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27/04/2011

Diálogos apostólicos

Diálogos



Mas…Jesus não disse que os últimos são os primeiros?


Não disse exactamente isso.

O que afirmou foi: «Muitos dos últimos serão os primeiros» [i] o que é completamente diferente.














ama , 2011.04.27




[i] Mt 19, 30

Só peço que olheis para Ele


Obras de misericórdia
Caravaggio
Esta frase de Santa Teresa de Jesus sempre criou em mim uma certa mossa interior. Olhar para Cristo, fazer-lhe perguntas, sobre o que Ele faria em situações idênticas às minhas, deixar-me acompanhar por Ele, sempre foi para mim motivo de paz interior e motor do meu agir...
Mas ultimamente, quando leio os escritos de Santa Teresa, quando peregrino até Ávila, a sua terra Natal, esta frase tem mexido comigo a outro nível: ao nível dos meus irmãos mais carenciados. “Olhar para Ele” não só quando rezo mas sobretudo quando me “cruzo” com  Ele pelos caminhos da vida.

“Só peço que olheis para Ele”
Nesta frase simples de Teresa escuto hoje o apelo:
Olha para Ele que vive sozinho, abandonado, numa casa sem condições, com uma reforma de 150€ que não dá para pagar  sequer o que gasta na farmácia e o que deve na mercearia. E ao olhar para Ele, olho-o concretamente, na senhora que visito todas as semanas e que conheço pelo nome, que não digo por respeito a esta senhora, que não tem apoio de viuvez porque o marido trabalhou sempre para um latifundiário que nunca lhe fez descontos, que não teve filhos, mas que educou duas sobrinhas que hoje “não a conhecem”, não ajudam nem visitam. Se não fosse o MTA que “encarnado” nos seus voluntários vai passando pela casa desta senhora, o que seria deste “Cristo” abandonado que vive todo dia acompanhada pelas imagens de uma televisão antiga que quase não funciona e que, pela sua surdez não lhe ouve as palavras? Quer estar na sua casinha e ainda bem porque se batemos à porta de uma Instituição para idosos a casa está sempre cheia se não tem por traz o FC (quero dizer factor cunha) ou um bom punhado de Euros para dar de “entrada”.

“Só peço que olheis para Ele”
E “olhei para Ele” na “Alexandra”, 52 anos, cancerosa, numa minúscula casa arruinada, um marido alcoólico, que lhe bate, que a humilha chamando-lhe nomes, que não me atrevo a deixar aqui, perante a queda do cabelo, efeito da quimioterapia, um filho toxicodependente que lhe rouba a comida, que não a deixa dormir, que a engana e maltrata e se ri das metástases exteriores que a mãe transporta no seu corpo.
Sento–me a seu lado, olho para ela, ponho as suas mães entre as minhas, ficamos em silêncio, e rezo como se estivesse a “olhar para Ele”.
Quanto  sofres Senhor. Põe o Amor no meu coração para que saiba olhar para Ti, sofredor na “Alexandra” e amar – Te nela.

Quão atual é hoje o grito de Teresa de Jesus:

Só peço que olheis para Ele”!
maria de fátima magalhães, STJ, in Ecclesia, 2011.04.27

A árvore da Páscoa


Árvore da vida
A raiz é o egoísmo. O fruto é a solidão. O tronco, ramos, folhas e flores são muitos. Vários com nomes maravilhosos: direitos humanos, liberdade individual, realização pessoal. Envenenados pela raiz, os grandes valores apodrecem e infectam. O fruto é sempre a solidão.

Vimos o desejo nobre de a igualdade social acabar nos morticínios da guilhotina jacobina; o desejo sublime da afirmação cultural nacional cair na chacina do holocausto nazi; a ânsia magnífica da justiça económica descambar no horror do gulag soviético. Quanto mais elevados os propósitos, mais monstruosas as aberrações distorcidas pela seiva peçonhenta da raiz soberba.

O pior de todos os ramos coube-nos em sorte. Pior porque toca o mais íntimo do ser humano, a família. Corrompidos os mecanismos sociais no século XVIII, os regimes políticos no século XIX, os sistemas económicos no século XX, hoje as entranhas egoístas da árvore atacam a vida pessoal. Entretanto, a humanidade já expeliu muito do veneno dos outros ramos. Ninguém defende a sociedade sem classes, os regimes perfeitos, a economia colectiva. Apesar dos belos ideais, a desgraça dessas concepções egoístas está à vista. Agora todas as forças se dirigem a esfarrapar os laços familiares, as mais íntimas fibras do nosso ser.

