28/03/2012

Leitura Espiritual para 28 Mar 2012

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 13, 31-35; 14, 1-14

31 No mesmo dia alguns dos fariseus foram dizer-Lhe: «Sai e vai-Te daqui porque Herodes quer matar-Te». 32 Ele respondeu-lhes: «Ide dizer a essa raposa: Eis que Eu expulso os demónios e faço curas hoje e amanhã, e ao terceiro dia atinjo o Meu termo. 33 Importa, contudo, que Eu caminhe ainda hoje, amanhã e no dia seguinte; porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém. 34 «Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes quis juntar os teus filhos como a galinha recolhe os seus pintainhos debaixo das asas, e tu não quiseste! 35 Eis que a vossa casa vos será deixada deserta. Digo-vos que não Me vereis, até que venha o dia em que digais: “Bendito O que vem em nome do Senhor”».
14 1 Entrando Jesus, um sábado, em casa de um dos principais fariseus, para comer, eles estavam a observá-l'O. 2 Encontrava-se diante d'Ele um homem hidrópico.3 Jesus, dirigindo a palavra aos doutores da lei e aos fariseus, disse-lhes: «É lícito ou não fazer curas ao sábado?».4 Eles ficaram calados. Então Jesus, pegando no homem pela mão, curou-o e mandou-o embora. 5 Dirigindo-se depois a eles, disse: «Qual de vós, se o seu filho ou seu boi cair num poço, não o tirará imediatamente ainda que seja em dia de sábado?». 6 Eles não sabiam que replicar a isto. 7 Disse também uma parábola, observando como os convidados escolhiam os primeiros lugares à mesa: 8 «Quando fores convidado para um banquete nupcial, não te coloques no primeiro lugar, porque pode ser que outra pessoa de mais consideração do que tu tenha sido convidada pelo dono da casa,9 e que venha quem te convidou a ti e a ele e te diga: Cede o lugar a este; e tu, envergonhado, vás ocupar o último lugar. 10 Mas, quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier quem te convidou, te diga: Amigo, vem mais para cima. Então terás com isto glória na presença de todos os convidados;11 porque todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado». 12 Dizia mais àquele que O tinha convidado: «Quando deres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os vizinhos ricos; para que não aconteça que também eles te convidem e te paguem com isso. 13 Mas, quando deres algum banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos; 14 e serás bem-aventurado, porque esses não têm com que retribuir-te; mas ser-te-á isso retribuído na ressurreição dos justos».


CARTA APOSTÓLICA
TERTIO MILLENNIO ADVENIENTE
DO SUMO PONTÍFICE
JOÃO PAULO II
AO EPISCOPADO
AO CLERO E AOS FIÉIS
SOBRE A PREPARAÇÃO
PARA O JUBILEU DO ANO 2000

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35. Outro capítulo doloroso, sobre o qual os filhos da Igreja não podem deixar de tornar com espírito aberto ao arrependimento, é a condescendência manifestada, especialmente nalguns séculos, perante métodos de intolerância ou até mesmo de violência no serviço à verdade.

Certo é que um correcto juízo histórico não pode prescindir da atenta consideração dos condicionalismos culturais da época, pelos quais muita gente podia ter considerado, em boa fé, que um autêntico testemunho da verdade comportasse o sufocamento da opinião de outrem ou, pelo menos, a sua marginalização. Múltiplos motivos convergiam frequentemente para criar premissas de intolerância, alimentando uma atmosfera passional, da qual apenas grandes espíritos, verdadeiramente livres e cheios de Deus, conseguiam de algum modo subtrair-se. Mas a consideração das circunstâncias atenuantes não exonera a Igreja do dever de lastimar profundamente as fraquezas de tantos filhos seus, que lhe deturparam o rosto, impedindo-a de reflectir plenamente a imagem do seu Senhor crucificado, testemunha insuperável de amor paciente e de humilde mansidão. Desses momentos dolorosos do passado deriva uma lição para o futuro, que deve induzir todo o cristão a manter-se bem firme sobre aquela regra áurea ditada pelo Concílio:” a verdade não se impõe de outro modo senão pela sua própria força, que penetra nos espíritos de modo ao mesmo tempo suave e forte”. [i]

36. Numerosos Cardeais e Bispos desejaram se fizesse um sério exame de consciência, principalmente sobre a Igreja de hoje. No limiar do novo milénio, os cristãos devem pôr-se humildemente diante do Senhor, interrogando-se sobre as responsabilidades que lhes cabem também nos males do nosso tempo. Na verdade, a época actual, a par de muitas luzes, apresenta também tantas sombras.

