. É a mensagem luminosa sobre o valor da vida que nos
vem da figura do Servo do Senhor: «Oferecendo a sua vida em sacrifício
expiatório, terá uma posteridade duradoura e viverá longos dias. (...) Livrada
a sua alma dos tormentos, verá a luz» (Is 53, 10.11).
Na
existência de Jesus de Nazaré, a Lei teve pleno cumprimento, ao ser dado o
coração novo por meio do seu Espírito. Com efeito, Cristo não revoga a Lei, mas
leva-a ao seu pleno cumprimento (cf.Mt 5, 17): a Lei e os Profetas
resumem-se na regra-áurea do amor recíproco (cf. Mt 7, 12). N'Ele, a
Lei torna-se definitivamente «evangelho», feliz notícia do domínio de Deus
sobre o mundo, que reconduz toda a existência às suas raízes e perspectivas
originais. É a Nova Lei, «lei do Espírito que dá vida em Cristo Jesus» (Rm
8, 2), cuja expressão fundamental, a exemplo do Senhor que dá a vida
pelos próprios amigos (cf. Jo 15, 13), é o dom de si no amor aos
irmãos: «Nós sabemos que passámos da morte para a vida, porque amamos os
irmãos» (1 Jo 3, 14). É lei de liberdade, alegria e felicidade.
Nota:
Revisão da tradução para português por ama
_________________________________________
Notas:
(em italiano)
30 Cost. past. sulla Chiesa nel mondo contemporaneo Gaudium et spes, 50.
31 Lettera alle famiglie Gratissimam sane (2 febbraio 1994), 9: AAS 86
(1994), 878; cf Pio XII, Lett. enc. Humani generis (12 agosto 1950): AAS 42
(1950), 574.
32 "Animas enim a Deo immediate creari catholica fides nos retinere
iubet": Pio XII, Lett. enc. Humani generis (12 agosto 1950): AAS 42
(1950), 575
33 Conc. Ecum. Vat. II, Cost. past. sulla Chiesa nel mondo contemporaneo
Gaudium et spes, 50; cf Giovanni Paolo II, Esort. ap. post-sinodale Familiaris
consortio (22 novembre 1981), 28: AAS 74 (1982), 114.
34 Omelie, II, 1: CCG 3, 39.
35 Si vedano, ad esempio, i Salmi 22[21], 10-11; 71[70], 6; 139[138],
13-14.
36 Expositio Evangeli secundum Lucam, II, 22-23: CCL 14, 40-41.
37 S. Ignazio D'Antiochia, Lettera agli Efesini, 7, 2: Patres Apostolici,
ed. F. X. FUNK, II, 82.
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