03/11/2020

Leitura espiritual Novembro 03

 

Evangelho 

 Jo VI, 52 -71

A Sua carne é comida e o Seu sangue é bebida

52 Então, os judeus, exaltados, puseram-se a discutir entre si, dizendo: «Como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?!» 53 Disse-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54 Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia, 55 porque a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue, uma verdadeira bebida. 56 Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele. 57 Assim como o Pai que me enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também quem de verdade me come viverá por mim. 58 Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele que os antepassados comeram, pois eles morreram; quem come mesmo deste pão viverá eternamente.» 59 Isto foi o que Ele disse em Cafarnaúm, ao ensinar na sinagoga. 60 Depois de o ouvirem, muitos dos seus discípulos disseram: «Que palavras insuportáveis! Quem pode entender isto?» 61 Mas Jesus, sabendo no seu íntimo que os seus discípulos murmuravam a respeito disto, disse-lhes: «Isto escandaliza-vos? 62 E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes? 63 É o Espírito quem dá a vida; a carne não serve de nada: as palavras que vos disse são espírito e são vida. 64 Mas há alguns de vós que não crêem.» De facto, Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam e também quem era aquele que o havia de entregar. 65 E dizia: «Por isso é que Eu vos declarei que ninguém pode vir a mim, se isso não lhe for concedido pelo Pai.» 66 A partir daí, muitos dos seus discípulos voltaram para trás e já não andavam com Ele.

 

Acto de fé de Pedro

67 Então, Jesus disse aos Doze: «Também vós quereis ir embora?» 68 Respondeu-lhe Simão Pedro: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna! 69 Por isso nós cremos e sabemos que Tu é que és o Santo de Deus.» 70 Disse-lhes Jesus: «Não vos escolhi Eu a vós, os Doze? Contudo, um de vós é um diabo.» 71 Referia-se a Judas, filho de Simão Iscariotes, pois esse é que viria a entregá-lo, sendo embora um dos Doze.

 


Cristo que passa

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A vida futura

 

A tarefa apostólica que Cristo atribuiu a todos os Seus discípulos produz, portanto, resultados concretos no âmbito social.

Não é admissível pensar que, para se ser cristão, seja preciso voltar as costas ao mundo, ser um derrotista da natureza humana. Tudo, até o mais pequeno dos acontecimentos honestos, encerra um sentido humano e divino.

Cristo, perfeito homem, não veio destruir o que é humano, mas enobrecê-lo, assumindo a nossa natureza humana, excepto o pecado. Veio compartilhar todos os anseios do homem, menos a triste aventura do mal.

O cristão deve encontrar-se sempre disposto a santificar a sociedade a partir de dentro, estando plenamente no mundo, mas não sendo do mundo naquilo que ele tem - não por característica real, mas por defeito voluntário, pelo pecado - de negação de Deus, de oposição à Sua amável Vontade salvífica.

 

A festa da Ascensão do Senhor sugere-nos também outra realidade: o Cristo que nos anima a esta tarefa no mundo espera-nos no Céu. Por outras palavras: a vida na terra, que amamos, não é a definitiva: porque não temos aqui cidade permanente, mas andamos em busca da futura cidade imutável.

 

Procuremos, no entanto, não interpretar a Palavra de Deus nos limites de horizontes estreitos.

O Senhor não nos impele a sermos infelizes enquanto caminhamos, esperando só a consolação no além. Deus quer-nos felizes também aqui, embora anelando o cumprimento definitivo dessa outra felicidade, que só Ele pode preencher completa e abundantemente.

 

Nesta terra, a contemplação das realidades sobrenaturais, a acção da graça nas nossas almas, o amor ao próximo como fruto saboroso do amor a Deus, supõem já uma antecipação do Céu, um começo destinado a crescer dia a dia.

Nós, cristãos, não suportamos uma vida dupla: mantemos uma unidade de vida, simples e forte, na qual se fundamentam e compenetram todas ás nossas acções.

 

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Cristo espera-nos.

Vivemos já como cidadãos do céu sendo plenamente cidadãos da Terra, no meio de dificuldades, de injustiças, de incompreensões, mas também no meio da alegria e da serenidade que dá saber-se filho amado de Deus.

Perseveremos no serviço do nosso Deus e veremos como aumenta em número e em santidade este exército cristão de paz, este povo de corredenção.

 

Sejamos almas contemplativas, com um diálogo constante, convivendo com o Senhor a toda a hora: desde o primeiro pensamento do dia ao último da noite, pondo continuamente o nosso coração em Jesus Cristo Senhor Nosso, chegando até junto d'Ele por intermédio da Nossa Mãe Santa Maria e, por Ele, ao Pai e ao Espírito Santo.

 

Se, apesar de tudo, a subida de Jesus aos Céus nos deixa na alma um amargo rasto de tristeza, acudamos a sua Mãe como fizeram os apóstolos: então, voltaram a Jerusalém... e oravam unanimemente... com Maria, a Mãe de Jesus.

 

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Os Actos dos Apóstolos, ao narrarem-nos os acontecimentos daquele dia de Pentecostes em que o Espírito Santo desceu em forma de línguas de fogo sobre os discípulos de Nosso Senhor, levam-nos a assistir à grande manifestação do poder de Deus com que a Igreja iniciou a sua caminhada por entre as nações.