Como calar, por exemplo, a indiferença religiosa, que leva tantos homens de hoje a viverem como se Deus não existisse ou a contentarem-se com uma religiosidade vaga, incapaz de se confrontar com o problema da verdade e com o dever da coerência? A isto, há que ligar também a difusa perda do sentido transcendente da existência humana e o extravio no campo ético, até mesmo em valores fundamentais como os da vida e da família. Impõe-se, pois, uma verificação aos filhos da Igreja: em que medida estão eles também tocados pela atmosfera de secularismo e relativismo ético? E que parte de responsabilidade devem eles reconhecer, quanto ao progressivo alastramento da irreligiosidade, por não terem manifestado o genuíno rosto de Deus,” pelas deficiências da sua vida religiosa, moral e social”? [ii]

Realmente não se pode negar que, em muitos cristãos, a vida espiritual atravessa um momento de incerteza que se repercute não só na vida moral, mas também na oração e na própria rectidão teologal da fé. Esta, já posta à prova pelo confronto com o nosso tempo, vê-se às vezes ainda desorientada por posições teológicas erróneas, que se difundem também por causa da crise de obediência ao Magistério da Igreja.

E quanto ao testemunho da Igreja no nosso tempo, como não sentir pesar pela falta de discernimento, quando não se torna mesmo condescendência, de não poucos cristãos perante a violação de direitos humanos fundamentais por regimes totalitários? E não será porventura de lamentar, entre as sombras do presente, a co-responsabilidade de tantos cristãos em formas graves de injustiça e marginalização social? Seria de perguntar quantos deles conhecem a fundo e praticam coerentemente as directrizes da doutrina social da Igreja.

O exame de consciência não pode deixar de incluir também a recepção do Concílio, este grande dom do Espírito feito à Igreja quase ao findar do segundo milénio. Em que medida a Palavra de Deus se tornou mais plenamente alma da teologia e inspiradora de toda a existência cristã, como pedia a Dei Verbum? É vivida a liturgia como” fonte e cume”da vida eclesial, segundo o ensinamento da Sacrosanctum Concilium? Vai-se consolidando na Igreja universal e nas Igrejas particulares, a eclesiologia de comunhão da Lumen gentium, dando espaço aos carismas, aos ministérios, às várias formas de participação do Povo de Deus, embora sem descair para um democratismo e sociologismo que não reflecte a visão católica da Igreja e o autêntico espírito do Vaticano II? Uma pergunta vital deve contemplar também o estilo das relações da Igreja com o mundo. As directrizes conciliares — oferecidas na Gaudium et spes e noutros documentos — de um diálogo aberto, respeitoso e cordial, acompanhado todavia por um atento discernimento e corajoso testemunho da verdade, permanecem válidas e chamam-nos a um empenhamento maior.

37. A Igreja do primeiro milénio nasceu do sangue dos mártires: ”sanguis martyrumsemen christianorum”, (sangue de mártires, semente de cristãos). [iii] Os acontecimentos históricos relacionados com a figura de Constantino Magno nunca teriam podido garantir um desenvolvimento da Igreja como o que se verificou no primeiro milénio, se não tivesse havido aquela sementeira de mártires e aquele património de santidade que caracterizaram as primeiras gerações cristãs. No final do segundo milénio, a Igreja tornou-se novamente Igreja de mártires. As perseguições contra os crentes — sacerdotes, religiosos e leigos — realizaram uma grande sementeira de mártires em várias partes do mundo. O seu testemunho, dado por Cristo até ao derramamento do sangue, tornou-se património comum de católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes, como ressaltava já Paulo VI na homilia da canonização dos Mártires Ugandeses. [iv]

É um testemunho que não se pode esquecer. A Igreja dos primeiros séculos, apesar de encontrar notáveis dificuldades organizativas, esforçou-se por fixar em peculiares martirológios o testemunho dos mártires. Tais martirológios foram-se actualizando constantemente ao longo dos séculos, e, no álbum dos santos e beatos da Igreja, entraram não apenas aqueles que derramaram o sangue por Cristo, mas também mestres da fé, missionários, confessores, bispos, presbíteros, virgens, esposos, viúvas, filhos.

