Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Mt 16, 1-20
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Evangelho: Mt 16, 1-20
1 Foram ter com Ele os fariseus e os saduceus e,
para O tentarem, pediram-Lhe que lhes mostrasse algum prodígio do céu. 2
Ele, porém, respondeu-lhes: «Vós, quando vai chegando a noite, dizeis: “Haverá
tempo sereno, porque o céu está vermelho”. 3 E de manhã: “Hoje
haverá tempestade, porque o céu mostra um avermelhado sombrio”. 4
Sabeis, pois, distinguir o aspecto do céu e não podeis conhecer os sinais dos
tempos? Esta geração perversa e adúltera pede um prodígio, mas não lhe será
dado outro prodígio, senão o prodígio do profeta Jonas». E, deixando-os, retirou-Se.
5 Os Seus discípulos, tendo passado à outra margem do lago,
tinham-se esquecido de levar pão. 6 Jesus disse-lhes: «Olhai e
acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus». 7 Mas eles
discorriam entre si, dizendo: «É que não trouxemos pão». 8
Conhecendo Jesus isto, disse: «Homens de pouca fé, porque estais a discorrer
entre vós por não terdes trazido pão? 9 Ainda não compreendeis nem
vos lembrais dos cinco pães para os cinco mil homens, e quantos cestos recolhestes?
10 Nem dos sete pães para quatro mil homens, e quantos cestos
recolhestes? 11 Porque não compreendeis que não foi a respeito do
pão que eu vos disse: “Acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus”?».
12 Então compreenderam que não havia dito que se guardassem do
fermento dos pães, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus. 13
Tendo chegado à região de Cesareia de Filipe, Jesus interrogou os Seus discípulos,
dizendo: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?». 14 Eles
responderam: «Uns dizem que é João Baptista, outros que é Elias, outros que é
Jeremias ou algum dos profetas». 15 Jesus disse-lhes: «E vós quem
dizeis que Eu sou?». 16 Respondendo Simão Pedro, disse: «Tu és o Cristo,
o Filho de Deus vivo». 17 Respondendo Jesus, disse-lhe:
«Bem-aventurado és, Simão filho de João, porque não foi a carne e o sangue que
to revelaram, mas Meu Pai que está nos céus. 18 E Eu te digo que tu
és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno
não prevalecerão contra ela. 19 Eu te darei as chaves do Reino dos
Céus; e tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus, e tudo o
que desatares sobre a terra, será desatado também nos céus». 20
Depois ordenou aos Seus discípulos que não dissessem a ninguém que Ele era o
Cristo.
Ioannes
Paulus PP. II
Evangelium vitae
aos
Presbíteros e Diáconos
aos
Religiosos e Religiosas
aos
Fiéis leigos e a todas as Pessoas de Boa Vontade
sobre
o Valor e a Inviolabilidade
da
Vida Humana
…/2
8.
Caim está «muito irritado» e tem o rosto «transtornado», porque «o Senhor olhou
favoravelmente para Abel e para a sua oferta» (Gn 4, 4). O texto
bíblico não revela o motivo pelo qual Deus preferiu o sacrifício de Abel ao de
Caim; mas indica claramente que, mesmo preferindo a oferta de Abel, não
interrompe o seu diálogo com Caim. Acautela-o, recordando-lhe a sua liberdade
frente ao mal: o homem não está de forma alguma predestinado para o mal.
Certamente, à semelhança de Adão, ele é tentado pela força maléfica do pecado
que, como um animal feroz, se agacha à porta do seu coração, à espera de
lançar-se sobre a presa. Mas Caim permanece livre diante do pecado. Pode e deve
dominá-lo: «Cuidado, pois ele tem muita inclinação para ti, mas deves
dominá-lo» (Gn 4, 7).
Sobre
a advertência feita pelo Senhor, porém, levam a melhor o ciúme e a ira, e Caim
atira-se contra o próprio irmão e mata-o. Como lemos no Catecismo da Igreja
Católica, «a Sagrada Escritura, na narrativa da morte de Abel por seu irmão
Caim, revela, desde os primórdios da história humana, a presença no homem da
cólera e da inveja, consequências do pecado original. O homem tornou-se inimigo
do seu semelhante». 10
O
irmão mata o irmão. Como naquele primeiro fratricídio, também em cada homicídio
é violado o parentesco «espiritual» que congrega os homens numa única grande
família, 11 sendo todos
participantes do mesmo bem fundamental: a igual dignidade pessoal. E, não raro,
resulta violado também o parentesco «da carne e do sangue», quando, por exemplo,
as ameaças à vida se verificam ao nível do relacionamento pais e filhos, como
sucede com o aborto ou quando, no mais vasto contexto familiar ou de parentela,
é encorajada ou provocada a eutanásia.
