Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Evangelho: Mc 15, 23-47
23 Davam-Lhe a beber vinho misturado com mirra, mas Ele não o tomou. 24 Tendo-O crucificado, dividiram os Seus vestidos, lançando sortes sobre eles, para ver que parte cada um levaria. 25 Era a hora tércia quando O crucificaram. 26 A causa da Sua condenação estava escrita nesta inscrição: «O Rei dos Judeus» .27 Com Ele crucificaram dois ladrões, um à direita, e outro à esquerda. 28 Omitido pela Neo-Vulgata. 29 Os que passavam blasfemavam, abanando a cabeça e dizendo: «Ah! Tu, que destróis o templo de Deus e o reedificas em três dias, 30 salva-Te a Ti mesmo descendo da cruz». 31 Do mesmo modo, escarnecendo-O os príncipes dos sacerdotes e os escribas, diziam entre si: «Salvou os outros, e não Se pode salvar a Si mesmo. 32 O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz para que vejamos e acreditemos». Também os que tinham sido crucificados com Ele O insultavam. 33 Chegando a hora sexta, toda a terra se cobriu de trevas até à hora nona. 34 E, à hora nona, exclamou Jesus em alta voz: «Eli, Eli, lemá sabachtani?». Que quer dizer: «Meu Deus, Meu Deus, porque me desamparaste?». 35 Ouvindo isto, alguns dos presentes diziam: «Eis que chama por Elias». 36 Correndo um e ensopando uma esponja em vinagre e atando-a a uma cana, dava-Lhe de beber, dizendo: «Deixai, vejamos se Elias vem tirá-l'O». 37 Mas Jesus, dando um grande brado, expirou.38 O véu do templo rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. 39 O centurião, que estava em frente d'Ele, vendo que Jesus expirara dando este brado, disse: «Verdadeiramente este homem era Filho de Deus». 40 Encontravam-se ali também algumas mulheres olhando de longe, entre as quais estava Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé, 41 as quais já O seguiam e serviam quando Ele estava na Galileia, e muitas outras que, juntamente com Ele, tinham subido a Jerusalém. 42 Ao cair da tarde, pois era a Preparação, isto é, a véspera do sábado, 43 chegou José de Arimateia, membro ilustre do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus. Apresentou-se corajosamente a Pilatos, e pediu-lhe o corpo de Jesus. 44 Pilatos admirou-se que já estivesse morto; mandando chamar o centurião, perguntou-lhe se já estava morto. 45 Informado pelo centurião, deu o corpo a José. 46 José, tendo comprado um lençol e tirando-O da cruz, envolveu-O no lençol, depositou-O num sepulcro, que estava aberto na rocha, e rolou uma pedra para diante da entrada do sepulcro. 47 Entretanto Maria Madalena e Maria, mãe de José, estavam observando onde era depositado.
CARTA APOSTÓLICA
MANE NOBISCUM DOMINE
DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II
AO EPISCOPADO, CLERO E FIÉIS PARA O ANO DA EUCARISTIA
OUTUBRO 2004–OUTUBRO 2005
INTRODUÇÃO
1. «Fica connosco, Senhor, pois a noite vai caindo» (cf. Lc 24,29). Foi este o instante convite que os dois discípulos, directos a Emaús na tarde do próprio dia da ressurreição, dirigiram ao Viajante que se lhes tinha juntado no caminho. Carregados de tristes pensamentos, não imaginavam que aquele desconhecido fosse precisamente o seu Mestre, já ressuscitado. Mas sentiam «arder» o seu íntimo (cf. Lc 24,32), quando Ele lhes falava, «explicando» as Escrituras. A luz da Palavra ia dissipando a dureza do seu coração e «abria-lhes os olhos» (cf. Lc 24, 31). Por entre as sombras do dia que findava e a obscuridade que pairava na alma, aquele Viajante era um raio de luz que fazia despertar a esperança e abria os seus ânimos ao desejo da luz plena. «Fica connosco» — suplicaram. E Ele aceitou. Pouco depois o rosto de Jesus teria desaparecido, mas o Mestre «permaneceria» sob o véu do «pão partido», à vista do qual se abriram os olhos deles.
