Tempo comum XXVI Semana
S. Miguel, S. Gabriel, S. Rafael – Arcanjos
Evangelho:
Jo 1, 47-51
47 Jesus viu Natanael, que
vinha ter com Ele, e disse dele: «Eis um verdadeiro israelita em quem não há
fingimento». 48 Natanael disse-lhe: «Donde me conheces?». Jesus respondeu-lhe:
«Antes que Filipe te chamasse, Eu te vi, quando estavas debaixo da figueira».
49 Natanael respondeu: «Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel».
50 Jesus respondeu-lhe: «Porque te disse que te vi debaixo da figueira, acreditas?;
verás coisas maiores que esta». 51 E acrescentou: «Em verdade, em verdade vos
digo, vereis o céu aberto e os anjos de Deus subir e descer sobre o Filho do
Homem».
Comentário:
Aparentemente, Natanael não fica surpreendido com a
revelação de Cristo: «Antes
que Filipe te chamasse, Eu te vi, quando estavas debaixo da figueira», o
que poderá parecer estranho já que revela um poder extraordinário.
Poderá
atribuir-se este facto a que Natanael estivesse meditando sobre o que na
Escritura se dizia a respeito do Messias e dos poderes que demonstraria?
Quando
Jesus declara que no futuro Apóstolo «não
há fingimento» quererá dizer exactamente isso, não tem de espantar-se com
algo que já sabia pelas Escrituras e, além disso, não tem qualquer razão para
duvidar do que Filipe lhe dissera. A “questão” de Jesus ser de Nazaré ficará
logo “resolvida” com a afirmação do Senhor, logo, a sua decisão é célere e sem
evasivas: «Tu és o Filho de Deus».
(ama, comentário sobre Jo 1, 45-51, 2013.01.05)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
IMMORTALE DEI
DO SUMO PONTIFÍCE PAPA LEÃO XIII
A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS
IRMÃOS, OS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS
E BISPOS DO ORBE CATÓLICO,
EM GRAÇA E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE A CONSTITUIÇÃO CRISTÃ
DOS ESTADOS
49.
Pelo contrário, liberdade verdadeira e desejável é a que, na ordem individual,
não deixa o homem escravo nem dos erros, nem das paixões, que são os seus
piores tiranos; e na ordem pública traça regras sábias aos cidadãos, facilita
largamente o incremento do bem-estar e preserva do arbítrio de outrem a coisa
pública.
Essa
liberdade honesta e digna do homem, a Igreja aprova-a ao mais alto ponto, e,
para garantir aos povos o firme e integral gozo dela, nunca cessou de lutar e
de combater.
50.
Sim, na verdade, tudo o que pode haver de salutar para o bem geral no Estado;
tudo o que é útil para proteger o povo contra a licença dos príncipes que lhe
não provêm ao bem; tudo o que impede as usurpações injustas do Estado sobre a
comuna ou sobre a família; tudo o que interessa à honra, à personalidade humana
e à salvaguarda dos direitos iguais de cada um; de tudo isso a Igreja Católica
sempre tomou quer a iniciativa, quer o patrocínio, quer a protecção, como
atestam os monumentos das idades precedentes.
Sempre
coerente consigo mesma, se, de uma parte, dela repele uma liberdade imoderada
que, para os indivíduos e para os povos, degenera em licença ou em escravidão,
de outra parte abraça com todo o gosto os progressos que todo dia nascem, se
verdadeiramente contribuem para a prosperidade desta vida, que é como um
encaminhamento para a vida futura e para sempre duradoura.
Assim,
pois, dizer que a Igreja vê com maus olhos as formas mais modernas dos sistemas
políticos e repele em bloco todas as descobertas do génio contemporâneo, é uma
calúnia vã e sem fundamento.
