Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
50 Então um homem, chamado José, que era membro do Sinédrio, varão bom e justo, 51 que não tinha concordado com a determinação dos outros, nem com os seus actos, oriundo de Arimateia, cidade da Judeia, que também esperava o reino de Deus, 52 foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. 53 Tendo-O descido da cruz, envolveu-O num lençol e depositou-O num sepulcro aberto na rocha, no qual ainda ninguém tinha sido sepultado. 54 Era o dia da Preparação e o sábado ia começar. 55 Ora as mulheres, que tinham vindo da Galileia com Jesus, acompanharam José, e observaram o sepulcro e o modo como o corpo de Jesus fora nele depositado. 56 Voltando, prepararam perfumes e unguentos. No sábado, observaram o descanso, segundo a Lei.
Lc 24 1 No primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro, levando os perfumes que tinham preparado. 2 Encontraram removida a pedra do sepulcro. 3 Entrando, não encontraram o corpo do Senhor Jesus. 4 Aconteceu que, estando perplexas com isso, eis que apareceram junto delas dois homens com vestidos resplandecentes. 5 Estando elas medrosas e com os olhos no chão, disseram-lhes: «Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo? 6 Ele não está aqui, ressuscitou. Lembrai-vos do que Ele vos disse quando estava na Galileia: 7 Importa que o Filho do Homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ressuscite ao terceiro dia». 8 Então lembraram-se das Suas palavras. 9 Tendo voltado do sepulcro, contaram todas estas coisas aos onze e a todos os outros. 10 As que diziam aos Apóstolos estas coisas eram Maria Madalena, Joana, Maria, mãe de Tiago, e as outras que estavam com elas. 11 Mas estas palavras pareciam-lhes como que um delírio e não lhes deram crédito. 12 Todavia, Pedro levantou-se, correu ao sepulcro e, inclinando-se, viu só os lençois e retirou-se para casa, admirado com o que sucedera.
Ioannes Paulus PP. II
Redemptor hominis
aos veneráveis Irmãos no Episcopado
aos Sacerdotes
às Famílias religiosas
aos Filhos e Filhas da Igreja
e a todos os Homens de Boa Vontade
no início do Seu Ministério Pontifical
1979.03.04
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17. Direitos do homem «letra» ou «espírito»
O nosso século tem sido até agora um século de grandes calamidades para o homem, de grandes devastações, não só materiais, mas também morais, ou melhor, talvez sobretudo morais. Não é fácil, certamente, comparar épocas e séculos sob este aspecto, uma vez que isso depende também dos critérios históricos que mudam. Não obstante, prescindido muito embora de tais comparações, importa verificar que até agora este século foi um tempo em que os homens prepararam para si mesmos muitas injustiças e sofrimentos. Este processo terá sido decididamente entravado? Em qualquer hipótese, não se pode deixar de recordar aqui, com apreço e com profunda esperança para o futuro, o esforço magnífico realizado para dar vida à Organização das Nações Unidas, um esforço que tende para definir e estabelecer os objectivos e invioláveis direitos do homem, obrigando-se os Estados-membros reciprocamente a uma observância rigorosa dos mesmos. Este compromisso foi aceito e ratificado por quase todos os Estados do nosso tempo; e isto deveria constituir uma garantia para que os direitos do homem se tornassem em todo o mundo, o princípio fundamental do empenho em prol do bem do mesmo homem.