A argumentação é a mesma de jacobinos, nazis e comunistas, aplicada à vida íntima. Pretende-se, como então, defender a liberdade, impor a igualdade, forçar a realização pessoal. Por baixo, como antes, sente-se a cauda viperina do egoísmo.

O amor conjugal é valor que todos defendem. Mas, como os direitos individuais de sucesso pessoal se sobrepõem a tudo, tem de acabar na ruptura e divórcio. Como o indivíduo é soberano, a família não se pode defender dos seus caprichos. A lei, em nome da liberdade, acode promovendo a precariedade. Torna-se mais fácil dissolver um casamento que uma sociedade comercial ou contrato de trabalho.

A fecundidade e felicidade das crianças é propósito universal. Mas, como os projectos de consumo ou carreira têm precedência, o filho transforma-se num inimigo a abater. Em relação tão íntima a única solução é a morte. E o Estado lá está para fornecer abortos subsidiados. Os embriões passam de espécie protegida a vírus de extirpar.

A natureza é valor supremo que todos apoiam ecologicamente. Toda a natureza, menos a humana, porque essa limita a igualdade de género. Que é a natureza face ao império dos sentidos? Como o capricho pessoal afinal tem mais direitos que a realidade congénita, o Estado iguala todas as perversões como aceitáveis e equivalentes.

O efeito comum é sempre a agressão à família. O resultado é sempre a solidão. Como a carreira acaba na reforma, a beleza fenece com a idade, a vitalidade se gasta no tempo, todos acabam sós, autónomos, fechados, contemplando uma colecção de caprichos momentâneos, prazeres fugidios, aventuras ocasionais, rupturas, infidelidades, traições. A conclusão é a velhice solitária, vítima do egoísmo que a isolou. Alguns ainda se espantam dos que morrem anónimos: "Uma das pobrezas mais profundas que o homem pode experimentar é a solidão. Vistas bem as coisas, as outras pobrezas, incluindo a material, também nascem do isolamento, de não ser amado ou da dificuldade de amar" (Bento XVI "Caritas in Veritate"53).

Os propósitos anunciados eram grandiosos. O mal estava na raiz egoísta, na origem interesseira, na estrutura auto-suficiente. O mal vinha da base, das entranhas. Que fazer a uma árvore envenenada na estirpe? A única solução é enxertar um galho saudável e esperar que a seiva sadia se espalhe no organismo.

Isso foi o que aconteceu e que nós vos anunciamos. Na Páscoa um ramo de puro amor foi pregado na árvore da morte. Agora, além da seiva do orgulho egoísta, circula no tronco, ramos, flores e folhas um fluxo de divina caridade. O fruto é a união. Isso salvou a sociedade pela subsidiariedade, a política pela democracia, a economia pela solidariedade. Isso salvará a família dos horrores com que o nosso tempo a persegue. Só o amor vence a solidão.

JOÃO CÉSAR DAS NEVES

Fonte: DN 2011-04-25

TEXTOS DE SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ

“Onde há humildade há sabedoria”
"Quia respexit humilitatem ancillae suae" – porque olhou para a baixeza da sua escrava... Cada vez me persuado mais de que a humildade autêntica é a base sobrenatural de todas as virtudes. Fala com Nossa Senhora, para que Ela nos ensine a caminhar por esta senda. (Sulco, 289)


Se recorrermos à Sagrada Escritura, veremos como a humildade é um requisito indispensável para nos dispormos a ouvir Deus. Onde há humildade há sabedoria, explica o livro dos Provérbios. A humildade consiste em nos vermos como somos, sem disfarces, com verdade. E ao compreendermos que não valemos quase nada, abrimo-nos à grandeza de Deus. Esta é a nossa grandeza.

Que bem o compreendia Nossa Senhora, a Santa Mãe de Jesus, a criatura mais excelsa de todas as que existiram e hão-de existir sobre a terra! Maria glorifica o poder do Senhor, que depôs do trono os poderosos e elevou os humildes. E canta que n'Ela se realizou uma vez mais esta providência divina: porque olhou para a baixeza da sua escrava; portanto, eis que, de hoje em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada.