No nosso século, voltaram os mártires, muitas vezes desconhecidos, como que ”militi ignoti” da grande causa de Deus. Tanto quanto seja possível, não se devem deixar perder na Igreja os seus testemunhos. Como foi sugerido no Consistório, impõe-se que as Igrejas locais tudo façam para não deixar perecer a memória daqueles que sofreram o martírio, recolhendo a necessária documentação. Isso não poderá deixar de ter uma dimensão e uma eloquência ecuménica. O ecumenismo dos santos, dos mártires, é talvez o mais persuasivo. A communio sanctorum fala com voz mais alta que os factores de divisão. O martyrologium dos primeiros séculos constituiu a base do culto dos Santos. Proclamando e venerando a santidade dos seus filhos e filhas, a Igreja prestava suprema honra ao próprio Deus; nos mártires, venerava Cristo, que estava na origem do seu martírio e santidade. Desenvolveu-se sucessivamente a prática da canonização, que perdura ainda na Igreja Católica e nas Igrejas Ortodoxas. Nestes anos, foram-se multiplicando as canonizações e as beatificações. Elas manifestam a vivacidade das Igrejas locais, muito mais numerosas hoje que nos primeiros séculos e no primeiro milénio. A maior homenagem que todas as Igrejas prestarão a Cristo no limiar do terceiro milénio, será a demonstração da presença omnipotente do Redentor, mediante os frutos de fé, esperança e caridade em homens e mulheres de tantas línguas e raças, que seguiram Cristo nas várias formas da vocação cristã.

Será tarefa da Sé Apostólica, na perspectiva do ano 2000, actualizar os martirológios para a Igreja universal, prestando grande atenção à santidade de quantos, também no nosso tempo, viveram plenamente na verdade de Cristo. De modo especial, haverá que diligenciar o reconhecimento da heroicidade das virtudes de homens e mulheres que realizaram a sua vocação cristã no Matrimónio: convictos como estamos de que, também em tal estado, não faltam frutos de santidade, sentimos a necessidade de encontrar os caminhos mais oportunos para os verificar e propor a toda a Igreja como modelo e estímulo dos outros esposos cristãos.

38. Uma ulterior exigência sublinhada pelos Cardeais e pelos Bispos é a realização de Sínodos de carácter continental, na esteira daqueles já celebrados para a Europa e para a África. A última Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano acolheu, em sintonia com o Episcopado da América do Norte, a proposta de um Sínodo para as Américas sobre as problemáticas da nova evangelização em duas partes do mesmo continente tão diversas entre si pela origem e pela história, e sobre as temáticas da justiça e das relações económicas internacionais, tendo em conta a enorme disparidade entre o Norte e o Sul.

Um Sínodo com carácter continental parece oportuno para a Ásia, onde mais acentuada é a questão do encontro do cristianismo com as antiquíssimas culturas e religiões locais. Grande desafio, este, para a evangelização, dado que sistemas religiosos como o budismo ou o induísmo se propõem com um claro carácter soteriológico. Existe, então, a necessidade urgente, por ocasião do Grande Jubileu, de um Sínodo que ilustre e aprofunde a verdade sobre Cristo, como único Mediador entre Deus e os homens e único Redentor do mundo, distinguindo-o bem dos fundadores de outras grandes religiões, nas quais, aliás, se encontram elementos de verdade, que a Igreja considera com sincero respeito, vendo neles um reflexo da Verdade que ilumina todos os homens. [v] No ano 2000, deverá ressoar, com renovada intensidade, a proclamação da verdade: ”Ecce natus est nobis Salvator mundi” (Eis que nos nasceu o Salvador do mundo).

