Navegando pela minha cidade
|
Um conhecedor afirma que em Portugal não se encontra outro Ginkgo com esta altura (cerca de quarenta metros) e perímetro (cerca de quatro metros e meio) sendo muito plausível que seja proveniente de uma semente trazida do Japão no século XVII. Tem por isso mais de duzentos anos.
A virtude da humildade “na prática, leva-nos a reconhecer a nossa inferioridade, a nossa pequenez e indigência perante Deus”[1]. De certa forma esta árvore também.
As suas raízes enterram-se bem fundo na terra agarrando-se a enormes blocos de granito que qualquer escavação no Porto revela. Ou seja, a segurança e o crescimento deste Ginkgo está nas suas raízes enterradas na terra, no húmus que é a raiz da palavra humildade.
A grande Teresa de Ávila disse que a humildade era caminhar na verdade. Mas, o que é a verdade? Perguntou um gestor público do Império Romano que, não a conseguindo reconhecer à sua frente a crucificou.
Temos também que quando um orgulhoso se humilha, orgulha-se da sua humildade. Assim sendo, a humildade é a árvore ou a sua sombra? De facto a Verdade sempre se revelou paradoxalmente sendo que um paradoxo é o oposto daquilo que se pensa ser a verdade.
Assim - na mesma paradoxalidade - quando sou pequeno é que sou grande e quando sou pobre é que sou rico. Quando morro é que vivo.
O Ginkgo é considerado um fóssil vivo. Os registos fósseis indicam-na como a árvore mais antiga existente no planeta. Talvez seja por essa razão de resistência à adversidade e ao tempo que a fez ter sido a primeira árvore a brotar após a destruição provocada pela bomba atómica em Hiroshima.
Também para a Verdade não há tempo, mas um eterno agora, apesar dos fariseus de todos os tempos o negarem.
E que mistério intemporal predispôs que o melhor local para se admirar este antigo e magnificente Ginkgo seja do Passeio das Virtudes que já foi o Jazigo dos Judeus por a comunidade judaica ter tido aí o seu cemitério?
O Ginkgo é uma árvore de folha caduca e no Outono fica da cor do ouro. É então, na véspera sua morte cíclica, que ele se revela em todo o seu esplendor e sublime beleza.
Todas aquelas folhas que parecem pequenos leques verdes a abanarem ao vento passam a ser amarelas, da cor que os antigos egípcios associavam à eternidade por ser a cor do sol e do ouro.
Por isto tudo, numa suave tarde de Outubro irei lá, para ver a humildade feita árvore. Ou então, na noite do dia 12 do mesmo mês porque haverá luar e o luar, segundo Teixeira de Pacoaes, é a luz do sol vestida de humildade[2].
Afonso Cabral
[1] Francisco F. Carvajal – FALAR COM DEUS 4 – QUADRANTE – São Paulo – pág, 260
[2] Teixeira de Pascoaes – Vida Etérea - Pensamentos, VIII
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.