Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 23, 13-32
13 Pilatos, tendo chamado os príncipes dos sacerdotes, os magistrados e o povo, 14 disse-lhes: «Vós apresentastes-me este homem como amotinador do povo; ora, interrogando-O eu diante de vós, não encontrei n'Ele nenhuma culpa daquelas de que O acusais. 15 Nem Herodes tão-pouco, porque no-l'O remeteu. Nada fez que mereça a morte. 16 Por isso soltá-l'O-ei depois de castigado». 17 Omitido pela NeoVulgata 18 Mas todo o povo exclamou a uma voz, dizendo: «Faz morrer Este e solta-nos Barrabás»; 19 o qual tinha sido preso por causa de uma sedição levantada na cidade, e por homicídio. 20 Pilatos, que desejava livrar Jesus, falou-lhes de novo.21 Eles, porém, tornaram a gritar: «Crucifica-O, Crucifica-O!». 22 Ele disse-lhes pela terceira vez: «Mas, que mal fez Ele? Não encontro n'Ele causa alguma de morte; castigá-l'O-ei, pois, e O soltarei». 23 Eles, porém, insistiam em altos gritos que fosse crucificado; e os seus gritos iam crescendo. 24 Então Pilatos decretou que se executasse o que eles pediam. 25 Soltou-lhes aquele que tinha sido preso por causa de sedição e homicídio, como eles reclamavam, e entregou Jesus ao arbítrio deles. 26 Quando O levavam, agarraram um certo Simão de Cirene, que voltava do campo; e puseram a cruz sobre ele, para que a levasse atrás de Jesus. 27 Seguia-O uma grande multidão de povo e de mulheres, que batiam no peito e O lamentavam. 28 Porém Jesus, voltando-Se para elas, disse: «Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim, mas chorai por vós mesmas e pelos vossos filhos. 29 Porque eis que virá tempo em que se dirá: “Ditosas as estéreis e os seios que não geraram e os peitos que não amamentaram!”. 30 Então começarão os homens a dizer aos montes: “Caí sobre nós” e às colinas: “Cobri-nos”. 31 Porque, se isto se faz no lenho verde, que se fará no seco?». 32 Eram também levados com Jesus outros dois, que eram malfeitores, para serem mortos.
Ioannes Paulus PP. II
Ioannes Paulus PP. II
Redemptor hominis
aos veneráveis Irmãos no Episcopado
aos Sacerdotes
às Famílias religiosas
aos Filhos e Filhas da Igreja
e a todos os Homens de Boa Vontade
no início do Seu Ministério Pontifical
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11. O Mistério de Cristo na base da missão da Igreja e do Cristianismo
O Concílio Vaticano II realizou um trabalho imenso, para formar aquela plena e universal consciência da Igreja, acerca da qual escrevia o Papa Paulo VI na sua primeira Encíclica. Uma tal consciência — ou antes auto-consciência da Igreja — forma-se «no diálogo», o qual, antes de se tornar colóquio, deve volver a própria atenção para «o outro», ou seja para aquele com o qual queremos falar. O Concílio Ecuménico deu um impulso fundamental para se formar a auto-consciência da Igreja, apresentando-nos, de maneira adequada e competente, a visão do orbe terrestre como de um «mapa» de várias religiões. Além disto, ele demonstrou como sobre este «mapa» das religiões do mundo se sobrepõe em estratos — nunca dantes conhecidos e característicos da nossa época — o fenómeno do ateísmo nas suas várias formas, a começar do ateísmo programado, organizado e estruturado em sistema político.
