Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 20, 1-26
1 Num daqueles dias, estando Jesus no templo ensinando o povo e anunciando a boa nova, juntaram-se os príncipes dos sacerdotes e os escribas com os anciãos, 2 e falaram-Lhe nestes termos: «Diz-nos com que autoridade fazes estas coisas, ou quem Te deu tal autoridade?». 3 Jesus respondeu: «Também Eu vos farei uma pergunta. Respondei-Me: 4 O baptismo de João era do céu ou dos homens?».5 Mas eles discorriam dentro de si: «Se dissermos: “do céu”, dirá: Por que razão, pois, não crestes nele? 6 Se dissermos: “dos homens”, todo o povo nos apedrejará, porque está convencido que João era um profeta». 7 Responderam que não sabiam donde era. 8 Jesus, disse-lhes: «Nem Eu vos direi com que autoridade faço estas coisas». 9 Começou a dizer ao povo esta parábola: «Um homem plantou uma vinha, arrendou-a a uns vinhateiros e ausentou-se para longe durante muito tempo. 10 No devido tempo, enviou um servo aos vinhateiros, para que lhe dessem a sua parte do fruto da vinha. Eles, porém, depois de lhe terem batido, reenviaram-no com as mãos vazias. 11 Tornou a enviar outro servo. Mas, eles, tendo também batido neste e carregando-o de afrontas, despediram-no sem nada. 12 Tornou a enviar ainda um terceiro. E eles, ferindo-o, também o lançaram fora. 13 Disse então o senhor da vinha: Que hei-de fazer? Mandarei o meu filho amado; talvez lhe guardarão respeito. 14 Mas, quando os vinhateiros o viram, discorreram entre si, dizendo: Este é o herdeiro, matemo-lo, e será nossa a herança. 15 E, lançando-o fora da vinha, mataram-no. Que lhes fará, pois, o senhor da vinha? 16 Virá e acabará com aqueles vinhateiros e dará a vinha a outros». Tendo eles ouvido isto, disseram: «Deus tal não permita!». 17 Jesus, olhando para eles, disse: «Pois que quer dizer isto que está escrito: “A pedra que os construtores desprezaram, tornou-se pedra angular?”. 18 Todo o que cair sobre aquela pedra será quebrado; e sobre quem ela cair será esmagado». 19 Os príncipes dos sacerdotes e os escribas procuravam lançar-Lhe as mãos naquela hora, mas temeram o povo. Compreenderam bem que esta parábola tinha sido dita contra eles. 20 Não O perdendo de vista, mandaram espias que se fingissem justos, para O apanharem no que dizia, a fim de O poderem entregar à autoridade e ao poder do governador. 21 Estes interrogaram-n'O, dizendo: «Mestre, sabemos que falas e ensinas rectamente, que não fazes acepção de pessoas, mas que ensinas o caminho de Deus com verdade. 22 É-nos permitido dar o tributo a César ou não?». 23 Jesus, conhecendo a sua astúcia, disse-lhes: 24 «Mostrai-Me um denário. De quem é a imagem e a inscrição que tem?». Responderam: «De César». 25 Ele disse-lhes: «Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». 26 Não puderam surpreendê-l'O em qualquer palavra diante do povo. Admirados da Sua resposta, calaram-se.
CARTA APOSTÓLICA
MULIERIS DIGNITATEM
DO SUMO PONTÍFICE
JOÃO PAULO II
SOBRE A DIGNIDADE
E A VOCAÇÃO DA MULHER
POR OCASIÃO DO ANO MARIANO
/…9
Na história da Igreja, desde os primeiros tempos existiam — ao lado dos homens — numerosas mulheres, para as quais a resposta da Esposa ao amor redentor do Esposo adquiria plena força expressiva. Como primeiras, vemos aquelas mulheres que pessoalmente tinham encontrado Cristo, tinham-no seguido e, depois da sua partida, juntamente com os apóstolos, “eram assíduas na oração” no cenáculo de Jerusalém até ao dia do Pentecostes. Naquele dia, o Espírito Santo falou por meio de “filhos e filhas” do Povo de Deus, cumprindo o anúncio do profeta Joel (cf. At 2, 17). Aquelas mulheres, e a seguir outras mais, tiveram parte activa e importante na vida da Igreja primitiva, na edificação desde os fundamentos da primeira comunidade cristã — e das comunidades que se seguiram — mediante os próprios carismas e o seu multiforme serviço. Os escritos apostólicos anotam os seus nomes, como Febe, “diaconisa da Igreja de Cêncreas” (cf. Rom 16, 1), Prisca com o marido áquila (cf. 2 Tim 4, 19), Evódia e Síntique (Flp 4, 2), Maria, Trifena, Perside, Trifosa (Rom 16, 6. 12). O apóstolo fala de suas “fadigas” por Cristo, e estas indicam os vários campos de serviço apostólico da Igreja, a começar pela “igreja doméstica”. Nesta, de facto, a “fé sincera” passa da mãe aos filhos e netos, como realmente se verificou na casa de Timóteo (cf. 2 Tim 1, 5).