Sem
dúvida, ela repudia as opiniões malsãs, reprova a inclinação perniciosa para a
revolta, e mui particularmente essas predisposições dos espíritos em que já
reponta a vontade de se afastar de Deus; mas, como tudo o que é verdadeiro não
pode proceder senão de Deus, em tudo o que as investigações do espírito humano
descobrem de verdade, a Igreja reconhece como que um vestígio da inteligência
divina; e como não há nenhuma verdade natural que infirme a fé nas verdades
divinamente reveladas, como há muitas que a confirmam, e como todo
descobrimento da verdade pode levar a conhecer e a louvar ao próprio Deus, a
Igreja acolherá sempre de bom grado e com alegria tudo o que contribuir para
alargar a esfera das ciências; e, assim como sempre o fez para com as outras
ciências, favorecerá e incentivará aquelas que tem por objecto o estudo da
natureza.
Nesse
género de estudos, a Igreja não se opõe a nenhuma descoberta do espírito; vê
sem desprezar tantas investigações que tem por fim o prazer e o bem-estar; e,
mesmo, inimiga nata da inércia e da preguiça, deseja grandemente que o exercício
e a cultura façam o génio do homem dar frutos abundantes.
Ela
tem incentivos para toda espécie de artes e indústrias, e, dirigindo pela sua
virtude todas essas investigações para um fim honesto e salutar, aplica-se a
impedir que a inteligência e a indústria do homem não o desviem de Deus e dos
bens celestes.
51.
Esta maneira de agir, todavia tão racional e tão sábia, é que é desacreditada
nestes tempos em que os Estados não somente recusam conformar-se aos princípios
da filosofia cristã, mas parecem querer afastar-se dela cada dia mais.
Não
obstante, sendo próprio da luz irradiar por si mesma ao longe e penetrar aos
poucos os espíritos dos homens, movidos como somos pela consciência das
altíssimas e santíssimas obrigações da missão apostólica de que estamos
investidos para com todos os povos, livremente proclamamos, consoante o Nosso
dever, a verdade, não porque não levemos em nenhuma conta os tempos, ou
julgamos dever proscrever os honestos e úteis progressos da Nossa idade; mas
porque quereríamos ver os negócios públicos seguirem caminhos menos perigosos e
repousarem em fundamentos mais sólidos, e isso deixando intacta a liberdade
legítima dos povos; essa liberdade de que a verdade é entre os homens a fonte e
a melhor salvaguarda: “A verdade vos libertará” (Jo 7, 32).
52.
Se, pois, nessas conjunturas difíceis os católicos Nos escutarem, como é seu
dever, saberão exactamente quais são os deveres de cada um na “teoria” como na
“prática”.
Na
teoria, primeiro, é necessário ater-se com decisão inabalável a tudo o que os
Pontífices romanos têm ensinado ou ensinarem, e, todas as vezes que as
circunstâncias o exigirem, fazer disso profissão pública.
Particularmente
no que diz respeito às “liberdades modernas”, como lhes chamam, deve cada um
ater-se ao julgamento da Sé Apostólica e conformar-se com suas decisões.
Cumpre
resguardar-se de se deixar enganar pela honestidade especiosa dessas
liberdades, e lembrar-se de que fontes elas emanam e por que espírito se
propagam e se sustentam.
A
experiência já tem feito suficientemente conhecer os resultados que elas têm
tido para a sociedade, e o quanto os frutos que elas têm dado inspiram com toda
razão pesares aos homens funestos e prudentes.
Se
existe algures, ou pelo pensamento se imaginar um Estado que persiga disfarçada
e tiranicamente o nome cristão, e se o confrontarmos com o género do governo
moderno de que falamos, este último poderá parecer mais tolerável.
Certamente,
os princípios em que este último se baseia são de tal natureza, como dissemos,
que em si mesmo por ninguém devem ser aprovados.
53.
Na prática, a cação pode exercer-se já nos negócios privados e domésticos, já
nos negócios públicos.
Na
ordem privada, o primeiro dever de cada um é de conformar exactamente a própria
vida e os próprios costumes aos preceitos do Evangelho, e de não recuar ante o
que a virtude cristã impõe de um pouco difícil de sofrer e aturar.
Todos
devem, além disso, amar a Igreja como sua Mãe comum, obedecer às suas leis,
prover à sua honra, salvaguardar-lhe os direitos, e tomar cuidado de que
aqueles sobre os quais exercem alguma autoridade a respeitem e a amem com a
mesma piedade filial.
54.