A Igreja não precisa de confirmar quanto este problema está intimamente ligado com a sua missão no mundo contemporâneo. Ele está, com efeito, nas mesmas bases da paz social e internacional, como declararam a este propósito João XXIII, o Concílio Vaticano II e depois Paulo VI, com documentos pormenorizados. Em última análise, a paz reduz-se ao respeito dos direitos invioláveis do homem — «efeito da justiça será a paz» — ao passo que a guerra nasce da violação destes direitos e acarreta consigo ainda mais graves violações dos mesmos. Se os direitos do homem são violados em tempo de paz, isso torna-se particularmente doloroso e, sob o ponto de vista do progresso, representa um incompreensível fenómeno de luta contra o homem, que não pode de maneira alguma pôr-se de acordo com qualquer programa que se autodefina «humanístico». E qual seria o programa social, económico, político e cultural que poderia renunciar a esta definição? Nós nutrimos a convicção profunda de que não há no mundo de hoje nenhum programa em que, até mesmo sobre a plataforma de ideologias opostas quanto à concepção do mundo, não seja posto sempre em primeiro lugar o homem.
Ora, se apesar de tais premissas, os direitos do homem são violados de diversas maneiras, se na prática somos testemunhas dos campos de concentração, da violência, da tortura, do terrorismo e de multíplices discriminações, isto deve de ser uma consequência de outras premissas que minam, ou muitas vezes quase anulam a eficácia das premissas humanísticas daqueles programas e sistemas modernos. Então impõe-se necessariamente o dever de submeter os mesmos programas a uma contínua revisão sob o ponto de vista dos objectivos e invioláveis direitos do homem.
A Declaração destes direitos, juntamente com a instituição da Organização das Nações Unidas, não tinham certamente apenas a finalidade de nos apartar das horríveis experiências da última guerra mundial, mas também a finalidade de criar uma base para uma contínua revisão dos programas, dos sistemas e dos regimes, precisamente sob este fundamental ponto de vista, que é o bem do homem — digamos, da pessoa na comunidade — e que, qual factor fundamental do bem comum, deve constituir o critério essencial de todos os programas, sistemas e regimes. Caso contrário, a vida humana, mesmo em tempo de paz, está condenada a vários sofrimentos; e, ao mesmo tempo, junto com tais sofrimentos, desenvolvem-se várias formas de dominação, de totalitarismo, de neocolonialismo e de imperialismo, as quais ameaçam mesmo a convivência entre as nações. Na verdade, é um facto significativo e confirmado por mais de uma vez pelas experiências da história, que a violação dos direitos do homem anda coligada com a violação dos direitos da nação, com a qual o homem está unido por laços orgânicos, como que com uma família maior.
Já desde a primeira metade deste século, no período em que se estavam a desenvolver vários totalitarismos de estado, os quais — como se sabe — levaram à horrível catástrofe bélica, a Igreja havia claramente delineado a sua posição defronte a estes regimes, que aparentemente agiam por um bem superior, qual é o bem do estado, enquanto a história haveria de demonstrar que, pelo contrário, aquilo era apenas o bem de um determinado partido, que se tinha identificado com o estado. 111 Esses regimes, na realidade, haviam coarctado os direitos dos cidadãos, negando-lhes o reconhecimento daqueles direitos invioláveis do homem que, pelos meados do nosso século obtiveram a sua formulação no plano internacional. Ao compartilhar a alegria de uma tal conquista com todos os homens de boa vontade, com todos os homens que amam verdadeiramente a justiça e a paz, a Igreja, cônscia de que a «letra» somente pode matar, ao passo que só «o espírito vivifica», 112 deve, conjuntamente com estes homens de boa vontade, de contínuo perguntar se a Declaração dos direitos do homem e a aceitação da sua «letra» significam em toda a parte também a realização do seu «espírito». Surgem, efectivamente, receios fundados de que muito frequentemente estamos ainda longe de uma tal realização, e de que por vezes o espírito da vida social e pública se acha em dolorosa oposição com a declarada «letra» dos direitos do homem. Este estado de coisas, gravoso para as respectivas sociedades, tornaria aqueles que contribuem para o determinar particularmente responsáveis, perante essas sociedades e perante a história do homem.
