A Jornada Mundial da Juventude, um novo Damasco
Cruz da JMJ |
Saulo de Tarso, cheio de zelo pela lei de Moisés, levava cartas emitidas pela mais alta autoridade do judaísmo, destinadas às sinagogas de Damasco, com o fim de levar quantos encontrasse, homens mulheres, seguidores do Caminho, presos para Jerusalém. O Senhor, no entanto, não lho permitiu. Quando já estava perto da cidade, uma luz intensíssima derrubou-o para o chão e ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, porque me persegues? O jovem respondeu: Quem és tu, Senhor? E a voz disse-lhe: Eu sou Jesus, a quem tu persegues.
Sucedeu tudo num instante, no caminho de Damasco. Desde então, este nome – Damasco – é sinónimo de conversão, de abertura à graça de Deus. A partir daquele momento, Saulo o perseguidor, com a ajuda de um cristão piedoso de Damasco, Ananias, converteu-se no apóstolo Paulo. Disse que sim ao Senhor, livremente e foi até à morte – com uma luta generosa, alegre – um discípulo fiel e evangelizador de Jesus Cristo.
De alguma maneira, pode-se dizer que cada JMJ é, para muitas e muitos jovens, ocasião de reviver o episódio de Damasco. O Senhor Jesus, pela boca do Seu Vigário na terra, Bento XVI, dirigirá a Sua palavra aos que o escutem e provocará – naqueles que o oiçam com boas disposições – uma nova conversão, uma mudança talvez profunda na sua existência.
Dessa palavra acolhida com fé, podem nascer milhares de decisões de procura de Jesus Cristo, sem mudar de estado – na vida matrimonial, no celibato apostólico – ou abraçando o sacerdócio ou a vida religiosa.
O Senhor chama muitos, todos, à plenitude da vida cristã, por muitos caminhos diferentes. Mas é preciso – como no caso de São Paulo – um coração aberto a Deus e aos irmãos, que se adquire e se aprofunda com a ajuda da catequese e também com a colaboração de outras pessoas que, como Ananias, possam facilitar que a palavra do Vigário de Cristo arraigue na alma.
Cada santo, canonizado ou não, teve o seu Damasco, o seu momento de conversão radical para Deus. Talvez não tenha sido tão aparatoso como o de São Paulo, mas foi igualmente eficaz. Talvez tenha sido simplesmente passar da indiferença à entrega de si próprio. De uma vida que consistia em receber, para outra que é também dar e que vai acompanhada de uma felicidade profunda, muito diferente da que oferecem as satisfações materiais.
Tive a sorte de viver muitos anos ao lado de um santo que, cheio de convicção, assegurava: "Madrid foi o meu Damasco, porque foi aqui que caíram as escamas dos olhos da minha alma e aqui recebi a minha missão". Refiro-me S. Josemaria Escrivá de Balaguer, fundador do Opus Dei.
Embora nascido e criado em terra aragonesa, foi em Madrid onde o Senhor lhe mostrou a tarefa que lhe tinha atribuído desde a eternidade: ensinar a todos os cristãos que a existência corrente – tecida com horas de trabalho bem feito, com dedicação à família e aos amigos, com interesse pelo bem comum da sociedade – podia e devia ser um verdadeiro caminho de santificação.
Durante muitos anos, pressentindo que o Senhor queria algo da sua vida, mas sem saber o quê, o jovem Josemaria dirigiu-se a Deus com umas palavras tiradas do Evangelho: Domine, ut videam; as mesmas que um cego dirigiu a Jesus que passava pelo caminho de Jericó: Senhor, que eu veja! Essa luz tornou-se realidade na sua alma no dia 2 de Outubro de 1928, precisamente nesta cidade de Madrid.
Aqui desenvolveu um serviço generoso entre todo o tipo de pessoas, entre os doentes dos hospitais e entre as pessoas mais necessitadas dos bairros limítrofes. Bem depressa se rodeou também de um grupo de jovens a quem contagiou o seu entusiasmo sobrenatural e humano, ensinando-lhes a santificar o estudo, o trabalho e todas as realidades da vida quotidiana.
Muitas pessoas tiveram o seu Damasco em Madrid, terra de santos, de mártires e de cristãos normais que procuram imitar Jesus Cristo na vida corrente. Por uns dias, esta cidade converter-se-á na capital mundial da juventude.
Sobretudo, vai ser a cidade de Pedro. Bento XVI guia-nos e conduz-nos até ao Modelo de todos os santos, até Cristo. Damos-lhe as mais calorosas boas vindas, rezamos pelos frutos da sua Viagem pastoral e pedimos, sobretudo, que muitas raparigas e muitos rapazes se sintam pessoalmente interpelados pelas suas palavras e experimentem nesses dias o seu Damasco: um encontro pessoal mais intenso com Jesus Cristo, que mude e melhore a sua existência.
Dizia o Papa, ao iniciar o seu pontificado: "Quem deixa entrar Cristo não perde nada, nada – absolutamente nada – daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só nesta amizade experimentamos o que é belo e o que nos liberta".
Temos que estar plenamente convencidos: Cristo não retira nada do que há de formoso e grande em nós, mas leva tudo à perfeição para a glória de Deus, para a felicidade dos homens e para a salvação do mundo.
Recorro à intercessão de S. Josemaria, tão estreitamente ligado a esta cidade e ao Beato João Paulo II inspirador das Jornadas Mundiais da Juventude. Que eles nos consigam do Senhor, pela intercessão da Virgem da Almudena, uma chuva de graças nestes dias.
Que a JMJ de Madrid seja Damasco para muitos jovens dispostos a deixar a vida por Cristo e pelos outros, sendo testemunhas credíveis e vibrantes desse Evangelho – sempre velho e sempre novo – de que o mundo actual, o nosso mundo, necessita com urgência.
INFORMAÇÕES MUITO BREVES [De vez em quando] 2011.07.30
[i] "Uma terra de mártires que necessita novos santos". Artigo do Prelado do Opus Dei em "Alfa y Ómega".
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