02/04/2012

Leitura Espiritual para 02 Abr 2012


Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 17, 20-37

20 Tendo-Lhe os fariseus perguntado quando viria o reino de Deus, respondeu-lhes: «O reino de Deus não virá ostensivamente. 21 Não se dirá: Ei-lo aqui ou ei-lo acolá. Porque eis que o reino de Deus está no meio de vós». 22 Depois disse aos Seus discípulos: «Virá tempo em que desejareis ver um só dos dias do Filho do Homem e não o vereis. 23 E vos dirão: Ei-lo aqui, ou ei-lo acolá. Não vades, nem os sigais. 24 Porque, assim como o clarão brilhante de um relâmpago ilumina o céu de uma extremidade à outra, assim será o Filho do Homem no Seu dia. 25 Mas primeiro é necessário que Ele sofra muito e seja rejeitado por esta geração. 26 Como sucedeu nos dias de Noé, assim sucederá também quando vier o Filho do Homem. 27 Comiam e bebiam, tomavam mulher e marido, até ao dia em que Noé entrou na arca; e veio o dilúvio, que exterminou a todos. 28 Como sucedeu também no tempo de Lot; comiam e bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; 29 mas, no dia em que Lot saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu, que exterminou a todos. 30 Assim será no dia em que se manifestar o Filho do Homem. 31 Nesse dia quem estiver no terraço e tiver os seus móveis em casa, não desça a tomá-los; da mesma sorte, quem estiver no campo, não volte atrás. 32 Lembrai-vos da mulher de Lot. 33 Quem procurar salvar a sua vida, perdê-la-á; quem a perder, salvá-la-á. 34 Eu vos digo: Nessa noite, de duas pessoas que estiverem num leito, uma será tomada e a outra deixada. 35 Duas mulheres estarão a moer juntas, uma será tomada e a outra deixada!». 36 Omitido na Neo-Vulgata. 37 Os discípulos disseram-Lhe: «Onde será isso, Senhor?». Ele respondeu-lhes: «Onde quer que estiver o corpo, juntar-se-ão aí também as águias».


CARTA APOSTÓLICA
MULIERIS DIGNITATEM
DO SUMO PONTÍFICE
JOÃO PAULO II
SOBRE A DIGNIDADE
E A VOCAÇÃO DA MULHER
POR OCASIÃO DO ANO MARIANO
/…4

Proto-Evangelho

11. O Livro do Génesis atesta o pecado, que é o mal do “princípio” do homem, as suas consequências que desde então pesam sobre todo o Género humano, e juntamente contém o primeiro anúncio da vitória sobre o mal, sobre o pecado. Provam-no as palavras que lemos em Génesis 3, 15, habitualmente ditas “Proto-Evangelho”: “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a dela; esta te esmagará a cabeça enquanto tu te lanças contra o seu calcanhar”. É significativo que o anúncio do redentor, do salvador do mundo, contido nestas palavras, se refira à “mulher”. Esta é nomeada em primeiro lugar no Proto-Evangelho como progenitora daquele que será o redentor do homem. E se a redenção deve realizar-se mediante a luta contra o mal, por meio da “inimizade” entre a estirpe da mulher e a estirpe daquele que, como “pai da mentira” (Jo 8, 44), é o primeiro autor do pecado na história do homem, esta será também a inimizade entre ele e a mulher.

Nessas palavras desvela-se a perspectiva de toda a Revelação, primeiro como preparação ao Evangelho e depois como próprio Evangelho. Nesta perspectiva convergem, sob o nome da mulher, as duas figuras femininas: Eva e Maria.

As palavras do Proto-Evangelho, relidas à luz do Novo Testamento, exprimem adequadamente a missão da mulher na luta salvífica do redentor contra o autor do mal na história do homem.

