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A VIDA CRISTÃ NÃO É UM COFRE! - (2015)

Por vezes fazemos da nossa vida cristã um cofre!

Tanto a queremos proteger de influências exteriores, que a fechamos ao mundo, que a escondemos no nosso dia-a-dia, que fazemos dela uma relação quase exclusiva entre Deus e nós, onde outros não entram.

E, no entanto, a vida cristã é essencialmente comunitária, é Igreja, ou seja, assembleia de fiéis, pois se assim não fosse, como poderíamos dar testemunho cristão, como chamar outros a Deus, na certeza de que Ele se quer servir de nós para essa missão?

A nossa relação com Deus, a nossa vida cristã deve revestir-se da certeza de que Ele está sempre connosco, e assim, deve enformar de tal modo a nossa vida diária, que não devemos temer a influência do mundo, pois na comunhão com Cristo e com os irmãos, reside a nossa força para resistir ao pecado.

O mundo é bom, é belo, é uma criação de Deus e como tal o mal não está no mundo, mas sim naquilo que o homem pecador transforma no mundo, e o afasta de Deus.

A Confissão/Reconciliação é realmente uma relação inteiramente a dois, entre o pecador e Deus/sacerdote, mas é celebrada em Igreja e leva sempre à Eucaristia, à Comunhão de Cristo Sacramentado, e essa Comunhão só se torna completa verdadeiramente, quando se torna também comunhão com os outros, amando-nos uns aos outros como Ele nos ama.

Sim, a nossa vida cristã deve ser um cofre para proteger o tesouro mais sagrado da fé em Deus, mas deve ter como combinação de abertura a oração, a Confissão, a Eucaristia, a Comunhão, combinação essa que nos torna sempre abertos ao mundo, aos outros, precisamente porque estamos abertos a Deus.

Joaquim Mexia Alves

Pequena agenda do cristão

Quinta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?






Temas para reflectir e meditar


Dissertação pateta

Depois da reunião magna dos Anjos da Guarda, calhou a um deles apresentar ao Senhor as principais conclusões a que tinham chegado.
Nada de extraordinário ou reivindicativo, claro que não… mas antes as preocupações emergentes das situações diárias que ultimamente os “seus protegidos” estão enfrentar.

Resumia-se a preocupação a uma única coisa, seriamente ponderada e de equanimidade de opiniões.
A principal preocupação dos Anjos da Guarda era algo que tinha a ver com os chamados tempos modernos do mundo informático.
Os seu “guardados” têm-se visto assediados por todos os lados pelas artimanhas do mundo informático sobretudo no que corresponde aos chamados meios de comunicação integral. Como, por exemplo, o Facebook.

Alguns tinham a ventura de aqueles por quem eram responsáveis serem pessoas prevenidas, e pouco atreitas a essas “novidades” e, sobretudo contidas na utilização desses meios.

Outros, porém, estavam preocupadíssimos porque aqueles que tinham sob a sua guarda andavam como que encantados ou maravilhados com essa coisa extraordinária de puderem comunicar com conhecidos e desconhecidos, fosse quem fosse, revelando intimidades, contando factos da vida pessoal, dando conselhos, alvitres, sugestões… enfim uma espécie de consultório gratuito e sem peso nem medida.

Os Anjos são, como sabemos muito bem, seres superiores, inteligentes e capazes de se adaptarem a qualquer situação que possa ocorrer por mais estranha ou invulgar que aos nossos olhos humanos possa ocorrer.

Mas, aqui, neste assunto específico, sentiam como que uma barreira que sistematicamente lhes era levantada a cada momento pelos seus próprios “protegidos” que nem sequer davam qualquer atenção às suas insinuações e inspirações como se, deveras, estivessem obcecados por essa maravilha que chamavam de Facebook.

O que fazer»? Como intervir?

Claro que os Santos Anjos têm poderes extraordinários de intervenção mas não podem, de modo nenhum, intervir e muito menos coarctar a liberdade de cada ser sob a sua guarda e responsabilidade.