O mesmo se repete no decorrer dos séculos, de geração em geração, como demonstra a história da Igreja. A Igreja, com efeito, defendendo a dignidade da mulher e a sua vocação, expressou honra e gratidão por aquelas que — fiéis ao Evangelho — em todo o tempo participaram na missão apostólica de todo o Povo de Deus. Trata-se de santas mártires, de virgens, de mães de família, que corajosamente deram testemunho da sua fé e, educando os próprios filhos no espírito do Evangelho, transmitiram a mesma fé e a tradição da Igreja.
Em cada época e em cada país encontramos numerosas mulheres “perfeitas” (cf. Prov 31, 10), que — não obstante perseguições, dificuldades e discriminações — participaram na missão da Igreja. Basta mencionar aqui Mônica, mãe de Agostinho, Macrina, Olga de Kiev, Matilde de Toscana, Edviges da Silésia e Edviges de Cracóvia, Elisabeth de Turíngia, Brígida da Suécia, Joana d'Arc, Rosa de Lima, Elisabeth Seaton e Mary Ward.
O testemunho e as obras de mulheres cristãs tiveram um influxo significativo na vida da Igreja, como também na da sociedade. Mesmo diante de graves discriminações sociais, as mulheres santas agiram de “modo livre”, fortalecidas pela sua união com Cristo. Semelhante união e liberdade enraizadas em Deus explicam, por exemplo, a grande obra de Santa Catarina de Sena na vida da Igreja e de Santa Teresa de Jesus na vida monástica.
Também em nossos dias a Igreja não cessa de enriquecer-se com o testemunho das numerosas mulheres que realizam a sua vocação à santidade. As mulheres santas são uma personificação do ideal feminino, mas são também um modelo para todos os cristãos, um modelo de “sequela Christi”, um exemplo de como a Esposa deve responder com amor ao amor do Esposo.
VIII
MAIOR É A CARIDADE
Diante das transformações
28. “A Igreja acredita que Cristo, morto e ressuscitado para todos, pode oferecer ao homem, por seu Espírito, a luz e as forças que lhe permitirão corresponder à sua vocação suprema”. Podemos aplicar estas palavras da Constituição conciliar Gaudium et Spes ao tema das presentes reflexões. O apelo particular à dignidade da mulher e à sua vocação, próprio do tempo em que vivemos, pode e deve ser acolhido na “luz e na força” que o Espírito prodigaliza ao homem: também ao homem da nossa época, rica de múltiplas transformações. A Igreja “acredita que a chave, o centro e o fim” do homem, como também “de toda a história humana se encontram no seu Senhor e Mestre” e “afirma que sob todas as transformações permanecem muitas coisas imutáveis, que tem seu fundamento último em Cristo; o mesmo ontem, hoje e por toda a eternidade”.
Com estas palavras a Constituição sobre a Igreja no mundo contemporâneo indica-nos o caminho a seguir na assunção dos empenhos relativos à dignidade da mulher e à sua vocação, no cenário das transformações significativas para o nosso tempo. Podemos enfrentar essas transformações de modo correcto e adequado somente se retomarmos o caminho dos fundamentos que se encontram em Cristo, das verdades e dos valores “imutáveis”, dos quais Ele mesmo permanece “testemunha fiel” (cf. Apoc 1, 5) e Mestre. Um modo diverso de agir conduziria a resultados duvidosos, e até mesmo erróneos e ilusórios.