O sentido essencial do Estado, como comunidade política, consiste nisto: que a sociedade e, quem a compõe, o povo é soberano do próprio destino. Um tal sentido não se torna uma realidade, se, em lugar do exercício do poder com a participação moral da sociedade ou do povo, tivermos de assistir à imposição do poder por parte de um determinado grupo a todos os outros membros da mesma sociedade. Estas coisas são essenciais na nossa época, em que tem crescido enormemente a consciência social dos homens e, conjuntamente com ela, a necessidade de uma correcta participação dos cidadãos na vida política da comunidade, tendo em conta as reais condições de cada povo e o necessário vigor da autoridade pública. 113 Estes são, pois, os problemas de primária importância sob o ponto de vista do progresso do mesmo homem e do desenvolvimento global da sua humanidade.
A Igreja sempre tem ensinado o dever de agir pelo bem comum; e, procedendo assim, também educou bons cidadãos para cada um dos Estados. Além disso, ela sempre ensinou que o dever fundamental do poder é a solicitude pelo bem comum da sociedade; daqui dimanam os seus direitos fundamentais. Em nome precisamente destas premissas, respeitantes à ordem ética objectiva, os direitos do poder não podem ser entendidos de outro modo que não seja sobre a base do respeito pelos direitos objectivos e invioláveis do homem. Aquele bem comum que a autoridade no Estado serve, será plenamente realizado somente quando todos os cidadãos estiverem seguros dos seus direitos. Sem isto, chega-se ao descalabro da sociedade, à oposição dos cidadãos contra a autoridade, ou então a uma situação de opressão, de intimidação, de violência, ou de terrorismo, de que nos forneceram numerosos exemplos os totalitarismos do nosso século. É assim que o princípio dos direitos do homem afecta profundamente o sector da justiça social e se torna padrão para a sua fundamental verificação na vida dos Organismos políticos.
Entre estes direitos insere-se, e justamente, o direito à liberdade religiosa ao lado do direito da liberdade de consciência. O Concílio Vaticano II considerou particularmente necessário elaborar uma mais ampla Declaração sobre este tema. É o Documento que se intitula Dignitatis humanae, 114 no qual foi expressa, não somente a concepção teológica do problema, mas também a concepção sob o ponto de vista do direito natural, ou seja da posição «puramente humana», em base àquelas premissas ditadas pela própria experiência do homem, pela razão e pelo sentido da sua dignidade. Certamente, a limitação da liberdade religiosa das pessoas e das comunidades não é apenas uma sua dolorosa experiência, mas atinge antes de mais nada a própria dignidade do homem, independentemente da religião professada ou da concepção que elas tenham do mundo. A limitação da liberdade religiosa e a sua violação estão em contraste com a dignidade do homem e com os seus direitos objectivos. O Documento conciliar acima referido diz com bastante clareza o que seja uma tal limitação e violação da liberdade religiosa. Encontramo-nos em tal caso, sem dúvida alguma, perante uma injustiça radical em relação àquilo que é particularmente profundo no homem e em relação àquilo que é autenticamente humano. Com efeito, até mesmo os fenómenos da incredulidade, da irreligiosidade e do ateísmo, como fenómenos humanos, compreendem-se somente em relação com o fenómeno de religião e da fé. É difícil, portanto, mesmo de um ponto de vista «puramente humano», aceitar uma posição segundo a qual só o ateísmo tem direito de cidadania na vida pública e social, enquanto os homens crentes, quase por principio, são apenas tolerados, ou então tratados como cidadãos de segunda categoria, e até mesmo — o que já tem sucedido — são totalmente privados dos direitos de cidadania.