Quanto à religião, trata-se, antes de mais, da religião como fenómeno universal, conjunto com a história do homem desde o início; depois, das várias religiões não cristãs e, por fim, do próprio cristianismo. O documento do Concílio dedicado às religiões não cristãs é, em particular, um documento cheio de estima profunda pelos grandes valores espirituais, ou melhor, pelo primado daquilo que é espiritual, e que encontra na vida da humanidade a sua expressão na religião e, em seguida, na moralidade, que se reflecte em toda a cultura. Justamente os Padres da Igreja viam nas diversas religiões como que outros tantos reflexos de uma única verdade, como que «germes do Verbo», 67 os quais testemunham que, embora por caminhos diferentes, está contudo voltada para uma mesma direcção a mais profunda aspiração do espírito humano, tal como ela se exprime na busca de Deus; e conjuntamente na busca, mediante a tensão no sentido de Deus, da plena dimensão da humanidade, ou seja, do sentido pleno da vida humana. O Concílio dedicou uma particular atenção à religião judaica, recordando o grande património espiritual que é comum aos cristãos e aos judeus, e exprimiu a sua estima para com os crentes do Islão, cuja fé se refere também a Abraão. 68
Em virtude da abertura provocada pelo Concílio Vaticano II, a Igreja e todos os cristãos puderam alcançar uma consciência mais completa do mistério de Cristo, «mistério oculto por tantos séculos» 69 em Deus, para ser revelado no tempo, no Homem Jesus Cristo, e para se revelar continuamente, em todos os tempos. Em Cristo e por Cristo, Deus revelou-se plenamente à humanidade e aproximou-se definitivamente dela; e, ao mesmo tempo, em Cristo e por Cristo, o homem adquiriu plena consciência da sua dignidade, da sua elevação, do valor transcendente da própria humanidade e do sentido da sua existência.
Importa, pois, que nós todos — quantos somos seguidores de Cristo — nos encontremos e nos unamos em torno d'Ele mesmo. Esta união, nos diversos sectores da vida, da tradição e das estruturas e disciplina de cada uma das Igrejas ou das Comunidades eclesiais, não poderá ser actuada sem um válido trabalho que tenda para se chegar a um conhecimento recíproco e para a remoção dos obstáculos ao longo do caminho para uma perfeita unidade. No entanto, podemos e devemos, já a partir de agora, conseguir e manifestar ao mundo a nossa unidade: no anunciar o mistério de Cristo, no tornar patente a dimensão divina e conjuntamente humana da Redenção, no lutar com infatigável perseverança por aquela dignidade que todos os homens alcançaram e podem alcançar continuamente em Cristo, que é a dignidade da graça da adopção divina e simultaneamente dignidade da verdade interior da humanidade, a qual — se na consciência comum do mundo contemporâneo chegou a ter um realce assim tão fundamental — para nós ainda ressalta mais à luz daquela realidade que é Ele: Jesus Cristo.
Jesus Cristo é princípio estável e centro permanente da missão que o próprio Deus confiou ao homem. E nesta missão devemos participar todos, nela devemos concentrar todas as nossas forças, uma vez que ela é mais do que nunca necessária para a humanidade do nosso tempo. E se uma tal missão parece encontrar na nossa época oposições maiores do que em qualquer outro tempo, então esta circunstância está a demonstrar também que ela na nossa época é ainda mais necessária e — não obstante as oposições — mais esperada do que nunca. Aqui tocamos indirectamente naquele mistério da economia divina que uniu a salvação e a graça com a Cruz. Não foi em vão que Cristo disse alguma vez que «o reino dos céus é objecto de violência, e os violentos tornam-se seus senhores»; 70 e, ainda, que «os filhos deste mundo são mais sagazes do que os filhos da luz». 71 Aceitemos esta admoestação de bom grado, para sermos como aqueles «violentos de Deus» que tantas vezes nos foi dado ver na história da Igreja e que descortinamos ainda hoje, a fim de nos unirmos conscientemente na grande missão, ou seja: revelar Cristo ao mundo, ajudar cada um dos homens para que se encontre a si mesmo n'Ele, ajudar as gerações contemporâneas dos nossos irmãos e irmãs, povos, nações, estados, humanidade, países ainda não desenvolvidos e países da opulência, ajudar todos, em suma, a conhecer as «imperscrutáveis riquezas de Cristo», 72 pois estas são para todos e cada um dos homens e constituem o bem de cada um deles.