Também para a Oceânia poderia ser útil um Sínodo regional. Nesse Continente, entre outras coisas, existe o dado de populações aborígenes, que de modo singular evocam alguns aspectos da pré-história do género humano. Em tal Sínodo, pois, um tema a não descurar, a par de outros problemas do Continente, deveria ser o encontro do cristianismo com aquelas antiquíssimas formas de religiosidade, que significativamente são caracterizadas por uma orientação monoteísta.

b) Segunda fase

39. Com base nesta vasta acção de sensibilização, será possível depois enfrentar a segunda fase, a fase especificamente preparatória. Esta desenvolver-se-á no arco de três anos, de 1997 a 1999. A estrutura ideal para este triénio, centrado em Cristo, Filho de Deus feito homem, não pode ser senão teológica, isto é, trinitária.

I ano: Jesus Cristo

40. O primeiro ano, 1997, será portanto dedicado à reflexão sobre Cristo, Verbo do Pai, feito homem por obra do Espírito Santo. Na verdade, há que evidenciar o carácter vincadamente cristológico do Jubileu, que celebrará a Encarnação e a vinda ao mundo do Filho de Deus, mistério de salvação para todo o género humano. O tema geral, proposto por muitos Cardeais e Bispos para este ano, é:” Jesus Cristo, único Salvador do mundo, ontem, hoje e sempre” (cf. Heb 13, 8).

Entre os conteúdos perspectivados no Consistório, sobressaem os seguintes: a redescoberta de Cristo Salvador e Evangelizador, com particular referência ao capítulo IV do Evangelho de Lucas, onde o tema de Cristo enviado a evangelizar e o do jubileu se cruzam; o aprofundamento do mistério da sua Encarnação e do seu nascimento do seio virginal de Maria; a necessidade da fé n'Ele para a salvação. Para conhecer a verdadeira identidade de Cristo, é necessário que os cristãos, sobretudo ao longo deste ano, regressem com renovado interesse à Bíblia,” quer através da sagrada Liturgia, rica de palavras divinas, quer pela leitura espiritual, quer por outros meios que se vão espalhando tão louvavelmente por toda a parte”. [vi] Com efeito, no texto revelado é o próprio Pai Celeste que vem amorosamente ao nosso encontro e Se entretém connosco a manifestar-nos a natureza do Filho unigénito e o seu desígnio de salvação para a humanidade. [vii]

41. O empenho de actualização sacramental, atrás mencionado, poderá, ao longo do ano, valer-se da redescoberta do Baptismo como fundamento da existência cristã, segundo as palavras do Apóstolo:” Vós que fostes baptizados em Cristo, revestistes-vos de Cristo” (Gal 3, 27). O Catecismo da Igreja Católica, por seu lado, recorda que o Baptismo constitui” o fundamento da comunhão entre todos os cristãos, mesmo com aqueles que ainda não estão em plena comunhão com a Igreja Católica”. [viii] Precisamente sob a vertente ecuménica, este será um ano muito importante para juntos voltarem o olhar para Cristo, único Senhor, com o compromisso de se tornarem um só, nos termos da sua súplica ao Pai. O destaque da centralidade de Cristo, da Palavra de Deus e da fé não deveria deixar de suscitar interesse e acolhimento favorável nos cristãos de outras Confissões.

42. Tudo deverá apontar para o objectivo prioritário do Jubileu que é o revigoramento da fé e do testemunho dos cristãos. É necessário, por conseguinte, suscitar em cada fiel um verdadeiro anseio de santidade, um forte desejo de conversão e renovamento pessoal num clima de oração cada vez mais intensa e de solidário acolhimento do próximo, especialmente do mais necessitado.

O primeiro ano será, assim, o momento favorável para a redescoberta da catequese no seu significado e valor originário de” ensino dos Apóstolos” (Act 2, 42) sobre a pessoa de Jesus Cristo e o seu mistério de salvação. De grande utilidade para este objectivo, se revelará o aprofundamento do Catecismo da Igreja Católica, que apresenta” com fidelidade e de modo orgânico, o ensino da Sagrada Escritura, da Tradição viva da Igreja e do Magistério autêntico, bem como a herança espiritual dos Padres, dos santos e santas da Igreja, para permitir conhecer melhor o mistério cristão e reavivar a fé do povo de Deus”. [ix] Para ser realistas, não deverá descurar-se também a iluminação da consciência dos fiéis sobre os erros referentes à pessoa de Cristo, evidenciando justamente as oposições contra Ele e contra a Igreja.