Maria manifesta-se santamente transformada, no seu coração puríssimo, em face da humildade de Deus: o Espírito Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. E, por isso mesmo, o Santo que há-de nascer de ti será chamado Filho de Deus. A humildade da Virgem é consequência desse abismo insondável de graça, que se opera com a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade nas entranhas da sua Mãe sempre Imaculada. (Amigos de Deus, n. 96)






© Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet

A metamorfose (Afonso Cabral)

Navegando pela minha cidade
Todas as civilizações começam da mesma maneira: substituindo outra, preenchendo um vazio, ocupando o espaço deixado pela que se desfez; que se arruinou ou se esgotou. E as suas quedas são sempre tão mais ruinosas quão mais grandiosas elas foram.

Kafka[1] escreveu um livro intitulado A Metamorfose em que relata como um homem, de um dia para o outro se vai transformando num insecto monstruoso. Esta metamorfose física acaba por a pouco e pouco lhe alterar também o comportamento, os sentimentos e o carácter. Não tem consciência da sua transformação e desespera perante o absurdo da vida.

Penso que a nossa civilização está em acelerado processo de metamorfose. Metamorfose dos principais valores que estiveram no fundamento da chamada civilização cristã ou ocidental.

A instituição social conhecida por família passou a chamar-se família tradicional. Assim sendo, quer dizer que há outras variantes de família. Isto é, há uma metamorfose da célula base da organização do tecido social para uma forma de organização semelhante à tribal.

A religião, ou seja, o sagrado e a consequência da fé, passou a ser intolerável e banida da civitas. Isto é, há uma metamorfose da transcendência para a experiência e da tolerância para o fundamentalismo laicista.

A democracia inclusiva e solidária, passou a ser uma ditadura da mediocridade e exclusiva. Isto é, há uma metamorfose do nós para o eu; do povo para a corporação.

Admito que estas metamorfoses sejam causa e efeito de uma cultura que, adormecida numa paz podre, vive à flor da vida e na superfície do sentimento. De uma cultura que tem em largura e comprimento o que lhe falta em profundidade, e por isso é plana. Arrasou tudo e nivelou-se pela metade. Deixando de sonhar com o cume rasteja na planície.

Não se trata de uma geração e por isso as consequências são mais graves; são civilizacionais.

Deixou de acreditar no amor e morre por falta dele.

Por preguiça, instalou-se na poltrona da dúvida sistemática, resultando que todos os valores passaram a ser subjectivos e por isso deixaram de o ser. Porque sem ordem, hierarquização e sistematização tudo se nivela e tudo se igualiza.

 E quando tudo é igual em absoluto nada tem valor relativo.

Tudo reporta à consciência, mas não se cuida de a formar. E assim a moralidade das coisas está na sua legalidade e nos seus fins que sempre justificam os meios.

O sentimento deixou de ser um efeito moral para ser uma necessidade existencial. E assim é-se sentimentaloide em vez de sentimental.
Dá-se todo o primado à razão, mas exigem-se os sentidos para o cumprimento de qualquer hipótese de realidade sobrenatural.

A consequência é uma imensa angústia e revolta existencial ou então a indiferença perante tudo e todos. E a indiferença é a essência da desumanidade. Sendo o Homem a medida de todas as coisas e o centro do universo, odeia tudo o que não se lhe sujeita.

Em plena metamorfose está-se no vazio; suspensos na vertigem do meio da ponte e do precipício. E tudo oscila e muitos se perdem.
Mas do outro lado do rio tormentoso há uma margem segura e certamente melhor.

Acredito na humanidade. A metamorfose pode ser dolorosa, mas desejo mais a possível verdade do futuro do que muitas falsidades do passado.

Afonso Cabral


[1] Franz Kafka (1883 – 1924)

Confidências de alguém - 10

Confidências de Alguém

Nota de AMA: 
Estas “confidências” têm, obviamente, um autor, que não se revela; foram feitas em tempo indeterminado, por isso não se lhes atribui a data. O estilo discursivo revela, obviamente, que se tratam de meditações escritas ao correr da pena. A sua publicação deve-se a ter considerado que, nelas se encontram muitas situações e ocorrências que fazem parte do quotidiano que, qualquer um, pode viver.