12. Missão da Igreja e liberdade do homem
Nesta união na missão, da qual decide sobretudo o mesmo Cristo, todos os cristãos devem descobrir aquilo que os une, ainda antes de se realizar a sua plena comunhão. Esta é a união apostólica e missionária, missionária e apostólica. Graças a esta união, podemos juntos aproximar-nos do magnífico património do espírito humano, que se manifestou em todas as religiões, como diz a Declaração do Concílio Vaticano II Nostra Aetate. 73 E graças à mesma união, abeirar-nos-emos também de todas as culturas, de todas as concepções ideológicas e de todos os homens de boa vontade. E aproximar-nos-emos com aquela estima, respeito e discernimento que, já desde os tempos apostólicos, distinguiam a atitude missionária e do missionário. Basta-nos recordar São Paulo e, por exemplo, o seu discurso no Areópago de Atenas. 74 A atitude missionária começa sempre por um sentimento de profunda estima para com aquilo «que há no homem», 75 por aquilo que ele, no íntimo do seu espírito, elaborou quanto aos problemas mais profundos e mais importantes; trata-se de respeito para com aquilo que nele operou o Espírito, que «sopra onde quer». 76 A missão não é nunca uma destruição, mas uma reassunção de valores e uma nova construção, ainda que na prática nem sempre tenha havido plena correspondência com um ideal assim tão elevado. A conversão, que da missão deve tomar início, sabemos bem que é obra da graça, na qual o homem há-de encontrar-se plenamente a si mesmo.
Por tudo isto, a Igreja do nosso tempo dá grande importância a tudo aquilo que o Concílio Vaticano II expôs na Declaração sobre a Liberdade Religiosa, tanto na primeira como na segunda parte do Documento. 77 Sentimos profundamente o carácter compromissório da verdade que Deus nos revelou. Damo-nos conta, em particular, do grande sentido de responsabilidade por esta verdade. A Igreja, por instituição de Cristo, dela é guarda e mestra, sendo precisamente para isso, dotada de uma singular assistência do Espírito Santo, a fim de poder guardá-la fielmente e ensiná-la na sua mais exacta integridade. 78
No desempenho desta missão, olhemos para o próprio Cristo, Aquele que é o primeiro evangelizador, 79 e olhemos também para os seus Apóstolos, Mártires e Confessores. A Declaração sobre a Liberdade Religiosa põe a claro, de modo bem convincente, como Cristo e, em seguida, os seus Apóstolos, ao anunciarem a verdade que não provém dos homens, mas sim de Deus — «a minha doutrina não é tão minha como daquele que me enviou», ou seja, o Pai 80 — embora agindo com todo o vigor do espírito, conservam uma profunda estima pelo homem, pela sua inteligência, pela sua vontade, pela sua consciência e pela sua liberdade. 81 De tal modo, a própria dignidade da pessoa humana torna-se conteúdo daquele anúncio, mesmo sem palavras, mas simplesmente através do comportamento em relação à mesma pessoa livre. Um comportamento assim parece corresponder às necessidades particulares do nosso tempo. Uma vez que nem em tudo aquilo que os vários sistemas e também homens singulares vêem e propagam como liberdade está de facto a verdadeira liberdade do homem, mais a Igreja, por força da sua divina missão, se torna guarda desta liberdade, a qual é condição e base da verdadeira dignidade da pessoa humana.
Jesus Cristo vai ao encontro do homem de todas as épocas, também do da nossa época, com as mesmas palavras que disse alguma vez: «conhecereis a verdade, e a verdade tornar-vos-á livres». 82 Estas palavras encerram em si uma exigência fundamental e, ao mesmo tempo, uma advertência: a exigência de uma relação honesta para com a verdade, como condição de uma autêntica liberdade; e a advertência, ademais, para que seja evitada qualquer verdade aparente, toda a liberdade superficial e unilateral, toda a liberdade que não compreenda cabalmente a verdade sobre o homem e sobre o mundo. Ainda hoje, depois de dois mil anos, Cristo continua a aparecer-nos como Aquele que traz ao homem a liberdade baseada na verdade, como Aquele que liberta o homem daquilo que limita, diminui e como que despedaça essa liberdade nas próprias raízes, na alma do homem, no seu coração e na sua consciência. Que confirmação estupenda disto mesmo deram e não cessam de dar aqueles que, graças a Cristo e em Cristo, alcançaram a verdadeira liberdade e a manifestaram até em condições de constrangimento exterior!