Na
raiz de qualquer violência contra o próximo, há uma cedência à «lógica» do
maligno, isto é, daquele que «foi assassino desde o princípio» (Jo 8, 44),
como nos recorda o apóstolo João: «Porque esta é a mensagem que ouvistes desde
o princípio: que nos amemos uns aos outros. Não seja como Caim que era do maligno,
e matou o seu irmão» (1 Jo 3, 11-12). Assim o assassinato do irmão,
desde os alvores da história, é o triste testemunho de como o mal progride com
rapidez impressionante: à revolta do homem contra Deus no paraíso terreal
segue-se a luta mortal do homem contra o homem.
Depois
do crime, Deus intervém para vingar a vítima. Frente a Deus que o interroga
sobre a sorte de Abel, Caim, em vez de se mostrar confundido e desculpar-se,
esquiva-se à pergunta com arrogância: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do
meu irmão?» (Gn 4, 9). «Não sei dele»: com a mentira, Caim procura
encobrir o crime. Assim aconteceu frequentemente e continua a verificar-se
quando se servem das mais diversas ideologias para justificar e mascarar os
crimes mais atrozes contra a pessoa. «Sou, porventura, guarda do meu irmão?»:
Caim não quer pensar no irmão, e recusa-se a assumir aquela responsabilidade
que cada homem tem pelo outro. Saltam espontaneamente ao pensamento as
tendências actuais para sonegar a responsabilidade do homem pelo seu
semelhante, de que são sintomas, entre outros, a falta de solidariedade com os
membros mais débeis da sociedade — como são os idosos, os doentes, os imigrantes,
as crianças —, e a indiferença que tantas vezes se regista nas relações entre
os povos, mesmo quando estão em jogo valores fundamentais como a sobrevivência,
a liberdade e a paz.
9.
Mas Deus não pode deixar impune o crime: da terra onde foi derramado, o sangue
da vítima exige que Ele faça justiça (cf. Gn 37, 26; Is 26, 21; Ez 24,
7-8). Deste texto, a Igreja retirou a denominação de «pecados que bradam
ao Céu», incluindo em primeiro lugar o homicídio voluntário. 12 Para os hebreus, como para muitos povos
da antiguidade, o sangue é a sede da vida, ou melhor «o sangue é a vida (Dt 12, 23), e a vida, sobretudo a
humana, pertence unicamente a Deus: por isso, quem atenta contra a vida do
homem, de algum modo atenta contra o próprio Deus.
Caim
é amaldiçoado por Deus como também pela terra, que lhe recusará os seus frutos (cf.
Gn 4, 11-12). E é punido: habitará em terras agrestes e desertas. A
violência homicida altera profundamente o ambiente da vida do homem. A terra,
que era o «jardim do Éden» (Gn 2, 15), lugar de abundância, de
serenas relações interpessoais e de amizade com Deus, torna-se o «país de Nod» (Gn
4, 16), lugar de «miséria», de solidão e de afastamento de Deus. Caim
será «fugitivo e vagabundo pela terra» (Gn 4, 14): dúvida e
instabilidade sempre o acompanharão.
Contudo
Deus, misericordioso mesmo quando castiga, «marcou-o com um sinal, a fim de
nunca ser morto por quem o viesse a encontrar» (Gn 4, 15): põe-lhe
um sinal, cujo objectivo não é condená-lo à abominação dos outros homens, mas
protegê-lo e defendê-lo daqueles que o quiserem matar, ainda que seja para
vingar a morte de Abel. Nem sequer o homicida perde a sua dignidade pessoal e o
próprio Deus Se constitui seu garante. E é precisamente aqui que se manifesta o
mistério paradoxal da justiça misericordiosa de Deus, como escreve Santo
Ambrósio: «Visto que tinha sido cometido um fratricídio — ou seja, o maior dos
crimes —, no momento em que se introduziu o pecado, teve imediatamente de ser
ampliada a lei da misericórdia divina; para que, caso o castigo atingisse
imediatamente o culpado, não sucedesse que os homens, ao punirem, não usassem
de qualquer tolerância nem mansidão, mas entregassem imediatamente ao castigo
os culpados. (...) Deus repeliu Caim da sua presença e, renegado pelos seus
pais, como que o desterrou para o exílio de uma habitação separada, pelo facto
de ter passado da mansidão humana à crueldade selvagem. Todavia Deus não quer
punir o homicida com um homicídio, porque prefere o arrependimento do pecador à
sua morte». 13
«Que
fizeste?» (Gn 4, 10): o eclipse do valor da vida
10.