Aniversário 

Aqui estou eu, com cinquenta anos de vida.
Ou seja, meio século!
Esta palavra solene dá talvez, melhor a dimensão de uma realidade todavia difícil de aceitar.
Tudo passou tão depressa...
Tenho muito vivas e nítidas, cenas de toda uma vida, como que um filme que vertiginosamente passa na minha memória e penso que a maravilha que é um ser humano, a sua complexidade e a sua capacidade de síntese e, ao mesmo tempo, de resistência, são entre muitas outras, características inigualáveis no mundo existente.
Só um Deus poderosíssimo e omnisciente poderia ser o autor.
Revejo todos os erros, as faltas, as omissões, as ofensas, algumas bem graves e com possíveis consequências para terceiros.

Só um Deus de bondade e misericórdia infinitas poderia perdoar.

Tenho presente a minha inveja, o meu orgulho, a minha crítica, o meu julgamento dos outros.

Só um Deus infinitamente justo poderia avaliar-me.

Tantas coisas que prometi fazer, tantos planos, tantas promessas, tantos propósitos... tanta coisa que ficou apenas na intenção nunca concretizada.

Só um Deus Eterno poderia esperar indefinidamente.

Tanto pedir, implorar, quase exigir, esquecendo-me quase sempre de agradecer.
Por tudo isto, Senhor, e muito mais que só Tu mesmo sabes porque a minha pouca cabeça esquece e desvia, estes cinquenta anos de vida Te são devidos inteiramente: porque me criaste, porque me ouviste, porque me perdoaste, porque me inspiraste, porque fizeste sempre umas contas à maneira divina, valorizando muitíssimo o meu pequenino Haver em detrimento do meu enormíssimo Dever.
Deixa-me, Senhor, que Te diga, desta forma tão simples, o que é o grito da minha alma, este anseio enorme e avassalador que me incendeia o peito: 

Bem sei que Te amo, Senhor meu, bem o sinto, mas esta insatisfação de não saber amar-te mais, com loucura absoluta até tomares completamente conta de mim.

Com esse amor tão intenso não me seria possível ofender-te nunca mais e então eu seria completamente feliz.
Então, a Tua Santíssima, Amabilíssima e Justíssima Vontade seria plena e completamente aceite por mim, sem dúvidas, sem hesitações, sem perguntas.
Tenho tido, bem o sei, excelentes advogados junto de Ti.

Essa que é a minha e Tua Mãe que constantemente Te diz bem de mim, tentando esbater as minhas enormes faltas e realçar as minúsculas virtudes, é incansável na sua protecção deste seu pobre filho.

Esse que me deste à cinquenta anos como guardião atento e disponível, quantas vezes não terá aplacado a Tua Justiça e contemporizado algum tempo de arrependimento.

Que fiz eu, Senhor, para merecer tais graças, tais benefícios?
Interrogo-me e tenho receio:
Que queres Tu de mim, Senhor?
Não vês que não presto?
Que não correspondo?
Que não mereço confiança?
Eu não discuto, Senhor, a Tua Vontade.
Mas pesa-me esta dúvida de poder merecer tais graças, tal confiança, tal amor.
Só a certeza que tenho que nunca me pedirias ou pedirás nada que seja impossível ou demasiado para mim, me conforta e sossega.
Tenho a certeza que Tu, Senhor de Infinita Bondade, me darás os meios e auxílios necessários para tanto.
Ajuda-me Senhor, a estar atento a essas inspirações, a esses sussurros que constantemente insinuas no meu coração.
Que eu os entenda e os ponha em prática, com determinação e alegria.
Todo o tempo, Senhor, que quiseres ainda manter-me nesta Terra seja o necessário para eu merecer essa outra vida pela qual anseio, da contemplação da Tua Divina Face.
Por todo este tempo que ainda me resta antes de me apresentar definitivamente perante Ti, eu esteja preparado, pronto para esse encontro.

Não me abandones senhor. Sabes bem que sem Ti nada posso, nada valho.


Sobre a família 34

O direito dos pais à educação dos filhos (II)
continuação 
Logicamente, entra neste campo a orientação religiosa; é normal que um pai deseje educar o filho na sua mesma fé, de modo coerente com aquilo em que acredita e pratica. Não se trata, pois, de uma questão confessional ou ideológica, mas sim do próprio direito natural dos pais.
Esta liberdade garante que serão eles que se ocuparão da educação dos filhos, quer por si próprios quer escolhendo as escolas ou outros meios que considerem oportunos ou necessários, ou também criando os seus próprios centros educativos.  
O Estado tem evidentes funções de promoção, de controlo, de vigilância. E isso exige igualdade de oportunidades entre a iniciativa privada e a do Estado: vigiar não é pôr obstáculos, nem impedir ou coartar a liberdade [i].