2. O ícone dos discípulos de Emaús presta-se bem para nortear um ano que verá a Igreja particularmente empenhada na vivência do mistério da sagrada Eucaristia. Ao longo do caminho das nossas dúvidas, inquietações e às vezes amargas desilusões, o divino Viajante continua a fazer-se nosso companheiro para nos introduzir, com a interpretação das Escrituras, na compreensão dos mistérios de Deus. Quando o encontro se torna pleno, à luz da Palavra segue-se a luz que brota do «Pão da vida», pelo qual Cristo cumpre de modo supremo a sua promessa de «estar connosco todos os dias até ao fim do mundo» (cf.Mt 28,20).
3. A «fracção do pão» — tal era ao início a designação da Eucaristia — sempre esteve no centro da vida da Igreja. Por ela Cristo torna presente, no curso do tempo, o seu mistério de morte e ressurreição. Nela, Cristo em pessoa é recebido como «o pão vivo que desceu do céu» (Jo 6,51) e, com ele, é-nos dado o penhor da vida eterna, em virtude do qual se saboreia antecipadamente o banquete eterno da Jerusalém celeste. Prosseguindo no sulco do ensinamento dos Padres, dos Concílios Ecuménicos e dos meus próprios Predecessores, convidei várias vezes — ainda recentemente na encíclica Ecclesia de Eucharistia — a Igreja a reflectir sobre a Eucaristia. Por isso não é minha intenção, neste documento, expor de novo a doutrina já apresentada e à qual recomendo voltar para que seja aprofundada e assimilada. Mas considerei que poderia ser de grande ajuda, precisamente para tal fim, um ano inteiramente dedicado a este admirável Sacramento.
4. Como é sabido, o Ano da Eucaristia prolonga-se deste Outubro de 2004 até ao mesmo mês de 2005. A ocasião propícia para tal iniciativa foi- me dada por dois acontecimentos que marcarão significativamente o início e o fim: o Congresso Eucarístico Internacional programado de 10 a 17 de Outubro em Guadalajara (México), e a Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, que terá lugar no Vaticano de 2 a 29 de Outubro sobre o tema: «A Eucaristia fonte e ápice da vida e da missão da Igreja». E houve ainda outra razão que me levou a esta decisão: terá lugar neste ano a Jornada Mundial da Juventude, que se realizará em Colónia (Alemanha) de 16 a 21 de Agosto de 2005. A Eucaristia é o centro vital ao redor do qual desejo que se congreguem os jovens para alimentar a sua fé e o seu entusiasmo. Mas a ideia de semelhante iniciativa eucarística já a trazia há tempo dentro de mim: de facto constitui o desenvolvimento natural da orientação pastoral que quis imprimir à Igreja, especialmente a partir dos anos de preparação do Jubileu, e que retomei depois nos anos que o seguiram.
5. Nesta carta apostólica, é meu propósito sublinhar tal continuidade de orientação, para que seja mais fácil a todos individuar o seu alcance espiritual. Quanto à realização concreta do Ano da Eucaristia, conto com a solicitude pessoal dos Pastores das Igrejas particulares, aos quais a devoção por tão grande Mistério não deixará de sugerir as oportunas iniciativas. Aos meus Irmãos Bispos, aliás, não será difícil ver como esta iniciativa, que surge a breve distância da conclusão do Ano do Rosário, se situe a um nível espiritual tão profundo que não vem dificultar de modo algum os programas pastorais das diversas Igrejas. Pelo contrário, pode iluminá-los mais eficazmente, ancorando-os por assim dizer ao Mistério que constitui a raiz e o segredo da vida espiritual dos fiéis, como também de cada iniciativa da Igreja local. Não peço, pois, para se interromperem os «caminhos» pastorais que as diversas Igrejas estão a fazer, mas para neles dar relevo à dimensão eucarística própria de toda a vida cristã. Da minha parte, com esta carta, quero oferecer algumas orientações de fundo, com a esperança de que o povo de Deus, nas suas diversas componentes, queira acolher a minha proposta com pronta docilidade e vivo amor.