Exactamente porque o fenómeno estava a tomar proporções extensíssimas, resolveram ter essa ”reunião”, nomear um “porta-voz” e apresentar a questão a Nosso Senhor.

Evidentemente que, o Senhor que sabe tudo, não teve nenhuma surpresa - talvez até estivesse algo curioso porque é que tinham levado tanto tempo a examinar e a expor a questão.

O encontro (reunião) demorou imenso tempo o que, na eternidade, quer dizer um lapso de tempo, um micro-segundo. Mas, seja como for, foi muito importante porque o que o Senhor disse, como sempre, definitivo e sem requebros, foi exactamente o que os Santos Anjos da Guarda esperavam ouvir.

E, o Senhor disse: ‘Fazei o que estiver ao vosso alcance para perceber esses mecanismos que os homens inventaram, e tentai que não se deixem arrastar por eles além do razoavelmente digno e moralmente aceitável. Atenção porém que, como muito bem sabeis, se um mal aparente há sempre um bem a retirar’.

Dito isto acabou a “reunião” e os Santos Anjos da Guarda resolveram de comum acordo, como sempre, tornarem-se peritos na matéria – embora coisas tão especificamente terrenas a alguns repugnasse – de forma a poderem sem nenhuma dificuldade, insinuar o seu conselho e guia aos que estão sob a sua guarda.

Como “perito”, digamos assim, foi nomeado o Arcanjo São Rafael pela sua dedicação “especial” à juventude mais atreita – talvez – aos atractivos desses meios de comunicação modernos.

Estejamos, todos, portanto, descansados. Antes de “entrar” nessas vias de comunicação massivas – por muitos “seguidores e “gostos” que possamos ter, - perguntemos antes ao Nosso Anjo da Guarda o que fazer.
Ficaremos, todos, surpreendidos pelas suas respostas.

AMA, reflexões, 16.06.2018


Evangelho e comentário


Tempo comum


São João Crisóstomo – Doutor da Igreja

Evangelho: Lc 6, 27-38

27 «Digo-vos, porém, a vós que me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, 28 abençoai os que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam. 29 A quem te bater numa das faces, oferece-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, não impeças de levar também a túnica. 30 Dá a todo aquele que te pede e, a quem se apoderar do que é teu, não lho reclames. 31 O que quiserdes que os outros vos façam fazei-lho vós também. 32 Se amais os que vos amam, que agradecimento mereceis? Os pecadores também amam aqueles que os amam. 33 Se fazeis bem aos que vos fazem bem, que agradecimento mereceis? Também os pecadores fazem o mesmo. 34 E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, que agradecimento mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem outro tanto. 35 Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca. Então, a vossa recompensa será grande e sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é bom até para os ingratos e os maus. 36 Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso.» 37 «Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. 38 Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros será usada convosco.»

Comentário:

A Liturgia prossegue no capítulo 6 de São Lucas o discurso de Jesus que, como já o apelidámos, é uma catequese muito específica e completa aos Seus discípulos.

E, quando lhe chamo “completa”, é porque realmente considero que nada fica por dizer, nenhum aviso ou recomendação fica por dar no que respeita ao comportamento que o Senhor espera daqueles mais próximos que serão os primeiros a espalhar por toda a parte o anúncio do Reino de Deus.

Sempre, subjacente a todas as Suas palavras, está bem implícito o AMOR, amor a Deus e amor aos outros.

E não restem dúvidas que será o Amor que há-de conduzir todos estes e os levará ao cumprimento cabal da sua missão evangelizadora.