A dignidade da mulher e a ordem do amor
29. A passagem já citada da Carta aos Efésios (5, 21-33), na qual a relação entre Cristo e a Igreja é apresentada como vínculo entre o Esposo e a Esposa, faz referência também à instituição do matrimónio segundo as palavras do Livro do Génesis (cf. 2, 24). Ela une a verdade sobre o matrimónio como sacramento primordial com a criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus (cf. Gén 1, 27; 5, 1). Graças ao significativo confronto presente na Carta aos Efésios, adquire plena clareza aquilo que decide da dignidade da mulher, quer aos olhos de Deus, Criador e Redentor, quer aos olhos do homem: do homem e da mulher. No fundamento do desígnio eterno de Deus, a mulher é aquela na qual a ordem do amor no mundo criado das pessoas encontra um terreno para deitar a sua primeira raiz. A ordem do amor pertence à vida íntima do próprio Deus, à vida trinitária. Na vida íntima de Deus, o Espírito Santo é a hipóstase pessoal do amor. Mediante o Espírito, Dom incriado, o amor se torna um dom para as pessoas criadas. O amor, que vem de Deus, comunica-se às criaturas: “O amor de Deus é derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (cf. Rom 5, 5).
O chamamento da mulher à existência junto ao homem (“um auxiliar que lhe seja semelhante”: cf. Gén 2, 18) na “unidade dos dois” oferece, no mundo visível das criaturas, condições particulares a fim de que “o amor de Deus seja derramado nos corações” dos seres criados à sua imagem. Se o autor da Carta aos Efésios chama Cristo Esposo e a Igreja Esposa, ele confirma indirectamente, com tal analogia, a verdade sobre a mulher como esposa. O Esposo é aquele que ama. A Esposa é amada: é aquela que recebe o amor para, por sua vez, amar.
A citação do Génesis - relida à luz do símbolo esponsal da Carta aos Efésios - permite-nos intuir uma verdade que parece decidir essencialmente a questão da dignidade da mulher e, em seguida, também a da sua vocação: a dignidade da mulher é medida pela ordem do amor, que é essencialmente ordem de justiça e de caridade.
Só a pessoa pode amar e só a pessoa pode ser amada. Esta é uma afirmação, em primeiro lugar, de natureza ontológica, da qual emerge depois uma afirmação de natureza ética. O amor é uma exigência ontológica e ética da pessoa. A pessoa deve ser amada, pois só o amor corresponde àquilo que é a pessoa. Assim se explica o mandamento do amor, conhecido já no Antigo Testamento (cf. Dt 6, 5; Lev 19, 18) e colocado por Cristo no próprio centro do “ethos” evangélico (cf. Mt 22, 36-40; Mc 12, 28-34). Assim se explica também o primado do amor expresso nas palavras de São Paulo na Carta aos Coríntios: “maior é a caridade” (cf. 1 Cor 13, 13).
Se não se recorre a essa ordem e a esse primado, não se pode dar uma resposta completa e adequada à interrogação sobre a dignidade da mulher e sobre a sua vocação. Quando dizemos que a mulher é aquela que recebe amor para, por sua vez, amar, não entendemos só ou antes de tudo a relação esponsal específica do matrimónio. Entendemos algo mais universal, fundado no próprio facto de ser mulher no conjunto das relações interpessoais, que nas formas mais diversas estruturam a convivência e a colaboração entre as pessoas, homens e mulheres. Neste contexto, amplo e diversificado, a mulher representa um valor particular como pessoa humana e, ao mesmo tempo, como pessoa concreta, pelo facto da sua feminilidade. Isto se refere a todas as mulheres e a cada uma delas, independentemente do contexto cultural em que cada uma se encontra e das suas características espirituais, psíquicas e corporais, como, por exemplo, a idade, a instrução, a saúde, o trabalho, o facto de ser casada ou solteira.
A citação da Carta aos Efésios, que consideramos, leva-nos a pensar numa espécie de “profetismo” particular da mulher na sua feminilidade. A analogia do Esposo e da Esposa fala do amor com que todo homem é amado por Deus em Cristo, todo homem e toda mulher. Todavia, no contexto da analogia bíblica e na base da lógica interna do texto, é precisamente a mulher quem manifesta a todos esta verdade: a esposa. Esta característica “profética” da mulher na sua feminilidade encontra a sua mais alta expressão na Virgem Mãe de Deus. É em relação a ela que se coloca em relevo, do modo mais pleno e directo, o elo íntimo que une a ordem do amor - que entra no âmbito do mundo das pessoas humanas através de uma Mulher - com o Espírito Santo. Maria escuta na Anunciação: «Virá sobre ti o Espírito Santo» (Lc 1, 35).
Consciência de uma missão
30. A dignidade da mulher está intimamente ligada com o amor que ela recebe pelo próprio facto da sua feminilidade e também com o amor que ela, por sua vez, doa. Confirma-se assim a verdade sobre a pessoa e sobre o amor. Acerca da verdade da pessoa, deve-se uma vez mais recorrer ao Concílio Vaticano II: “O homem, a única criatura na terra que Deus quis por si mesma, não pode se encontrar plenamente senão por um dom sincero de si mesmo”. Isto se refere a todo homem, como pessoa criada à imagem de Deus, quer homem quer mulher. A afirmação de natureza ontológica aqui contida está a indicar também a dimensão ética da vocação da pessoa. A mulher não pode se encontrar a si mesma senão doando amor aos outros.