O confronto Eva-Maria retorna constantemente no curso da reflexão sobre o depósito da fé recebida da Revelação divina, e é um dos temas retomados frequentemente pelos Padres, pelos escritores eclesiásticos e pelos teólogos. Habitualmente, nesta comparação surge à primeira vista uma diferença, uma contraposição. Eva, como “mãe de todos os viventes” (Gén 3, 20), é testemunha do “princípio” bíblico, no qual estão contidas a verdade sobre a criação do homem à imagem e semelhança de Deus e a verdade sobre o pecado original. Maria é testemunha do novo “princípio” e da “nova criatura” (cf. 2 Cor 5, 17). Melhor, ela mesma, como a primeira redimida na história da salvação, é “nova criatura”: é a “cheia de graça”. É difícil compreender porque as palavras do Proto-Evangelho realcem tão fortemente a “mulher”, se não se admite que com ela se inicia a nova e definitiva Aliança de Deus com a humanidade, a Aliança no sangue redentor de Cristo. Essa Aliança inicia-se com uma mulher, a “mulher”, na Anunciação em Nazaré. Esta é a novidade absoluta do Evangelho: outras vezes no Antigo Testamento, Deus, para intervir na história do seu Povo, se tinha dirigido a mulheres, como a mãe de Samuel e de Sansão; mas para estipular a sua Aliança com a humanidade se tinha dirigido somente a homens: Noé, Abraão, Moisés. No início da Nova Aliança, que deve ser eterna e irrevogável, está a mulher: a Virgem de Nazaré. Trata-se de um sinal indicativo de que “em Jesus Cristo” “não há homem nem mulher” (Gál 3, 28). Nele a contraposição recíproca entre homem e mulher — como herança do pecado original — é essencialmente superada. “Todos vós sois um só em Cristo Jesus”, escreverá o Apóstolo (Gál 3, 28).

Estas palavras tratam da originária “unidade dos dois”, que está ligada à criação do homem, como homem e mulher, à imagem e semelhança de Deus, segundo o modelo da comunhão perfeitíssima de Pessoas que é o próprio Deus. As palavras paulinas constatam que o mistério da redenção do homem em Jesus Cristo, filho de Maria, retoma e renova aquilo que no mistério da criação correspondia ao desígnio eterno de Deus Criador. Precisamente por isso, no dia da criação do homem como homem e mulher, “Deus contemplou tudo o que tinha feito, e eis que estava tudo muito bem” (Gen 1, 31). A redenção restitui, em certo sentido, à sua própria raiz o bem que foi essencialmente “diminuído” pelo pecado e pela sua herança na história do homem.

A “mulher” do Proto-Evangelho é inserida na perspectiva da redenção. O confronto Eva-Maria pode ser entendido também no sentido de que Maria assume em si mesma e abraça o mistério da “mulher”, cujo início é Eva, “a mãe de todos os viventes” (Gén 3, 20): antes de tudo o assume e abraça no interior do mistério de Cristo — “novo e último Adão” (cf. 1 Cor 15, 45) — o qual assumiu na sua pessoa a natureza do primeiro Adão. A essência da Nova Aliança consiste no facto de que o Filho de Deus, consubstancial ao Pai eterno, se torna homem: acolhe a humanidade na unidade da Pessoa divina do Verbo. Aquele que opera a Redenção é, ao mesmo tempo, verdadeiro homem. O mistério da Redenção do mundo pressupõe que Deus-Filho tenha assumido a humanidade como herança de Adão, tornando-se semelhante a ele e a todo homem em tudo, “com excepção do pecado” (Hebr 4, 15). Deste modo, ele “manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre a sua altíssima vocação”, como ensina o Concílio Vaticano II. Em certo sentido, ajudou-o a redescobrir “quem é o homem” (cf. Sl 8, 5).

Em todas as gerações, na tradição da fé e da reflexão cristã sobre a mesma, a aproximação Adão-Cristo é frequentemente acompanhada da de Eva-Maria. Se Maria é descrita também como “nova Eva”, quais podem ser os significados desta analogia? Certamente são múltiplos. É preciso deter-se particularmente no significado que vê em Maria a revelação plena de tudo o que é compreendido na palavra bíblica “mulher”: uma revelação proporcional ao mistério da Redenção. Maria significa, em certo sentido, ultrapassar o limite de que fala o Livro do Génesis (3, 16) e retornar ao “princípio” no qual se encontra a “mulher” tal como foi querida na criação, portanto no pensamento eterno de Deus, no seio da Santíssima Trindade. Maria é o “novo princípio” da dignidade e da vocação da mulher, de todas e de cada uma das mulheres.