J.A. Araña e C.J. Errázuriz
© 2011, Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet


[i] São Josemaria,  Forja, n. 104.

Evangelho do dia e comentário

 Páscoa - Oitava


Evangelho: Lc 24, 13-35

13 No mesmo dia, caminhavam dois deles para uma aldeia, chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. 14 Iam falando sobre tudo o que se tinha passado. 15 Sucedeu que, quando eles iam conversando e discorrendo entre si, aproximou-Se deles o próprio Jesus e caminhou com eles.16 Os seus olhos, porém, estavam como que fechados, de modo que não O reconheceram. 17 Ele disse-lhes: «Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?». Eles pararam cheios de tristeza.18 Um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Serás tu o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que ali se passou nestes dias?». 19 Ele disse-lhes: «Que foi?». Responderam: «Sobre Jesus Nazareno, que foi um profeta, poderoso em obras e em palavras diante de Deus e de todo o povo; 20 e de que maneira os príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes O entregaram para ser condenado à morte, e O crucificaram. 21 Ora nós esperávamos que Ele fosse o que havia de libertar Israel; depois de tudo isto, é já hoje o terceiro dia, depois que estas coisas sucederam. 22 É verdade que algumas mulheres, das que estavam entre nós, nos sobressaltaram porque, ao amanhecer, foram ao sepulcro 23 e, não tendo encontrado o Seu corpo, voltaram dizendo que tinham tido a aparição de anjos que disseram que Ele está vivo. 24 Alguns dos nossos foram ao sepulcro e acharam que era assim como as mulheres tinham dito; mas a Ele não O encontraram». 25 Então Jesus disse-lhes: «Ó estultos e lentos do coração para crer tudo o que anunciaram os profetas! 26 Porventura não era necessário que o Cristo sofresse tais coisas, para entrar na Sua glória?». 27 Em seguida, começando por Moisés e discorrendo por todos os profetas, explicava-lhes o que d'Ele se encontrava dito em todas as Escrituras. 28 Aproximaram-se da aldeia para onde caminhavam. Jesus fez menção de ir para mais longe. 29 Mas os outros insistiram com Ele, dizendo: «Fica connosco, porque faz-se tarde e o dia já declina». Entrou para ficar com eles. 30 Estando com eles à mesa, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o, e lho deu. 31 Abriram-se os seus olhos e reconheceram-n'O; mas Ele desapareceu da vista deles. 32 Disseram então um para o outro: «Não é verdade que nós sentíamos abrasar-se-nos o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?». 33 Levantando-se no mesmo instante, voltaram para Jerusalém. Encontraram juntos os onze e os que estavam com eles, 34 que diziam: «Na verdade o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão». 35 E eles contaram também o que lhes tinha acontecido no caminho, e como O tinham reconhecido ao partir o pão.

Comentário:

Há, de facto, algo de enigmático mas muito importante, neste evangelho de S. Lucas.

“Reconheceram-no ao partir do pão”…

Enigmático porque a menos que Jesus tivesse uma forma peculiar de partir o pão, forma essa, que bastaria para O identificar, ou, porque, hipótese não descabida, os Apóstolos, nos dias anteriores terão contado com pormenor os acontecimentos da Última Ceia, repetindo as palavras e os gestos do Mestre, com ênfase para aqueles que, repetissem em “Sua memória”.

Mas muito importante porque S. Lucas o refere específica e claramente no texto.

Uma terceira hipótese pode ser a de que os seguidores de Jesus, assustados e temerosos com o que se seguiria à Sua Morte, tivessem combinado entre si algumas formas, discretas, de se darem a conhecer como seguidores de Jesus.
Tal como o será, mais tarde o desenho de um peixe, a forma de partir o pão poderia ser uma delas.

Seja como for, os seus olhos só se abriram nesse momento e, só a partir de então, tomaram conhecimento da pessoa de Jesus com eles à mesa. E é, aliás, isto mesmo que contam, mais tarde, aos Apóstolos.

Desde o princípio, a Igreja nascente, evoca, os sinais que o Mestre deixou. Mais tarde, serão estes sinais que comporão a Sagrada Liturgia.
Amar e respeitar a Liturgia é, além de um dever, a melhor forma de honrar a memória, sempre viva e actuante, do Fundador e Cabeça da Igreja. 

(ama, comentário sobre Lc 24, 13-35, 2010.04.07, N. S. Boavista)