I
NO SULCO DO CONCÍLIO
E DO JUBILEU
Com o olhar voltado para Cristo
6. Há dez anos, com a Tertio millennio adveniente (10 de Novembro de 1994), tive a alegria de indicar à Igreja o caminho de preparação para o Grande Jubileu do ano 2000. Sentia que esta circunstância histórica se delineava no horizonte como uma grande graça. Não tinha ilusões, por certo, de que uma simples data cronológica, apesar de sugestiva, pudesse por si mesma comportar grandes mudanças. Os factos encarregaram-se, infelizmente, de pôr em evidência, após o início do milénio, uma espécie de crua continuidade com os acontecimentos anteriores e frequentemente com os piores dentre eles. Foi-se delineando assim um cenário que, a par de reconfortantes perspectivas, deixa entrever opacas sombras de violência e de sangue que não cessam de nos entristecer. Mas, ao convidar a Igreja para celebrar o Jubileu dos dois mil anos da Encarnação, eu estava perfeitamente convencido — e ainda o estou mais agora! — de trabalhar para os «tempos longos» da humanidade.
De facto, Cristo está no centro não só da história da Igreja, mas também da história da humanidade. Tudo é recapitulado n'Ele (cf. Ef 1,10; Col 1,15-20). Como não recordar o ardor com que o Concílio Ecuménico Vaticano II, citando o Papa Paulo VI, confessou que Cristo «é o fim da história humana, o ponto para onde tendem os desejos da história e da civilização, o centro do género humano, a alegria de todos os corações e a plenitude das suas aspirações»? [1]. A doutrina do Concílio trouxe novos aprofundamentos ao conhecimento da natureza da Igreja, abrindo os corações dos crentes a uma compreensão mais atenta dos mistérios da fé e das próprias realidades terrestres na luz de Cristo. N'Ele, Verbo feito carne, revelou-se realmente não só o mistério de Deus, mas também o próprio mistério do homem. [2] N'Ele, o homem encontra redenção e plenitude.
7. Nos princípios do meu pontificado, com a encíclica Redemptor hominis, desenvolvi amplamente este tema, que retomei depois em várias circunstâncias. O Jubileu foi o momento propício para fazer convergir a atenção dos crentes sobre esta verdade fundamental. A preparação do grande acontecimento foi toda trinitária e cristocêntrica. Neste enquadramento, não podia certamente ficar esquecida a Eucaristia. Se hoje estamos para celebrar um Ano da Eucaristia, apraz-me recordar que já na Tertio millennio adveniente escrevia: «O ano 2000 será intensamente eucarístico; no sacramento da Eucaristia o Salvador, que encarnou no seio de Maria vinte séculos atrás, continua a oferecer-Se à humanidade como fonte de vida divina». [3] O Congresso Eucarístico Internacional celebrado em Roma tornou concreta esta tonalidade do Grande Jubileu. Vale a pena recordar também que, em plena preparação do Jubileu, propus à meditação dos fiéis, com a carta apostólica Dies Domini, o tema do «Domingo» como dia do Senhor ressuscitado e dia especial da Igreja. A todos convidei então a redescobrir a celebração eucarística como o coração do Domingo. [4]
Contemplar com Maria o rosto de Cristo
8. O legado do Grande Jubileu foi de algum modo recolhido na carta apostólica Novo millennio ineunte. Neste documento de carácter programático, eu sugeria a perspectiva de um empenho pastoral fundado na contemplação do rosto de Cristo, no âmbito duma pedagogia eclesial capaz de tender para a «medida alta» da santidade, procurada especialmente através da arte da oração. [5] Como poderia faltar, numa tal perspectiva, o empenho litúrgico e, de modo particular, a atenção à vida eucarística? Escrevi então: «No século XX, sobretudo depois do Concílio, a comunidade cristã cresceu muito no modo de celebrar os sacramentos, sobretudo a Eucaristia. É preciso prosseguir nesta direcção, dando particular relevo à Eucaristia dominical e ao próprio domingo, considerado um dia especial da fé, dia do Senhor ressuscitado e do dom do Espírito, verdadeira Páscoa da semana». [6] No contexto da educação para a oração, convidava a cultivar também a Liturgia das Horas, através da qual a Igreja santifica as diversas horas do dia e o ritmo do tempo na articulação própria do ano litúrgico.