Para compreender isto podem servir de chave, de modo particular, as palavras postas pelo evangelista nos lábios de Maria depois da Anunciação, durante a sua visita a Isabel: «grandes coisas fez em mim o Todo-poderoso» (Lc 1, 49). Estas se referem certamente à concepção do Filho, que é “Filho do Altíssimo” (Lc 1, 32), o “santo” de Deus; conjuntamente, porém, elas podem significar também a descoberta da própria humanidade feminina. “Grandes coisas fez em mim”: esta é a descoberta de toda a riqueza, de todos os recursos pessoais da feminilidade, de toda a eterna originalidade da “mulher”, assim como Deus a quis, pessoa por si mesma, e que se encontra contemporaneamente “por um dom sincero de Si mesma”.

Esta descoberta relaciona-se com a clara consciência do dom, da dádiva oferecida por Deus. O pecado já no “princípio” tinha ofuscado esta consciência, em certo sentido a tinha sufocado, como indicam as palavras da primeira tentação por obra do “pai da mentira” (cf. Gen 3, 1-5). Com a chegada da “plenitude dos tempos” (cf. Gál 4, 4), ao começar a cumprir-se na história da humanidade o mistério da redenção, esta consciência irrompe com toda a sua força nas palavras da “mulher” bíblica de Nazaré. Em Maria, Eva redescobre qual é a verdadeira dignidade da mulher, da humanidade feminina. Esta descoberta deve chegar continuamente ao coração de cada mulher e plasmar a sua vocação e a sua vida.

V

JESUS CRISTO

«Ficaram admirados por estar ele a conversar com uma mulher»

12. As palavras do Proto-Evangelho, no Livro do Génesis, permitem que passemos ao âmbito do Evangelho. A redenção do homem, ali anunciada, aqui se torna realidade na pessoa e na missão de Jesus Cristo, nas quais reconhecemos também aquilo que a realidade da redenção significa para a dignidade e a vocação da mulher. Este significado é-nos esclarecido em grau maior pelas palavras de Cristo e por todo o seu comportamento, em relação às mulheres, que é extremamente simples e, exactamente por isso, extraordinário, se visto no horizonte do seu tempo: é um comportamento que se caracteriza por uma grande transparência e profundidade. Diversas mulheres aparecem no itinerário da missão de Jesus de Nazaré, e o encontro com cada uma delas é uma confirmação da “novidade de vida” evangélica, de que já se falou.

Admite-se universalmente — e até por parte de quem se posiciona criticamente diante da mensagem cristã — que Cristo se constituiu, perante os seus contemporâneos, promotor da verdadeira dignidade da mulher e da vocação correspondente a tal dignidade. Às vezes, isso provocava estupor, surpresa, muitas vezes raiando o escândalo: «ficaram admirados por estar ele a conversar com uma mulher» (Jo 4, 27), porque este comportamento se distinguia daquele dos seus contemporâneos. «Ficaram admirados» até os próprios discípulos de Cristo. O fariseu, a cuja casa se dirigiu a mulher pecadora para ungir os pés de Jesus com óleo perfumado, “disse consigo: «Se este homem fosse um profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que o toca: é uma pecadora» (Lc 7, 39). Estranheza ainda maior ou até “santa indignação” deviam provocar nos ouvintes satisfeitos de si as palavras de Cristo: «Os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus» (Mt 21, 31).