É necessário, embora com brevidade, tratar também deste tema, porque ele realmente faz parte do complexo das situações do homem no mundo actual, e porque ele também está a testemunhar quanto esta situação está profundamente marcada por preconceitos e por injustiças de vários géneros. Se me abstenho de entrar em pormenores neste campo precisamente, no qual me assistiria um especial direito e dever para o fazer, isso é sobretudo porque, juntamente com todos aqueles que sofrem os tormentos da discriminação e da perseguição por causa do nome de Deus, sou guiado pela fé na força redentora da cruz de Cristo. Desejo, no entanto, em virtude de meu munus, em nome de todos os homens crentes do mundo inteiro, dirigir-me àqueles de quem, de alguma maneira, depende a organização da vida social e pública, pedindo-lhes ardentemente para respeitarem os direitos da religião e da actividade da Igreja. Não se pede nenhum privilégio, mas o respeito de um elementar direito. A actuação deste direito é um dos fundamentais meios para se aquilatar do autêntico progresso do homem em todos os regimes, em todas as sociedades e em todos os sistemas ou ambientes.
IV. A MISSÃO DA IGREJA E O DESTINO DO HOMEM
18. A Igreja solicita pela vocação do homem em Cristo
Esta vista de olhos, necessariamente sumária, da situação do homem no mundo contemporâneo, faz-nos voltar ainda mais os nossos pensamentos e corações para Jesus Cristo, para o mistério da Redenção, no qual o problema do homem se acha inscrito com uma especial força de verdade e de amor. Se Cristo «se uniu de certo modo a cada homem», 115 a Igreja, penetrando no íntimo deste mistério, na sua linguagem rica e universal, está a viver também mais profundamente a própria natureza e missão. Não é em vão que o Apóstolo fala do Corpo de Cristo, que é a Igreja. 116 Se este Corpo Místico de Cristo, depois, é Povo de Deus — como dirá por seu turno o Concílio Vaticano II, baseando-se em toda a tradição bíblica e patrística — isto quer dizer que todos os homens nele são penetrados por aquele sopro de vida que provém de Cristo. Deste modo, voltar-se para o homem, voltar-se para os seus reais problemas, para as suas esperanças e sofrimentos, para as suas conquistas e quedas, também faz com que a mesma Igreja como corpo, como organismo e como unidade social, perceba os mesmos impulsos divinos, as luzes e as forças do Espírito que provêm de Cristo crucificado e ressuscitado; e é por isto precisamente que ela vive a sua vida. A Igreja não tem outra vida fora daquela que lhe dá o seu Esposo e Senhor. De facto, precisamente porque Cristo no seu mistério de Redenção se uniu a ela, a Igreja deve estar fortemente unida com cada um dos homens.
Uma tal união de Cristo com o homem é, em si mesma, um mistério, do qual nasce o «homem novo», chamado a participar na vida de Deus, 117 criado novamente em Cristo para a plenitude da graça e da verdade. 118 A união de Cristo com o homem é a força e a nascente da força, segundo a incisiva expressão de São João no prólogo do seu Evangelho: «O Verbo deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus». 119 É esta força que transforma interiormente o homem, qual princípio de uma vida nova que não fenece nem passa, mas dura para a vida eterna. 120 Esta vida, prometida e proporcionada a cada homem pelo Pai em Jesus Cristo, eterno e unigénito Filho, encarnado e nascido da Virgem Maria «ao chegar a plenitude dos tempos», 121 é o complemento final da vocação do homem; é, de alguma maneira, cumprir-se aquele «destino» que, desde toda a eternidade, Deus lhe preparou. Este «destino divino» torna-se via, por sobre todos os enigmas, as incógnitas, as tortuosidades e as curvas, do «destino humano» no mundo temporal. Se, de facto, tudo isto, não obstante toda a riqueza da vida temporal, leva por inevitável necessidade à fronteira da morte e à meta da destruição do corpo humano, apresenta-se-nos Cristo para além desta meta: «Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em Mim... não morrerá jamais». 122 Em Jesus Cristo crucificado, deposto no sepulcro e depois ressuscitado, «brilha para nós a esperança da feliz ressurreição... a promessa da imortalidade futura», 123 em direcção à qual o homem caminha, através da morte do corpo, partilhando com tudo o que é criado e visível esta necessidade a que está sujeita a matéria. Nós intentamos e procuramos aprofundar cada vez mais a linguagem desta verdade que o Redentor do homem encerrou na frase: «O espírito é que vivifica, a carne para nada serve». 124 Estas palavras, maugrado as aparências, exprimem a mais alta afirmação do homem: a afirmação do corpo, que o espírito vivifica!