43. A Virgem Santa, que estará presente de modo, por assim dizer,” transversal”ao longo de toda a fase preparatória, será contemplada neste primeiro ano sobretudo no mistério da sua divina Maternidade. Foi no seu seio que o Verbo se fez carne! A afirmação da centralidade de Cristo não pode, portanto, ser separada do reconhecimento do papel desempenhado pela sua Santíssima Mãe. O seu culto, se bem esclarecido, de modo nenhum pode trazer dano” à dignidade e eficácia do único Mediador, que é Cristo”. [x] Na verdade, Maria aponta perenemente para o seu Filho divino e apresenta-se a todos os crentes como modelo de fé vivida no dia-a-dia. ”A Igreja, meditando piedosamente na Virgem, e contemplando-a à luz do Verbo feito homem, penetra mais profundamente, cheia de respeito, no insondável mistério da Encarnação, e mais e mais se conforma com o seu esposo”. [xi]

II ano: Espírito Santo

44. O ano 1998, o segundo da fase preparatória, será dedicado de modo particular ao Espírito Santo e à sua presença santificadora no seio da Comunidade dos discípulos de Cristo.” O grande Jubileu, com que se concluirá o segundo Milénio — escrevia na Encíclica Dominum et vivificantem — (...) tem um perfil pneumatológico, dado que o mistério da Encarnação se realizou "por obra do Espírito Santo". "Operou-o" aquele Espírito que — consubstancial ao Pai e ao Filho — é, no mistério absoluto de Deus uno e trino, a Pessoa-Amor, o Dom incriado, que é fonte eterna de toda a dádiva que provém de Deus na ordem da criação, o princípio directo e, em certo sentido, o sujeito da auto-comunicação de Deus na ordem da graça. O mistério da Encarnação constitui o ápice da dádiva suprema, dessa auto-comunicação de Deus”. [xii]

A Igreja não pode preparar-se para a passagem bimilenária” de outro modo que não seja no Espírito Santo. Aquilo que "na plenitude dos tempos" se realizou por obra do Espírito Santo, só por sua obra pode emergir agora da memória da Igreja”. [xiii] Realmente o Espírito actualiza na Igreja de todos os tempos e lugares a única Revelação trazida por Cristo aos homens, tornando-a viva e eficaz no coração de cada um:” O Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, Esse ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14, 26).

45. Entra, pois, nos compromissos primários da preparação para o Jubileu a redescoberta da presença e acção do Espírito, que age na Igreja quer sacramentalmente, sobretudo mediante a Confirmação, quer através de múltiplos carismas, cargos e ministérios por Ele suscitados para o bem dela:” É um mesmo Espírito que distribui os seus vários dons segundo a sua riqueza e as necessidades dos ministérios para utilidade da Igreja (cf. 1 Cor 12, 1-11). Entre estes dons, sobressai a graça dos Apóstolos, a cuja autoridade o mesmo Espírito submeteu também os carismáticos (cf. 1 Cor 14). O mesmo Espírito, unificando o corpo por si e pela sua força e pela coesão interna dos membros, produz e promove a caridade entre os fiéis”. [xiv]

O Espírito é também, na nossa época, o agente principal da nova evangelização. Será, por isso, importante redescobrir o Espírito como Aquele que constrói o Reino de Deus no curso da história e prepara a sua plena manifestação em Jesus Cristo, animando os homens no mais íntimo deles mesmos e fazendo germinar dentro da existência humana os germens da salvação definitiva que acontecerá no fim dos tempos.

46. Nesta perspectiva escatológica, os crentes serão chamados a redescobrir a virtude teologal da esperança, de que tiveram” conhecimento pela palavra da verdade, o Evangelho” (Col 1, 5). A atitude fundamental da esperança, por um lado impele o cristão a não perder de vista a meta final que dá sentido e valor à sua existência inteira, e por outro oferece-lhe motivações sólidas e profundas para o empenhamento quotidiano na transformação da realidade a fim de a tornar conforme ao projecto de Deus.