À salvação pública importa ainda que os católicos emprestem sensatamente o seu
concurso à administração dos negócios municipais e se apliquem sobretudo a
fazer com que a autoridade pública atenda à educação religiosa e moral da
juventude, como convém a cristãos: daí depende sobretudo a salvação da
sociedade.
Será
geralmente útil e louvável que os católicos estendam a sua acção além dos
limites desse campo demasiado restrito, e se cheguem aos grandes cargos do
Estado.
“Geralmente”, dizemos, porque aqui os Nossos
conselhos se dirigem a todas as nações.
Aliás,
pode suceder algures que, por motivos os mais graves e os mais justos,
absolutamente não seja conveniente participar dos negócios públicos seria tão
repreensível como não trazer à utilidade comum nem desvelo nem concurso: tanto
mais quanto, em virtude mesmo da doutrina que professam, os católicos são
obrigados a cumprir esse dever com toda integridade e consciência.
Aliás.
Abstendo-se eles, as rédeas do governo passarão sem contestação às mãos daqueles
cujas opiniões certamente não oferecem grande esperança de salvação para o
Estado.
55.
Seria isso, ademais, pernicioso aos interesses cristãos, porque os inimigos da
Igreja teriam todo o poder e os defensores dela, nenhum. Evidentemente é, pois,
que os católicos têm justos motivos para participar da vida política; porquanto
o fazem e o devem fazer não para aprovar aquilo que pode haver de censurável
presentemente nas instituições políticas; porquanto o fazem e o devem fazer não
para aprovar aquilo que pode haver de censurável presentemente nas instituições
políticas, mas para tirar dessas próprias instituições, tanto quanto possível,
o bem público sincero e verdadeiro, propondo-se infundir em todas as veias do
Estado, como uma seiva e um sangue reparador, a virtude e a influência da
religião católica.
56.
Assim foi nas primeiras idades da Igreja.
Nada
estava mais distanciado das máximas e costumes do Evangelho do que as máximas e
costumes dos pagãos; viam-se, todavia, os cristãos, incorruptíveis em plena
superstição e sempre semelhantes a si mesmos, entrarem corajosamente em toda
parte onde se abria um acesso.
De
uma fidelidade exemplar para com os príncipes e de uma obediência às leis do
Estado tão perfeita como lhes era lícito, eles lançavam de toda parte um
maravilhoso brilho de santidade, esforçavam-se por ser úteis a seus irmãos e
por atrair os outros a seguirem Nosso Senhor, dispostos entretanto a ceder o
lugar e a morrer corajosamente se não pudessem, sem vulnerar a sua consciência,
conservar as honras as magistraturas e os cargos militares.
Desse
modo, introduziram eles rapidamente as instituições cristãs não somente nos
lares domésticos, mas nos acampamentos, na cúria, e até no palácio imperial.
“Somos
apenas de ontem, e já enchemos tudo o que é vosso, vossas cidades, vossas
ilhas, vossas fortalezas, vossos municípios, vossos conciliábulos, vossos
próprios acampamentos, as tribos, as decúrias, o palácio, o senado, o fórum”
(Tertull., Apol., n. 37).
Por
isso, quando foi permitido professar publicamente o Evangelho, a fé cristã
apareceu em grande número de cidades não em vagidos ainda, porém forte e já
cheia de vigor.
57.
Nos tempos em que estamos, há toda razão para renovar esses exemplos de nossos
pais.
Antes
de tudo, é necessário que todos os católicos dignos deste nome se determinem a
ser e mostrar-se filhos dedicados da Igreja; que repilam sem hesitar tudo o que
seja incompatível com essa profissão; que se sirvam das instituições públicas,
tanto quanto o puderem fazer em consciência, em proveito da verdade e da
justiça; que trabalhem para que a liberdade não exceda o limite traçado pela
lei natural e divina; que tomem a peito reconduzir toda constituição pública a
essa forma cristã que havemos proposto para modelo.
58.
Não é coisa fácil determinar um modo único e certo para realizar esses dados,
visto ele dever convir a lugares e a tempos mui dispares entre si. Não
obstante, cumpre antes de tudo conservar a concórdia das vontades e tender à
uniformidade da acção.