9. Sucessivamente, com a proclamação do Ano do Rosário e a publicação da carta apostólica Rosarium Virginis Mariæ, retomei o discurso da contemplação do rosto de Cristo a partir da perspectiva mariana, repropondo o Rosário. Com efeito, esta oração tradicional, tão recomendada pelo Magistério e muito amada pelo povo de Deus, possui uma fisionomia marcadamente bíblica e evangélica, centrada prevalentemente sobre o nome e o rosto de Jesus, fixado na contemplação dos mistérios e na repetição da Ave Maria. O seu ritmo repetitivo constitui uma espécie de pedagogia de amor, feita para inflamar o coração com o mesmo amor que Maria nutre pelo seu Filho. Por isso, conduzindo a nova maturação um itinerário plurissecular, quis que esta forma privilegiada de contemplação completasse seus traços de verdadeiro «compêndio do Evangelho», com a introdução dos mistérios da luz. [7] E como não colocar, no vértice dos mistérios da luz, a sagrada Eucaristia?
Do Ano do Rosário ao Ano da Eucaristia
10. Foi precisamente no coração do Ano do Rosário que promulguei a carta encíclica Ecclesia de Eucharistia, querendo com ela ilustrar o mistério da Eucaristia na sua ligação indivisível e vital com a Igreja. Convidei a todos a celebrarem o sacrifício eucarístico com o empenho que merece, prestando a Jesus presente na Eucaristia, mesmo fora da Missa, um culto de adoração digno de tão grande Mistério. Sobretudo propus novamente a exigência duma espiritualidade eucarística, indicando por modelo Maria como «mulher eucarística». [8]
Assim, o Ano da Eucaristia coloca-se num horizonte que se foi enriquecendo de ano para ano, embora permanecendo sempre bem assente sobre o tema de Cristo e da contemplação do seu Rosto. De certo modo, aquele apresenta-se como um ano de síntese, uma espécie de apogeu de todo o caminho percorrido. Muitas coisas se poderiam dizer para viver bem este ano; limitar-me-ei a indicar algumas perspectivas que possam ajudar a todos a convergir para atitudes elucidativas e fecundas.
II
A EUCARISTIA MISTÉRIO DE LUZ
«Explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que Lhe dizia respeito» (Lc 24,27)
11. A narração da aparição de Jesus ressuscitado aos dois discípulos de Emaús ajuda-nos a pôr em destaque um primeiro aspecto do mistério eucarístico, que deve estar sempre presente na devoção do povo de Deus: a Eucaristia, mistério de luz! Em que sentido tal se pode afirmar, e quais são as implicações que daí derivam para a espiritualidade e para a vida cristã?
Jesus designou-Se a Si mesmo como «luz do mundo» (Jo 8,12), e esta sua propriedade aparece bem evidenciada em momentos da sua vida como a Transfiguração e a Ressurreição, onde refulge claramente a sua glória divina. Diversamente, na Eucaristia a glória de Cristo está velada. O sacramento eucarístico é o «mysterium fidei» por excelência. E, todavia, precisamente através deste sacramento da sua total ocultação, Cristo torna-Se mistério de luz, mediante o qual o fiel é introduzido nas profundezas da vida divina. Com uma feliz intuição, o célebre ícone da Trindade de Rublëv coloca significativamente a Eucaristia no centro da vida trinitária.
12. A Eucaristia é luz antes de mais nada porque, em cada Missa, a liturgia da Palavra de Deus precede a liturgia Eucarística, na unidade das duas «mesas» — a da Palavra e a do Pão. Esta continuidade transparece já no discurso eucarístico do Evangelho de João, quando o anúncio de Jesus passa da apresentação fundamental do seu mistério à ilustração da dimensão eucarística propriamente dita: «A minha carne é, em verdade, uma comida e o meu sangue é, em verdade, uma bebida» (Jo 6,55). Sabemos que foi esta dimensão que fez entrar em crise grande parte dos ouvintes, induzindo Pedro a fazer-se porta-voz da fé dos outros Apóstolos e da Igreja de todos os tempos: «Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna» (Jo 6,68). Na narração dos discípulos de Emaús, o próprio Cristo intervém para mostrar, «começando por Moisés e seguindo por todos os profetas», como «todas as Escrituras» conduzem ao mistério da sua pessoa (cf. Lc 24,27). As suas palavras fazem «arder» os corações dos discípulos, tiram-nos da obscuridade da tristeza e do desânimo, suscitam neles o desejo de permanecer com Ele: «Fica connosco, Senhor» (cf. Lc 24,29).