A Igreja vive esta realidade, vive desta verdade sobre o homem, o que lhe permite transpor as fronteiras da temporaneidade e, ao mesmo tempo, pensar com particular amor e solicitude em tudo aquilo que, nas dimensões desta temporaneidade, incide na vida do homem, na vida do espírito humano, onde se afirma aquela inquietude perene, expressa nas palavras de Santo Agostinho: «Fizestes-nos, Senhor, para Vós, e o nosso coração está inquieto, até que não repouse em Vós». 125 Nesta inquietude criativa bate e pulsa aquilo que é mais profundamente humano: a busca da verdade, a insaciável necessidade do bem, a fome da liberdade, a nostalgia do belo e a voz da consciência. A Igreja, ao procurar ver o homem como que com «os olhos do próprio Cristo», torna-se cada vez mais cônscia de ser a guarda de um grande tesouro, que não lhe é lícito dissipar, mas que deve continuamente aumentar. Com efeito, o Senhor Jesus disse: «Quem não ajunta comigo, dispersa». 126 Aquele tesouro da humanidade, enriquecido do inefável mistério da filiação divina, 127 da graça de «adopção como filhos» 128 no Unigénito Filho de Deus, mediante a qual dizemos a Deus «Abba, Pai», 129 é ao mesmo tempo uma força potente que unifica a Igreja sobretudo por dentro e que dá sentido a toda a sua actividade. Por tal força a Igreja une-se com o Espírito de Cristo, com aquele Espírito Santo que o Redentor havia prometido e que comunica continuamente, e cuja descida, revelada no dia do Pentecostes, perdura sempre. Assim, no homem revelam-se as forças do Espírito, 130 os dons do Espírito, 131 os frutos do Espírito Santo. 132 E a Igreja do nosso tempo parece repetir cada vez com maior fervor e com santa insistência: «Vinde, Espírito Santo!». Vinde! Vinde! «Lavai o que se apresenta sórdido! Regai o que está árido! Sarai o que está ferido! Abrandai o que é rígido! Aquecei o que está frígido! Guiai o que se acha transviado!». 133
Esta oração ao Espírito Santo, elevada precisamente com a intenção de obter o Espírito, é a resposta a todos os «materialismos» da nossa época. São estes que fazem nascer tantas formas de insaciabilidade do coração humano. Esta súplica faz-se ouvir de diversas partes e parece que frutifica também de modos diversos. Poder-se-á dizer que, nesta súplica, a Igreja não está sozinha? Sim, pode-se dizer, porque «a necessidade» daquilo que é espiritual é exprimida também por pessoas que se encontram fora dos confins visíveis da Igreja. 134 Ou não será isto mesmo confirmado, talvez, por aquela verdade sobre a Igreja, posta em evidência com tanta perspicácia pelo recente Concílio na Constituição dogmática Lumen Gentium, naquela passagem em que ensina ser a Igreja «sacramento, ou sinal, e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano?». 135
Esta invocação ao Espírito e pelo Espírito não é outra coisa senão um constante introduzir-se na plena dimensão do mistério da Redenção, no qual Cristo, unido ao Pai e com cada homem, nos comunica sem cessar esse mesmo Espírito que põe em nós os sentimentos do Filho e nos orienta para o Pai. 136 É por isso que a Igreja da nossa época — época particularmente faminta de Espírito, porque faminta de justiça, de paz, de amor, de bondade, de fortaleza, de responsabilidade e de dignidade humana — deve concentrar-se e reunir-se em torno de tal mistério da Redenção, encontrando nele a luz e a força indispensáveis para a própria missão. Com efeito, se o homem — como dizíamos em precedência — é a via da vida quotidiana da Igreja, é preciso que a mesma Igreja esteja sempre consciente da dignidade da adopção divina que o homem alcança, em Cristo, pela graça do Espírito Santo, 137 e da sua destinação à graça e à glória. 138