E o próprio Jesus Cristo, quando compareceu prisioneiro diante do tribunal de Pilatos e por ele foi interrogado acerca das acusações que Lhe tinham sido feitas pelos representantes do Sinédrio, porventura não respondeu Ele: «Para isto é que eu nasci e para isto é que eu vim ao mundo: para dar testemunho da verdade»? 83 Com tais palavras pronunciadas diante do juiz, no momento decisivo, foi como se quisesse confirmar, uma vez mais ainda, o que já havia dito em precedência: «Conhecereis a verdade, e a verdade tornar-vos-á livres». No decorrer de tantos séculos e de tantas gerações, a começar dos tempos dos Apóstolos, não foi acaso o mesmo Jesus Cristo que tantas vezes compareceu ao lado dos homens julgados por causa da verdade, e não foi Ele para a morte, talvez, conjuntamente com homens condenados por causa da verdade? Cessa Ele, porventura, de continuamente ser o porta-voz e advogado do homem que vive «em espírito e em verdade»? 84 Do mesmo modo que não cessa de sê-lo diante do Pai, assim também continua a sê-lo em relação à história do homem. E a Igreja, por sua vez, apesar de todas as fraquezas que fazem parte da história humana, não cessa de seguir Aquele que proclamou: «Aproxima-se a hora, ou melhor, já estamos nela, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque é assim que o Pai quer os seus adoradores. Deus é espírito, e os que o adoram em espírito e verdade é que o devem adorar». 85
III. O HOMEM REMIDO E A SUA SITUAÇÃO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
13. Cristo uniu-se com cada um dos homens
Quando, através da experiência da família humana, em contínuo aumento a ritmo acelerado, penetramos no mistério de Jesus Cristo, compreendemos com maior clareza que, na base de todas aquelas vias ao longo das quais — de acordo com a sapiência do Sumo Pontífice Paulo VI 86 — a Igreja dos nossos tempos deve prosseguir, existe uma única via: é a via experimentada de há séculos, e é, ao mesmo tempo, a via do futuro. Cristo Senhor indicou esta via sobretudo, quando — como ensina o Concílio — «pela sua Encarnação, Ele, o Filho de Deus, se uniu de certo modo a cada homem». 87 A Igreja reconhece, portanto, como sua tarefa fundamental fazer com que uma tal união se possa actuar e renovar continuamente. A Igreja deseja servir esta única finalidade: que cada homem possa encontrar Cristo, a fim de que Cristo possa percorrer juntamente com cada homem o caminho da vida, com a potência daquela verdade sobre o homem e sobre o mundo, contida no mistério da Encarnação e da Redenção, e com a potência do amor que de tal verdade irradia. Sobre o pano de fundo dos sempre crescentes processos na história, que na nossa época parecem frutificar de modo particular no âmbito de vários sistemas, de concepções ideológicas do mundo e de regimes, Cristo torna-se, de certo modo, novamente presente, maugrado todas as suas aparentes ausências, malgrado todas as limitações da presença e da actividade institucional da Igreja. E Jesus Cristo torna-se presente com a potência daquela verdade e daquele amor que n'Ele se exprimiram como plenitude única e que não se pode repetir, se bem que a sua vida na terra tenha sido breve e ainda mais breve a sua actividade pública.
Jesus Cristo é a via principal da Igreja. Ele mesmo é a nossa via para «a casa do Pai» 88 e é também a via para cada homem. Por esta via que leva de Cristo ao homem, por esta via na qual Cristo se une a cada homem, a Igreja não pode ser entravada por ninguém. Isso é exigência do bem temporal e do bem eterno do mesmo homem. Por respeito a Cristo e em razão daquele mistério que a vida da mesma Igreja constitui, esta não pode permanecer insensível a tudo aquilo que serve o verdadeiro bem do homem, assim como não pode permanecer indiferente àquilo que o ameaça. O Concílio Vaticano II, em diversas passagens dos seus documentos, deixou bem expressa esta fundamental solicitude da Igreja, a fim de que «a vida no mundo /seja/ mais conforme com a dignidade sublime de homem», 89 em todos os seus aspectos, e por tornar essa vida «cada vez mais humana». 