Obter-se-á
seguramente esse duplo resultado se cada um tomar como regra de conduta as
prescrições da Sé Apostólica e a obediência aos bispos, que “o Espírito Santo
estabeleceu para reger a Igreja de Deus” (At 20, 28).
A
defesa do nome cristão reclama imperiosamente que o assentimento das doutrinas
ensinadas pela Igreja seja da parte de todos unânime e constante, e, por este
lado, cumpre resguardar-se ou de estar, no que quer que seja, de conivência com
as falsas opiniões, ou de combatê-las mais molemente do que comporta a verdade.
Quanto
às coisas sobre que se pode discutir livremente, será lícito discutir com
moderação e no intuito de procurar a verdade, mas pondo de lado as suspeitas
injustas e as acusações recíprocas.
59.
Para este fim, no medo de que a união dos espíritos seja destruída por
acusações temerárias, eis aqui o que todos devem admitir: a profissão íntegra
da fé católica absolutamente incompatível com as opiniões que se aproximam do
“racionalismo” e do “naturalismo”, e cujo capital é destruir completamente as
instituições cristãs e estabelecer na sociedade a autoridade do homem em lugar
da de Deus.
Não
é, tão pouco, permitido ter duas maneira de proceder: uma em particular e outra
em público, de modo a respeitar a autoridade da Igreja na vida privada e a
rejeitá-la na vida pública; isso seria aliar juntos o bem e o mal e pôr o homem
em luta consigo mesmo, quando, ao contrário, deve ele sempre ser coerente, e em
nenhum género de vida ou de negócios afastar-se da virtude cristã.
Mas
se se tratar de questões puramente políticas, do melhor género de governo, de
tal ou tal sistema de administração civil, divergências honestas são lícitas.
A
justiça não sobre, pois, que se criminem homens cuja piedade é aliás conhecida,
e cuja mente é inteiramente disposta a aceitar docilmente as decisões da Santa
Sé, por serem de opinião diferente sobre os pontos em questão.
Injustiça
muito maior ainda seria suspeitar-lhes a fé ou acusá-los de traí-la, como mais
de uma vez o havemos lamentado.
Seja
esta lei imprescritível para os escritores e sobretudo para os jornalistas.
60.
Numa luta em que os maiores interesses estão em jogo, não se deve deixar lugar algum
às dissensões intestinas ou ao espírito de partido; mas, num acordo unânime dos
espíritos e dos corações, todos devem perseguir o escopo comum, que é salvar os
grandes interesses da religião e da sociedade.
Se,
pois, no passado, tiveram lugar alguns dissentimentos, cumpre sepultá-los num
sincero esquecimento; se alguma temeridade, se alguma injustiça foi cometida,
seja qual for o culpado, cumpre tudo reparar por uma caridade recíproca tudo
redimir por um comum assalto de deferências para com a Santa Sé.
Deste
modo, obterão os católicos duas vantagens importantíssimas: a de ajudarem a
Igreja a conservar e a propagar a doutrina cristã, e a de prestarem o serviço
mais assinalado à sociedade, cuja salvação está fortemente comprometida pelas
más doutrinas e pelas más paixões.
61.
É isso, Veneráveis Irmãos, o que julgamos dever ensinar a todas as nações do
orbe católico sobre a constituição cristã dos Estados e os deveres privados dos
súditos.
Resta-Nos
implorar por ardentes preces o socorro celeste, e suplicar a Deus fazer Ele
próprio atingirem o termo desejado todos os Nossos desejos e todos os Nossos
esforços para a sua glória e para a salvação do género humano, Ele que é só
quem pode iluminar os espíritos e tocar os corações dos homens.
Como
penhor das bênçãos divinas e em testemunho da Nossa paternal benevolência,
damo-Vos na caridade do Senhor, Veneráveis Irmãos, a Vós bem como ao clero e ao
povo inteiro confiado à Vossa guarda e à Vossa vigilância, a Bênção Apostólica.
Dado
em Roma, em S. Pedro, a 1° de Novembro de 1885, oitavo ano do Nosso
Pontificado.
LEÃO
XIII, PAPA.