Desde o “princípio” a mulher — como o homem — foi criada e «colocada» por Deus precisamente nesta ordem de amor. O pecado das origens não anulou esta ordem, não a apagou de modo irreversível. Provam-no as palavras bíblicas do Proto-Evangelho (cf. Gen 3, 15). Nas presentes reflexões observamos o lugar singular da “mulher” nesse texto chave da Revelação. Além disso, é preciso observar como a própria mulher, que chega a ser “paradigma” bíblico, se encontra também na perspectiva escatológica do mundo e do homem, expressa no Apocalipse. É “uma mulher vestida de sol”, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de estrelas sobre a cabeça (cf. Apoc 12, 1). Pode-se dizer: uma mulher à medida do cosmos, à medida de toda a obra da criação. Ao mesmo tempo, ela sofre “as dores e o tormento do parto” (Apoc 12, 2), como Eva “mãe de todos os viventes” (Gen 3, 20). Sofre também porque, “diante da mulher que está para dar à luz” (cf. Apoc 12, 4), se põe o “grande dragão, a serpente antiga” (Apoc 12, 9), conhecido já no Proto-Evangelho: o Maligno, “pai da mentira” e do pecado (cf. Jo 8, 44). De facto, a “serpente antiga” quer devorar “o filho”. Se vemos neste texto o reflexo do Evangelho da infância (cf. Mt 2, 13. 16), podemos pensar que no paradigma bíblico da “mulher” está inscrita, desde o início a até ao fim da história, a luta contra o mal e contra o Maligno. Esta é também a luta pelo homem, pelo seu verdadeiro bem, pela sua salvação. Não quererá a Bíblia dizer-nos que precisamente na “mulher”, Eva-Maria, a história regista uma luta dramática em favor de todo homem, a luta pelo seu fundamental “sim” ou “não” a Deus e ao seu desígnio eterno sobre o homem?
Se a dignidade da mulher testemunha o amor que ela recebe para, por sua vez, amar, o paradigma bíblico da “mulher” parece desvelar também qual seja a verdadeira ordem do amor que constitui a vocação da mesma mulher. Trata-se aqui da vocação no seu significado fundamental, pode-se dizer universal, que depois se concretiza e se exprime nas múltiplas “vocações” da mulher na Igreja e no mundo.
A força moral da mulher, a sua força espiritual une-se à consciência de que Deus lhe confia de uma maneira especial o homem, o ser humano. Naturalmente, Deus confia todo homem a todos e a cada um. Todavia, este ato de confiar refere-se de modo especial à mulher - precisamente pelo facto da sua feminilidade - e isso decide particularmente da sua vocação.
Inspirando-se nesta consciência e neste acto de confiança, a força moral da mulher exprime-se em numerosíssimas figuras femininas do Antigo Testamento, do tempo de Cristo, das épocas sucessivas, até aos nossos dias.
A mulher é forte pela consciência dessa missão, forte pelo facto de que Deus “lhe confia o homem”, sempre e em todos os casos, até nas condições de discriminação social em que ela se possa encontrar. Esta consciência e esta vocação fundamental falam à mulher da dignidade que ela recebe de Deus mesmo, e isto a torna “forte” e consolida a sua vocação. Deste modo, a “mulher perfeita” (cf. Prov 31, 10) torna-se um amparo insubstituível e uma fonte de força espiritual para os outros, que percebem as grandes energias do seu espírito. A estas “mulheres perfeitas” muito devem as suas famílias e, por vezes, inteiras Nações.
Na nossa época, os sucessos da ciência e da técnica consentem alcançar, num grau até agora desconhecido, um bem-estar material que, enquanto favorece alguns, conduz outros à marginalização. Desse modo, este progresso unilateral pode comportar também um gradual desaparecimento da sensibilidade pelo homem, por aquilo que é essencialmente humano. Neste sentido, sobretudo os nossos dias aguardam a manifestação daquele “génio” da mulher que assegure a sensibilidade pelo homem em toda circunstância: pelo facto de ser homem! E porque a maior é a caridade” (cf. 1 Cor 13, 13).