90 Esta é a solicitude do próprio Cristo, o Bom Pastor de todos os homens. Em nome de uma tal solicitude, conforme lemos na Constituição pastoral do Concílio, «a Igreja que, em razão da sua missão e competência, de modo algum se confunde com a comunidade política nem está ligada a qualquer sistema político determinado, é ao mesmo tempo o sinal e a salvaguarda do carácter transcendente da pessoa humana». 91
Aqui, portanto, trata-se do homem em toda a sua verdade, com a sua plena dimensão. Não se trata do homem «abstracto», mas sim real: do homem «concreto», «histórico». Trata-se de «cada» homem, porque todos e cada um foram compreendidos no mistério da Redenção, e com todos e cada um Cristo se uniu, para sempre, através deste mistério. Todo o homem vem ao mundo concebido no seio materno e nasce da própria mãe, e é precisamente por motivo do mistério da Redenção que ele é confiado à solicitude da Igreja. Tal solicitude diz respeito ao homem todo, inteiro, e está centrada sobre ele de modo absolutamente particular. O objecto destes cuidados da Igreja é o homem na sua única e singular realidade humana, na qual permanece intacta a imagem e semelhança com o próprio Deus. 92 O Concílio indica isto precisamente, quando, ao falar de tal semelhança recorda que o homem é «a única criatura sobre a terra a ser querida por Deus por si mesma». 93 O homem tal como foi «querido» por Deus, como por Ele foi eternamente «escolhido», chamado e destinado à graça e à glória, este homem assim é exactamente «todo e qualquer» homem, o homem «o mais concreto», «o mais real»; este homem, depois, é o homem em toda a plenitude do mistério de que se tornou participante em Jesus Cristo, mistério de que se tornou participante cada um dos quatro biliões de homens que vivem sobre o nosso planeta, a partir do momento em que é concebido sob o coração da própria mãe.
14. Todas as vias da Igreja levam ao homem
A Igreja não pode abandonar o homem, cuja «sorte», ou seja, a escolha, o chamamento, o nascimento e a morte, a salvação ou a perdição, estão, de maneira tão íntima e indissolúvel, unidos a Cristo. E trata-se aqui precisamente de todos e cada um dos homens sobre este planeta, nesta terra que o Criador deu ao primeiro homem, dizendo ao mesmo tempo ao homem e à mulher: «submetei-a (a terra) e dominai-a». 94 Cada homem, pois, em toda a sua singular realidade do ser e do agir, da inteligência e da vontade, da consciência e do coração. O homem, nessa sua singular realidade (porque é «pessoa»), tem uma história própria da sua vida e, sobretudo, uma própria história da sua alma. O homem que, segundo a interior abertura do seu espírito, e conjuntamente a tantas e tão diversas necessidades do seu corpo e da sua existência temporal, escreve esta sua história pessoal, fá-lo através de numerosos laços, contactos, situações e estruturas sociais, que o unem a outros homens; e faz isso a partir do primeiro momento da sua existência sobre a terra, desde o momento da sua concepção e do seu nascimento. O homem, na plena verdade da sua existência, do seu ser pessoal e, ao mesmo tempo, do seu ser comunitário e social — no âmbito da própria família, no âmbito de sociedades e de contextos bem diversos, no âmbito da própria nação, ou povo (e, talvez, ainda somente do clã ou da tribo), enfim no âmbito de toda a humanidade — este homem é o primeiro caminho que a Igreja deve percorrer no cumprimento da sua missão: ele é a primeira e fundamental via da Igreja, via traçada pelo próprio Cristo e via que imutavelmente conduz através do mistério da Encarnação e da Redenção.