O Senhor disse a Caim: «Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da
terra até Mim» (Gn 4, 10). A voz do sangue derramado pelos homens
não cessa de clamar, de geração em geração, assumindo tons e acentos sempre
novos e diversos.
A
pergunta do Senhor «que fizeste?», à qual Caim não se pode esquivar, é dirigida
também ao homem contemporâneo, para que tome consciência da amplitude e
gravidade dos atentados à vida que continuam a registar-se na história da
humanidade, para que vá à procura das múltiplas causas que os geram e
alimentam, e, enfim, para que reflita com extrema seriedade sobre as
consequências que derivam desses mesmos atentados para a existência das pessoas
e dos povos.
Algumas
ameaças provêm da própria natureza, mas são agravadas pelo descuido culpável e
pela negligência dos homens que, não raro, lhes poderiam dar remédio; outras,
ao contrário, são fruto de situações de violência, de ódio, de interesses
contrapostos, que induzem homens a agredirem outros homens com homicídios,
guerras, massacres, genocídios.
Como
não pensar na violência causada à vida de milhões de seres humanos,
especialmente crianças, constrangidos à miséria, à subnutrição e à fome, por
causa da iníqua distribuição das riquezas entre os povos e entre as classes
sociais? Ou na violência inerente às guerras, e ainda antes delas, ao
escandaloso comércio de armas, que favorece o torvelinho de tantos conflitos
armados que ensanguentam o mundo? Ou então na sementeira de morte que se
provoca com a imprudente alteração dos equilíbrios ecológicos, com a criminosa
difusão da droga, ou com a promoção do uso da sexualidade segundo modelos que,
além de serem moralmente inaceitáveis, acarretam ainda graves riscos para a
vida? É impossível registar de modo completo a vasta gama das ameaças à vida
humana, tantas são as formas, abertas ou camufladas, de que se revestem no
nosso tempo!
11.
Mas queremos concentrar a nossa atenção, de modo particular, sobre outro género
de atentados, relativos à vida nascente e terminal, que apresentam novas
características em relação ao passado e levantam problemas de singular
gravidade: é que, na consciência colectiva, aqueles tendem a perder o carácter
de «crimes» para assumir, paradoxalmente, o carácter de «direitos», a ponto de
se pretender um verdadeiro e próprio reconhecimento legal da parte do Estado e
a consequente execução gratuita por intermédio dos profissionais da saúde. Tais
atentados ferem a vida humana em situações de máxima fragilidade, quando se
acha privada de qualquer capacidade de defesa. Mais grave ainda é o facto de
serem consumados, em grande parte, mesmo no seio e por obra da família que
está, pelo contrário, chamada constitutivamente a ser «santuário da vida».
Como
se pôde criar semelhante situação? Há que tomar em consideração diversos
factores. Como pano de fundo, existe uma crise profunda da cultura, que gera
cepticismo sobre os próprios fundamentos do conhecimento e da ética e torna
cada vez mais difícil compreender claramente o sentido do homem, dos seus
direitos e dos seus deveres. A isto, vêm juntar-se as mais diversas dificuldades
existenciais e interpessoais, agravadas pela realidade de uma sociedade
complexa, onde frequentemente as pessoas, os casais, as famílias são deixadas
sozinhas a braços com os seus problemas. Não faltam situações de particular
pobreza, angústia e exasperação, onde a luta pela sobrevivência, a dor nos
limites do suportável, as violências sofridas, especialmente aquelas que
investem as mulheres, tornam por vezes exigentes até ao heroísmo as opções de
defesa e promoção da vida.
Tudo
isto explica — pelo menos em parte — como possa o valor da vida sofrer hoje uma
espécie de «eclipse», apesar da consciência não cessar de o apontar como valor
sagrado e intocável; e comprova-o o próprio fenómeno de se procurar encobrir
alguns crimes contra a vida nascente ou terminal com expressões de âmbito
terapêutico, que desviam o olhar do facto de estar em jogo o direito à
existência de uma pessoa humana concreta.
12.
Com efeito, se muitos e graves aspectos da problemática social actual podem, de
certo modo, explicar o clima de difusa incerteza moral e, por vezes, atenuar a
responsabilidade subjectiva no indivíduo, não é menos verdade que estamos
perante uma realidade mais vasta que se pode considerar como verdadeira e
própria estrutura de pecado, caracterizada pela imposição de uma cultura anti
solidária, que em muitos casos se configura como verdadeira «cultura de morte».