 A vitória que Cristo obtivera sobre a morte e sobre o pecado - com a Sua obediência, a Sua imolação na Cruz e a Sua Ressurreição - revelou-se então em todo o seu esplendor divino.

 

Os discípulos, que já tinham sido testemunhas da glória do Ressuscitado, experimentaram em si a força do Espírito Santo: as suas inteligências e os seus corações abriram-se a uma nova luz.

Tinham seguido Cristo e recebido com fé a sua doutrina; mas nem sempre conseguiam penetrar totalmente no sentido desta.

Era necessário que viesse o Espírito de Verdade para lhes fazer compreender todas as coisas.

Sabiam que só em Jesus podiam encontrar palavras de vida eterna e estavam dispostos a segui-Lo e a dar a vida por Ele; mas eram fracos e, quando chegou a hora da provação, fugiram, deixaram-nO só.

No dia de Pentecostes tudo isso passou: o Espírito Santo, que é espírito de fortaleza, tornou-os firmes, seguros, audazes.

A palavra dos Apóstolos ressoa então, forte e vibrante, pelas ruas e praças de Jerusalém.

 

Os homens e as mulheres vindos das mais diversas regiões, que naqueles dias povoam a cidade, escutam assombrados.

“Partos, medos e elamitas, e os que habitam a Mesopotâmia, a Judeia e a Capadócia, o Ponto e a Ásia, a Frígia e a Panfília, o Egipto e várias partes da Líbia que é vizinha de Cirene, e os que vieram de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, todos os ouvimos falar, nas nossas próprias línguas, das maravilhas de Deus”.

Estes prodígios, que se realizam diante dos seus olhos, levam-nos a prestar atenção à pregação apostólica.

O mesmo Espírito Santo, que actua nos discípulos do Senhor, tocou-lhes também nos corações e conduziu-os à Fé.

 

Conta-nos São Lucas que, depois de São Pedro ter falado, proclamando a Ressurreição de Cristo, muitos dos que o rodeavam se aproximaram, perguntando: que havemos de fazer, irmãos?

E o Apóstolo respondeu-lhes: “Fazei penitência, e cada um de vós seja baptizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo”.

E o texto sagrado termina dizendo-nos que “nesse dia se incorporaram na Igreja cerca de três mil pessoas”.

 

A vinda solene do Espírito Santo no dia de Pentecostes não foi um acontecimento isolado.

Quase não há uma página dos Actos dos Apóstolos em que se não fale d'Ele e da acção pela qual guia, dirige e anima a vida e as obras da primitiva comunidade cristã.

É Ele que inspira a pregação de São Pedro, que confirma na fé os discípulos, que sela com a Sua presença o chamamento dirigido aos gentios e, que envia Saulo e Barnabé para terras distantes, a fim de abrirem novos caminhos à doutrina de Jesus.

Numa palavra, a Sua presença e a Sua actuação dominam tudo.

 

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O renascimento baptismal

 

Esta realidade profunda que o texto da Sagrada Escritura nos dá a conhecer não é uma simples recordação do passado, de uma espécie de idade de ouro da Igreja, perdida na História.

Por cima das misérias e dos pecados de cada um de nós, continua a ser a realidade da Igreja de hoje e da Igreja de todos os tempos.

Anunciou o Senhor aos seus discípulos: «Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco eternamente».

Jesus cumpriu as Suas promessas: ressuscitou, subiu aos Céus e, em união com o Eterno Pai, envia-nos o Espírito Santo para nos santificar e nos dar a vida.

 

A força e o poder de Deus iluminam a face da Terra.

O Espírito Santo continua a assistir à Igreja de Cristo, para que ela seja - sempre e em tudo - sinal erguido diante das nações, anunciando à Humanidade a benevolência e o amor de Deus.

Por maiores que sejam as nossas limitações, nós, homens, podemos olhar com confiança para os Céus e sentir-nos cheios de alegria: Deus ama-nos e liberta-nos dos nossos pecados.

A presença e a acção do Espírito Santo na Igreja são o penhor e a antecipação da felicidade eterna, dessa alegria e dessa paz que Deus nos prepara.

 

Também nós, tal como aqueles primeiros que se aproximaram de São Pedro no dia de Pentecostes, fomos baptizados.

 No baptismo, o Nosso Pai, Deus, tomou posse das nossas vidas, incorporou-nos na vida de Cristo e enviou-nos o Espírito Santo.

Diz-nos a Sagrada Escritura: ”O Senhor, salvou-nos fazendo-nos renascer pelo baptismo, renovando-nos pelo Espírito Santo, que Ele difundiu sobre nós abundantemente por Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados pela Sua graça, sejamos herdeiros da vida eterna, segundo a esperança”.

 

A experiência da nossa debilidade e das nossas faltas, a desedificação que pode produzir o espectáculo doloroso da pequenez ou mesmo mesquinhez de alguns que se chamam cristãos, o aparente fracasso ou a desorientação de algumas iniciativas apostólicas, tudo isso - a comprovação da realidade do pecado e das limitações humanas - pode constituir, no entanto, uma provação para a nossa fé e fazer com que se insinuem em nós a tentação e a dúvida: onde estão a força e o poder de Deus?

É o momento de reagirmos, de pormos em prática da maneira mais pura e firme a nossa esperança e, portanto, de procurarmos ser mais firme na nossa fidelidade.

 

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