Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Mt 17, 14-27, 18, 1-11
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Evangelho: Mt 17, 14-27, 18, 1-11
14 Tendo ido para junto do povo,
aproximou-se um homem que se lançou de joelhos diante d'Ele, dizendo: 15
«Senhor, tem piedade de meu filho, porque é lunático e sofre muito; pois muitas
vezes cai no fogo, e muitas na água. 16 Apresentei-o a Teus
discípulos, e não o puderam curar». 17 Jesus respondeu: «Ó geração
incrédula e perversa, até quando hei-de estar convosco? Até quando vos hei-de
suportar? Trazei-mo cá». 18 Jesus ameaçou o demónio, e este saiu do
jovem, o qual, desde aquele momento, ficou curado. 19 Então os
discípulos aproximaram-se de Jesus, em particular, e disseram-Lhe: «Porque não
pudemos nós lançá-lo fora?». 20 Jesus disse-lhes: «Por causa da
vossa falta de fé. Porque na verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão
de mostarda, direis a este monte: “Passa daqui para acolá”, e ele passará, e
nada vos será impossível. 21 Esta espécie de demónios não se lança
fora senão mediante a oração». 22 Enquanto andavam pela Galileia,
Jesus disse-lhes: «O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, 23
eles Lhe darão a morte, e ressuscitará ao terceiro dia». Eles entristeceram-se
em extremo. 24 Quando entraram em Cafarnaum, chegaram-se a Pedro os
que recebiam a didracma, e disseram-lhe: «Vosso Mestre não paga a didracma?». 25
Ele respondeu-lhes: «Sim». Quando Pedro entrou em casa, Jesus adiantou-Se,
dizendo: «Que te parece, Simão? De quem recebem os reis da terra o tributo ou o
imposto? De seus filhos, ou dos estranhos?». 26 Ele respondeu: «Dos
estranhos». Disse-lhe Jesus: «Logo os filhos estão isentos. 27
Todavia, para que não os escandalizemos, vai ao mar e lança o anzol, e o primeiro
peixe que vier, toma-o e, abrindo-lhe a boca, acharás dentro um estáter.
Toma-o, e dá-lho por Mim e por ti»
18
1 Naquela mesma ocasião aproximaram-se
de Jesus os discípulos, dizendo: «Quem é o maior no Reino dos Céus?». 2
Jesus, chamando uma criança, pô-la no meio deles 3 e disse: «Na
verdade vos digo que, se não vos converterdes e vos tornardes como crianças,
não entrareis no Reino dos Céus. 4 Aquele, pois, que se fizer
pequeno como esta criança, esse será o maior no Reino dos Céus. 5 E
quem receber em Meu nome uma criança como esta, é a Mim que recebe. 6
Porém, quem escandalizar um destes pequeninos, que crêem em Mim, melhor lhe
fora que lhe pendurassem ao pescoço a mó de um moinho e que o lançassem ao
fundo do mar. «Ai do mundo por causa dos escândalos! Eles são inevitáveis, mas
ai daquele homem por quem vem o escândalo!8 Por isso, se a tua mão
ou o teu pé te escandaliza, corta-o e lança-o para longe de ti; melhor te é
entrar na vida com um pé ou mão a menos do que, tendo duas mãos e dois pés, ser
lançado no fogo eterno. 9 E, se o teu olho te escandaliza, arranca-o
e lança-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida com um só olho, do que,
tendo dois, ser lançado no fogo da Geena. 10 Vede, não desprezeis um
só destes pequeninos, pois vos declaro que os seus anjos nos céus vêem
incessantemente a face de Meu Pai que está nos céus. 11 Omitido pela
Neo-Vulgata.
Ioannes
Paulus PP. II
Evangelium vitae
aos
Presbíteros e Diáconos
aos
Religiosos e Religiosas
aos
Fiéis leigos e a todas as Pessoas de Boa Vontade
sobre
o Valor e a Inviolabilidade
da
Vida Humana
…/4
23.
O eclipse do sentido de Deus e do homem conduz inevitavelmente ao materialismo
prático, no qual prolifera o individualismo, o utilitarismo e o hedonismo.
Também aqui se manifesta a validade perene daquilo que escreve o Apóstolo:
«Como não procuraram ter de Deus conhecimento perfeito, entregou-os Deus a um
sentimento pervertido, a fim de que fizessem o que não convinha» (Rm 1,
28). Assim os valores do ser ficam substituídos pelos do ter.