É activamente promovida por fortes correntes culturais, económicas e políticas,
portadoras de uma concepção eficientista da sociedade.
Olhando
as coisas deste ponto de vista, pode-se, em certo sentido, falar de uma guerra
dos poderosos contra os débeis: a vida que requereria mais acolhimento, amor e
cuidado, é reputada inútil ou considerada como um peso insuportável, e,
consequentemente, rejeitada sob múltiplas formas. Todo aquele que, pela sua
enfermidade, a sua deficiência ou, mais simplesmente ainda, a sua própria
presença, põe em causa o bem-estar ou os hábitos de vida daqueles que vivem
mais avantajados, tende a ser visto como um inimigo do qual defender-se ou um
inimigo a eliminar. Desencadeia-se assim uma espécie de «conjura contra a
vida». Esta não se limita apenas a tocar os indivíduos nas suas relações
pessoais, familiares ou de grupo, mas alarga-se muito para além até atingir e
subverter, a nível mundial, as relações entre os povos e os Estados.
13.
Para facilitar a difusão do aborto, foram investidas — e continuam a sê-lo —
somas enormes, destinadas à criação de fármacos que tornem possível a morte do
feto no ventre materno, sem necessidade de recorrer à ajuda do médico. A
própria investigação científica, neste âmbito, parece quase exclusivamente
preocupada em obter produtos cada vez mais simples e eficazes contra a vida e,
ao mesmo tempo, capazes de subtrair o aborto a qualquer forma de controlo e
responsabilidade social.
Afirma-se
frequentemente que a contracepção, tornada segura e acessível a todos, é o
remédio mais eficaz contra o aborto. E depois acusa-se a Igreja Católica de, na
realidade, favorecer o aborto, porque continua obstinadamente a ensinar a
ilicitude moral da contracepção.
Bem
vista, porém, a objecção é falaciosa. De facto, pode acontecer que muitos
recorram aos contraceptivos com a intenção também de evitar depois a tentação
do aborto. Mas os pseudovalores inerentes à «mentalidade contraceptiva3» —
muito diversa do exercício responsável da paternidade e maternidade, actuada no
respeito pela verdade plena do acto conjugal — são tais que tornam ainda mais
forte essa tentação, na eventualidade de ser concebida uma vida não desejada.
De facto, a cultura pró-aborto aparece sobretudo desenvolvida nos mesmos
ambientes que recusam o ensinamento da Igreja sobre a contracepção. Certo é que
a contracepção e o aborto são males especificamente diversos do ponto de vista
moral: uma contradiz a verdade integral do acto sexual enquanto expressão
própria do amor conjugal, o outro destrói a vida de um ser humano; a primeira
opõe-se à virtude da castidade matrimonial, o segundo opõe-se à virtude da
justiça e viola directamente o preceito divino «não matarás».
Mas,
apesar de terem natureza e peso moral diversos, eles surgem, com muita
frequência, intimamente relacionados como frutos da mesma planta. É verdade que
não faltam casos onde, à contracepção e ao próprio aborto se vem juntar a
pressão de diversas dificuldades existenciais que, no entanto, não podem nunca
exonerar do esforço de observar plenamente a lei de Deus. Mas, em muitíssimos
outros casos, tais práticas afundam as suas raízes numa mentalidade hedonista e
desresponsabilizadora da sexualidade, e supõem um conceito egoísta da liberdade
que vê na procriação um obstáculo ao desenvolvimento da própria personalidade.
A vida que poderia nascer do encontro sexual torna-se assim o inimigo que se
há-de evitar absolutamente, e o aborto a única solução possível diante de uma
contracepção falhada.
Infelizmente,
emerge cada vez mais a estreita conexão que existe, a nível de mentalidade,
entre as práticas da contracepção e do aborto, como o demonstra, de modo
alarmante, a produção de fármacos, dispositivos intrauterinos e preservativos,
os quais, distribuídos com a mesma facilidade dos contraceptivos, actuam na
prática como abortivos nos primeiros dias de desenvolvimento da vida do novo
ser humano.
14.
Também as várias técnicas de reprodução artificial, que pareceriam estar ao
serviço da vida e que, não raro, são praticadas com essa intenção, na realidade
abrem a porta a novos atentados contra a vida. Para além do facto de serem
moralmente inaceitáveis, porquanto separam a procriação do contexto integralmente
humano do acto conjugal, 14 essas
técnicas registam altas percentagens de insucesso: este diz respeito não tanto
à fecundação como sobretudo ao desenvolvimento sucessivo do embrião, sujeito ao
risco de morte em tempos geralmente muito breves. Além disso, são produzidos às
vezes embriões em número superior ao necessário para a implantação no útero da
mulher e esses, chamados «embriões supranumerários», são depois suprimidos ou
utilizados para pesquisas que, a pretexto de progresso científico ou médico, na
realidade reduzem a vida humana a simples «material biológico», de que se pode
livremente dispor.