Como recorda o apóstolo Paulo:” Sabemos, com efeito, que toda a criação tem gemido e sofrido as dores de parto, até ao presente. E não só ela, mas também nós próprios, que possuímos as primícias do Espírito, gememos igualmente em nós mesmos, aguardando a filiação adoptiva, a libertação do nosso corpo. Porque na esperança é que fomos salvos” (Rom 8, 22-24). Os cristãos são chamados a preparar-se para o Grande Jubileu do início do terceiro milénio, renovando a sua esperança no advento definitivo do Reino de Deus, preparando-o dia após dia no seu íntimo, na Comunidade cristã a que pertencem, no contexto social onde estão inseridos e deste modo também na história do mundo.

Além disso, é necessário que sejam valorizados e aprofundados os sinais de esperança presentes neste epílogo do século, não obstante as sombras que frequentemente os escondem a nossos olhos: no campo civil, os progressos realizados pela medicina ao serviço da vida humana, o sentido mais vivo de responsabilidade pelo ambiente, os esforços para restabelecer a paz e a justiça em todo o lado onde foram violadas, a vontade de reconciliação e solidariedade entre os vários povos, particularmente nas complexas relações entre o Norte e o Sul do mundo...; no campo eclesial, a escuta mais atenta da voz do Espírito através do acolhimento dos carismas e da promoção do laicado, a intensa dedicação à causa da unidade de todos os cristãos, o espaço dado ao diálogo com as religiões e com a cultura contemporânea...

47. Neste segundo ano de preparação, a reflexão dos fiéis deverá concentrar-se, com particular solicitude, sobre o valor da unidade no seio da Igreja, para a qual tendem os vários dons e carismas suscitados nela pelo Espírito. Com este objectivo, poder-se-á oportunamente aprofundar o ensinamento eclesiológico do Concílio Vaticano II, presente sobretudo na Constituição dogmática Lumen gentium. Este importante documento sublinhou expressamente que a unidade do Corpo de Cristo está fundada sobre a acção do Espírito, é garantida pelo ministério apostólico e é sustentada pelo mútuo amor (cf. 1 Cor 13, 1-8). Tal aprofundamento catequético da fé não poderá deixar de levar os membros do Povo de Deus a uma consciência mais amadurecida das próprias responsabilidades, bem como a um sentido mais vivo do valor da obediência eclesial. [xv]

48. Maria, que concebeu o Verbo encarnado por obra do Espírito Santo e que depois, em toda a existência, se deixou guiar pela sua acção interior, será contemplada e imitada no decorrer deste ano sobretudo como a mulher dócil à voz do Espírito, mulher do silêncio e da escuta, mulher de esperança, que soube acolher como Abraão a vontade de Deus” esperando contra toda a esperança” (Rom 4, 18). Ela leva à sua expressão plena o anélito dos pobres de Javé, resplandecendo como modelo para quantos se confiam, com todo o coração, às promessas de Deus.




[xvi]…/
Btº joão paulo ii, Cart. Apost. Tertio millennio adveniente


[i] Declar. sobre a liberdade religiosa Dignitatis humanae, 1.
[ii] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et pes, 19.
[iii] TERTULIANO, Apologeticum, 50,13: CCL I, 171
[iv] Cf. AAS 56 (1964), 906
[v] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Declar. sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs Nostra aetate, 2.
[vi] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Divina Revelação Dei Verbum, 25
[vii] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Divina Revelação Dei Verbum, 2.
[viii] N. 1271.
[ix] Const. Ap. Fidel depositum (11 de Outubro de 1992), 3: AAS 86 (1994), 116.
[x] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 62.
[xi] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 65.
[xii] Carta Enc. Dominum et vivificantem (18 de Maio de 1986), 50: AAS 78 (1986), 869-870.
[xiii] Carta Enc. Dominum et vivificantem (18 de Maio de 1986), 50: AAS 78 (1986), 871.
[xiv] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 7.
[xv] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 37.
[xvi] © Copyright 1994 - Libreria Editrice Vaticana

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