O
único fim que conta, é a busca do próprio bem-estar material. A chamada
«qualidade de vida» é interpretada prevalente ou exclusivamente como eficiência
económica, consumismo desenfreado, beleza e prazer da vida física, esquecendo
as dimensões mais profundas da existência, como são as interpessoais,
espirituais e religiosas.
Em
tal contexto, o sofrimento — peso inevitável da existência humana mas também
factor de possível crescimento pessoal —, é «deplorado», rejeitado como inútil,
ou mesmo combatido como mal a evitar sempre e por todos os modos. Quando não é
possível superá-lo e a perspectiva de um bem-estar, pelo menos futuro, se
desvanece, parece então que a vida perdeu todo o significado e cresce no homem
a tentação de reivindicar o direito à sua eliminação.
Sempre
no mesmo horizonte cultural, o corpo deixa de ser visto como realidade
tipicamente pessoal, sinal e lugar da relação com os outros, com Deus e com o
mundo. Fica reduzido à dimensão puramente material: é um simples complexo de
órgãos, funções e energias, que há-de ser usado segundo critérios de mero
prazer e eficiência. Consequentemente, também a sexualidade fica
despersonalizada e instrumentalizada: em lugar de ser sinal, lugar e linguagem
do amor, ou seja, do dom de si e do acolhimento do outro na riqueza global da
pessoa, torna-se cada vez mais ocasião e instrumento de afirmação do próprio eu
e de satisfação egoísta dos próprios desejos e instintos. Deste modo se deforma
e falsifica o conteúdo original da sexualidade humana, e os seus dois
significados — unitivo e procriativo —, inerentes à própria natureza do acto
conjugal, acabam artificialmente separados: assim a união é atraiçoada e a
fecundidade fica sujeita ao arbítrio do homem e da mulher. A geração torna-se,
então, o «inimigo» a evitar no exercício da sexualidade: se aceite, é-o apenas
porque exprime o próprio desejo ou mesmo a determinação de ter o filho «a todo
o custo», e não já porque significa total acolhimento do outro e, por
conseguinte, abertura à riqueza de vida que o filho é portador.
Na
perspectiva materialista até aqui descrita, as relações interpessoais
experimentam um grave empobrecimento. E os primeiros a sofrerem os danos são a
mulher, a criança, o enfermo ou atribulado, o idoso. O critério próprio da
dignidade pessoal — isto é, o do respeito, do altruísmo e do serviço — é
substituído pelo critério da eficiência, do funcional e da utilidade: o outro é
apreciado não por aquilo que «é», mas por aquilo que «tem, faz e rende». É a
supremacia do mais forte sobre o mais fraco.
24.
É no íntimo da consciência moral que se consuma o eclipse do sentido de Deus e
do homem, com todas as suas múltiplas e funestas consequências sobre a vida. Em
questão está, antes de mais, a consciência de cada pessoa, onde esta, na sua
unicidade e irrepetibilidade, se encontra a sós com Deus. 18 Mas, em certo sentido, é posta em questão
também a «consciência moral» da sociedade: esta é, de algum modo, responsável,
não só porque tolera ou favorece comportamentos contrários à vida, mas também
porque alimenta a «cultura da morte», chegando a criar e consolidar verdadeiras
e próprias «estruturas de pecado» contra a vida. A consciência moral, tanto do
indivíduo como da sociedade, está hoje — devido também à influência invasora de
muitos meios de comunicação social —, exposta a um perigo gravíssimo e mortal:
o perigo da confusão entre o bem e o mal, precisamente no que se refere ao
fundamental direito à vida. Uma parte significativa da sociedade actual
revela-se tristemente semelhante àquela humanidade que Paulo descreve na Carta
aos Romanos. É feita «de homens que sufocam a verdade na injustiça» (1,
18): tendo renegado Deus e julgando poder construir a cidade terrena sem
Ele, «desvaneceram nos seus pensamentos», pelo que «se obscureceu o seu
insensato coração» (1, 21); «considerando-se sábios, tornaram-se
néscios» (1, 22), fizeram-se autores de obras dignas de morte, e
«não só as cometem, como também aprovam os que as praticam» (1, 32).
Quando a consciência, esse luminoso olhar da alma (cf. Mt 6, 22-23),
chama «bem ao mal e mal ao bem» (Is 5, 20), está já no caminho da
sua degeneração mais preocupante e da mais tenebrosa cegueira moral.
