
Questão
111: Da acção dos anjos sobre
os homens.
Em
seguida deve tratar-se da acção dos anjos sobre os homens. E primeiro
discute-se se aqui eles podem, por virtude natural, imutar a estes. Segundo, de
que modo são enviados por Deus, para o ministério dos homens. Terceiro, como
guardam os homens.
Sobre
o primeiro ponto quatro artigos se discutem:
Art.
1 — Se o anjo pode iluminar o homem.
Art.
2 — Se os anjos podem imutar a vontade do homem.
Art.
3 — Se o anjo pode imutar a imaginação do homem.
Art.
4 — Se o anjo pode imutar os sentidos humanos.
(III
Cont. Gent., cap. LXXXI, De Verit., q. II, a. 3, De Malo, q. 16, a. 12, Quodl
IX, q. 4, a. 5).
O
primeiro discute-se assim. — Parece que o anjo não pode iluminar o homem.
1.
— Pois, o homem é iluminado pela fé, por isso Dionísio atribui a iluminação ao
batismo, que é o sacramento da fé. Ora, esta vem imediatamente de Deus,
conforme a Escritura (Ef 2, 8): É pela graça que fostes salvos,
mediante a fé, e isto não vem de vós, porque é um dom de Deus. Logo, o homem
não é iluminado pelo anjo, mas, imediatamente, por Deus.
2.
Demais. — A propósito do passo da Escritura (Rm 1, 19) — Deus lho
manifestou — diz a Glossa: não só por meio da razão natural foram manifestadas
as coisas divinas aos homens, mas também Deus lhes fez revelações, por meio das
suas obras, isto é, por meio da criatura. Ora, tanto a razão natural, como a
criatura, procedem imediatamente de Deus. Logo, Deus ilumina o homem
imediatamente.
3.
Demais. — Quem é iluminado conhece a sua iluminação. Ora, os homens não têm
consciência de serem iluminados pelos anjos. Logo, não são iluminados por eles.
Mas,
em contrário, Dionísio prova, que as revelações das coisas divinas chegam aos
homens, mediante os anjos. Ora, tais revelações são iluminações, como já se
disse (q. 106, a. 1, q. 107, a. 2). Logo, os homens são iluminados
pelos anjos.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Duas coisas levam ao fim. — A primeira é o
hábito do intelecto que o dispõe a obedecer à vontade, que tende para a verdade
divina, pois, o intelecto assente à verdade da fé não como convencido pela
razão, mas como obrigado pela vontade, pois, conforme Agostinho, só crê quem
quer. E, a esta luz a fé vem só de Deus. — Em segundo lugar, para haver fé é
necessário que as coisas que se devem crer sejam propostas ao crente. E isto opera-se
por meio do homem, enquanto que a fé é pelo ouvido, conforme diz a Escritura (Rm
10, 17), mas, principalmente, por meio dos anjos, pelos quais são
reveladas aos homens as coisas divinas. E portanto, os anjos contribuem em
alguma coisa, para a iluminação da fé. — E contudo os homens são iluminados por
eles, não só quanto ao que devem crer, mas também quanto ao que devem fazer.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — A razão natural, procedente de Deus, imediatamente, pode ser
reforçada pelo anjo, como já se disse. E, semelhantemente, pelas espécies recebidas
das criaturas, tanto mais alto se elevará à verdade inteligível, quanto mais
forte for o intelecto humano. E assim o homem é auxiliado pelo anjo, para que,
partindo das criaturas, chegue a um conhecimento divino mais perfeito.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — A operação intelectual e a iluminação podem ser consideradas de
duplo modo. De um, em relação à coisa inteligida, assim quem intelige ou é
iluminado tem de ambas estas coisas consciência, porque conhece que algo lhe é
manifestado. De outro modo, em relação ao princípio, e assim quem intelige
qualquer verdade nem por isso sabe o que seja intelecto, princípio da operação
intelectual. E semelhantemente, quem é iluminado pelo anjo nem por isso se
conhece como iluminado.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
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