Portanto, uma leitura atenta do paradigma bíblico da “mulher” - desde o Livro do Géneses até ao Apocalipse - confirma em que consistem a dignidade e a vocação da mulher e o que nelas é imutável e não se desactualiza, tendo o seu “fundamento último em Cristo, o mesmo ontem, hoje e por toda a eternidade”. Se o homem é por Deus confiado de modo especial à mulher, isto não significará talvez que Cristo espera dela a realização do “sacerdócio real” (1 Pdr 2, 9), que é a riqueza que ele deu aos homens? Esta mesma herança Cristo, sumo e único sacerdote da nova e eterna Aliança e Esposo da Igreja, não cessa de submeter ao Pai, mediante o Espírito Santo, para que Deus seja “tudo em todos” (1 Cor 15, 28).
Então chegará ao cumprimento definitivo a verdade que “maior é a caridade” (cf. 1 Cor 13, 13).
IX
CONCLUSÃO
«Se tu conhecesses o dom de Deus»
31. «Se tu conhecesses o dom de Deus» (Jo 4, 10), diz Jesus à Samaritana num daqueles admiráveis colóquios, nos quais ele mostra quanta estima tem pela dignidade de cada mulher e pela vocação que lhe consente participar na sua missão de Messias.
As presentes reflexões, que agora chegam ao fim, são orientadas a reconhecer, no interior do “dom de Deus”, aquilo que Ele, criador e redentor, confia à mulher, a toda mulher. No Espírito de Cristo, com efeito, ela pode descobrir o significado completo da sua feminilidade e dispor-se desse modo ao “dom sincero de si mesma” aos outros, e assim “encontrar-se”.
No Ano Mariano, a Igreja deseja render graças à Santíssima Trindade pelo “mistério da mulher” — por toda mulher — e por aquilo que constitui a eterna medida da sua dignidade feminina, pelas “grandes obras de Deus” que na história das gerações humanas nela e por seu meio se realizaram. Em última análise, não foi nela e por seu meio que se operou o que há de maior na história do homem sobre a terra: o evento pelo qual Deus mesmo se fez homem?
A Igreja, portanto, rende graças por todas e cada uma das mulheres: pelas mães, pelas irmãs, pelas esposas; pelas mulheres consagradas a Deus na virgindade; pelas mulheres que se dedicam a tantos e tantos seres humanos, que esperam o amor gratuito de outra pessoa; pelas mulheres que cuidam do ser humano na família, que é o sinal fundamental da sociedade humana; pelas mulheres que trabalham profissionalmente, mulheres que, às vezes, carregam uma grande responsabilidade social; pelas mulheres “perfeitas” e pelas mulheres “fracas” — por todas: tal como saíram do coração de Deus, com toda a beleza e riqueza da sua feminilidade; tal como foram abraçadas pelo seu amor eterno; tal como, juntamente com o homem, são peregrinas sobre a terra, que é, no tempo, a “pátria” dos homens e se transforma, às vezes, num “vale de lágrimas”; tal como assumem, juntamente com o homem, uma comum responsabilidade pela sorte da humanidade, segundo as necessidades quotidianas e segundo os destinos definitivos que a família humana tem no próprio Deus, no seio da inefável Trindade.
A Igreja agradece todas as manifestações do “génio” feminino surgidas no curso da história, no meio de todos os povos e Nações; agradece todos os carismas que o Espírito Santo concede às mulheres na história do Povo de Deus, todas as vitórias que deve à fé, à esperança e caridade das mesmas: agradece todos os frutos de santidade feminina.
A Igreja pede, ao mesmo tempo, que estas inestimáveis “manifestações do Espírito” (cf. 1 Cor 12, 4 ss), com grande generosidade concedidas às “filhas” da Jerusalém eterna, sejam atentamente reconhecidas e valorizadas, para que redundem em vantagem comum para a Igreja e para a humanidade, especialmente em nosso tempo. Meditando o mistério bíblico da “mulher”, a Igreja reza, a fim de que todas as mulheres encontrem neste mistério a si mesmas e a sua “suprema vocação”.
Maria, que “precede” toda a Igreja no caminho da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo”, obtenha para todos nós também este “fruto”, no Ano que lhe dedicamos, no limiar do terceiro milénio da vinda de Cristo.
Com estes votos, dou a todos os fiéis e de maneira especial às mulheres, irmãs em Cristo, a Bênção Apostólica.
Dado em Roma, junto a São Pedro, no dia 15 de Agosto — Solenidade da Assunção de Maria Santíssima — do ano de 1988, décimo de Pontificado.
JOÃO PAULO II
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