Mas
todos esses condicionalismos e tentativas de impor silêncio não conseguem
sufocar a voz do Senhor, que ressoa na consciência de cada homem: é sempre
deste sacrário íntimo da consciência que pode recomeçar um novo caminho de
amor, de acolhimento e de serviço à vida humana.
«Aproximastes-vos
do sangue de aspersão» (cf. Heb 12, 22.24): sinais de esperança e
convite ao compromisso
25.
«A voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim!» (Gn 4, 10).
Não é só a voz do sangue de Abel, o primeiro inocente morto, a gritar por Deus,
fonte e defensor da vida. Também o sangue de todos os outros homens, assassinados
depois de Abel, é voz que brada ao Senhor. De uma forma absolutamente única,
porém, grita a Deus a voz do sangue de Cristo, de quem Abel, na sua inocência,
é figura profética, como nos recorda o autor da Carta aos Hebreus: «Vós, porém,
aproximastes-vos do monte de Sião, da cidade do Deus vivo, (...) de Jesus, o
Mediador da Nova Aliança, e de um sangue de aspersão que fala melhor do que o
de Abel» (12, 22.24).
É
o sangue de aspersão. Símbolo e sinal prefigurador dele fora o sangue dos
sacrifícios da Antiga Aliança, com os quais Deus exprimia a vontade de
comunicar a sua vida aos homens, purificando-os e consagrando-os (cf. Ex
24, 8; Lv 17, 11). Agora em Cristo, tudo isso se cumpre e realiza: o
d'Ele é o sangue de aspersão que redime, purifica e salva; é o sangue do
Mediador da Nova Aliança, «derramado por muitos, em remissão dos pecados» (Mt
26, 28). Este sangue, que brota do peito trespassado de Cristo na Cruz (cf.
Jo 19, 34), «fala melhor» do que o sangue de Abel; aquele, com efeito,
exprime e exige uma «justiça» mais profunda, mas sobretudo implora
misericórdia, 19 torna-se junto
do Pai intercessão pelos irmãos (cf. Heb 7, 25), é fonte de perfeita
redenção e dom de vida nova.
O
sangue de Cristo, ao mesmo tempo que revela a grandeza do amor do Pai, manifesta
também como o homem é precioso aos olhos de Deus e quão inestimável seja o
valor da sua vida. Isto mesmo nos recorda o apóstolo Pedro: «Sabei que fostes
resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição dos vossos pais,
não a preço de coisas corruptíveis, prata ou ouro, mas pelo sangue precioso de
Cristo, como de um cordeiro imaculado e sem defeito algum» (1 Ped 1,
18-19). Contemplando precisamente o sangue precioso de Cristo, sinal da
sua doação de amor (cf. Jo 13, 1), o crente aprende a reconhecer e a
apreciar a dignidade quase divina de cada homem, e pode exclamar com incessante
e agradecida admiração: «Que grande valor deve ter o homem aos olhos do
Criador, se "mereceu tão grande Redentor" (Precónio Pascal), se
"Deus deu o seu Filho", para que ele, o homem, "não pereça, mas
tenha a vida eterna" (cf. Jo 3, 16)»! 20
Além
disso, o sangue de Cristo revela ao homem que a sua grandeza e,
consequentemente, a sua vocação consiste no dom sincero de si. Precisamente
porque é derramado como dom de vida, o sangue de Jesus já não é sinal de morte,
de separação definitiva dos irmãos, mas instrumento de uma comunhão que é
riqueza de vida para todos. Quem, no sacramento da Eucaristia, bebe este sangue
e permanece em Jesus (cf. Jo 6, 56), vê-se associado ao mesmo
dinamismo de amor e doação de vida d'Ele, para levar à plenitude a primordial
vocação ao amor que é própria de cada homem (cf. Gn 1, 27; 2, 18-24).
É,
enfim, do sangue de Cristo que todos os homens recebem a força para se
empenharem a favor da vida. Precisamente esse sangue é o motivo mais forte de
esperança, melhor é o fundamento da certeza absoluta de que, segundo o desígnio
de Deus, a vitória será da vida. «Nunca mais haverá morte» — exclama a voz
poderosa que sai do trono de Deus na Jerusalém celeste (Ap 21, 4). E
S. Paulo assegura-nos que a vitória actual sobre o pecado é sinal e antecipação
da vitória definitiva sobre a morte, quando «se cumprirá o que está escrito:
"A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde
está, ó morte, o teu aguilhão?"» (1 Cor 15, 54-55).