13. Os Padres do Concílio Vaticano II, na constituição Sacrosanctum Concilium, quiseram que a «mesa da Palavra» abrisse com maior abundância os tesouros da Sagrada Escritura aos fiéis. [9] Por isso consentiram que, na celebração litúrgica, especialmente as leituras bíblicas fossem apresentadas na língua compreensível a todos. É o próprio Cristo que fala, quando na Igreja se lê a Sagrada Escritura. [10] Ao mesmo tempo recomendaram ao celebrante a homilia como parte da própria liturgia, destinada a ilustrar a Palavra de Deus e actualizá-la na vida cristã. [11] Passados quarenta anos do Concílio, o Ano da Eucaristia pode constituir uma importante ocasião para as comunidades cristãs fazerem um exame sobre este ponto. De facto, não basta que os textos bíblicos sejam proclamados numa língua compreensível, se tal proclamação não é feita com o cuidado, preparação prévia, escuta devota, silêncio meditativo que são necessários para que a Palavra de Deus toque a vida e a ilumine.
«Reconheceram-n'O ao partir do pão» (Lc 24,35)
14. É significativo que os dois discípulos de Emaús, devidamente preparados pelas palavras do Senhor, O tenham reconhecido, quando estavam à mesa, através do gesto simples da «fracção do pão». Uma vez iluminadas as inteligências e rescaldados os corações, os sinais «falam». A Eucaristia desenrola-se inteiramente no contexto dinâmico de sinais que encerram uma densa e luminosa mensagem; é através deles que o mistério, de certo modo, se desvenda aos olhos do crente.
Como sublinhei na encíclica Ecclesia de Eucharistia, é importante que nenhuma dimensão deste Sacramento fique transcurada. Com efeito, subsiste sempre no homem a tentação de reduzir às suas próprias dimensões a Eucaristia, quando na realidade é ele que se deve abrir às dimensões do Mistério. «A Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambiguidades e reduções». [12]
15. Não há dúvida que a dimensão mais saliente da Eucaristia é a de banquete. A Eucaristia nasceu, na noite de Quinta-feira Santa, no contexto da ceia pascal. Traz por conseguinte inscrito na sua estrutura o sentido da comensalidade: «Tomai, comei... Tomou, em seguida, um cálice e... entregou-lho dizendo: Bebei dele todos...» (Mt 26,26.27). Este aspecto exprime bem a relação de comunhão que Deus quer estabelecer connosco e que nós mesmos devemos fazer crescer uns com os outros.
Todavia não se pode esquecer que o banquete eucarístico tem também um sentido primária e profundamente sacrifical. [13] Nele, Cristo torna presente para nós o sacrifício actuado uma vez por todas no Gólgota. Embora aí presente como ressuscitado, Ele traz os sinais da sua paixão, da qual cada Santa Missa é «memorial», como a liturgia nos recorda com a aclamação depois da consagração: «Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição...». Ao mesmo tempo que actualiza o passado, a Eucaristia projecta-nos para o futuro da última vinda de Cristo, no final da história. Este aspecto escatológico dá ao sacramento eucarístico um dinamismo cativante, que imprime ao caminho cristão o passo da esperança.
[14]…/
[13] Cf. João Paulo II, Carta enc. Ecclesia de Eucharistia (17 de Abril de 2003), 10: AAS 95 (2003), 439; Congr. para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Instr. Redemptionis sacramentum sobre algumas coisas que se devem observar e evitar relativamente à Santíssima Eucaristia (25 de Março de 2004), 38: Suplemento de L'Osservatore Romano (24 de Abril de 2004), 3.
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