Os
diagnósticos pré-natais, que não apresentam dificuldades morais quando feitos
para individuar a eventualidade de curas necessárias à criança ainda no seio
materno, tornam-se, com muita frequência, ocasião para propor e solicitar o
aborto. É o aborto eugénico, cuja legitimação, na opinião pública, nasce de uma
mentalidade — julgada, erradamente, coerente com as exigências «terapêuticas» —
que acolhe a vida apenas sob certas condições, e que recusa a limitação, a
deficiência, a enfermidade.
Seguindo
a mesma lógica, chegou-se a negar os cuidados ordinários mais elementares,
mesmo até a alimentação, a crianças nascidas com graves deficiências ou enfermidades.
E o cenário contemporâneo apresenta-se ainda mais desconcertante com as
propostas — avançadas aqui e além — para, na mesma linha do direito ao aborto,
se legitimar até o infanticídio, retornando assim a um estado de barbárie que
se esperava superado para sempre.
15.
Ameaças não menos graves pesam também sobre os doentes incuráveis e os doentes
terminais, num contexto social e cultural que, tornando mais difícil enfrentar
e suportar o sofrimento, aviva a tentação de resolver o problema do sofrimento
eliminando-o pela raiz, com a antecipação da morte para o momento considerado
mais oportuno.
Para
tal decisão concorrem, muitas vezes, elementos de natureza diversa mas
infelizmente convergentes para essa terrível saída. Pode ser decisivo, na pessoa
doente, o sentimento de angústia, exasperação, ou até desespero, provocado por
uma experiência de dor intensa e prolongada. Vêem-se, assim, duramente postos à
prova os equilíbrios, por vezes já abalados, da vida pessoal e familiar, de
maneira que, por um lado, o doente, não obstante os auxílios cada vez mais
eficazes da assistência médica e social, corre o risco de se sentir esmagado
pela própria fragilidade; por outro lado, naqueles que lhe estão afectivamente
ligados, pode gerar-se um sentimento de compreensível, ainda que mal-entendida,
compaixão. Tudo isto fica agravado por uma atmosfera cultural que não vê
qualquer significado nem valor no sofrimento, antes considera-o como o mal por
excelência, que se há-de eliminar a todo o custo; isto verifica- -se
especialmente quando não se possui uma visão religiosa que ajude a decifrar
positivamente o mistério da dor.
Mas,
no conjunto do horizonte cultural, não deixa de incidir também uma espécie de
atitude prometeica do homem que, desse modo, se ilude de poder apropriar-se da
vida e da morte para decidir delas, quando na realidade acaba derrotado e
esmagado por uma morte irremediavelmente fechada a qualquer perspectiva de
sentido e a qualquer esperança. Uma trágica expressão de tudo isto, encontramo-la
na difusão da eutanásia, ora mascarada e sub-reptícia, ora actuada abertamente
e até legalizada. Para além do motivo de presumível compaixão diante da dor do
paciente, às vezes pretende-se justificar a eutanásia também com uma razão
utilitarista, isto é, para evitar despesas improdutivas demasiado gravosas para
a sociedade. Propõe-se, assim, a supressão dos recém-nascidos defeituosos, dos
deficientes profundos, dos inválidos, dos idosos, sobretudo quando não
auto-suficientes, e dos doentes terminais. Nem nos é lícito calar frente a
outras formas mais astuciosas, mas não menos graves e reais, de eutanásia, como
são as que se poderiam verificar, por exemplo, quando, para aumentar a
disponibilidade de material para transplantes, se procedesse à extracção dos
órgãos sem respeitar os critérios objectivos e adequados de certificação da
morte do dador.
Nota: Revisão da tradução para português
por ama
_________________________________________
Notas:
(em italiano)
10 N. 2259
11 Cf S. Ambrogio, De Noe, 26, 94-96: CSEL 32, 480-481.
12 Cf Catechismo della Chiesa
Cattolica, nn. 1867 e 2268.
13 De Cain et Abel, II, 10, 38: CSEL 32, 408.
14 Cf Congregazione per la Dottrina della Fede, Istr. circa il rispetto
della vita umana nascente e la dignità della procreazione Donum vitae (22
febbraio 1987): AAS 80 (1988), 70-102.
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