26.
Na realidade, não faltam prenúncios desta vitória nas nossas sociedades e
culturas, apesar de marcadas tão fortemente pela «cultura da morte». Dar-se-ia,
por conseguinte, uma imagem unilateral que poderia induzir a um estéril
desânimo, se a denúncia das ameaças contra a vida não fosse acompanhada pela
apresentação dos sinais positivos, operantes na actual situação da humanidade.
Infelizmente,
estes sinais positivos têm com frequência dificuldade em manifestar-se e ser
reconhecidos, talvez também porque não recebem adequada atenção dos meios de
comunicação social. Mas quantas iniciativas de ajuda e amparo às pessoas mais
débeis e indefesas surgiram — e continuam a surgir — na comunidade cristã e na
sociedade, a nível local, nacional e internacional, por obra de indivíduos,
grupos, movimentos e organizações de vário género!
Muitos
são ainda os esposos que, com generosa responsabilidade, sabem acolher os
filhos como «o maior dom do matrimónio». 21
E não faltam famílias que, para além do seu serviço quotidiano à vida, sabem
também abrir-se ao acolhimento de crianças abandonadas, de adolescentes e
jovens em dificuldade, de pessoas inválidas, de idosos que vivem na solidão.
Numerosos são os centros de ajuda à vida ou instituições análogas, dinamizadas
por pessoas e grupos que, com admirável dedicação e sacrifício, oferecem apoio
moral e material às mães em dificuldade, tentadas a recorrer ao aborto. Surgem
e multiplicam-se ainda os grupos de voluntários, empenhados em dar hospitalidade
a quem não tem família, encontra-se em condições de particular dificuldade ou
precisa de reencontrar um ambiente educativo que o ajude a superar hábitos
destrutivos e recuperar o sentido da vida.
A
medicina, promovida com grande empenho por investigadores e profissionais,
prossegue no seu esforço por encontrar remédios cada vez mais eficazes:
resultados, antes totalmente impensáveis e capazes de abrir promissoras
perspectivas, são hoje obtidos em favor da vida nascente, das pessoas que
sofrem e dos doentes em fase grave ou terminal. Várias entidades e organizações
se mobilizam para levar aos países mais atingidos pela miséria e por doenças
crónicas, tais benefícios da medicina mais avançada. Do mesmo modo, associações
nacionais e internacionais de médicos movem-se rapidamente, para prestar
socorro às populações provadas por calamidades naturais, epidemias ou guerras.
Apesar de estar ainda longe da sua plena consecução uma verdadeira justiça
internacional na partilha dos recursos médicos, como não reconhecer, nos passos
até agora dados, o sinal de crescente solidariedade entre os povos, de
apreciável sensibilidade humana e moral, e de maior respeito pela vida?
27.
Face a legislações que permitiram o aborto e a tentativas, aqui e além
concretizadas, de legalizar a eutanásia, surgiram em todo o mundo movimentos e
iniciativas de sensibilização social a favor da vida. Quando estes movimentos,
de acordo com a sua inspiração autêntica, agem com determinada firmeza mas sem
recorrer à violência, então eles favorecem uma tomada de consciência mais ampla
e profunda do valor da vida, fazem apelo e realizam um empenho mais decisivo em
sua defesa.
Como
não recordar, além disso, todos aqueles gestos diários de acolhimento, de
sacrifício, de cuidado desinteressado, que um número incalculável de pessoas
realiza com amor nas famílias, nos hospitais, nos orfanatos, nos lares da
terceira idade, e noutros centros ou comunidades em defesa da vida? A Igreja,
deixando-se guiar pelo exemplo de Jesus, «bom samaritano» (cf. Lc 10,
29-37), e sustentada pela sua força, sempre esteve em primeira fila
nestes confins da caridade: muitos dos seus filhos e filhas, especialmente
religiosas e religiosos, em formas antigas e novas, consagraram e continuam a
consagrar a sua vida a Deus, dando-a por amor do próximo mais débil e necessitado.
Estes
gestos constroem em profundidade aquela «civilização do amor e da vida», sem a
qual a existência das pessoas e da sociedade perde o seu significado humano
mais autêntico. Ainda que ninguém os notasse, e ficassem escondidos aos olhos
dos outros, a fé assegura que o Pai, «que vê no segredo» (Mt 6, 4),
saberá não só recompensá-los, mas também torná-los desde já fecundos de frutos
duradouros para todos.