Ao reflectir sempre de modo renovado sobre tudo isto, e aceitando-o com uma fé cada vez mais consciente e com um amor cada vez mais firme, a Igreja torna-se simultaneamente mais idónea para aquele serviço do homem, para o qual a chama Cristo Senhor, quando diz: «O Filho do homem... veio não para ser servido, mas para servir». 139 A Igreja exerce este seu ministério, participando na «tríplice função» que é própria do seu mesmo Mestre e Redentor. Esta doutrina, com o seu fundamento bíblico, foi posta em plena luz pelo Concílio Vaticano II, com grande vantagem para a vida da Igreja. Quando, de facto, nos tornamos conscientes dessa participação na tríplice missão de Cristo, no seu tríplice munus — sacerdotal, profético e real 140 — simultânea e paralelamente tornamo-nos mais conscientes também daquilo que deve servir a Igreja toda, como sociedade e comunidade do Povo de Deus sobre a terra, compreendendo, além disso, qual deva ser a participação de cada um de nós nesta missão e neste serviço.
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(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
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Notas (em latim):
(111) Pius PP. XI, Litt. Enc. Quadragesimo anno: AAS 28 (1931), p. 213; Litt. Enc. Non abbiamo bisogno: AAS 23 (1931), pp. 235-312; Litt. Enc. Divini Redemptoris: AAS 29 (1937), pp. 65-106, Ep. Enc. Mit brennender Sorge: AAS 29 (1937), pp. 145-167; Pius PP. XII, Litt. Enc. Summi Pontificatus: AAS 31 (1939), pp. 413-453.
(112) Cfr. 2 Cor 3, 6. 42.
(113) Cfr. Conc. Oecum. Vat. II, Const. past. de Eeclesia in mundo huius temporis Gaudium et Spes, 31: AAS 58 (1966), pp. 1050.
(114) Cfr. AAS 58 (1966), pp. 929-946.
(115) Conc. Oecum. Vat. II, Const. past. de Ecclesia in mundo huius temporis Gaudium et Spes, 22: AAS 58 (1966), p. 1042.
(116) Cfr. 1 Cor 6, 15; 11, 3; 12, 12 s.; Eph 1, 22 s.; 2, 15 s.; 4, 4 s.; 5, 30; Col 1, 18; 3, 15; Rom 12, 4 s.; Gai 3, 28.
(117) Cfr. 2 Petr 1, 4.
(118) Cfr. Eph 2, 10; Jo 1, 14. 16.
(119) Jo 1, 12.
(120) Cfr. Jo 4, 11.
(121) Gal 4, 4.
(122) Jo 11, 25 s.
(123) Praefatio I in Missis Defunctorum.
(124) Jo 6, 63.
(125) Confess., I, 1: CSEL 33, p. 1.
(126) Mt. 12. 30.
(127) Cfr. Jo 1, 12.
(128) Gal 4, 3.
(129) Col 4, 6; Rom 8, 15.
(130) Cfr. Rom 15, 13; 1 Cor 1, 24.
(131) Cfr. Is 11. 2 s.; Act 2, 38.
(132) Cfr. Gal 5. 22 s.
(133) Missale Rom., Sequentia in sollemnitate Pentecostes.
(134) Cfr. Conc. Oecum. Vat. II, Const. dogm. de Ecclesia Lumen Gentium, 16: AAS 57 (1965), p. 20.
(135) Ibidem, 1: I. c., p. 5.
(136) Cfr. Rom 8, 15; Gal 4, 6.
(137) Cfr. Rom 8, 15. 48
(138) Cfr. Rom 8, 30.
(139) Mt 20, 28.
(140) Const. dogm. de Ecclesia Lumen Gentium, 31-36: AAS 57 (1965), pp. 37-42.
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