Se o cristianismo fosse só “uma religião do Livro”, o esforço da Igreja limitar-se-ia a analisar o texto para ver o que Deus disse ao seu Povo, nas diversas etapas da sua história. Mas nós acreditamos que a Palavra de Deus é actual, Ele continua a ser um Deus em diálogo com o seu Povo, a conduzi-lo pela sua Palavra em cada momento e circunstância da história. Se acreditamos que Deus continua a falar-nos, a atitude da Igreja tem de ser outra: a da escuta, coração aberto para escutar agora o que Deus diz à Igreja, que é o seu Povo.
O equilíbrio entre a escuta pessoal da Palavra, e o acolhimento que da mesma Palavra faz a Igreja, é um equilíbrio difícil de conseguir. Depende, fundamentalmente, da inserção de cada cristão na comunhão da Igreja, o que o leva a rejeitar qualquer interpretação da Palavra que não coincida com a da Igreja. De facto, ao longo dos séculos, sempre que cristãos, individualmente ou em grupo, pretenderam escutar a Palavra sem estarem em comunhão com toda a Igreja, correram o risco de escutarem o que gostariam de ouvir e não o que Deus tem para lhes dizer. A escuta da Palavra tem de ser cultivada simultaneamente com a vivência da Igreja como comunhão, com Jesus Cristo e por Ele, com a Santíssima Trindade. A escuta da Palavra, por cada cristão, faz-se aderindo à maneira como a Igreja escuta a mesma Palavra, aprofunda-se rezando com a Igreja, transforma-se em missão, anunciando-a com a Igreja e em nome da Igreja. É preciso que em cada cristão que escuta a Palavra, seja a Igreja que a escuta. Escuta da Palavra e Nova Evangelização. A renovação da evangelização tem o seu destino ligado ao modo como toda a Igreja e cada cristão escutam, hoje, a Palavra do Senhor. (Cardeal Patriarca de Lisboa, segunda Catequese Quaresmal, 2011.03.21)
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