Aquele que falava e agia assim fazia compreender que os “mistérios do Reino” lhe eram conhecidos até o fundo. Ele também «sabia o que há em cada homem» (Jo 2, 25), no seu íntimo, no seu “coração”. Era testemunha do desígnio eterno de Deus a respeito do homem por ele criado à sua imagem e semelhança, como homem e mulher. Era também profundamente consciente das consequências do pecado, do “mistério de iniquidade” que opera nos corações humanos come fruto amargo do ofuscamento da imagem divina. Como é significativo o facto de que, no colóquio fundamental sobre o matrimónio e sobre a sua indissolubilidade, Jesus, diante de seus interlocutores, “os escribas”, que eram por ofício os conhecedores da Lei, faça referência ao “princípio”. A questão colocada é a do direito “masculino” de “repudiar a própria mulher por qualquer motivo” (Mt 19, 3); e, portanto, também do direito da mulher, da sua justa posição no matrimónio, da sua dignidade. Os interlocutores consideram ter a seu favor a legislação mosaica vigente em Israel «Moisés mandou dar-lhe libelo de repúdio e despedi-la» (Mt 19, 7). Responde Jesus: «por causa da dureza do vosso coração permitiu-vos Moisés repudiar as vossas mulheres; mas no princípio não era assim» (Mt 19, 8). Jesus apela para o “princípio”, para a criação do homem como homem e mulher e para o ordenamento de Deus que se fundamenta no facto de que os dois foram criados “à sua imagem e semelhança”. Por isso, quando o homem «deixa seu pai e sua mãe» unindo-se à sua esposa, de modo a formarem os dois «uma só carne», permanece em vigor a lei que provém de Deus mesmo: «Não separe, pois, o homem o que Deus uniu» (Mt 19, 6).

O princípio desse “ethos”, que desde o início foi inscrito na realidade da criação, é agora confirmado por Cristo contra a tradição, que comportava a discriminação da mulher. Nesta tradição, o homem “dominava”, não considerando adequadamente a mulher e a dignidade que o “ethos” da criação colocou como base das relações recíprocas das duas pessoas unidas em matrimónio. Este “ethos” é recordado e confirmado pelas palavras de Cristo: é o “ethos” do Evangelho e da redenção.

As mulheres do Evangelho

13. Folheando as páginas do Evangelho, passa diante de nossos olhos um grande número de mulheres, de idade e condições diversas. Encontramos mulheres atingidas pela doença ou por sofrimentos físicos, como a mulher que tinha «um espírito que a mantinha enferma, andava recurvada e não podia de forma alguma endireitar-se» (cf. Lc 13, 11); ou como a sogra de Simão que estava «de cama com febre» (Mc 1, 30); ou como a mulher que «sofria de um fluxo de sangue» (cf. Mc 5, 25-34), que não podia tocar ninguém, porque se pensava que o seu toque tornasse o homem “impuro”. Cada uma delas foi curada e a última, a hemorroíssa, que tocou o manto de Jesus «no meio da multidão» (Mc 5, 27), foi por ele louvada pela sua grande fé: «a tua fé te salvou» (Mc 5, 34). Há, depois, a filha de Jairo, que Jesus faz voltar à vida, dirigindo-se a ela com ternura: «Menina, eu te mando, levanta-te!» (Mc 5, 41). E há ainda a viúva de Naim, para quem Jesus faz voltar à vida o filho único, fazendo acompanhar o seu gesto de uma expressão de terna piedade: «compadeceu-se dela e disse-lhe: "Não chores"» (Lc 7, 13). E há, enfim, a Cananeia, uma mulher que merece da parte de Cristo palavras de especial estima pela sua fé, sua humildade e pela grandeza de espírito, de que só um coração de mãe é capaz: «ó Mulher, é grande a tua fé! Faça-se como desejas» (Mt 15, 28). A mulher Cananeia pedia a cura de sua filha.

às vezes as mulheres, que Jesus encontrava e que dele recebiam tantas graças, o acompanhavam, enquanto com os apóstolos peregrinava pelas cidades e aldeias, anunciando o Evangelho do Reino de Deus; e elas “os assistiam com os seus bens”. O Evangelho cita entre elas Joana, esposa do administrador de Herodes, Susana e “muitas outras» (Lc 8, 1-3).