(AMA, comentário sobre Lc 6, 27-38, 19.05.2018)




Fazendo com amor as pequenas coisas


De longe – além, no horizonte – parece que o céu se une à terra. Não te esqueças de que, na realidade, onde a Terra e o Céu se unem é no teu coração de filho de Deus. (Sulco, 309)

Esta doutrina da Sagrada Escritura, que se encontra, como sabeis, no próprio cerne do espírito do Opus Dei, há-de levar-vos a realizar o vosso trabalho com perfeição, a amar a Deus e os homens fazendo com amor as pequenas coisas da vossa jornada habitual, descobrindo esse quê divino que está encerrado nos pormenores. Que bem se enquadram aqui aqueles versos do poeta de Castela: Devagar, e boa letra;/que fazer as coisas bem/ importa mais que fazê-las

Asseguro-vos, meus filhos, que, quando um cristão realiza com amor a mais intranscendente das acções diárias, ela transborda da transcendência de Deus. Por isso vos tenho repetido, com insistente martelar, que a vocação cristã consiste em fazer poesia heróica da prosa de cada dia. Na linha do horizonte, meus filhos, parecem unir-se o céu e a terra. Mas não; onde se juntam deveras é nos vossos corações, quando viveis santamente a vida de cada dia... (Temas Actuais do Cristianismo, 116)

Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá


Cristo que passa 

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Colírio nos olhos

O pecado dos fariseus não consistia em não verem Deus em Cristo, mas em encerrarem-se voluntariamente em si mesmos, em não tolerarem que Jesus, que é luz, lhes abrisse os olhos.
Este ensimesmamento tem resultados imediatos na vida de relação com os nossos semelhantes.
O fariseu que, por se considerar a si próprio como luz, não deixa que Deus lhe abra os olhos é o mesmo que trata soberba e injustamente o próximo: graças te dou, ó Deus, porque não sou como os outros homens: ladrões, injustos, adúlteros, nem como este publicano, reza ele.
E ao cego de nascença, que persiste em contar a verdade da cura milagrosa, ofendem-no: Tu nasceste coberto de pecados e queres ensinar-nos? E lançaram-no fora.

Entre os que não conhecem Cristo há muitos homens honrados que, por elementar circunspecção, sabem comportar-se com delicadeza. São sinceros, cordiais, educados.
Se eles e nós não nos opusermos a que Cristo cure a cegueira que ainda existe nos nossos olhos, se permitirmos que o Senhor nos aplique esse lama que, nas suas mãos, se converte no mais eficaz colírio, compreenderemos as realidades terrenas, vislumbraremos as eternas com uma luz nova, a luz da fé, e adquiriremos um olhar limpo.

Esta é a vocação do cristão, ou seja, a plenitude dessa caridade que é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não é temerária; não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.

A caridade de Cristo não é apenas um bom sentimento em relação ao próximo. Não se limita ao gosto pela filantropia.
A caridade, infundida por Deus na alma, transforma a partir de dentro a inteligência e a vontade, fundamenta sobrenaturalmente a amizade e a alegria de fazer o bem.

Contemplai a cena da cura do coxo, que os Actos dos Apóstolos nos contam.
Subiam Pedro e João ao templo e, ao passarem, encontraram um homem sentado à porta, que era coxo desde o seu nascimento.
Tudo recorda a cura do cego de que falávamos.
Mas agora os discípulos não pensam que a desgraça se deva aos pecados pessoais do doente ou às faltas dos seus pais.
E dizem-lhe: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda. Antes, manifestavam incompreensão, agora misericórdia; antes, julgavam com temeridade, agora curam milagrosamente em nome do Senhor.
Sempre Cristo, que passa!
Cristo, que continua a passar pelas ruas e pelas praças do mundo, através dos seus discípulos, os cristãos. Peço-Lhe fervorosamente que passe pela alma de alguns dos que me escutam nestes momentos.

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Respeito e caridade

Surpreendia-nos ao princípio a atitude dos discípulos de Jesus diante do cego de nascimento.
Estavam na linha daquele rifão infeliz: pensa mal e acertarás.
Depois, quando conhecem melhor o Mestre, quando se apercebem do que significa ser cristão, as suas opiniões são inspiradas pela compreensão.