Este homem assim precisamente, em toda a verdade da sua vida, com a sua consciência, com a sua contínua inclinação para o pecado e, ao mesmo tempo, com a sua contínua aspiração pela verdade, pelo bem, pelo belo, pela justiça e pelo amor, precisamente um tal homem tinha diante dos olhos o Concílio Vaticano II, quando, ao delinear a sua situação no mundo contemporâneo, se transferia sempre das componentes externas desta situação para a verdade imanente da humanidade: «É no íntimo do homem precisamente que muitos elementos se combatem entre si. Enquanto, por uma parte, ele se experimenta, como criatura que é, multiplamente limitado, por outra, sente-se ilimitado nos seus desejos e chamado a uma vida superior. Atraído por muitas solicitações, vê-se obrigado a escolher entre elas e a renunciar a algumas. Mais ainda, fraco e pecador, faz muitas vezes aquilo que não quer e não realiza o que desejaria fazer. Sofre assim em si mesmo a divisão, da qual tantas e tão graves discórdias se originam para a sociedade». 95
É este homem assim que é a via da Igreja; via que se encontra, de certo modo, na base de todas aquelas vias pelas quais a Igreja deve caminhar: porque o homem — todos e cada um dos homens, sem excepção alguma — foi remido por Cristo; e porque com o homem — cada homem, sem excepção alguma — Cristo de algum modo se uniu, mesmo quando tal homem disso não se acha consciente: «Cristo, morto e ressuscitado por todos os homens, a estes — a todos e a cada um dos homens — oferece sempre... a luz e a força para poderem corresponder à sua altíssima vocação». 96
Sendo portanto este homem a via da Igreja, via da sua vida e experiência quotidianas, da sua missão e actividade, a Igreja do nosso tempo tem de estar, de maneira sempre renovada, bem ciente da «situação» de tal homem. E mais: a Igreja deve estar bem ciente das suas possibilidades, que tomam sempre nova orientação e assim se manifestam; ela tem de estar bem ciente, ao mesmo tempo ainda, das ameaças que se apresentam contra o homem. Ela deve estar cônscia, outrossim, de tudo aquilo que parece ser contrário ao esforço para que «a vida humana se torne cada vez mais humana» 97 e para que tudo aquilo que compõe esta mesma vida corresponda à verdadeira dignidade do homem. Numa palavra, a Igreja deve estar bem cônscia de tudo aquilo que é contrário a um tal processo de nobilitação da vida humana.
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(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
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Notas (em latim):
(67) Cfr. S. Iustinus, I Apologia, 46, 1-4; Il Apologia, 7 (8), 14; 10, 1-3; 13, 3-4: Florilegium Patristicum 11, Bonn 19112, pp. 81, 125, 129, 133; Clemens Alexandrinus, Stromata I, 19, 91. 94: S. eh. 30, pp. 117 s.; 119 s.; Conc. Oecum. Vat. II, Decr. de activitate missionali Ecclesiae Ad Gentes, 11: AAS 58 (1966), p. 960; Const. dogm. de Ecclesia Lumen Gentium, 17: AAS 57 (1965), p. 21.
(68) Cfr. Declaratio de Ecclesiae habitudine ad Religiones non-Christianas Nostra Aetate, 3-4: AAS 58 (1966), pp. 741-743.
(69) Col 1, 26.
(70) Mt 11, 12.
(71) Lc 16, 8.
(72) Eph 3, 8.
(73) Cfr. n. 1 s. : AAS 58 (1966), pp. 740 s.
(74) Act 17, 22-31.
(75) Jo 2, 25.
(76) Jo 3, 8.
(77) Cfr. AAS 58 (1966), pp. 929-946.
(78) Cfr. Jo 14, 26.
(79) Paulus PP. VI, Adh. Ap. Evamgelii Nuntiandi, 6: AAS 68 (1976), P. 9.
(80) Jo 7, 16.
(81) Cfr. AAS 58 (1966), pp. 936 ss.
(82) Jo 8. 32.
(83) Jo 18, 37.
(84) Cfr. Jo 4, 23.
(85) Jo 4, 23 s.
(86) Cfr. Litt. Enc. Ecclesiam Suam: AAS 56 (1964), pp. 609-659.
(87) Const. past. de Ecclesia in mundo huius temporis Gaudium et Spes, 22: AAS 58 (1966), p. 1042.
(88) Cfr. Jo 14. 1 ss.
(89) Const. past. de Ecclesia in mundo huius temporis Gaudium et Spes, 91: AAS 58 (1966), p. 1113.
(90) Ibidem, 38: Z. e., p. 1056.
(91) Ibidem, 76: i. e. p. 1099.
(92) Cfr. Gen 1, 27.
(93) Const. past. de Ecclesia in mundo huius temporis Gaudium et Spes, 24: AAS 58 (1966), p. 1045.
(94) Gen 1, 28.
(95) Const. past. de Ecclesia in mundo huius temporis Gaudium et Spes, 10: AAS 58 (1966), p. 1032.
(96) Ibidem, 10: 1. e., p. 1033.
(97) Ibidem, 38: 1. c., p. 1056; Paulus PP. VI, Litt. Enc. Populorum Progressio, 21: AAS 59 (1967), p. 267s.
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