Às vezes, figuras de mulheres aparecem nas parábolas, com que Jesus de Nazaré ilustrava aos seus ouvintes a verdade sobre o Reino de Deus. Assim é nas parábolas da dracma perdida (cf. Lc 15, 8-10), do fermento (cf. Mt 13, 33), das virgens prudentes e das virgens estultas (cf. Mt 25, 1-13). É particularmente eloquente o relato do óbolo da viúva. Enquanto «os ricos... colocavam as suas ofertas na caixa do templo... uma viúva... deitou lá duas moedinhas». Então Jesus disse: «essa viúva pobre deitou mais do que todos... foi da sua penúria que tirou tudo quanto possuía» (cf. Lc 21, 1-4). Deste modo Jesus a apresenta como modelo para todos e a defende, pois no sistema sócio-jurídico da época, as viúvas eram seres totalmente indefesos (cf. também Lc 18, 1-7).

Em todo o ensinamento de Jesus, como também no seu comportamento, não se encontra nada que denote a discriminação, própria do seu tempo, da mulher. Ao contrário, as suas palavras e as suas obras exprimem sempre o respeito e a honra devidos à mulher. A mulher recurvada é chamada “filha de Abraão” (Lc 13,16), enquanto em toda a Bíblia o título “filho de Abraão” é atribuído só aos homens. Percorrendo a via dolorosa rumo ao Gólgota, Jesus dirá às mulheres: «Filhas de Jerusalém, não choreis por mim» (Lc 23, 28). Este modo de falar às mulheres e sobre elas, assim como o modo de tratá-las, constitui uma clara “novidade” em relação aos costumes dominantes do tempo.

Isso se torna ainda mais explícito no tocante àquelas mulheres que a opinião comum apontava com desprezo como pecadoras, pecadoras públicas e adúlteras. Por exemplo, a Samaritana, a quem Jesus mesmo diz: «tiveste cinco maridos e aquele que agora tens não é teu marido». E ela, percebendo que ele conhecia os segredos da sua vida, reconhece nele o Messias e corre a anunciá-lo aos seus conterrâneos. O diálogo que precede este reconhecimento é um dos mais belos do Evangelho (cf. Jo 4, 7-27).

Eis, depois, uma pecadora pública que, não obstante a condenação por parte da opinião comum, entra na casa do fariseu para ungir com óleo perfumado os pés de Jesus. Ao anfitrião que se escandalizava deste facto, Jesus dirá dela: «São perdoados os seus muitos pecados, visto que muito amou» (cf. Lc 7, 37-47).

Eis, enfim, uma situação que é talvez a mais eloquente: uma mulher surpreendida em adultério é conduzida a Jesus. A pergunta provocatória: «Ora Moisés, na Lei, mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes?», Jesus responde: «Aquele de vós que estiver sem pecado, lance-lhe por primeiro uma pedra». A força de verdade, contida nesta resposta, é tão grande que «se foram embora um após o outro, a começar pelos mais velhos». Permanecem só Jesus e a mulher. «Onde estão? Ninguém te condenou?» — «Ninguém, Senhor». — «Nem eu te condenarei: — vai e doravante não tornes a pecar» (cf. Jo 8, 3-11).

Estes episódios constituem um quadro de conjunto muito transparente. Cristo é aquele que «sabe o que há no homem» (cf.Jo 2, 25), no homem e na mulher. Conhece a dignidade do homem, o seu valor aos olhos de Deus. Ele mesmo, Cristo, é a confirmação definitiva deste valor. Tudo o que diz e faz tem o seu cumprimento definitivo no mistério pascal da redenção. O comportamento de Jesus a respeito das mulheres, que encontra ao longo do caminho do seu serviço messiânico, é o reflexo do desígnio eterno de Deus, o qual, criando cada uma delas, a escolhe e ama em Cristo (cf. Ef 1, 1-5). Por isso, cada mulher é aquela “única criatura na terra que Deus quis por si mesma”. Cada mulher herda do “princípio” a dignidade de pessoa precisamente como mulher. Jesus de Nazaré confirma esta dignidade, recorda-a, renova-a e faz dela um conteúdo do Evangelho e da redenção, para a qual é enviado ao mundo. É preciso, pois, introduzir na dimensão do mistério pascal toda palavra e todo gesto de Cristo que se referem à mulher. Desta maneira tudo se explica completamente.

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