A vontade ou, por vezes, ânsia de possuir mais, revela um apego reprovável aos bens materiais e, muito comummente se cai num plano inclinado, sem limites nem fronteiras no qual o que se tem nunca chega ou satisfaz.
E, quando, pelos incidentes da vida, a situação se inverte, facilmente se cai no ilícito para tentar repor o que eventualmente se deixou de ganhar.
Pelo que se disse pode julgar-se que o desprendimento só é importante para aqueles que possuem algo, seja muito ou pouco.
Não é assim!
Estar preso a quimeras, situações imaginárias de desafogo, querer possuir algo que não se tem, dando voltas e reviravoltas à imaginação na tentativa de descobrir o meio de o conseguir revela um apego às coisas ou aos bens, ou seja, o contrário do desprendimento.
Vem a propósito uma história:
«Há muitos anos - mais de vinte e cinco - eu costumava passar por um refeitório de caridade, para mendigos que não comiam em cada dia outro alimento senão o que ali lhes davam.
Tratava-se de um local grande, entregue aos cuidados de um grupo de senhoras bondosas. Depois da primeira distribuição, acudiam outros mendigos, para recolher as sobras. Entre os deste segundo grupo houve um que me chamou a atenção: era proprietário de uma colher de lata! Tirava-a cuidadosamente do bolso, com avareza, olhava-a com satisfação e, quando acabava de saborear a sua ração, voltava a olhar para a colher com uns olhos que gritavam: é minha! Dava-lhe duas lambedelas para a limpar e guardava-a de novo, satisfeito, nas pregas dos seus andrajos. Efectiva mente era sua! Um pobre miserável que, entre aquela gente, companheira de desventura, se considerava rico.» ([i])
De facto parece pouca coisa, mas este pobre homem estava “agarrado” aquela colher como um bem inestimável.
O que deveria fazer?
Atirar a colher fora?
Talvez não porque o que interessa é a atitude e não tanto a acção. Esta deve ser uma consequência da atitude interior.
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Para ver desde o início, clicar aqui: http://sextodosnove-ontiano.blogspot.com/
[i] S. Josemaría, Amigos de Deus, 123
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