Em qualquer homem - escreve S. Tomás - existe algum aspecto pelo qual os outros podem considerá-lo como superior, conforme as palavras do Apóstolo: "levados pela humildade, julgai-vos uns aos outros como superiores" [1].
De acordo com isto, todos os homens devem honrar-se mutuamente. A humildade é a virtude que nos faz descobrir que as manifestações de respeito pela pessoa - pela sua honra, pela sua boa-fé, pela sua intimidade - não são convencionalismos exteriores, mas as primeiras manifestações da caridade e da justiça.

A caridade cristã não se limita a socorrer o necessitado de bens económicos; leva-nos, antes de mais nada, a respeitar e a defender cada indivíduo enquanto tal, na sua intrínseca dignidade de homem e de filho do Criador.
Por isso, os atentados à pessoa - à sua reputação, à sua honra - provam, em quem os comete, que não professa ou não pratica algumas verdades da nossa fé cristã e, sempre, a carência de um autêntico amor de Deus.
A caridade com que amamos a Deus e ao próximo é a mesma virtude, porque a razão de amar o próximo é precisamente Deus e amamos a Deus quando amamos o próximo com caridade.

Espero que sejamos capazes de tirar consequências muito concretas deste bocado de conversa na presença do Senhor, principalmente o propósito de não julgar os outros, de não os ofender sequer com a dúvida, de afogar o mal em abundância de bem, semeando ao nosso redor a convivência leal, a justiça e a paz, e a decisão de nunca nos entristecermos se a nossa conduta recta for mal entendida por outros, se o bem que - com a ajuda contínua do Senhor - procuramos realizar, for interpretado retorcidamente, atribuindo às nossas intenções, através de um processo ilícito, maus desígnios próprios de uma conduta dolosa e simuladora.
Perdoemos sempre, com um sorriso nos lábios.
Falemos com clareza, sem rancor, quando pensarmos em consciência que devemos falar.
E deixemos tudo nas mãos do Nosso Pai, Deus, com um divino silêncio - Iesus autem tacebat, Jesus, porém, estava calado -, se se trata de ataques pessoais, por mais brutais e indecorosos que sejam.
Preocupemo-nos apenas em fazer boas obras, pois Ele encarregar-se-á de que elas brilhem diante dos homens.

73
          
Como toda a festa cristã, esta que agora celebramos é especialmente uma festa de paz.
Os ramos, com o seu antigo simbolismo, evocam aquela cena do Génesis: depois de ter esperado outros sete dias, novamente deitou a pomba fora da arca.
E ela voltou a ele pela tarde trazendo no bico um ramo de oliveira com folhas verdes.
Entendeu, pois, Noé que as águas tinham cessado sobre a terra.
Agora recordamos que a aliança entre Deus e o seu povo é confirmada e estabelecida em Cristo, porque Ele é a nossa paz.
Nessa maravilhosa unidade e recapitulação do velho no novo, que caracteriza a liturgia da nossa Santa Igreja Católica, lemos no dia de hoje estas palavras de profunda alegria: os filhos dos hebreus, levando ramos de oliveira, saíram ao encontro do Senhor, aclamando e dizendo: glória nas alturas.

A aclamação a Jesus Cristo une-se, na nossa alma, com aquela que saudou o seu nascimento em Belém.
E, à sua passagem, conta-nos S. Lucas, as multidões estendiam os seus mantos no caminho. E, quando já ia chegando à descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos seus discípulos começou alegremente a louvar a Deus em altas vozes por todas as maravilhas que tinham visto, dizendo: Bendito o Rei que vem em nome do Senhor. Paz no Céu e glória nas alturas.