Entre
os sinais de esperança, há que incluir ainda o crescimento, em muitos estratos
da opinião pública, de uma nova sensibilidade cada vez mais contrária à guerra
como instrumento de solução dos conflitos entre os povos, e sempre mais
inclinada à busca de instrumentos eficazes, mas «não violentos», para bloquear
o agressor armado. No mesmo horizonte, se coloca igualmente a aversão cada vez
mais difusa na opinião pública à pena de morte — mesmo vista só como
instrumento de «legítima defesa» social —, tendo em consideração as possibilidades
que uma sociedade moderna dispõe para reprimir eficazmente o crime, de forma
que, enquanto torna inofensivo aquele que o cometeu, não lhe tira
definitivamente a possibilidade de se redimir.
Também
ocorre saudar favoravelmente a atenção crescente à qualidade de vida e à
ecologia, que se regista sobretudo nas sociedades mais avançadas, nas quais os
anseios das pessoas já não estão concentrados tanto sobre os problemas da
sobrevivência como sobretudo na procura de um melhoramento global das condições
de vida. Particularmente significativo é o despertar da reflexão ética acerca
da vida: a aparição e o desenvolvimento cada vez maior da bioética favoreceu a
reflexão e o diálogo — entre crentes e não crentes, como também entre crentes
de diversas religiões — sobre problemas éticos, mesmo fundamentais, que dizem
respeito à vida do homem.
28.
Este horizonte de luzes e sombras deve tornar-nos, a todos, plenamente
conscientes de que nos encontramos perante um combate gigantesco e dramático
entre o mal e o bem, a morte e a vida, a «cultura da morte» e a «cultura da
vida». Encontramo-nos não só «diante», mas necessariamente «no meio» de tal
conflito: todos estamos implicados e tomamos parte nele, com a responsabilidade
iniludível de decidir incondicionalmente a favor da vida.
Também
para nós, ressoa claro e forte o convite de Moisés: «Vê, ofereço-te hoje, de um
lado, a vida e o bem; do outro, a morte e o mal. (...) Coloco diante de ti a
vida e a morte, a felicidade e a maldição. Escolhe a vida, e então viverás com
toda a tua posteridade» (Dt 30, 15.19). É um convite muito
apropriado para nós, chamados cada dia a ter de escolher entre a «cultura da
vida» e a «cultura da morte». Mas o apelo do Deuteronómio é ainda mais
profundo, porque nos chama a uma opção especificamente religiosa e moral.
Trata-se de dar à própria existência uma orientação fundamental, vivendo com
fidelidade e coerência a Lei do Senhor: «Recomendo-te hoje que ames o Senhor,
teu Deus, que andes nos seus caminhos, que guardes os seus preceitos, suas leis
e seus decretos. (...) Escolhe a vida, e então viverás com toda a tua
posteridade. Ama o Senhor, teu Deus, escuta a sua voz e permanece-Lhe fiel,
porque é Ele a tua vida e a longevidade dos teus dias» (30, 16.19-20).
A
decisão incondicional a favor da vida atinge em plenitude o seu significado
religioso e moral, quando brota, é plasmada e alimentada pela fé em Cristo.
Nada ajuda tanto a enfrentar positivamente o conflito entre a morte e a vida,
no qual estamos imersos, como a fé no Filho de Deus que Se fez homem e veio
habitar entre os homens, «para que tenham vida, e a tenham em abundância» (Jo
10, 10): é a fé no Ressuscitado, que venceu a morte; é a fé no sangue de
Cristo «que fala melhor do que o de Abel» (Heb 12, 24).
Assim,
com a luz e a força desta fé, perante os desafios da situação actual, a Igreja
toma consciência mais viva da graça e da responsabilidade, que lhe vêm do seu
Senhor, de anunciar, celebrar e servir o Evangelho da vida.
Nota:
Revisão da tradução para português por ama
_________________________________________
Notas:
(em italiano)
17 Cost. past. sulla Chiesa nel mondo contemporaneo Gaudium et spes, 36.
18 Cf Ibid., 16.
19 Cf S. Gregorio Magno, Moralia in Job, 13, 23: CCL 143A, 683.
20 Giovanni Paolo II, Lett. enc. Redemptor hominis (4
marzo 1979), 10: AAS 71 (1979), 274.
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