Questão 84: Por meio
do que a alma, unida ao corpo, intelige as coisas corpóreas.

(Infra,
q. 89, a. 1; II Sent., dist. XX, q. 2, a. 2, ad 3; III, dist. XXXI, q. 2, a. 4;
II Cont. Gent., cap. LXXIII, LXXXI; De Verit., q. 10, a. 2, ad 7; a. 8, ad 1;
q. 19, a. 1; I Cor., cap. XIII, lect. XII; De Mem. et Remin., lect. III).
O
Sétimo discute-se assim. ― Parece que o intelecto pode inteligir, em acto,
pelas espécies que traz em si, sem se valer dos fantasmas.
1.
― Pois, o intelecto é actualizado pela espécie inteligível que o informa. Ora,
o intelecto actualizado é o inteligir mesmo. Logo, as espécies inteligíveis
bastam para o intelecto se actualizar sem se valer dos fantasmas.
2.
Demais. ― Mais depende a imaginação, do sentido, do que o intelecto, da imaginação.
Ora, esta pode imaginar em acto, estando ausentes os sensíveis. Logo, com
maioria de razão, o intelecto pode inteligir em acto, sem se valer dos
fantasmas.
3.
Demais. ― Não há fantasmas de seres incorpóreos, porque a imaginação não
transcende o tempo e o contínuo. Se, pois, o nosso intelecto não pudesse
inteligir nada em acto, sem se valer dos fantasmas, resultaria que não poderia
inteligir nada de incorpóreo. O que é claramente falso; pois inteligimos a própria
verdade, Deus e os anjos.
Mas,
em contrário, diz o Filósofo que, a alma não intelige nada sem o fantasma.
E
a razão disto é que a potência cognoscitiva é proporcionada ao cognoscível. Donde,
o intelecto angélico, totalmente separado do corpo, tem como objecto próprio à
substância inteligível separada do corpo e, nesse inteligível, conhece as
coisas materiais. Porém o intelecto humano, unido ao corpo, tem como objecto
próprio a quididade ou natureza existente na matéria corpórea; e, por tais
naturezas, do conhecimento das coisas visíveis ascende a um certo conhecimento
das invisíveis. Ora, é da essência de tal natureza existir num indivíduo, o
qual não existe sem matéria corpórea; como é da essência da natureza da pedra
existir numa determinada pedra; da essência da natureza do cavalo, existir num
determinado cavalo, e assim por diante. Donde, a natureza da pedra, ou de
qualquer coisa material, não pode ser conhecida completa e verdadeiramente,
senão enquanto conhecida como existente num ser particular. Ora, este apreendemo-lo
pelo sentido e pela imaginação. E por isso, é necessário, para inteligir em acto
o seu objecto próprio, que o intelecto se valha dos fantasmas a fim de conhecer
a natureza universal existente no particular. Se, porém o objecto próprio do
nosso intelecto fosse a forma separada, ou se as formas das coisas sensíveis
não subsistissem nos particulares, segundo Platão, não seria necessário que o
nosso intelecto sempre, inteligindo, se voltasse para os fantasmas.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― As espécies conservadas no intelecto possível
neste existem habitualmente, quando ele não intelige em acto, como já se disse
antes. Donde, para inteligirmos em acto, não basta à conservação mesma das espécies;
mas é necessário que delas nos sirvamos como convém às coisas das quais são
espécies, que são as naturezas existentes nos particulares.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Mesmo o próprio fantasma é semelhança da coisa particular; Donde,
a imaginação não precisa de nenhuma outra semelhança particular, como precisa o
intelecto.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Os seres incorpóreos, dos quais não há fantasmas, são conhecidos
por nós por comparação com os corpos sensíveis, de que existem os fantasmas.
Assim, inteligimos a verdade considerando a coisa sobre a qual procuramos a
verdade; ao passo que Deus, como diz Dionísio, o conhecemos como causa, quer
por excesso, quer pela remoção. Porém, as outras substâncias incorpóreas, não
podemos conhecê-las, no estado da vida presente, senão pela remoção ou por
alguma comparação com as coisas corpóreas. E portanto, quando de tais
substâncias inteligimos alguma coisa, necessário é que nos valhamos dos
fantasmas dos corpos, embora elas mesmas não tenham fantasmas.
Nota:
Revisão da tradução para português por ama
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