Paz na terra

Pax in coelo, paz no céu.
Mas olhemos também o mundo: porque é que não há paz na terra? Não, não há paz.
Há somente aparências de paz, equilíbrio de medo, compromissos precários.
Nem sequer há paz na Igreja, sulcada por tensões que retalham a branca túnica da Esposa de Cristo.
Não há paz em muitos corações que tentam em vão compensar a intranquilidade da alma com a distracção contínua, com a pequena satisfação dos bens que não saciam, porque deixam sempre o travo amargo da tristeza.

As folhas de palma, escreve Santo Agostinho, são o símbolo da homenagem, porque significam vitória.
O Senhor estava a momentos da vitória, morrendo na Cruz.
Ia triunfar, no sinal da Cruz, sobre o Diabo, príncipe da morte.
Cristo é a nossa paz porque venceu; e venceu porque lutou, no duro combate contra a maldade acumulada pelos corações humanos.

Cristo, que é a nossa paz, é também o Caminho. Se queremos a paz, temos de seguir os seus passos.
A paz é consequência da guerra, da luta, dessa luta ascética, íntima, que cada cristão deve sustentar contra tudo aquilo que, na sua vida, não é de Deus: contra a soberba, a sensualidade, o egoísmo, a superficialidade, a estreiteza do coração.
É inútil clamar pelo sossego exterior se falta tranquilidade nas consciências, no fundo da alma, porque é do coração que saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as fornicações, os furtos, os falsos testemunhos, as blasfémias.

74
          
Luta, compromisso de amor e de justiça

Mas não parece antiquada esta linguagem?
Porventura não foi substituída por um vocabulário de moda feito de claudicações pessoais encobertas com uma roupagem pseudo-científica?
Não existirá hoje um acordo tácito em que os bens reais são apenas o dinheiro que tudo compra, o poder temporal, a astúcia para ficar sempre por cima, a sabedoria humana que se autodefine como adulta e pensa ter superado o sagrado?

Não sou nem nunca fui pessimista, porque a fé me diz que Cristo venceu definitivamente e nos deu, como prémio da sua conquista, um mandato, que é também um compromisso: lutar.
Nós, cristãos, temos um empenho de amor, que aceitamos livremente com a chamada da graça divina: uma obrigação que nos anima a lutar com tenacidade.
Sabemos que somos tão frágeis como os outros homens, mas também não podemos esquecer-nos de que, se usarmos os devidos meios, seremos o sal, a luz e a levedura do mundo.
Seremos o consolo de Deus.

O nosso empenho de perseverar com firmeza neste propósito de Amor é, além disso, um dever de justiça.
E a matéria desta exigência, comum a todos os fiéis, traduz-se numa batalha constante.
A tradição da Igreja sempre se referiu aos cristãos como milites Christi, soldados de Cristo; soldados que dão serenidade aos outros enquanto combatem continuamente contra as suas próprias más inclinações.
Às vezes, por falta de sentido sobrenatural, por uma descrença prática, não querem compreender de forma alguma como milícia a vida na Terra.
Insinuam maliciosamente que, se nos consideramos milites Christi, há o perigo de utilizarmos a fé para fins temporais de violência, de sedições.
Esse modo de pensar é um triste e pouco lógico simplismo, que costuma andar unido ao comodismo e à cobardia.

Nada há de mais estranho à fé católica do que o fanatismo.
Este conduz a estranhas confusões, com os mais diversos matizes, entre o que é profano e o que é espiritual.
Tal perigo não existe, se a luta se entende como Cristo no-la ensinou, isto é, como guerra de cada um consigo mesmo, como esforço sempre renovado por amar mais a Deus, por desterrar o egoísmo, por servir todos os homens.
Renunciar a esta contenda, seja com que desculpa for, é declarar-se de antemão derrotado, aniquilado, sem fé, com a alma caída e dissipada em complacências mesquinhas.

Para o cristão, o combate espiritual diante de Deus e de todos os irmãos na fé é uma necessidade, uma consequência da sua condição. Por isso, se alguém não luta, está a trair Jesus Cristo e todo o Corpo Místico, que é a Igreja.

(continua)